quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Liquidação total

Hoje estou com uma telha tal, com um nervosisco tão intrusivo, com uma bad vibe tão aaaarrghh, irritante, que mais vale dar vazão e evitar roer uma unha até ao sabugo, até porque não me posso repetir, e esse foi o programa da semana passada.
Donde, vou aqui destilar, quiçá vomitar (para quem não concorde) uma série de opiniões - aliás não solicitadas, porque ninguém quer saber - sobre as últimas polémicas. Algumas já não são frescas, mas olha, estão em saldo, é o que há.
Começando.

1) Claro que não se deve obrigar crianças a dar beijinhos seja a quem for, conhecidos ou desconhecidos, família ou não. Idem para abraços ou outros contactos físicos. Julguei que isto já nem levantasse celeuma, mas pronto, vivendo e aprendendo. As crianças, como os adultos, têm direito à autonomia, e a negar contacto físico. Ponto. Diferente é cumprimentar: isso sim, deveria ser incutido, porque se trata de a) reconhecer a presença do outro; b) uma simples simpatia / cortesia; c) chama-se socialização.

2) Nem tenho palavras para definir o cagaço que me vem inundando quanto mais se aproxima a segunda volta das presidenciais brasileiras. Nem m'acredito que vão eleger um trapaceiro racista / xenófobo / apologista da ditadura, tortura, violência / machista / homofóbico. Não perdoo aos auto proclamados "moderados" que se recusam a tomar posição, e que ainda têm a lata de vir a público justificar o não voto no Haddad. Tinham muito a aprender com o nosso PCP, esse partido da extrema esquerda - dizem eles, os "moderados", em matéria de engolir sapos, a bem do mal menor e interesse nacional. Alguém acha que não custou - custou pouco, custou - ao Cunhal apelar ao voto no Soares? O homem deve ter andado semanas sedado e a tomar banho com lixa grossa. Mas tinha mais sentido de Estado na unha do dedo mindinho que estes "moderados".

3) Se uma instituição particular prossegue um fim que por acaso é bem meritório, a sua actividade assegura o bem estar e sobrevivência de muitas vidas, e depende inteiramente, para seu financiamento, da boa vontade alheia - caridade, com todas as letras - não tem o direito de se armar em esquisita, e recusar donativos só porque não gosta da cara de quem os oferece, ou não concorda com a ideologia de quem os faz. Ai a gente semos pelos animais, não aceitemos 500 quilos de ração de defensores de tourada? 100% a nível de princípios, mas os princípios nunca deram de comer a ninguém. Além de que se perdeu uma bela oportunidade de dar uma bofetada metafórica naqueles de quem se discorda, acolhendo um bom gesto com graciosidade, sem deixar de frisar a discordância ideológica. E recusar uma parceria com a blogger mais influente deste nosso luso-canto, porque usa sapatos e malas de pele? Nem tenho palavras. A não ser para a blogger, que é melhor pessoa que eu e, ainda que tendo esta farpa na memória, fez uma doação. Eu não faço. O dinheiro é meu, dou a quem quiser. Ah, os animais é que sofrem. Pois, mas eles também passam fome noutras instituições, e nessas não tive a experiência humilhante e poucochinha por que me fizeram passar nesta. Pelo contrário, encontrei pessoas mesmo muito boas e altruístas.

4) Outro tema onde não consigo encontrar palavras é o do assassínio do jornalista saudita Kashoggi. Pela prepotência, pelo horror, pela total ausência de respeito pela vida, democracia, liberdade de expressão. Não vai acontecer nada, pois não, porque petróleo. E isso deixa-me doida.

5) O que também me anda a deixar doida são as midterm nos EUA. Ando aqui toda torcidinha, e nem é nada comigo - ou se calhar é. Por um lado temos quem nos aumente a esperança na humanidade - Beto!, a candidata na Georgia! - mas depois temos o Trampa em total redemoinho de insanidade, e a loucura da voter supression, onde, onde, claro, na Georgia, promovida precisamente pelo candidato e ainda senador que está rés-vés de ceder o lugar. Lá está, faltam-me de novo as palavras.

