sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

The Cat Diaries (17)



Selina Kyle* está muito doentinha. Selina Kyle está, desde ontem, internada. Selina Kyle está, desde domingo, diagnosticada com uma pneumonia e a antibiótico duas vezes por dia. Todavia, Selina Kyle piorou, de repente.

Selina Kyle começou a ter uma tossita seca na primeira semana em que esteve connosco, tossita que passou a mais ruidosa no fim-de-semana seguinte. Selina Kyle foi levada prontamente ao vet do bairro, onde auscultaram, desvalorizaram (que seria uma bronquitezita, toma lá antibiótico de largo espectro, mas provavelmente é viral e blablablá o sistema imunitário vai funcionar). Selina Kyle continuou, como sempre esteve até aí, aliás, muito bem disposta, ronronante, e comilona. Até que no domingo passado volta a tosse cavernosa e, encostando o ouvido ao pequenito tórax, se nota uma farfalheira do caraças.
Corremos para o hospital veterinário, onde somos atendidos por uma vet que sabe da poda: pela primeira vez, primeira vez, repito, tiram-lhe a temperatura e observam a boca (sim, achei estranho que a vet novinha no coiso lá do bairro não o tivesse feito, afinal já vamos no 5º felino, mas eles é que tiraram o curso, né) , felizmente não tem febre, mas há a notícia que ela será mais velha que pensámos (já tem dentição definitiva), é mas é pequenina, passou fominha e privações. Sabemos lá há quanto tempo estaria na rua, como foi tratada antes, o que isso lhe fez ao desenvolvimento e sistema imunitário, e explica a vontade e alegria com que comia, que pelo menos numa semana e meia aumentou meio quilo. A vet ausculta, fica com a certeza mas faz raio x para confirmar: pneumonia. E pronto, medicada, cheios de recomendações, voltámos a casa.
Ontem de manhã estava, como habitual, comunicativa, bem disposta, tinha despachado todo o granulado que lhe deixámos, e ainda aviou quase meia latinha de patê com o comprimido lá disfarçado. Ao fim da tarde estava apática, olhar perdido, arfante, e recusou o patê (!!!). Ambos tivemos a mesma premonição negra e corremos para o vet, onde se fez novo raio x e se confirmou que não estava melhor, pelo contrário. Ficou lá, e nós fomos para casa com a lágrima a rebentar (ah, fosga-se, chorámos, ok? so what? ), tentar dormir, e pronto. Hoje de manhã já se ligou e a menina está estabilizada, continua com uma frequência respiratória muito acelerada, continua com prognóstico reservado, e vão avançar para um antibiótico mais agressivo, porque os benefícios são superiores aos potenciais riscos (atraso no crescimento, que se lixe, prefiro uma gatinha bonsai mas viva).

Anyhoo, estamos os dois cá com uma motivação para trabalhar que nem vos digo, nem vos conto. Numa angústia que esperei nunca voltar a sentir. Numa ansiedade que não se explica. Com o coração com o exacto tamanho e formato de uma uva passa.
[qué a minha bebecas boa e de volta]


*acabou por ser escolhido Selina Kyle por razões de temperamento: à nossa frente um anjinho com cara de quem não parte um prato, mas na primeira noite que a deixámos na divisão onde habita - escritório - com a porta da jaula aberta, armou cá uma barraca, jasus, trepou onde achámos que não conseguiria trepar, escavou um vaso e provou uma planta (não é tóxica, a casa está cat-proofed), além de que achou giro jogar areia na exacta direcção da porta da caixa. Uma santa de dia, uma cat burglar do mal de noite. Confere.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Let's look at the traila

Não, ainda não subscrevemos o Netflix. E já não tenho pressa: com o pacote de cabo que temos já não nos sobra tempo, quanto mais. Ultimamente tenho / temos racionado muito, que às nove e meia, dez da noite estamos podres de todo (é isto, a meia idade?), mas no fim de semana vingo-me, porque nunca consigo dormir para lá das oito e meia (sim, deve ser a meia idade), e ponho episódios em dia.

E não, também não vamos ao cinema. Desde logo, sessão da noite, a gente adormece (definitivamente, é a meia idade). Acresce que somos seres anti-sociais e claustrofóbicos, para quem estar numa sala fechada já é complicado, mas junte-se a isso gente que não consegue estar duas horas a apreciar uma história, calada, sem olhar para o telelé, ou sem mastigar, e temos as condições perfeitas para um ataque psicótico. Não faz mal: espera-se e passa nos canais de filmes.

Então o que tem passado na tela lá de casa, quase vos ouço, a explodir de curiosidade (façam-me a vontade, a minha vida não é muito interessante):

- Dois filmes muitíssimo janotas, para lá de bons, e que até é pena não ter visto numa tela a sério: Três Cartazes à Beira da Estrada e Moonlight. Adorámos ambos os dois, apesar de, em estilo não terem nada a ver.
Nem era eu se não mandasse a boca, cá vai: aquelas pessoas que dizem que não há cá nenhuma discriminação nas nomeações para prémios, porque não há filmes escritos / protagonizados / realizados por negros, e que isto deve-se a não haver quem os faça, olha, ide-vos fornicar, ponde os olhinhos neste e de caminho no Straight Outta Compton, que é cá um estoiro de filme, pá, e olhem que eu abomino, odeio rap. Se não há mais é porque não os conseguem fazer, digo eu, aposto eu. Porque gente de altíssima qualidade não falta. Acesso, acesso é privilégio que certas pessoas não têm. end of rant.

- De caminho acedi a fazer companhia a me mate num dos seus fetiches (western spaguetti), e vimos o Django. O original. Adorei. Como acompanhamento, tive direito a palestra de me mate sobre o género, o realizador (Sergio Corbucci - que parece que era uma beca comunista, e nota-se), Franco Nero, e por aí fora, mais a promessa (ameaça?) que um dia destes me punha a ver Giallos. Deves.

- De séries, começámos Escape at Dannemora, que parece sim senhora, mas a ver vamos. Já eu, aproveito o (pouquíssimo) me time para o meu fetiche, isto é, o género policial. Se for de produção britânica, ainda melhor; mesmo que levezinho como o Father Brown entretém e satisfaz q.b. Para dias em que uma pessoa aguenta e almeja algo mais encorpado, tenho lá a terceira temporada de Shetland para aviar. Adoro, pá.

- Na secção comédia, tenho que confessar que o preconceito puro, bruto e burro nos ia privando de uma série que deve ser das coisinhas mais bem escritas e montadas dos últimos tempos, e com um elenco que upa-upa. Embora tenha sido precisamente o preconceito quanto a um dos actores que nos afastou até recentemente - eh pá, o que eu embirro com o Andy Samberg, aquela cara é mêmo boa para um par de estalos. Não tanto como embirro com o Adam Sandler (vómito), mas quase. Falo de Brooklin 99, que é awwwwwsome. Tão bom. Tão bem escrito. Com tanto ritmo. Com personagens tão bons. Com tanto absurdo e tontice. A nossa dose diária de descompressão. E o que eu amo o Capitão Holt? Emoji carinha com corações nos olhos.

E pronto, estamos assim.
Como é habitual, qualquer recomendação, faz favor, a gerência agradece.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

[o estado a que chegámos]



[já me aconteceu.
também já aconteceu parar o carro, enfiar o casaco, por mala a tiracolo, pegar na demais tralhôncia que tinha para carregar, abrir porta, não conseguir sair, verificar se prendi saia/casaco/alça da mala em qualquer coisa, não, voltar a tentar sair, que raio, estou presa, preeesaaaaa, aahhhhh, que feitiçaria é esta, socorrooooo, ah, o cinto. tirar o cinto. pois.
não puxar o travão de mão, parar e esquecer de desligar a ignição antes de tirar os pés dos pedais: paletes.
e tomo eu vitaminas, que faria.]

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

The Cat Diaries (16) Decisões, decisões

A bolinha de pelo, o novelinho de breu, continua viva e recomenda-se. Não estou a tentar ser engraçadinha: isto dos gatinhos bebés é muito fofinho, muito queriduchos, mas são muito mais frágeis que um (gato) jovem ou adulto, e de um momento para o outro pode dar-lhes uma coisinha má. Quando levámos o Max para casa dormi mal uns dois meses. O primeiro com esse medo, o segundo já com medo que me matasse ele (diz que a meio da noite era costume trepar-me pela cara, assentar arraiais no alto da minha cabeça, onde cardava o cabelo até fazer uma caminha a gosto. sofri muito.)

A pequenita come bem (nos dois primeiros dias parecia um aspirador, comia tudo num ápice, bebia imensa água. donde se conclui que estava mortinha de fome, abandono, quase de certeza), usa a areia, já percebeu que mantinha é fixe, e está a perder a timidez. Já lhe fazemos festas e ela gosta: ronrona, dá a cabeça, rebola e oferece a barriga, uma loucura. Começámos este fim de semana a tirá-la da jaula e pô-la ao nosso colo, numa mantinha; das primeiras vezes pareceu assustada, escondia a cara, mas já está a habituar-se, até adormeceu ao colo de me mate (tenho um bocadinho de inveja, assumo).

O Max está curiosíssimo, e acompanha-nos nas visitas. Cheira tudo, só lhe soprou uma vez, não está mal. Não os deixamos tocar-se, por enquanto, porque vírus. Aliás, apesar de ela parecer muito bem, com apetite, de vez em quando tosse, e hoje vai ao senhor doutor.

Agora o problema: sim, já lhe tínhamos dado nome. Mas agora estamos indecisos, porque personalidade. A personalidade também pesa nesta decisão, e há que pensar também como a vamos chamar (primeiro, segundo nome), enfim, uma canseira.

Donde, vamos a uma sondagem (resultados não vinculativos, e sabe-se lá se será um destes, que nós somos como os malucos, depende do vento):


Mrs. Emma Peel


Selina Kyle


Diana Prince

(ainda não há fotos - decentes - porque não é fácil. esconde-se, confunde-se com o fundo, e tentem lá fotografar uma mini-gata enrodilhada numa manta ao vosso colo. aliás, nem me lembro de puxar do telelé)

sábado, 24 de novembro de 2018

Então essa bléque fraidei?

Tudo comprado? A descontos muito bons? Uma grande correria nas superfícies comerciais (grandes, médias, piquenas)? Houve estalada, ou conseguiram sair ilesos?
Enapai, que bom.

A nossa foi maizoumenos igual: muita correria, nervos, joelhos no chão, apanhando frio e vento, paciência e espera, e tudo para adquirir um grande molho de brócolos ao preço de duas ou três fatias de fiambre e duas latinhas de gourmet gold.

Yep, apanhámos uma bolinha de pêlo. Andava a deambular perto do meu trabalho, num parque de estacionamento, a esconder-se debaixo de carros, e a miar a quem passava. Calhou passar me mate, que pericaso vinha almoçar comigo (está de férias). E pronto, foi o que foi, é o que é. Levante a mão quem conseguia deixar um bebezolas ao relento, morto de fome, num local onde não há nenhuma colónia (ou alguém o largou, ou apanhou boleia num carro). Pois.

