segunda-feira, 17 de abril de 2017

Ah, este admirável mundo novo

Era eu chavalita, ainda na primária, e havia o "dia das vacinas". A professora reunia a maltinha cujo nome constava lá das folhitas, e ala para o dispensário, ou sala da escola reservada para o efeito, tuuuudo a levar a pica. De casa já trazíamos o boletim, ou seja, os pais faziam parte do processo, claro que faziam, mas nunca se ouviu falar em pais que recusavam. Num país onde ainda havia cólera e tuberculose com fartura (anos 70, século XX, verdade), acho que alguém que recusasse uma vacina seria visto como louco, no mínimo.

Antes de atingir a idade escolar, já toda a gente tinha muitos carimbos no tal boletim. Só se fosse alguém que nunca tivesse passado por um hospital ou centro de saúde, vivesse longe ou não tivesse meios, creio eu, é que teria escapado à inevitabilidade da pica. Entre pais e avós havia ainda memória de tétanos e tuberculoses, donde, não se contestava. A expressão "limpar o sarampo" existia, por alguma razão. Alinhava-se na vacinação, e exigia-se vacinação.

Eu não escapei, claro, apesar de (ainda) ninguém levar a sério a minha fobia de agulhas. Fui a todas, quer dizer, as que havia, que a varicela e papeira ainda eram das inevitáveis (ainda me lembro da prostituta da varicela, credo, à papeira escapei-me). Levei também a do sarampo, o que nem evitou que fosse contagiada, mas, segundo rezam as crónicas familiares (era muito novinha, não me lembro, ao contrário da varicela), muito ao de leve. Foi o que me valeu, sempre disse a minha mãe, o estar vacinada. E vida fora, lá foram mais tantas picas, e ó se me custaram, raça da fobia (ei, é real, prova disso é uma receitinha que tenho ali para ir à exanguinação e que está em linha de espera há dois meses, coisa pouca, preciso de tempo, deslarguem-me). Renovações do tétano e difteria (e uma semana de bola de golfe no braço), rubéola (uma das novas que entretanto apareceu), hepatite B (não era obrigatória, e era bastante cara, mas miufinha), e, mais recentemente, por causa de uma viagem para sítios que coiso, também hepatite A e cólera (esta é de ingestão, graçádeuz). E aqui há quinze dias de novo o tétano, que descurei décadas, mas também não é transmissível; se agora a fui renovar, mau grado a fobia, foi pela boa e velha miufinha.

E é isto que me faz muita confusãozinha, benzá. As pessoas não têm miufinha, não? Eu, que sou crescida, e nem tenho filhos, tenho muita miufinha. Se é assim por mim, que faria se tivesse um mini-ser à minha responsabilidade (já nem falando do afecto, e aquela coisa pelos vistos bizarra de cuidar e amar, e providenciar pelo seu melhor interesse e tal). Caraças, as pessoas querem mesmo arriscar ter um filho numa cama de hospital, ali vai-não-vai? Já nem falando de viver bem com a sua consciência, na hipótese de rebento seu causar contágio a rebento alheio, e inerente desgosto e aflição a quem lhe quer bem?

Olha que francamente, caraças.

The Cat Diaries (6)

É oficial. Adoptámos dois adolescentes: não nos ligam pevide; passam o dia inteiro com cara de caso e enfiados no seu canto; comem, dormem, bebem e usam wc à discrição, mas sem se dignarem a uma interacção; se por acaso lhes damos alguma atenção, uma palavrinha amiga, uma festa carinhosa, recebem-na sem refilanço, mas também sem qualquer reconhecimento; mal chega a noite e nos apanham em vale lençóis é farra à doida. Ao menos são asseados, cuidadosos, e não estragaram nada; até ver não há colchões janela fora nem televisores na banheira. Acho que nos temos de considerar abençoados.

Nos entretantos, também é oficial:



Vacinados (primeira toma, reforços e chips daqui a quinze dias; com sorte entretanto já se esqueceram e já nos odeiam menos; 'tá bem, abelha), testados e negativos a fiv e felv, orelhas limpas, desparasitados.
E, claro, baptizados.