6) Já não vale a pena falar do Ronaldo, do Kavanaugh, de penas suspensas a violadores? Então não vale. É que calha ter uma sobrinha quase a fazer 18 anos, e tenho tanta, tanta tristeza de se estar a fazer mulher num mundo que não fará tanta diferença daquele em que cresci. Se houvesse uma máquina do tempo que me permitisse ir entrevistar a Izzie de 18 anos, tenho a certeza de que esta estaria bem optimista sobre o futuro, e que, quiçá, até aventaria que uma sua sobrinha ou filha não correria o risco de ser assediada, discriminada, ou ver a sua vontade e auto-determinação (sexual, social, toda!) aviltada e apoucada pelas instituições que a deveriam defender e fazer valer contra qualquer prevaricador, e tudo isto enquadrado num bonito, maravilhoso consenso universal e popular. E não. E isso deixa-me tão mais triste do que consigo expressar.

7) Falando em ideologia medieval, fiquei muito bem (not) impressionada por a polícia portuguesa achar que a) tirar fotos a arguidos no momento da detenção; b) e divulgar publicamente tais fotos não só não tem mal nenhum, como é mais que justificado. E que, quando alguns carolas (entre eles o ministro, e muito bem) vieram a público falar de direito à dignidade, e outros direitos humanos e assim, tentaram um spin desprezível com fotos achadas numa pesquisa google, provavelmente, de bélhotes agredidos (e nem se sabe por quem). Já agora, a divulgação dessas fotos também me merece muuuuita reserva. Como cereja - leia-se poia - no topo do bolo de merda que isto já é, saliento a adesão de um corpo policial (militar) ao popular argumento tipo do troll comentador de notícias online, replicado ad nauseam por todo o lado, de que criminosos não devem ter os mesmos direitos que cidadãos honestos. Este bolsonarismo não é adequado, não é aceitável em lado nenhum, e cá ainda menos. Acho que a GNR e PSP estão precisadas de uma parceria com uma editora de livros jurídicos, que faça chegar a cada efectivo um exemplar da Constituição.

E pronto, para já é só o que me lembro e andava aqui entalado.
Boas tardes a todos, que eu vou ali arreliar-me com uma muito boa que me arranjaram, mas ao menos vou de alminha mais leve. Agradecida.


15 comentários:

  1. 1 Sem dúvida.

    2 Terror.

    3 Marketing. Mas eu sou cínica.

    4 Quem é que apoia o trumpinha na guerra com o Irão?!

    5 Os democratas continuam sem estratégia. Terror II

    6 Detesto o metoo. Considero o movimento histérico e, muito pior, contraproducente. O Ronaldo não é inocente por ser o Ronaldo. A Mayorga não tem razão só por ser mulher. O Kavanaugh tinha muito por onde se pegar, nomeadamente o seu envolvimento com os processos de tortura de prisioneiros depois do 11/09. Foram pegar por aquilo que não se podia provar. Não só isso, como houve testemunhas a negar o depoimento de Ford, a quem ela chamou "pessoas a perder capacidades". Estratégia brilhante dos Democratas...outra vez. Basta ver um reality show para ver a mentalidade dos jovens em relação à sexualidade. Os mitos continuam :/.

    7 É feito pouco esforço em Portugal para contrariar essa mentalidade. Os ingleses lá vão conseguindo, os alemães também, mas basta um Bolsonaro e...:/.

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    1. Filipa, temos aqui uma bela oportunidade para um belo bate-boca bloguiano ;) Não acho nada o metoo histérico. Acho um movimento muitíssimo válido (aliás já com anos, e iniciado por uma mulher negra, sim, um buuu para uma certa tentativa de apropriação) e que veio dar voz a quem não a tinha, simplesmente (nisto do feminismo ainda é muito diferente ser mulher negra de mulher branca) ou a quem não era ouvido, ou tinha receio de falar. Houve algumas, hum, derivações? Houve, há sempre. A cena do relato do bad date com o Ansari foi demasiado - o gajo até pode ser um creep, mas enfim, o centro da discussão é o consentimento - livre! - e o abuso de poder.
      Vou inverter a tua afirmação: o Cristiano não é inocente por ser o ídolo nacional, e a Mayorga não é cúmplice / estava a pedi-las por ter cedido a uma sedução e ido para o quarto com ele. Até poderia querer ter sexo com ele, tudo bem; mas ser forçada a um determinado acto sexual que não queria, faz toda a diferença.
      O Kavanaugh tinha imensas razões para não ser nomeado. Resmas. O facto de ser um imbecil que singrou graças ao seu privilégio económico, social e branco é só o princípio. Ser um tipo sem capacidades para o cargo, ficou notório com a forma como lidou com a situação - I like beer, sigh - e extremos de desequilíbrio demonstrados, que revelam bem quem ele é, um entitled jerk. Mas achei honesto o depoimento da Ford, sinceramente, e não fosse a comunicação social pegar no assunto, acho que nunca viria à baila. Os democratas, desconfio, nem queriam ir por ali, mas isto é a minha opinião. No final de contas, é triste o estado em que ainda estamos, e falta muita educação sexual a sério.