Anyhoo, graças à nossa insanidade, e ajuda de pessoas-anjos que ainda existem, umas que param e dão uma mãozinha a dois trapalhões, outras a quem basta pedir que estendem a ajuda que podem, já mora lá em casa numa jaula emprestada, numa divisão isolada, a fazer a sua quarentena e adaptação. Isto depois de uma passagem pelo vet para ser desparasitada e onde armou uma fuga digna de filme de Hollywood e uma perseguição e captura que nos vai valer ou uma recordação para contar em eventos familiares ou sermos banidos daquele vet para todó sempre.

Visto que já lhe demos nome, parece que coiso.
(até ontem, dizia eu na brincadeira, estava one cat short of crazy cat lady, entretanto parece que já não)
Ah, é uma menina, toda pretinha e uma manchinha branca no peito. Winda.
(sempre disse que adoraria ter uma gatinha preta. toma e embrulha, diz o universo, a rir-se.)

(o nome segue a tradição familiar de personagem de filme / série. dadas as características físicas da ferinha, alguém ousa adivinhar? esta é difícil :P)

(agradeço comentários de apoio e a dizer que nããããão, não somos nada doidos varridos, e fizemos muito bem e tal, vá, venha daí esse reforço positivo que ainda não estou em mim, e o senhor Mad Max já topou que há marosca e anda a cheirar e arranhar a porta feito louco, já nem falando que está mais doudo/ciumento que o habitual, ai a minha vida.)

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Coisas muito boas

O que faz uma pessoa que todos os dias, ao raiar do dia, se vem enfiar em areias movediças, e, à noitinha, chega a casa exausta do esforço de se manter à tona? E nem contando com o resto, tal como as condições atmosféricas favoráveis a nevoeiro, granizo ou furacões que são o estado habitual da sua pobre cabeça?

Comédia, claro.
(já nem falando dos químicos, 'cause if you can't make your own neurotransmitters, store bought are fine)

Portanto, cá vai a receita do dia. Andy Kaufman.

(não será grande novidade para quem viu este - espectacular, maravilhoso - filme, mas hey, o original é sempre melhor)

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Too soon?

Treze (treuze, treuze!) anitos acabados de fazer, já muito respondão e com a mania que sabe tudo (suspiros, sabe nada, é ele e o Jon Snow) e que tem imensa piada (às vezes até tem, sublinho: às vezes, e ainda lhe falta sentido de timing, mas eu não desisto de tentar incutir-lho), taradinho de Star Wars (abençoadinho), mas ainda não se afeiçoou ao Star Trek nem conhece o Doctor Who (temos tempo); doudo-doudo-doudo por super-heroísmo e papa todó filme e série sobre (está a cair-me uma lágrima); seríssimo aficcionado de Lego (um lencinho de papel, por caridade), e também jogos de playstation e em app (que não faço ideia do que são porque pá, também tenho os meus limites, lá em casa só há um gamer e não sou eu).
Donde, presente de aniversário, o dilema. Lego, já nem sei o que tem (ele e o mai'novo), o que quer ou lhe falta. Action figures?, podia ser, não sei se gostará dos pop vynil, fica para averiguar. Vai daí, pensei que se calhar já era altura de uma bedêzinha mais madura, mas encontrar traduzida, 'tá bem abelha, raisparta as editoras e, principalmente, as livrarias, que o que há não têm.
Vai daí, atirei-me à (magérrima, aliás, raisparta as livrarias) prateleira de fantasia / terror, porque, ainda não disse, menino já vê filmes que eu até acho que upa-upa, mas gaba-se que não lhe faz impressão nenhuma, anda a melgar me mate pelo Pesadelo em Elm Street. Halloween e Sexta Feira Treze ó, há uns tempos, mas só com autorização parental.
Bom, trouxe o Carrie (Stephen King) e o Neverwhere (Neil Gaiman). 

Amável público: é de ir trocar, ou sim senhora?

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Good morning sunshine!

Sobre a semana passada nem vou falar, mas esta foi estreada com uma avaria macaca no quadro eléctrico que me "apagou" metade das tomadas da casa, as da sala incluídas. Nota: só temos um televisor. Na sala. Ou seja, ontem leu-se imenso e fez-se muita sesta. O que veio mesmo a calhar, dado que estou muito doentinha. Quer dizer, muito doentinha na perspectiva da própria, dado que sinto cada mílímetro da garganta, respiro mal, dói muito a cabeça, e os ouvidos e ossos também começam a dizer "estou aqui!, estou aqui!". Do ponto de vista de um médico de família mediano, estou porreiríssima e em condições de trabalhar - nem sequer tenho febre ou pus nas amígdalas, ahahahah, coisas de meninos, para a classe médica. Donde, não fui perder tempo numa qualquer urgência, tenho paracetamol e ibuprofeno em casa, tanquiuverinaice. Enquanto o ibu faz efeito não me dói tanto a garganta, enquanto o paracetas faz efeito não me dói a cabeça; não se pode ter tudo, mas parece que também têm de ser tomar alternados, fuquit. Ainda não disse, mas estou enjoada como, olha, não sei, como alguém que ande sempre muito enjoado, derivado de meu estômago não se dar com o ibu e andarem ambos à bulha. Supimpas.
Para acamar, mate recebeu a notícia (verbalmente, lol) de que vai ter de mudar de local de trabalho no fim do mês, sendo que ainda não lhe disseram qual o novo local de trabalho. Digamos que se algum dia vos inquirirdes porque os tribunais de trabalho estão a abarrotar, uma das respostas possíveis poderá ser o facto de a) o pessoal dos recursos humanos não saber contar prazos; b) o pessoal dos recursos humanos não ter lá grande formação jurídica, ou então têm um código do trabalho só deles e que só eles é que conhecem. Se funcionam assim com uma merdiquice de alteração de local de trabalho, nem quero pensar no resto, adiante. Já que estou com a mão na massa, não sei porque se insiste em chamar "gabinete de recursos humanos" a uma categoria/área profissional que, na verdade, faze é "gestão de pessoal", para não dizer "de existências", ou também "esses chatos". Esse é que é o "core"  deles, não é assim que se diz? Afinal eles não trabalham para nem se focam nos tais "recursos humanos", mas gerem sim os ditos "recursos humanos", portanto, sejamos honestos, o pessoal, os trabalhadores, e de acordo com os interesses e directivas da entidade patronal. Nada de errado nisso, note-se; escusava-se era de fomentar esta hipocrisia linguística, e que se insiste em actos mentirosos de "estamos aqui por vós". Tretas. Já agora, também se deixava de gastar em formação tipo gustavo santos dos gestores de pessoal, e estes escusavam de fazer figura de idiotas ao empregarem larachas motivacionais que, em situações de alteração da vida das pessoas e, portanto, geradoras de stress e incerteza, acabam por se revelar dichotes um nadinha insensíveis, se não mesmo ofensivos.
Anyhoo, parece que já arranjei um electricista lá na freguesia, cuja primeira pergunta foi se eu fazia questão em recibo com NIF. Suspiros, desisto. Já desisti, aliás. E que me há-de ligar. Se calhar. Quando puder. Donde, vou arrastar um dos, O monstro de trabalho desta semana, todo ele um monumento ao desperdício de recursos do Estado em favor de um idiota teimosão que acha que tem, tem que ter razão. Bom, alguém tem de se chegar à frente e assumir a trabalheira de matar o bicho bem matado, antes que nos continue a sangrar. Claro que, da perspectiva dos progenitores do bicho, o Estado blablabla, uma vergonha, não liga (buhu) aos direitos dos cidadãos contribuintes, e leva (buhuhu) um tempão para resolver seja o que for, ainda que este "tempão" tenha sido essencialmente gasto pelos tais progenitores com papelada que não lembra ao diabo, e o "seja o que for" consista numa quimera montada por quem não tinha mais do que fazer ( e eu tenho, tenho tanto mais que fazer, incluindo babysitting a outras quimeras, tentando separá-las das pobres criancinhas desvalidas que despejam amiúde aqui na roda dos expostos que é o meu xervixo, e que, essas sim, precisam mesmo de atenção, solução, e rapidinho).
Boa semana para todos, caso ainda não tenha dito. Com lágrimas. De sangue.

domingo, 28 de outubro de 2018

Gente feliz com lágrimas

Fui ao lidl por mor de fruta e ovos, e havia disto. Ah, esqueci-me dos ovos, já não há bolinho, mas não faz mal.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Liquidação total

Hoje estou com uma telha tal, com um nervosisco tão intrusivo, com uma bad vibe tão aaaarrghh, irritante, que mais vale dar vazão e evitar roer uma unha até ao sabugo, até porque não me posso repetir, e esse foi o programa da semana passada.
Donde, vou aqui destilar, quiçá vomitar (para quem não concorde) uma série de opiniões - aliás não solicitadas, porque ninguém quer saber - sobre as últimas polémicas. Algumas já não são frescas, mas olha, estão em saldo, é o que há.
Começando.

1) Claro que não se deve obrigar crianças a dar beijinhos seja a quem for, conhecidos ou desconhecidos, família ou não. Idem para abraços ou outros contactos físicos. Julguei que isto já nem levantasse celeuma, mas pronto, vivendo e aprendendo. As crianças, como os adultos, têm direito à autonomia, e a negar contacto físico. Ponto. Diferente é cumprimentar: isso sim, deveria ser incutido, porque se trata de a) reconhecer a presença do outro; b) uma simples simpatia / cortesia; c) chama-se socialização.

2) Nem tenho palavras para definir o cagaço que me vem inundando quanto mais se aproxima a segunda volta das presidenciais brasileiras. Nem m'acredito que vão eleger um trapaceiro racista / xenófobo / apologista da ditadura, tortura, violência / machista / homofóbico. Não perdoo aos auto proclamados "moderados" que se recusam a tomar posição, e que ainda têm a lata de vir a público justificar o não voto no Haddad. Tinham muito a aprender com o nosso PCP, esse partido da extrema esquerda - dizem eles, os "moderados", em matéria de engolir sapos, a bem do mal menor e interesse nacional. Alguém acha que não custou - custou pouco, custou - ao Cunhal apelar ao voto no Soares? O homem deve ter andado semanas sedado e a tomar banho com lixa grossa. Mas tinha mais sentido de Estado na unha do dedo mindinho que estes "moderados".

3) Se uma instituição particular prossegue um fim que por acaso é bem meritório, a sua actividade assegura o bem estar e sobrevivência de muitas vidas, e depende inteiramente, para seu financiamento, da boa vontade alheia - caridade, com todas as letras - não tem o direito de se armar em esquisita, e recusar donativos só porque não gosta da cara de quem os oferece, ou não concorda com a ideologia de quem os faz. Ai a gente semos pelos animais, não aceitemos 500 quilos de ração de defensores de tourada? 100% a nível de princípios, mas os princípios nunca deram de comer a ninguém. Além de que se perdeu uma bela oportunidade de dar uma bofetada metafórica naqueles de quem se discorda, acolhendo um bom gesto com graciosidade, sem deixar de frisar a discordância ideológica. E recusar uma parceria com a blogger mais influente deste nosso luso-canto, porque usa sapatos e malas de pele? Nem tenho palavras. A não ser para a blogger, que é melhor pessoa que eu e, ainda que tendo esta farpa na memória, fez uma doação. Eu não faço. O dinheiro é meu, dou a quem quiser. Ah, os animais é que sofrem. Pois, mas eles também passam fome noutras instituições, e nessas não tive a experiência humilhante e poucochinha por que me fizeram passar nesta. Pelo contrário, encontrei pessoas mesmo muito boas e altruístas.