"Como 'já posso sair?' Eu saio se quiser, ora. Até estou bem aqui." Teimosão.

É o que temos. Já os adoramos como uns totós, e acho que eles sabem. E, felinamente, aproveitam-se.
Agente Fox descobriu ontem a varanda (onde só se desloca, por enquanto, sob apertada vigilância do Man&Woman in Black), e parece ter visto a luz, descoberto os segredos do universo, provado a existência de vida extraterrestre. Miss Scully permanece céptica. Confere.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

The Cat Diaries (5)

Já não tenho dois gatos debaixo do armário da casa de banho. Tenho dois gatos debaixo do armário da casa de banho, debaixo da mesa da cozinha, debaixo do cadeirão do quarto. Eternamente grata pela brilhante ideia de ter trocado a cama por um sommier: ali não cabem eles.
Isto durante o dia. De noite dá-lhes a filoxera e, mal nos sentem deitadinhos sugaditos, começa a rave. Cozinha-corredor-quarto (por enquanto o resto está off limits), mas principalmente corredor, a avaliar pelo desalinho das passadeiras. Não me estou a queixar: besugos brincam, correm, parvam, como é bom que o façam. Já preferem as mantas ao chão, e comem que nem condenados, como se amanhã não houvesse. Um dia perceberão que haverá sempre. Tal como um dia deixarão de apanhar valentes sustos se os apanhamos fora dos esconderijos.
Falando de sustos e flagrantes delitos, ei-los.


Bandido nº1:

Bandida nº2

Não, não foram escolhidos a dedo, mas até parece. A bandida nº2 foi adoptada de boca, nem sabíamos como ela era.

(ainda não há nomes, porque derivado. já reduzimos o leque para Luke&Leia, Dexter&Debra, Scully&Mulder. isto se não nos lembrarmos de outros entretanto. ou voltarmos atrás. isto é terrível, uma angústia, não sei como é que o pessoal que procria consegue cumprir os prazos de registo)

terça-feira, 4 de abril de 2017

The Cat Diaries (may the 4th be with you)

Aquilo de eu dizer que isto, tarda nada, é um kitty blog, e aproveitar logo para meter a farpa com os habituais (bocejo) conteúdos dos babyblogs? Claro que estava a brincar. Os bichos são família, pois que são, mas não são filhos. Muitas vezes são como crianças, então não são, a fazer lembrar películas tão memoráveis como Rosemary's Baby ou The Omen, mas a maior parte das vezes são só bichos, mais ou menos peluchados / gremlinzados, mas bichos. E se, como seres sencientes (legal e finalmente reconhecidos como tal) merecem tratamento digno, respeitador, carinhoso, fofizante, convém não esquecer que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e tratar animais como criancinhas não dignifica nem uns nem outros.

Anyhoo, é isto que penso, e continuarei a pensar; pelo menos até ao dia em saiba de um/a pai/mãe que começou o dia a apanhar a vacina do tétano, por causa de um bufardo com unhas de fora dado pelo filho. Avisem-me, quando chegar esse dia. Vou gostar de saber.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Então isto agora virou um kitty-blog?

Nem fazeis ideia. E esperai até eu entrar no negócio das feirinhas (olha a banca das coleirinhas a combinar com o autefite!; olha a banca do verdadeiro e preferido escabeche de pescada!; olha a banca do reiki!), ou começar a fotografar os besugos do demo em lindíssimos kits todos matchy-matchy, com golinhas isabelinas, lacinhos nas orelhas (ela), suspensórios a combinar (ele), meia até ao joelho, mocassins pisatolas nas patinhas.

Ou então podemos falar, sei lá, do último Bourne, que ena-pai, hã, o Matt Damon ali todo grisalho mas com um caparro faz-favor, e perseguições automóveis que uma pessoa até lamenta não ter ali um auto hoje e uma calculadora para fazer contas ao prejuízo. E Taboo, quem? Oba-oba, não é?

Se calhar falamos antes das eleições autárquicas, e de que, não sendo eu a fã nº1 (nem nº2. nem nº3. bom, aí por diante. eu digo quando podem parar.) do Medina, dadas as candidatas da oposição até imprimia uma techérte c'as fuças dele e a usava até Outubro.