4) Outro tema onde não consigo encontrar palavras é o do assassínio do jornalista saudita Kashoggi. Pela prepotência, pelo horror, pela total ausência de respeito pela vida, democracia, liberdade de expressão. Não vai acontecer nada, pois não, porque petróleo. E isso deixa-me doida.

5) O que também me anda a deixar doida são as midterm nos EUA. Ando aqui toda torcidinha, e nem é nada comigo - ou se calhar é. Por um lado temos quem nos aumente a esperança na humanidade - Beto!, a candidata na Georgia! - mas depois temos o Trampa em total redemoinho de insanidade, e a loucura da voter supression, onde, onde, claro, na Georgia, promovida precisamente pelo candidato e ainda senador que está rés-vés de ceder o lugar. Lá está, faltam-me de novo as palavras.

6) Já não vale a pena falar do Ronaldo, do Kavanaugh, de penas suspensas a violadores? Então não vale. É que calha ter uma sobrinha quase a fazer 18 anos, e tenho tanta, tanta tristeza de se estar a fazer mulher num mundo que não fará tanta diferença daquele em que cresci. Se houvesse uma máquina do tempo que me permitisse ir entrevistar a Izzie de 18 anos, tenho a certeza de que esta estaria bem optimista sobre o futuro, e que, quiçá, até aventaria que uma sua sobrinha ou filha não correria o risco de ser assediada, discriminada, ou ver a sua vontade e auto-determinação (sexual, social, toda!) aviltada e apoucada pelas instituições que a deveriam defender e fazer valer contra qualquer prevaricador, e tudo isto enquadrado num bonito, maravilhoso consenso universal e popular. E não. E isso deixa-me tão mais triste do que consigo expressar.

7) Falando em ideologia medieval, fiquei muito bem (not) impressionada por a polícia portuguesa achar que a) tirar fotos a arguidos no momento da detenção; b) e divulgar publicamente tais fotos não só não tem mal nenhum, como é mais que justificado. E que, quando alguns carolas (entre eles o ministro, e muito bem) vieram a público falar de direito à dignidade, e outros direitos humanos e assim, tentaram um spin desprezível com fotos achadas numa pesquisa google, provavelmente, de bélhotes agredidos (e nem se sabe por quem). Já agora, a divulgação dessas fotos também me merece muuuuita reserva. Como cereja - leia-se poia - no topo do bolo de merda que isto já é, saliento a adesão de um corpo policial (militar) ao popular argumento tipo do troll comentador de notícias online, replicado ad nauseam por todo o lado, de que criminosos não devem ter os mesmos direitos que cidadãos honestos. Este bolsonarismo não é adequado, não é aceitável em lado nenhum, e cá ainda menos. Acho que a GNR e PSP estão precisadas de uma parceria com uma editora de livros jurídicos, que faça chegar a cada efectivo um exemplar da Constituição.

E pronto, para já é só o que me lembro e andava aqui entalado.
Boas tardes a todos, que eu vou ali arreliar-me com uma muito boa que me arranjaram, mas ao menos vou de alminha mais leve. Agradecida.


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

E agora

Perguntais vós, aqueles que tiveram a insensata ideia de me subscrever no feedly ou similar, que vem ela agora resmungar, isto enquanto reviram os olhos e, ainda assim têm a coragem de continuar (ponto, parágrafo).

Ora eu sei, que também leio notícias, que o mundo está cheio, mesmo a transbordar, de coisas mesmo importantes a acontecer, e pior, daquelas que bailhanosdeuzz, ainda nos podem trazer gravíssimos amargos de boca. Mas é nestes momentos - e não esqueçam a expressão "amargos de boca", daqui a nadinha fará sentido - que também precisamos reflectir, inquirir, quiçá indagar profundamente sobre assuntos mais comezinhos, triviais, frívolos ou mesmo mesquinhos. E é um desses assuntos que aqui trago hoje, naquela que poderá ser uma verdadeira tentativa de levar este espaço pelos caminhos do blog de investigação. Atentai.

O que diabos aconteceu aos gelados do lidl, que é feito dos gelatelli em caixa de litro? Aha. Sinto que prendi a vossa atenção. Pois qualquer pessoa bem informada e posicionada no sector alimentar da gulodice saberá que, tirando marcas prime, este é o gelado a escolher, aquele que nos trará grandes alegrias papilares, e a um preço mais generoso que um carte d'or que, e isto é só a minha opinião, apesar de balizadíssima, lhes ficam a léguas.

Sim, que catástrofe natural, quem sabe desastrosa decisão comercial levou a que, cada visita a esta superfície comercial, leve à frustração de ver prateleiras frigoríficas outrora adornadas com os bem amados chocolate, pedaços de noz, café (com pepitas) e caramelo (com pedaços que se derretem), agora se mostrem numa nudez desconcertante? O quê, quem, como, quando, onde? E porquê? Porquê!!!!

De início ensaiei uma simples explicação a nível do aumento do turismo lá na minha zona: os maganos dos estrangeiros não só nos levaram a tranquilidade, a rapidez na circulação pedonal, a possibilidade de andar mais à larga no metro fora das horas de ponta, mas também o gelado. Bandidos! Energúmenos! Renegados! Mas, entretanto, entra Outubro, e a normalidade na oferta do simpático produto demora, há mais de quinze dias que nem uma caixinha, nem uma!, para amostra. Estou, francamente, em frangalhos. Apreensiva. Raladíssima. O que nos trará o futuro. Pior: o que será o futuro, e quererei eu imaginá-lo sem uma tacinha dos gelados favoritos? Não! Não.

Apelo a todos os gourmet e gourmand da melhor gama média deste tipo produto: alvíssaras, alvíssaras! Haveis visto gelatelli nos vossos lidl? É uma carestia a nível global? Reagimos? Como? Petição pública, manif no Camões? Pedimos, não!, exigimos subsídios para Hagen ou Ben&? Juntem a vossa à minha voz, juntos seremos muitos.

[Disse]

[qualquer argumento do tipo "ah, acabou o verão, é um produto sazonal, é natural", será tratado com o adequado e até merecido desprezo. sazonal é a abóbora, o morango, a cereja. há quem coma gelados todo o ano e estudos - os meus - dizem que são excelentes pessoas.]

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Mas o mesmo, mesmo importante

Catálogo do ikea? Visteze-lio.
Ou seja, para os promotores imobiliários que me enchem a caixa do correio de panfletos, é centro histórico" (quando para lá fui era "perto do intendente", sou antiga), para os entregadores de catálogos, o triângulo das Bermudas. Tanta app, tanto google maps, e é isto.

(dado que o #%&§£ do site não aceita mis tarjetas de credito, sendo que, relativamente a uma delas, verifiquei que tem o modernaço sistema 3D, donde, não é por aí, imprimi a lista de compras e vou directa à mercearia, pedindo ópois que me recolham as traquitanas e entreguem em casa. paga-se o mesmo, mas entretanto uma 'soa aproveita para dar uma voltinha e deixar lá uns cobres, malandrice, que venha aqui confessar-se quem alguma vez saiu de mãos vazias do ikea, e isto inclui a zona de comiduchas, onde vou abastecer do melhor doce de laranja de sempre, e uns remédios para os nervos que sabem a caramelo coberto de chocolate).

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Enjoy the silence




Curiosamente é quando mais tenho (teria?) para dizer que mais me calo, mais me contenho, embora não me reprima (não já), não me recalque. É como se numa revisão qualquer que já não recordo quando foi feita me tivesse sido instalado um travão de emergência, accionado automaticamente em caso de iminente oversharing. Já não era sem tempo, às tantas: uma certeza tenho, não era peça de origem.
Sim, eu sei que isto é muito ao arrepio daqueles actuais chavões de auto-ajuda, auto-conhecimento, auto-indulgência e crescimento do self e o raio que o parta, mas a cena de exibir ou, ao menos, assumir a nossa vulnerabilidade é uma treta do caraças. É preciso muito cuidado a quem se abre a porta, isso sim. Aprendi-o a duras penas, e depois de uns valentes vandalismos que me deixaram a alma toda desalinhada - alguns diriam que estava a pedi-las ou, mais gentilmente, que quem anda à chuva molha-se. Não concordo, mas não adianta debater a questão, o que importa é o que se faz depois do sucedido, de preferência começando logo a ponderar enquanto se arruma a casa. Se bem que, tal como a física - bof, mais vale admitir - a casinha interior nunca atingirá os padrões mínimos de organização. Desarrumada, até caótica, mas sujinha é que não, asseio primeiro que tudo.
É isso, é uma questão de asseio. E se muita da porcaria já nasce cá dentro, inevitavelmente, nem se sabe bem vinda de onde - e caneco, é trabalho para uma vida inteira, esta constante faxina interior - é escusado convidar ou proporcionar que entre mais cotão.
Por isso aqui estamos, entre o silêncio higiénico e o mero partilhar de banalidades. Até pode apetecer mais, mas travão.
Anyhoo, comprei uma saia travada azul muito bonita e elegante. Mesmo rés-vés a época do collant (yay! me likey!) que agora se inicia. E... Ficamos pela saia, então.


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Quem vê tevê e não sofre mais que nada

As outras pessoas, não sei; mas eu cá já elegi a melhor série de 2018: The Terror. Faltam três meses para me provarem que estou errada, força nisso, mas não creio.

De qualquer forma, se gostarem de cenas assim maizoumenos tensas, a roçar ou mesmo a mergulhar no weirdo, e não vos seja essencial um final totalmente esclarecedor, recomendo Castle Rock. Gostei. Ainda não sei se percebi alguma coisa, mas gostei.
Se fordes fãs absolutos de Stephen King, acho que têm mesmo de ver, aquilo está cheio de easter eggs que me mate me foi fazendo o favor de explicar, vá lá, além de imdb caseiro e sem acesso à net, faz também as vezes de explicador de literatura de suspense e terror à sua mais-que-tudo.

No entretanto, já anda todáááá net a embandeirar em arco com a série Sara, e tenho a declarar que sim senhora, já vi o piloto (e o bobby - esta piada paga direitos a mate -, foi episódio duplo), e sim senhora, têm freguesa. Se é a melhooooor coisa que já se fez cáááá e arredores, e aimedês que maravilha, ainda não sei, que só me pronuncio sobre o jantar depois de o comer, e não quando vejo a foto no insta. Até lavar dos cestos é vindima, e sou uma pessoazinha amarga e muito desconfiada de qualquer entusiasmo a cheirar a hipster. De qualquer forma, foi um prazer poder constatar, ao vivo e a cores, que o Albano Jerónimo, em querendo, sabe mesmo representar (até há atrasado só o tinha visto em - mau - piloto automático em pedaços de novelas); e um desprazer verificar que em Portugal se continua a fazer muito má captação de som em exteriores. Caneco, pá, vós que estudais para isso não sabeis por o som de fundo, o ruído envolvente, ou lá o que se chama (eu não estudei para isso) a não abafar a voz dos personagens? Chatice, pá, distrai imenso.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Como perder uma hora e cinquenta e quatro minutos

Ah, a curiosidade, a tal que matou o gato e um dia ainda me apanha a jeito e me mata de tédio, de arrependimento, de fúria entremeada de profunda tristeza. Ia acontecendo com este filme, maldita a hora em que maturada e ponderadamente, e após ignorarmos sérias premonições de que nada de bom dali adviria, decidimos - ainda por cima! -  unanimemente enfrentar a coisa. 'Tão vamos lá ver - fúnebres palavras - não pode ser assim tãããão mau como a crítica o pintou - oh, não, não pode - e afinal baseia-se na menina Gata Cristina, não é possível errar taaaanto com um dos mais famosos da menina Gata Cristina - ó se é!

Qualquer pessoa atenta ao cartaz de anos passados já adivinhou: trata-se de Um Crime no Expresso do Oriente, que viu - antes fosse ceguinho - a luz em 2017, protagonizado por um Kenneth Branagh de reputação - pelos vistos mal - firmada, e escorada num elenco que não é de deitar fora. Mas afinal é, que o papel de embrulho é de tal sorte ordinário que ficaram todos mascarrados.

Eu nem sei que dizer. Quero crer que nem numa peça infantil seria possível encontrar uma pior caracterização e interpretação de Hercule Poirot. Havendo justiça e sentido de humor no universo, a meio do filme apareceria a menina Gata Cristina, e, dirigindo-se ao protagonista, dir-lhe-ia "você não percebeu nada da minha obra". Ou, ao menos, um senhor de armadura que pespegaria com um frango de borracha na cara de alguém.

Poirot é arrogante? Sim, de uma forma modestamente irritante, e não obscenamente descarada. Poirot é obcecado com a simetria, e até há casos em que, em ambientes estranhos, distraidamente alinha objectos? Sim, mas, lá está, distraidamente; não faz notar a ninguém que o está a fazer, porque é um cavalheiro e é discreto, e seria incapaz de criticar a arrumação - ou falta dela - de outrem. Poirot é exigentíssimo com a comida, guloso, até, e sente-se miserável quando é posto perante uma pobre confecção culinária? Sim, mas não é mal educado com quem o serve, sofre em silêncio, quando muito murmura um nom du nom d'un nom. A queixar-se, fá-lo a alguém íntimo, e nunca ao anfitrião. E não, a sua paixão não são ovos escalfados ou cozidos, mas sim omeletes, das quais se afirma exímio cozinheiro. Poirot usa bengala, sempre? Sim, sempre; mas a sua bengala não faz as vezes de um chicote de Indiana Jones. E Poirot não se sujeita aos elementos voluntariamente, principalmente o frio, e muito menos o frio extremo. Poirot abomina o frio. Poirot teme correntes de ar. Poirot sente-se bem numa casa aquecida e bem calafetada. Poirot é enérgico? Sim, no pensamento, no raciocínio. Poitrot não tem a apetência de Sherlock Holmes por correr, calcorrear, apressar o passo. Nem os sempre impecáveis sapatos de verniz, tortura a que se sujeita voluntariamente, vaidade oblige, o permitiriam.

São apenas alguns apontamentos. Aquilo não é o Poirot, é o Ken a armar ao pingarelho. E o final (spoiler alert), onde dão a dica que, não bastando uma catástrofe, ainda lançarão outra ao mundo? Com aquele coisinho a dizer-lhe que é preciso no Egipto porque houve um crime no Nilo? Senhores, matai-me já, espetai a adaga bem fundo para ser rápido e menos doloroso. A Morte no Nilo ocorre estando o eminente detective lá, pô, ele não é chamado para porra nenhuma. Aliás, em nenhum dos mistérios passados no Egipto, que me recorde, Poirot é chamado após homicídio, Poirot faz parte da trama desde o seu início.

Enfim, que tristeza. Não há floresta capaz de fornecer tanto lenço de papel que enxugue as lágrimas amargas desta fã da menina Gata Cristina. Não há. E havendo, escusavam de a abater para o efeito, bastava não produzirem bostas deste calibre.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

The Cat Diaries (15) Obladi, oblada

E começas o teu dia de (pré) trabalho a implorar negociar a rendição e regresso ao cárcere de um evadido muito laranja, que achou que não, não lhe apetecia ir já para casa, e sim, lá fora é que estava bem, e sim, conseguiste tirar-me do pátio, mas só porque eu quis, mas tenta lá fazer-me descer do muro, ahahahah, desprezo, ó tu aí em baixo, despreeeezo, reles humana.
Uns bons dez minutos, dez, de idas e vindas, calça sapatos vai lá ver se o bicho se apieda, escova cabelo e borrifa o perfume e volta, a ver se o bicho acha que já chega de gozação, e isto tudo enquanto tentas que os outros dois, já sugaditos em casa, não tenham uma ideia parecida e ei, se ele pode eu também quero, e zus, fuga.
Finalmente teve pena de mim, o meliante; lá espreguiçou, bocejou, saltou e veio, de cauda levantada, no seu ritmo, claro, ninguém apressa um felino. E eu agradeci (as you should), e recompensei com o petisco "regresso a casa"*.

Nem foi a cena mais humilhante do meu dia, porque entretanto sucederam pessoas, e que pessoas. Jasus, escolhe-as a dedo, o meu triste fado.

(mil vezes um gato rezingão, que já se sente no direito de mangar desta aqui, mas ao menos ainda sente pena e dá uma abébia)


*nós temos imensos rituais e rotinas, e já vemos resultados em termos de comportamentos. pensar que eram dois besugos medrosos e ariscos há ano e meio, lagrimita.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Mas para acamar, acamar mesmo

e a todos os descrentes, os ver para crer, os são tomé desta vida, recomendo uma passagem pelo twitter e uma busca pela hashtag WhyIDidntReport.
Devidamente acompanhados de um shot de empatia, claro. E lenços de papel.

E, para acamar

Ainda não recebi o catálogo do ikea. Epá. Epá. Sinceramente.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

God knows I'm miserable now

Se as pessoas soubessem como é difícil ser eu, davam-me já a reforma antecipada, e por inteiro, por total incapacidade para o trabalho. É que não dá, não dá ter tanta bola no ar, e eu tenho zero queda para malabarista. Um gajo ou trabalha ou trata de cenas, as duas em simultâneo não aguento. Isto é uma doença incapacitante, incurável, nada estudada e com nenhumas esperanças de cura, donde, aliviem o meu sofrimento, que era uma caridade que me faziam.
Chiça.
E antes que alguém apareça aqui com o estribilho "ah, e não tens tu filhos", respondo já "pois não, coitadas das crianças, ou melhor, felizes das crianças que se livraram de ter de lidar com esta percentagem de invalidez materna, e também já tomavam em consideração a extrema abnegação, até magnanimidade que foi eu não sujeitar petizes a essa existência horrenda e triste, e davam-me também uma comenda."
Apre.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

P'lo direito a uma m'lher se passar (valentemente) da marmita

Menina e moça minha mãe me educou para o feminismo: que nós podemos fazer tudo o que eles fazem, menos xixi de pé. Quer dizer, até se pode, mas há uma grande probabilidade de correr mal. Direitos iguais, deveres iguais (consequente e naturalmente), e que nunca me deixassem convencer do contrário. Também me introduziu nas falácias do argumentário opositor: não, o facto de um homem, por princípio, conseguir acartar uma saca de batatas às costas não prova que há diferenças naturais e físicas (e outras, suspiro, nem entro por aí, ainda sou do tempo do estribilho "as meninas não têm jeito para matemática", fica para outro dia), ergo, isso da igualdade é parvo. Uma mulher também gera filhos, um homem não, e depois? Igualdade de direitos e deveres não equivale igualitarismo, o que se pede é igual dignidade, igual tratamento perante a lei, igualdade de oportunidades e de acesso a estas, ou seja, que ninguém seja discriminado em função do género, tal como ninguém deve ser discriminado em função de cor de pele, religião, orientação sexual, e por diante.

Alertada também fui que a luta pela igualdade não implica que se mimetize comportamentos normalizados e aceites ao género masculino, e que são em si errados ou censuráveis: cuspir para o chão, por exemplo, é feio, seja-se homem ou mulher (ou transgénero, ou seja o que for). Nesse aspecto, fazer igual é má criação, não é libertação. Idem aspas para outros tantos comportamentos, como o piropo ou assédio, andar à bulha, ou praguejar. A minha mãezinha é muito coisinha com o uso do palavrão: não aprova. Mais que um "merda" dito em ambiente seguro e/ou familiar é feio, muito feio. Logo lhe havia de ter saído uma filha com costela de carroceira, já lá vamos. Já noutros aspectos como depilar ou não depilar, usar calças (a minha mãe é do tempo em que menina ou mulher séria não usa calças), ter cabelo curto ou grisalho, cada um/a que faça como lhe aprouver, são coisas de foro pessoal e inatacável.

Ora se tudo me fez muito sentido, sim senhora, e ainda hoje faz parte do (mais alargado, atenção, isto não é só nem tudo) núcleo duro do meu feminismo, a parte do praguejar e bulhar (embora excluindo o confronto físico) é que me caiu muito mal. É que eu tenho uma visão muito libertadora da actividade de barafustar, e uma prática muito livre do uso do palavrão. Como uma taça de gelado, uns quadradinhos de chocolate, meio quilo de cerejas, é algo que às vezes me cai tão bem. Mesmo o que precisava para acalmar uma arrelia, para me resolver uma contenda ou acabar um dia especialmente mau. E, tendo sido fadada com um feitiozinho muito especial, daqueles que (já menos, felizmente) me leva do zen ao holocausto nuclear em sessenta segundos, caramba. Não se faz. Eu preciso e, em calhando, eu passo-me dos carretos. Eu preciso e, em se ocasionando, eu uso uma linguagem de fazer corar as pedras da calçada.

Dito isto, não, não é característica de que me orgulhe. Aprendi a lidar com ela, nisto a idade de facto traz sabedoria, mas pronto, sou assim, uma bestinha que faz favor, em se reunindo as condições adequadas. E essas condições adequadas, que também podemos definir, mais doutamente, como estímulos externos, nem sempre são justas ou justificativas do passanço. Ou seja, pode acontecer barafustanço / praguejanço face a situações que o estavam mesmo a pedir, ou não. Sou humana, pá. Também tenho dias maus, susceptibilidades, fraquezas, e pode suceder estar num dia em que me vire para o outro lado pela casca de um alho, ou, também possível, aquela casca de um alho que veio acumular a muitas outras cascas de alhos, e pronto, calhou azar, foi aquela que me fez saltar a tampa.

Sou pior por isso? Se calhar. Em minha defesa, alego que o meu último passanço ocorreu quando num evento social me sentaram em frente a um patet'holístico anti-vacinas. completamente justificado, hein, não aceito contraditório. Consegui parar antes de  me sair um "burro do c*r*lho" ou pior, já não é mau. A Izzie de 15, 16 anos espantar-se-ia. Mas também já aconteceu - e ninguém ficou mais espantado que eu, apesar de os olhares de quem me conhecia de outros e mais exaltados tempos terem sido também de puro espanto - ter-me levantado durante um jantar para ir fumar um cigarro a meio de uma diatribe racista de um outro conviva. O "ir lá fora fumar um cigarro" tem-se revelado um grande coping mechanism, já agora (ainda não tinha usado uma palavra em ixtrancheiro, hein!).