Ou então entramos por assuntos verdadeiramente fracturantes, como andarem empresas que não sei de que buraco saíram, com empregados com não sei que formação, a fazer podas em árvores a) na primavera, em plena floração ou folhação; b) não distinguindo um ramo ladrão de um ramo simplesmente baixo; c) com uma total inguinorância quanto à forma e estética das copas, de tal forma que há por aí árvores que ficaram a parecer uma vassoura de pernas para o ar.

Às tantas também se entra por coisas mesmo-mesmo importantes, como o melhor gelado de chocolate de sempre, esse tema que cai sempre bem e tem tudo para gerar um interessante fórum.
Isso: gelado, que vai sendo tempo dele (é sempre, mas adiante). Confesso que fiquei agradavelmente surpreendida com o gelado de chocolate lidl, e francamente louca-furiosa por não terem reposto o stock no dia em que lá fui. Bandidos, facínoras.


The Cat Diaries (um 3 que podia ser um 666)

Olá, eu sou a Izzie, e sou vítima de violência doméstico-felina. Desde já se esclarece que a culpa foi minha, toda minha, provoquei e estava mesmo a pedi-las. Ao contrário da vítima de violência doméstica que apresenta este discurso (e obviamente está a ver mal as coisas, precisando de uma valente intervenção, que uma coisa é um animal irracional negligenciado e largado na rua, outra é um ser racional com capacidade de decisão, introspecção, e não levantar a mão), é a mais pura das verdades. Excesso de confiança aliado a uma certa urgência, é o que dá. Tooooodo o trabalho já conseguido deitado ao lixo.

Ora veja-se: a) a bichita já tinha saído de baixo do armário da casa de banho, trocando esse spot de sonho pelo paraíso debaixo da mesa da cozinha; b) a besuga aceitou festas no lombito, orelhas e queixo, o que até nos fez desvalorizar as dores de joelhos e esqueleto em geral, atenta a posição em que nos temos de por para o conseguir; c) a chouriça autorizou e até gostou da escovadela com que a presenteei.

Vai daí, saltei um porradão de etapas e, sozinha, tentei agarrá-la para a enfiar na caixa transportadora para dar um pulo ao vet. É que de quando em vez faz um barulho estranho, uma espécie de rouquidão, que tememos seja uma maleita respiratória; e não temos a certeza de que esteja a comer, ao contrário do cachalote do mano / amigo / companheiro, a quem nem a clausura e spleen impede de limpar toda e qualquer taça de comida. Resultado, enfiou-me uma estaladona de mão aberta que até vi estrelas.

Sendo positiva: estive tanto tempo ao espelho a estancar sangue e desinfectar o nariz que, de duas uma, ou este também ficou inchado ou já sei onde tenho o desvio no septo de que sempre desconfiei. E vá lá, não foi uma vista. E não tenho nenhum documento com fotografia para renovar.

(me mate ralhou-me tanto. merecidamente. mas eu tinha que contar, né, tenho a marca aqui bem à vista.)

sábado, 1 de abril de 2017

The Cat Diaries (2.0)

Temos dois - 2 - dois gatos debaixo do armário da casa de banho. Conseguiram capturar a amiga / amante /palhacita / companheira do mafarrico, e agora estão juntos, at last. Debaixo do armário da casa de banho. Romântico. Ao menos ele perdeu o olhar miserável, agora só tem um olhar meio perdido.
Já franqueamos acesso a parte da casa, durante a noite, e ouvi uns miaditos e patinhas no corredor. Acho que era ela, que é claramente a mais atrevida e dominante - as you should be.
Agora há que escolher nomes, e o tema é óbvio: pares. Por enquanto há as seguintes sugestões na mesa:
- Heathcliff e Cathy (ou, vais passar a vida a soletrar e quiçá a explicar);
- Luke e Leia (duuhhh);
- Sid e Nancy (mate não acha bem, que "tiveram um triste fim"; sim, porque Heath e Cathy acabaram lindamente, queres ver);
- Também me ocorreu Fred e Ginger, mas não bate certo porque ele é que é ginger.
E é isto.
Cá estamos.
Qualquer sugestão, façam favor.