Sumariando: a) passo-me da cabeça; b) em acontecendo, pode suceder acumular com ser muito malcriadona ao nível do uso da caralhada; c) não, não é bonito ter esta característica; d) mas tenho; e) a maioria das vezes descarrilo em situações em que presencio actos indefensáveis, ou alguém desata a expor ideias / opiniões completamente ofensivas ao nível de direitos humanos, respeito básico pelo outro, ignorância atroz, civismo, enfim, coisas mêmo, mêmo; f) mas também já aconteceu descer do salto e rodar a baiana em situações de cúmulo de picanços por merdinhas a que não devia dar importância; g) também já descalcei a chinela e pus a mão à anca em ocasiões completamente injustificadas, fruto de ou i) uma excessiva susceptibilidade; ii) mal entendido; iii) errada interpretação  / leitura (minha, só minha) da situação.

E agora, desde já parabenizando quem conseguiu chegar aqui, o ponto da questão: ainda assim, defendo e exercerei o meu direito ao passanço. Mesmo correndo o risco de ser injustificado. Ou exagerado. E não admito, porque não admito mesmo - e aí a expressão "holocausto nuclear" assumirá logo um contexto quase literal - que, em me passando e, quiçá invectivando, seja admoestada porque "te fica mal", "não é um comportamento de uma senhora", "ai que figura", "estás histérica", "não sejas ordinária", "não passas de uma arruaceira", "estás a deixar mal a/o tua/eu [inserir tema ideológico em causa]", "pareces uma peixeira", "estás completamente descontrolada", "deve ser aquela altura do mês", "não tomaste a medicação", "estás descompensada", "uma doida varrida", "falta de homem"; quando um homem, nas mesmas circunstâncias, até poderá ouvir que "passou das marcas", "exaltou-se", se calhar até "exagerou" ou "não havia necessidade"; mas, mas, mas, afinal é uma pessoa com "ideais muito arreigados", "muito assertivo", "defende aquilo em que acredita", "é natural, sentiu-se ofendido / atingido" e "quem não se sente...", além de que "já sabem que é assim, não o provocassem", ou "caramba, é genioso".
É que aí solta-se a Izzie de criação suburbana e, além do chorrilho de asneiredo, ainda levam uma cabeçada à Cais do Sodré que andam a cagar dentes uma semana; um rotativo nos queixos que têm de comer a sopa por uma palhinha; ou com uma tábua nos cornos que para verem televisão têm de por os óculos na nuca.


[este post poderá - ou não - ter sido inspirado num episódio de passanço da vida real - alheia - mal/não/in/justificado, e principalmente nas reacções que se lhe seguiram]

terça-feira, 11 de setembro de 2018

[ ]



Aqui há dias metia-se um colega comigo, para eu ter calma que ainda vou andar nisto mais vinte anos. Bingo, são mesmo vinte. Certinhos. Desconfio é que vão custar mais a passar que a primeira metade, ou então não estou cá para cortar a meta. Donde, a ver se ganho juízo e me deixo de maratonas, a ver se poupo o corpitxo para a marcha longa e lenta.

(jesussenhor, salva eu, salva)

terça-feira, 4 de setembro de 2018

First World Problems

Nada como uma ida à superfície comercial da zona, a partir das seis da tarde, para soltar o Agecanonix que vive em nós.
Nada contra os estrangeiros, de facto, desde que entulhem lá os estabelecimentos deles.



terça-feira, 28 de agosto de 2018

Chapéus há muitos

E livros também, E quer para uns e outros há soluções de arrumação para implementar, só me falta um discurso motivacional suficientemente poderoso para me fazer mexer.

Então diz que nas férias se lê, e eu li. Livros para além de consultas técnicas, quer-se dizer. Material não me falta, basta dar a volta a uma das pilhas (desarrumadas) em cima da secretária, mesas do quarto, e até cadeira do escritório. Pode ser que pegue, este mood de decoração, e assim já não preciso de solução de arrumação. Como a cabeça já esteve melhor e viu dias mais risonhos, optei por coisas mais leves, e resolvi dar uma chance a escrita em português (lamento, Agustina e Aquilino Ribeiro ainda vão esperar).

Abalei então com, para além do mais, Os Loucos da Rua Mazur na mala, uma oferta que por lá estava. Sim senhora, gostei. Não foi assim um gosteeeeei, mas gostei. Competente, bem escrito, sem cagança, sem gorduras para raspar. E bem investigado, nota-se que há ali trabalhinho: aprecio isso. Não será alta literatura, mas também não é literatura de aeroporto - uns bons furos acima de Rodrigues dos Santos, ou melhor, do único que lhe li.

Vai daí, e numa visita à Bertrand mais caótica e desorganizada do universo* - juro, eu vou lá para apanhar camadões de nervos, transtornar o meu aliás ligeiro transtorno obsessivo compulsivo, mas também elevar a minha autoestima quanto ao estado de (des)arrumação livreira lá de casa - vejo o Perguntem a Sarah Gross em formato de bolso, e tungas, veio comigo.

Primeiro que tudo: comprem livros de bolso, caraças, a ver se continuam a editar nesse formato. Mais baratos, mais leves, o conteúdo é igual. Invistam nisso, poupem as costas e a carteira. Tudo bem, não fazem uma estante tão bonita (é-me indiferente, adiante), mas eu sou do tempo em que quem se preocupava em ter uma estante bonita e composta comprava aquelas edições completas e encadernadas de escritores consagrados, e que nunca lia:parolice alert. Pior: me mate recorda que se vendia e comprava só uma estrutura de capas, que se enfiava na estante a fazer de conta. Isto já roça a demência.

Ah, o livro. Gostei. Gostei bastante, muito mais que o outro. História muito bem relatada, bem construída, bem escrito e, novamente, sem cagança (um dos piores defeitos, para mim, do Rodrigues dos Santos, é querer armar ao Eça e sair-lhe uma prosa tipo edições Harlequin, siga). Novamente muito bem investigado, este ainda tem mais trabalhinho por detrás, e nota-se. E eu aprecio, e faço a minha vénia. Dado o tema - tal como o outro, época nazi, Polónia - não posso dizer que se trata de literatura levezinha, bem pelo contrário, mas não é um As Benevolentes.

Anyhoo, sim senhora, sim senhora, temos escritor, e se calhar toda a gente já sabia, mas eu não, e pronto, fica aqui a minha opinião. Só tive uma pequena "dificuldade" com o Sarah Gross, que não passa de uma embirração muito embirrenta de um aliás quezilento e notório mau feitio: chamar Kimberly à protagonista, ó pá, que nome mais cocó, tão Ruben André, tão Soraia Cristiana, credo pá. Não havia necessidade.



*Torres Vedras, no centro comercial. a sério, devia ser incluída num circuito turístico. ou então realizar gincanas do tipo "encontre o livro" - ordem alfabética é conceito quase desconhecido, por lá. o espaço é muito pequeno, o que também não ajuda.
ideia para série de posts futuros: guia de Bertrands. sim, eu tenho um top.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

[ ]



Sinceramente, acho que seria muito feliz a fazer vida da jardinagem, mas parece que paga muito mal.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Nem sei que diga

Caros senhores que vão ao cabeleireiro, quiçá barbeiro, com a espoNZa atrelada, e é esta que dirige os trabalhos, isto é, comunica ao profissional como se faz o corte, se está bem, um bocadinho mais aqui, assim acoli: epá, emancipem-se.

Caras senhoras espoNZas supra mencionadas: nem sei que vos diga. Estou aqui disposta a aventar que, às tantas, é por causa de vocês que certo(s) barbeiro(s) proíbem a entrada de mulheres. Ou mesmo que sois do tipo de espoNZa que depois se queixa que eles não "ajudam" nada lá em casa, mas também, coitados, não sabem fazer nada, não é?

Anyhoo, aqui desta que estava (como de costume) a apanhar a maior seca, kudos pelo espectáculo, nunca pensei, ainda por cima com artistas mai'novos que eu. Se apanharam os meus eye rolls ou sorriso trocista: sorry, not sorry. Achava eu que não havia nada mais creepy que aqueles casais que se tratam por pai-mãe, afinal, ó, vivendo e aprendendo.

Silly Season

A Maria Vieira no feice, o Arnaldo Matos no tuíte.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

We all float down here

Olá, eu sou a Izzie, e consegui ver o It sem sobressaltos, sem pulos no sofá, sem gritaria histérica, sem tapar os olhos, sem hiperventilar, e até dormi lindamente, depois.
Qualquer dia ainda me apanham no Motelx. (nããããããã....)

Agora a sério: não só vi e não morri de susto, como adorei, adorei, adorei. Não que o filme seja adorável, bem pelo contrário, mas achei tão bom que até, por breves minutos, tive vontade de pegar nas mais de mil páginas do livro (nãããããã... passou-me).
O elenco juvenil é maravilhoso, e é extremamente credível - falam como putos de 13 anos, e não como os adultoa acham que falam putos de 13 anos. Só isso faz(-me) uma diferença fenomenal. Quanto ao mauzão, Pennywise, the dancing clown, ó que caraças. Nunca vi a versão com o Tim Curry (e agora quero), mas o pequenito Bill Skarsgard tem uma expressividade física e facial que ó-ó. Medinho misturado com pura admiração, foi o que passei todas as suas aparições, desde uma magnífica cena de introdução só com a sua carinha enquadrada na sarjeta, até aos seus bailados grotescos e movimento de ataque a fazer lembrar aqueles palhacitos de corda que tocavam tambor ou pratos (alguém se lembra destes brinquedos? tinham o mesmo movimento de braços e menear de cabeça, taliqual, assustador).
Mas o verdadeiro monstro do filme nem é tanto Pennywise, este é só a cereja no topo do bolo. O horror pode ser (e tantas vezes é) mais mundano, próximo e familiar que uma figura sobrenatural maléfica. Os monstros são os adultos daquele pequeno universo: os que infligem dor e os que, vendo-o ou sabendo-o, nada fazem. Juro que nenhuma cena com o Pennywise me deu tantos arrepios como aquela em que os bullies maltratam Ben e passa um carro com dois adultos que vêem e seguem caminho. E esta foi só um "aquecimento". Neste contexto de maldade entranhada e enraizada às tantas até o palhaço maléfico, que rapta e se alimenta de crianças, surge como um libertador das suas alminhas. Ou não. Se calhar um mal é apenas uma consequência natural de outro. Enfim, divagações minhas.
Fico à espera da segunda parte, em pulguinhas. (gostei tanto, já disse?)

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Blitzkrieg

Depois da apreensão inicial por sabermos ir passar a viver em cima de um AL (alojamento local, para quem ande totalmente out), suspirámos de alívio quando os primeiros hóspedes vieram e foram sem alarme. Fiquei de sobreaviso quando dei conta da meia dúzia de teenagers (ou quase) franceses. mas estes, apesar de passarem a noite toda na palheta e na bubereta tinham um excepcional sentido do volume da sua voz e aparelhos electrónicos. Sim senhora, mais de um mês e tudo corria bem; bom, "bem" nem tanto, há o pequeno problema de a empresa que explora a coisa fazer limpezas, atulhar o caixote do prédio, até deixar volumes fora, e depois ala e os condóminos que lhes façam o trabalho, e de borla. Como somos muito tortinhos, dessas vezes nem pomos lá mais lixo, nem acartamos o caixote para a rua. Não há palhaços, não há criados.
Ainda assim, ainda assim; já ouvi contar pior, vá lá.
Até que chegaram os alemães.
(inspira. expira. inspira.)
Nós, os latinos, é temos a fama de ser barulhentos, expansivos, armar cagaçal, não é? Pois sim, mas o proveito, o proveito.
Primeiro grupo teutónico, e lá tem me mate de ir bater-lhes à porta, fáxavor de baixar o som, tanquiú.
Segundo grupo, idem aspas, e com a agravante de a música ser bem pior (electrónica). Lá baixar, baixaram, mas pouco. E falam entre o muito alto e o berro. E batem com a porta do apartamento e do prédio. E entram e saem a horas que faz favor. No segundo dia (ontem) voltaram a sair para a náite, ali cerca da meia noite, e eu sei porque: a) portas a bater; b) tudo a falar aos berros; c) e aos berros continuaram a falar, e inclusive a cantar, à porta do prédio, até chegar a a boleia (dois carros); d) altura em que também ouvi um distinto barulho de cacos, presumo que de garrafas a embater em caixote. Voltaram em duas levas, uma delas às cinco e trinta (acordei eu) e outra antes (acordou me mate).
E é isto. Não demorou muito a descambar. Ai, a Europa do norte, tão evoluídos, tanto sentido cívico, ai. Estou aqui a matutar na estratégia a adoptar, mas a vontade de lhes voltar a bater à porta é nula - além do mais, são umas vigas que faz favor, e têm um aspecto de gunas que nem vos conto.
Unglaublich. Grandes fisdeputa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Iaca

Por razões que não vêm ao caso, tive de me deslocar a uma grande superfície de cuidados de saúde. Sucede que se meteu a hora de almoço, e decido forrar o estômago antes de abalar; dito e feito, ala à cafetaria para nhom-nhom. Ora além de público (faminto) em geral, distingo eu uma série de fregueses branquinhos, branquinhos: ena, tantos shoutores e enfermeiras. Estas com a farda, aqueles com a batinha (e estetoscópio ao pescoço). A batinha branca, esse trajo profissional por excelência que distingue os responsáveis máximos pela nossa e vossa saúde; o trajo que não só distingue e diferencia, como também costuma, ou costumava, ser um selo de higiene.
A minha questão é esta: qual higiene, se andam a passear a porra da bata por todo o lado (já nem falando do estestocópio, que é caro e até entendo o perigo de roubo, mas caraças, aquilo é encostado a pessoas alegadamente doentes, desde o tuberculoso até ao constipado; até um cabeleireiro ou esteticista têm melhores hábitos). Até pode estar num branco neoblanc irrepreensível, mas as bactérias e vírus não se vêem a olho nu. E duvido muito que tenham direito a hora de almoço, a apanhar ar, pausa para cigarro, quiçá, ou até, na loucura, acompanhar o clínico na satisfação de uma necessidade fisiológica (nojo). A interdição de passeio entre áreas higienizadas ou até esterilizadas e outras, exteriores ou não, pode parecer um preciosismo, mas caraças, se a bata não for vista e considerada como trajo profissional símbolo de higiene, para que serve, afinal? Apenas distinção, ou seja, cagança? Pá, para isso, pá, amigos na mesma, mas deixem lá o trapinho em casa.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Obrigadinha por nada

Ah, sou capaz de jurar que verti uma lagrimita quando, no respectivo site, me dei conta que o iquêa (iqueia, não. não. é iquêa. não há lá nenhum "i") já disponibilizava aos estimados fregueses a possibilidade de compra online. Só facilidades: fazer registo, juntar os artiguinhos à lista de compras, inserir os dados pertinentes, pagar, escolher data de entrega, já 'tá. E só por €45 (para o meu código postal).
Oh pá, oh pá. A emoção. Ainda recordo, vivamente, a compra do roupeiro para o quartinho de vestir. Foi em duas vezes, cá por razõ€s, mas, de cada uma, céus. Por as embalagens no carrinho?, sim, sim; fazeis ideia do que pesam tabuonas de dois metros e pouco. Nem se mexiam, as embalagens, até um funcionário ver o triste circo e se apiedar desta aqui. E empurrar o carrinho até à caixa e depois ao balcão do transporte? Credo. Houve um bonus pater familias que também se apiedou, bem haja, deunossosenhor ou equivalente lhe dê saudinha.
Por isso, estando eu assim a modos que de férias só-que-não, mas podendo ficar em casa em qualquer dia; e estando extremamente precisada de alguns móveis dormitório para cangalhadas diversas e principalmente livros, que já moram em pilhas em cima de que superfície plana calhar, fui fazer a listinha. Hihihi, ria eu, vendo o amontoado de tábuas, vidros e ferros que não teria de arrastar. Fui até clicar lá no coisicho onde se vê o peso da embalagem, e toda eu era alegria: pura, doce alegria. Inseri tudo o que pediram, escolhi dia, lailailai, e chegou à parte mais dolorosa. Saca do cartão de crédito, digita número, validade e código de segurança, o ecrã faz aquela ventoinha que nos diz "'péra aí", e zás: pagamento não conseguido, ou lá o que é, fale com o seu banco. Ora eu não preciso de falar com o banco, que sei qual é o plafond e o que lá tenho, donde, insiste. Necas. Bof, saca do outro cartão (é, eu sou assim, ryca e phyna. não: tenho duas contas e numa prefiro só ter cartão de crédito, porque tem associado um seguro para compras online, ou lá o que é), digita lá os númbaros, clica, ventoinha, e pumbas: outra vez na trave. Ai o caraças. Insiste. Népias. Por via das dúvidas vai à netbanco, sim senhoras, tenho plafond, insiste, nicles. Ai o caracinhas, não foi caracinhas, mas pronto. Se calhar é do sistema, tento outra vez amanhã ou depois.
Hoje foi o "amanhã ou depois", e o "sistema" continua nicles, néribi, batatoides.
Pá. Pá. Pá.
Não faz isso a eu. Pu favô. Não faz isso a eu.

(lágrimas de sangue, a minha vida é isto, um vale de lágrimas, e de sangue. olha, fizesses musculação.)


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Dica da Semana: não seja um pequeno burguês de fachada socialista


Eu também me finjo pobre :'(
(ou então sou só forreta / prática / frugal, e não vejo razão para dar vinte - ou trinta, ou quarenta - por algo que pode custar dez e serve o mesmo propósito)

terça-feira, 31 de julho de 2018

E eu, que nem gosto (aliás detesto) caviar?

Nada me move contra o dinheiro. Pode não comprar a felicidade, mas ajuda muito, lá diz o povo; e, acrescento eu, paga coisas muito giras. Tenho zero razões para defender a abolição da propriedade privada, e muitas contra a apropriação colectiva de bens, designadamente os de produção; donde, conclui-se, nada contra a iniciativa privada. Não sou comunista pura, portanto, mas sou de esquerda: não confio nas boas intenções de ninguém, acho que a ganância não só existe, e aumenta na mesma proporção do dinheiro que se tem, como não é uma coisa boa, pelo que defendo uma regulação do mercado. O tal mercado não funciona bem sem regulação, e temos mais que provas nesse sentido. Aí entra o Estado, no papel de legislador: tem a obrigação de regular, e este regular deve entender-se num sentido muito amplo, não só de intervenção no mercado financeiro mas na economia em geral e, por maioria de razão, na forma como a sociedade se organiza, promovendo políticas sociais que tenham como fim eliminar assimetrias, e assegurar a todos um ponto de partida o mais paritário possível. Traços largos, é isto em que acredito. Sou portanto de esquerda; democrata, socialista, republicana, whatevs.

Dito isto, nada contra o dinheiro em geral, e o dinheiro de cada um em particular. Desde que exista uma política fiscal que tribute e arrecade para a coisa pública conforme os rendimentos de cada um. Desde que exista uma "caixa comunitária" que invista séria e eficazmente nos serviços básicos que a todos servem e a ninguém devem ser negados - educação, saúde, segurança (incluindo a social), justiça. E esses serviços podem e devem ser de excelência, sustentados por todos, conforme as suas possibilidades; e dirigidos a todos, conforme as suas necessidades, sem avaliações de mérito prévias. Para mim, e no modelo de sociedade que defendo, isto é inegociável e irrenunciável.

Posto isto, nada contra quem enriqueça, desde que por meios lícitos e garantido que seja que pagam o devido tributo à comunidade. Se o Martim Manuel, que nasceu já em ambiente social e financeiramente privilegiado, teve acesso a uma boa educação e cuidados de saúde, decide apenas gastar o que tem, seja no que for, problema dele. Se decide investir seja no que for, e com isso aumentar a sua riqueza, nada contra. Se o Joaquim Manuel, que nasceu em ambiente não privilegiado, mas com um fantástico olho e faro para o negócio, decide endividar-se para arriscar um investimento, nada contra, de novo, seja qual for o resultado. Desde que assumam as suas responsabilidades fiscais, legais e sociais (sim, existem; desde logo pela justa retribuição do trabalho, mas não vamos entrar por aí), tudo bem. Se, Joaquim ou Martim, bolsos cheios, decidem gastar a parte que lhes toca em caviar ou patê de sardinha, quero lá saber. E menos quero saber quais as convicções ideológicas ou políticas de Joaquim e Manuel: estas não são critério nem prévio nem póstumo para aferir da justeza com que ganham ou gastam.

Por tudo o que já longamente expus, a minha reacção ao último "escândalo" político foi de encolher de ombros. Bof, um tipo de esquerda, o malandro, que escolheu investir e até parece que lhe correu bem? O dislate! A provocação! Vejam lá, qualquer dia ainda os apanhamos a beber tinto a mais de dez euros a garrafa, a abastecer a despensa no supercor! Este tipo de indignação, muito semelhante àquela que ocupou diversos media que passaram mais que um milissegundo a discutir a marca de um cachecol de um esquerdalho, cansa-me muito. Não perco tempo com isto. O nível de inteligência de quem suscita e de quem embarca nestes arraiais é o mesmo daqueles colegas de me mate que lhe chamam vermelhusco, comuna, e amiúde lhe perguntam porque, sendo de esquerda, não dá tudo o que ganha aos pobrezinhos. Muito baixinho, mesmo rasteirinho, portanto.

No entanto, sucede que sendo dotada do mínimo de espírito crítico (if I may say so myself), e não tendo receio de mudar de opinião, mudei. E tal aconteceu quando tive conhecimento de um pequeno, minúsculo, pormenor que entretanto veio a público: o investimento em causa era, precisamente, numa área alvo de constantes e sustentadas zurzidelas por parte desse tipo de esquerda. Epá. Adquirir património imobiliário, por concurso, para recuperação, tudo bem. Recorrer à banca para tanto, nada contra, normal. Findos os trabalhos de recuperação colocar à venda, pelo preço de mercado actual, ok. O chato é que remodelar um prédio, situado no centro histórico, de modo a que fique dividido em unidades independentes com áreas entre 15 e 40 m2, indicia imediatamente qual o sector de mercado imobiliário onde se pretende obter rendimento. E se o investidor calha ser uma pessoa que foi eleita para um cargo público com base num programa essencialmente assente no repúdio da gentrificação, da remoção de imóveis do mercado habitacional para o de alojamento local, epá, não. Não pode ser. Não é só, ou sequer essencialmente, uma questão de incoerência, essa palavra que de repente se tornou tão cara. É uma questão de traição ao eleitorado, que o mandatou para os representar. Quem votou no partido em cujas listas concorria revia-se naqueles pontos do programa; logo, se a pessoa eleita, mais, a pessoa que teve o privilégio de ser eleito, a responsabilidade de defender aquele programa, age de acordo com interesses privados em sentido diametralmente oposto, essa pessoa perdeu a legitimidade representativa e deve, por inerência e consequência, renunciar ao mandato público em que foi investido via voto popular. Sem espinhas.

Isto sou eu, claro, que nem sequer votei no partido em causa (mas aquele em que votei, uhu, que se ponha fino, cá por coisas, começo a ficar sem partidos onde botar a cruzinha, ai a minha vida). Por acaso calha partilhar mesa e eleito com quem o fez, e que anda ali muito desmoralizado com esta treta, oscilando entre o ir à próxima reunião ou assembleia ou lá como se chamam as cenas que o pessoal dos partidos faz enunciar o seu descontentamento, ou passar pela rua da Palma e devolver o cartão, tadinho, parece taliqual o pai da Liberdade (anda com uma cara, o coitado).
Não é uma questão de dinheiro, propriedade, mais-valias, riqueza, investimento, capitalismo: o ser de esquerda, pasmem, não faz voto de pobreza nem vive ou tem de viver modestamente. Não é uma questão de coerência, porque quem nunca. É uma questão de integridade, de legitimidade democrática, de respeitar ideologicamente o mandato atribuído por voto popular. E, se formos justos e levarmos esta questão às suas devidas consequências, além do pirete ao vereador, também deveremos estender o dedo do meio à maioria dos seus críticos, incluindo e principalmente um comentadeiro de sua graça Marques "Captain Obvious" Marques, que devia era ter vergonha na cara e ficar caladinho.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

[ ]



Férias-férias terminadas. Iniciam-se as férias-mais-ou-menos-arrumações-limpezas-trabalho-dar-vazão-a-tudo-o-que-se-deixou-pendurado-onze-meses.
Yay.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

This is a local shop for local people. There's nothing for you here.

As opiniões são como as tal-e-tal, verdade, a cada um a sua e quem as quiser dar, que dê. Mas além de as haver para todos os gostos, e validando quaisquer posições, ideologias, pré-conceitos, whatevs, há as que prefiro: maturadas, pensadas, fundamentadas. E dessas não tenho tido muitas, ultimamente. Porque não tenho tempo, nem vagar, nem disponibilidade para as maturar, pensar, fundamentar. Vem alguém e grita: cinza!, e eu olho e parece-me mais um azulito, embora acinzentado, concedo; podia por-me logo em cima do caixote da fruta a berrar ao mundo e a quem quisesse ouvir que não é nada cinza, é azul, 'zuuuuli, mas não é assim que gosto ou costumo fazer as coisas. Precisava de tempo, vagar, disponibilidade para mais que olhar, ver. Analisar com atenção, quiçá ir investigar bem a fonte, que isto dos tons, já se sabe, podem variar com muito copy-paste, e dependendo das definições de luz do nosso receptor. E, em não tendo esse tempo, vagar, disponibilidade, opto por exercer o direito ao silêncio, em vez de arriscar fazer figura de tola. Ah, fosse toda  gente assim, permitam-me esta pequena soberba. É que se lê, ouve tanto disparate. Tanta gente a vender carapau por sardinha, porque foi por esta que o compraram. Nem notam que parece carapau, e nem sabe a sardinha. Não querem saber: eu acho que é sardinha, e tenho direito à minha opinião. Com certeza, claro que sim. Tem direito à opinião, como tem direito à ignorância, a abrir mão do espírito crítico, e a empenhar a capacidade de raciocínio, ou assassinar aquela pequena, singela capacidade de indagar o porquê. Alt-realidade: parece que é um trend. Não, é só uma epidemia de estupidez.

Vai daí, já nem me sobram dedos para contar as polémicas, mais ou menos válidas, mais ou menos néscias, que este ano deixei passar ao largo. Outras realidades falaram mais alto, e pediram mais insistentemente o meu tempo. Some-se a isto um certo cansaço de discutir a qualidade da caliça com paredes, e pronto, ficou este blog despido de discussões e querelas - das boas, aquelas em que se troca opiniões, visões, e se aprende; e das más, aquelas em que os interpelantes fazem como o Nelson, eterno bully dos Simpsons, apontam o dedo e ah-aahhh, e a gente sabendo lá porquê, se não pelo simples ou simplório gosto de ah-aahhh.

Talvez me passe, esta falta de tempo e necessária dispersão e imersão noutros e por outros assuntos. Hum, a avaliar pela lufa-lufa da última semana antes de férias, as tais que vão ser forçosamente reduzidas a metade pelo segundo ano consecutivo, não parece. Ou então, talvez baixe uma melhor gestão de tempo - agora sou a Nelson de mim mesma, ah-aahhh. Samicas me volte a curiosidade por ir ver em vez de olhar, investigar mais, escavar mais fundo; e a paixão pela exposição pública de pensamentos, em escrita. Huummm. Não sei. Ainda estou a tempo de me surpreender. Ou então não. Às vezes perdemos coisas que nos são muito valiosas e não desistimos de as tentar reencontrar; outras, acabamos por nos dar conta que afinal não são assim tão preciosas, e não merece a pena insistir no que já não volta a ser, já não retorna. Quem sabe? Nos entretantos, pois que aqui (ainda) insisto em persistir, nesta enfadonha forma de ser. Nesta miudeza poucochinha que é o relato de coisinhas de somenos importância. Nesta forma de manter alguma âncora de escrita feita, com pequenas pinceladas de trivialidade e ligeiríssima ironia, daquela que não faz mal a ninguém, não ofende, talvez arranque um sorriso ou nem isso, talvez suscite um piscar de olho cúmplice mas não comprometido.

Cá estamos.

sábado, 7 de julho de 2018

[ ]


[a uma semana de entrar de férias cai-me um fim do mundo em cuecas na secretária, e isto quando planeava, nesta semana, resolver um carmo & trindade e um fónix só a mim que ainda tenho pendurados. estou muito, muito em forma, dado que já acabei com as reservas de emergência de sedoxil. adoro a minha vida, só que não.]

terça-feira, 3 de julho de 2018

Requiem para tímpanos em guitarrinhas e bateria

Ou, parafraseando Daniel Glover, que o diz recorrentemente antes de se atirar para a tal da dita cuja,  I'm too old for this shit. Pelo menos foi o que pensei ontem, várias vezes, aliás, enquanto tinha a sensação de estar a sangrar dojóvidinhos, derivado da intensidade decibélica e, há que dizê-lo com toda a frontalidade, a rameira da acústica daquele pavilhão atlântico (mudem-lhe o nome o que quiserem, chamem-lhe até pavilhão nutella, mas não contem comigo para vos acompanhar nesse frenesim onomástico).

Mas comecemos pelo início, como diria a Menina Maria, a contar esta saga geriátrica. Foi há coisa de dois meses que comprei os bilhetes para mate ir ver o Founding Father (palavras dele) do rock e eu me inaugurar num concerto de metal. Afinal era metal bélhinho, rock pesado, isso aguento, até gosto, pensava eu. Afinal o espectáculo começava às oito, hora bem simpática, uma pessoa lá para as dez e meia já tem os sapatinhos a caminho de casa, a tempo de se deitar a horas decentes e fazer o doce ó-ó, julgava eu. Ah!, doce, inocente, pobre d'eu.

Sucede que não, a tudo. Menos a parte do gostar: gostei. Diverti-me bastante, até. Mais do que esperava. A pontos de sair de lá a sentir pena por já não haver bilhetes para Iron Maiden. Oh. Mas os meujovidos, senhor. E sim, começou a horas, às 8 Judas Priest entravam em palco, mas tocaram quase hora e meia (porque bélhos, mas tesos, apre), entretanto acontece mudança de palco, entra Ozzy, tocam p'a falo, abreviando, saímos ali pelas onze, apanhar táxi, casinha, seis horas, cinco e picos de sono, acordo afónica e com uma sensação de idiotia, o café levou um tempão a bater, ainda estou a ouvir muito mal de ambos os lados, assim não há condições.

Anyhoo, o que interessa. Parece que se confirma, velhos são os trapos. Mais uma para eu guardar na minha caixinha de aprendizagens à custa de muitos "bem feita!".
Andei dois meses a gozar com me mate, que o home ia mazé cantar sentado num banquinho, tipo Paulo Gonzo, com uma senhora enfermeira ao lado a tomar-lhe o pulso a intervalos regulares. Que o home ainda se finava a meio da tornée, e ficávamos a chuchar no dedo. Que provavelmente aquela cabecinha toda mamada já não se lembrava das letras. Que a meio se esquecia de onde estava e começava a deambular enquanto gemia "Shannonnnnnn".
Sim senhora, tudo o que disse? Engoli. A seco, embrulhadinho num wrap de piretes polvilhado com raspas de tafuder.

Pô, grande concerto. Mesmo com a acústica miserável (a sério, gastaram quanto, a fazer aquilo? os projectistas, arquitectos, inginheiros responsáveis pelo auditório do CCB, não estavam disponíveis? não há um santo de um sonoplasta que saiba acertar no som? qualquer coisa? cada vez que lá vou venho com a sensação que se perdeu imenso por causa da sala) foi do caracinhas. O home não só está vivo como se mexe, canta, e nota-se que vibra com o que faz. Já não são vinte ou trinta anos, verdade, mas tomara eu aos setenta estar metade daquilo. E levou uma banda de apoio que faz favor. f-a-z-f-a-v-o-r. Caneco de guitarrista, cujo nome entretanto descobri, de sua graça Zakk qualquer coisa. Um cabelo lindo, já agora, pantene até, embora a barba já levasse uma aparadela, mas quanto à mestria na guitarrinha, u-a-u.
Encontrei isto no iutubas, se quiserem (e tiverem paciência para conferir), faz favor:




Ou seja, tenho uma colmeia muito activa nojóvidinhos, acho que me fizeram uma lobotomia e esqueceram de avisar, preciso de dormir doze horas seguidas asap, sim senhora, se calhar estou muito velha para estas merdas, mas quando é o próximo.

[disclaimer: nenhum morcego sofreu ou deu a vida para realização deste evento]

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Antigamente é que era bom, o caraças

Ai, ai, ai que vai fechar a Suiça! Ai, ai, ai que Lisboa perde mais um dos seus marcos! E?

Parece que sim, que há quem esteja ralado com esta ocorrência. Há até quem, decerto num exercício de rebuscada memória, fale no encerramento da "pastelaria" Suiça. Que o nome é esse, não contesto; mas pastelaria, ei, há limites para o saudosismo, o delírio, a saudade. Aquilo, senhores, e não é de ontem, era sim um pardieiro. Uma espelunca que faz favor. E atenção, nada contra espeluncas: alguns dos nossos mais tradicionais e queridos estabelecimentos vivem disso. Olha a Ginginha do Largo de São Domingos; olha aquela tasca na esquina da Rua da Misericórdia e o Camões, em que da montra se podia apreciar a bela sertã preta retinta com o molho de bifanas mais velho que eu, olha a outra na Praça do Chile (Ribeirão Preto?) com as sandes de ovo mai'rançosas de sempre. E quem não recorda com saudade a Ti'Alice em frente ao Frágil, onde se ia degustar o belo pontapé no genital feminino? Assumidamente e orgulhosamente espeluncas.

Mas a Suiça, uhuuu, com esplanadinha para a praça, empregadinhos fardados e de bandeja, mesinhas com toalha, a cobrar os tintins e cinco tostões por uma bica mal tirada, com um interior a precisar, já nem falo de uma remodelação profunda, ao menos uma limpeza esmerada, uma lixiviazinha ali não entrava há muito, aposto, a fazer fé no cheirete a sujo entranhado. A Suiça não era nada, e já há muitos anos, quanto mais ex libris da capital. Para além de uma tourist trap mal amanhada, para o pessoal nativo não servia mais que de ponto de encontro.

E não me entendam mal: se quiserem alguém para se zangar a valer com o lupanar em que se está a transformar a Baixa, contem comigo, que ia tendo um enfarte quando vi aquela disneylandia do enlatado, aquele tugúrio de neon enfeitado, que dá pelo nome de Mundo da Sardinha, ou lá o que é. Já nem falando das "lojas" de souvenires que abrem porta sim, porta sim, onde antes havia lojinhas bem catitas e fermosas. O coração até me falhou uns batimentos quando um dia topo com uma onde antes estava a Casa dos Carimbos, esta aqui:


Linda, linda, linda. Podiam ao menos ter deixado o letreiro, mas de certeza algum sortudo se afiambrou ao mesmo.

Está tudo a fechar, verdade. Nem vou entrar pelo assunto "lei do arrendamento", porque a minha opinião não é das mais simpáticas (não, os senhorios não são a santa casa da misericórdia e não, não têm obrigação de financiar comércio local ou tradicional, ou mesmo habitação, a preços que mal cobrem custos com IMI e seguros). É o que é, não é de hoje, é verdade que o assunto turismo está a ser muito mal gerido. Nada de novo. A habitual nacional-inoperância.

Mas depois, depois lembro-me daquela vez em que entrei na tal Casa dos Carimbos, que estava de porta aberta e balcão descerrado; vejo a senhora atrás do dito e lanço um "olhe, podia dizer-me o pre..." e logo recebo de volta um rosnado de "estamos fechados para almoço!". Ah, pronto. Sim senhora. Se me diz assim tão gentilmente, então volto depois - não voltei.

Semelhante aos semblantes generosos, sorridentes, hospitaleiros dos queridos anfitriões que nos atendiam na Suiça. E a Confeitaria Nacional, na altura do Natal? Credo, uma pessoa faz-se religiosa enquanto aguarda o Bolo Rei, que só uns valentes ai-jesus nos aliviam, enquanto assistimos ao bailado lento das senhoras atrás do balcão, algumas até perdidas a olhar para o infinito, decerto ocupadas a matutar nos grandes segredos do universo.

E a gentileza, prontidão, solicitude com que somos atendidos em alguns dos (aliás lindos, lindos) estabelecimentos de retrosaria na Rua da Conceição? Não devem ter ouvido falar da feroz e eficaz concorrência da Retrosaria Zora, preços mais em conta, stocks gigantes, sempre alguma funcionária pronta a atender, e por acaso em locais com estacionamento grátis? E nem me recordem a minha última excursão à Baixa por via de lãs, credo, Brancal, Serranofil, antes encomendar na net, ou, fazendo de phyna, gastar mais no ECI.

Verdade, verdade, há muitos doutores com pressa em desligar a máquina; mas a crua realidade é que o comércio antigo e tradicional da Baixa já há muito que estava acamado, algaliado, agonizando apesar dos cuidados paliativos. Morre de velho, de caduco. É triste, é. Há alternativas mais frescas, mais apelativas, mais simpáticas, mais em conta. Mas, mesmo a receber a extrema unção, aqueles pobres anciãos insistem-se vítimas dos tempos, queixam-se de que ninguém os ampara, ninguém lhes dá a mão, e juram que morrem por abandono e descaso.

'Tá bem, abelha. Quem não vos conheça, adiante.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

It’s my party and I cry if I want to

Faz agora um ano que estava a entrar nos 46 (e a trabalhar, como de costume, embora não afincada ou devotamente) quando recebi o telefonema que já temia mas esperava não chegar a acontecer. Pela enésima vez em quatro anos que já lá vão entrei em modo bombeiro, mas desta vez cm máquina de reanimação, para além da agulheta, escada magirus, e caixa de primeiros socorros. Desta vez era mesmo a sério. Tal como das outras, mas isto do fundo do poço é uma coisa muito gira, quando se pensa ter lá chegado de repente abre-se um alçapão e lá vamos nós outra vez. Isto não é uma ladainha, um queixume de buuuu, estragaram-me os anosssss, calhou lembrar. Este ano não houve crise, embora o novo rock bottom possa estar sempre ao virar da esquina. Não vamos agoirar; mas é o que é. Se há um, dois, três, quatro anos me garantissem que se pode viver assim, eu ficaria pasma. Qual quê! Nunca! Não pode ser! Ou melhora ou rebenta! Mais: ou resolve ou coiso. Não é assim que funciona, ou não é assim que funcionará para mim. É o que é e eu sou o que sou: não arredo. No retreat, no surrender. Não é sempre fácil, mas torna-se mais gerível. E prova disso é que cá estamos, a entrar nos 47 firme e hirta, depois de um ano do caracinhas, do caralho, vá, a bater bolas com não sei quantos Federer (é assim que o tipo se chama?) e a apanhar com muitas em cheio na cara. Auch. Ainda que. Porque. Já esteja ali a uns 60, 70% grisalha, debaixo da tinta; as articulações não me deixem esquecer as muitas horas de cu sentado e computador; o estômago se manifeste cada vez mais caprichoso; as vitaminas tenham passado de suplemento a constante; já tenha de levar uns fideputa de uns ólicos na mala para conseguir ler cenas pucaninas que se me atravessem no caminho (mentira, esqueço-me propositadamente dos óculos e finjo que estou a ver lindamente, embora de bracinho esticado). Mas. Todavia. No entanto. Ainda consigo estudar e ter pica a aprender coisas novas; ainda me sinto a campeã do universo quando deslindo o enigma, encontro a saída do labirinto, coloco a última peça do puzzle; ainda fico com o friozinho na barriga porque vou ter de enfrentar aquele touro muito, mas muito grande e cornudo, e macacos me mordam se o cabrão percebe que estou aos gritos de pavor por dentro; ainda passo demasiado tempo a uivar à lua a cada nova tarefa hercúlea que me caia no colo, ainda que já comece a acreditar que, bom, enfim, talvez consiga - e acabo por conseguir sempre, porra, porque sim, mesmo com o grilinho irritante constantemente  a bichanar-me ao ouvido que me meti a besta, way over your head, vais-te espalhar ao comprido e toda a gente a ver, vão descobrir-te a careca de incompetente, inapta, burra, incapaz e pôr-te na rua, nua, e ao frio e à chuva. No retreat, no surrender. Em nada, por nada, nunca, foda-se, nunca. Vamos indo. Vamos.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Preciso mesmo de (futilmente) falar disto

Não faltam, decerto, assuntos fracturantes. Ui, é só escolher. Eu escolho não abordar nenhum, porque já bem me basta saber que existem, e andar consumidinha com eles. Escolho, portanto, fazer um exercício umbiguista, levantar uma poeirinha sobre um assunto mais que banal, para lá de corriqueiro. Também tenho direito ao alheamento. Vamos a isso. Cá vai. Preparados para a mais inútil e inconsequente polémica de sempre? Jasus, aos abrigos. Vou atirar, ainda estão a tempo de ir ler o NYT, o Guardian, ou outra coisa mais elevada. Eu avisei.

(ahém)

Por que raios é que existe este estigma social de que senhoras ou meninas têm de envergar vestido ou saia em casamentos? Porquê, porquê, porquê?!??

Digo já: sou contra. Não porque odeie saias ou vestidos, tenho até vários, mas tendo de me definir em termos de vestuário, eu é mais calças. Ele há dias em que me apetece perna ao léu, ele há dias - mais - em que não me apetece. É uma questão de feitio do dia, de vento, de hormonas, não sei; é o que é.

Sucede que tenho um evento matrimonial no próximo fim-de-semana. De início não me preocupei muito com a farpela, sapatos e carteira já tenho - graçádeuz neste particular nunca tenho grandes dificuldades -, vestidos também há, que s'a lixe. Mas depois pus-me a pensar bem no recheio do roupeiro: os meus vestidinhos são, quase todos, em preto predominante. Chato. Já violei esta regra de não-usarás-preto-em-casamentos mas, desta vez, pronto, chamem-me conformista, não. Há duas outras hipóteses mas - surpresa! - são mais uma vez em preto e... branco, este predominante. Antes que se pergunte: não, não há limite para o número de vestidos em preto e branco que se pode ter, mostrem-me a lei. Há um outro exemplar em que entre o preto e branco se intromete outra corzita, mas está muito usado, e nota-se. E depois há um em beringela, que, coiso, é muito escuro? Bof.
Depois do mood não-te-rales-tenho-lá-tempo-para-me-chatear-com-isto, segunda-feira caiu o pânico de última hora e comecei a atacar lojas (net já não dá tempo, e nunca sei qual é o meu número). Experimentei uma resma, e senti-me sempre a Miss Matrafona 2018. Revi a estratégia: saias. Saias, blusa bonita, feito. Não há saias. Melhor, não há saias de que goste: simples, que possa voltar a usar, pelo joelho. E as que tenho são mesmo muito... casuais. Nos entretantos, em calhando, topei com umas calças mêmo giras. Mêmo. Com bolas, a fazer um padrão muito retro, parece mosaico hidráulico. E, surpresa!, em preto e branco. Sou uma originalona, eu sei. Vão ficar giríssimas com uma blusa preta, ou outra branca, que já tenho. Sapatos e carteira, vide supra. Baton vermelhão, eye liner, uns brincos (o problema é escolher), e sou eu. Sou eu como muitas vezes venho trabalhar, excepto o baton vermelho e carteira pucanina. Mas sou eu.

E vou ser só eu, de certeza, assim ataviada.
Entre o ser eu, e o ser eu, a minha frágil personalidade neurótica balança.
Ainda tenho até sexta. Não tenho é tempo, mas não há-de ser nada.
(adoro as meretrizes das calças, fonix)