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    2. Que trouxe o metoo? Nada de sólido. Uma imigrante ilegal não se vai poder queixar, nem uma mulher a ganhar o ordenado mínimo, etc. Em relação ao Ansari, achei aquilo de uma cretinice absoluta, como aliás acho que são a maioria das queixas relacionadas com o metoo. No lugar do Ansari, eu punha um processo em cima.

      A Ford não conseguiu provar nada, mas, estupidamente, exigiu que o seu testemunho fosse considerado uma prova. Ora, o mesmo valia para o Kavannaugh. Foi uma péssima estratégia. O resultado está aí.

      Em relação ao caso Ronaldo e Mayorga, não tenho motivos para acreditar em nenhum deles. O pior é que um processo de violação depende em demasia dos preconceitos de quem julga, ao contrário da corrupção, etc. E isso é uma merda.

      Amanhã, darei notícias dos gelados do elcorte :D.

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  2. Pois olha, bou-te partilhar. É tão bom quando os outros conseguem colocar por palavras aquilo que a gente quer dizer.

    Também há dois anos quando tentei adoptar uma gata em Portugal, uma associação, após visita, conhecimento do animal e tudo ok para a adopção, no dia em que à porta, com caixa comprada e 3 filhos a reboque, tocava à campainha em vão para ir buscar a bicha, e após várias tentativas de chamadas e uma mensagem enviada, recebi de resposta: achamos que não são o casal apropriado para a gata em questão.
    Eles parece que acharam estranho, quando ano e meio depois, através dos contactos usados para falar sobre a adopção, vieram pedir donativos monetários, receberem como resposta: acham que tenho cara se estúpida?

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    1. Essa história é inacreditável, nem sei que diga :/

      A situação foi com a UZ, acho que já é sabido, e não é associação que me mereça muita simpatia, cá por coisas pessoais e que vou ouvindo / lendo. Nunca tentei adoptar por eles, porque não queria lidar com um certo fanatismo com que já me havia deparado. Que haja regras e rigor, sim senhor, mas ali parece-me que é pior que isso. Parece-me que não têm uma direcção muito equilibrada, e haverá muito boa gente a trabalhar (voluntariamente) por eles, mas quem manda é uma pequena clique sem rei nem roque.
      Terem comprado uma guerra nas redes sociais com a sonae e a auchan, insinuando que estas se "venderam" a um monopólio com o banco solidário animal, foi de um fanatismo e estupidez que me espantam. As recolhas da animal life ajudam muito mais animais que aqueles que eles lá têm. E se podem dar ao luxo de seleccionar ajudas... enfim.

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    2. Houve uma "polémica" no insta da pipoca por causa disto, dado que ela contou que lhe recusaram uma parceria com a explicação de que ela usava carteiras e sapatos em pele, lol...

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  3. Lavaste a tua alma e eu bem que experimentei dar um ou outro bitaite no facebook mas apercebi-me que sou contra a grande maioria dos valores das pessoas. E isso deixou-me muito triste. Pensei que certas coisas nao fossem julgamentos de valor, que fosse clara a distincao entre o que e' certo e o que e' errado. E o que vi e' que a grande maioria da pessoas que conheco implementa ali uma escala bem cinzenta, bem escura, quando lhe falta moralidade. E continua a achar que nao e' falta de moralidade, e' so' ter uma opiniao diferente. E talvez seja isso que mais me custa, e' nem admitir que se e' enviesado e torto. Doente. Estou doente.

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    1. AEnima, há muitas coisas que também me parecem cristalinas, clarinhas, mas parece que não. Ando triste, triste com tanta coisa.

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  4. Olha ultimamente tem sido um fartar vilanagem de "desamiganço" no facebook e de respostas: não vou discutir isto contigo!
    Como diz a AEnima, não se trata de ter opiniões diferentes, trata-se de perceber o que é certo e o que é errado.
    Não imaginas as desilusões que tenho tido com algumas pessoas que considerava mais ou menos equilibradas e conscientes.

    Beijinhos e fica bem
    Dulce / Porto

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    1. Dulce, há coisas que também já não consigo debater ou discutir. Ai és racista? Adeuzinho. Não há paciência, uma pessoa só se desgasta e não consegue mudar o outro.
      Beijinhos ;)

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  5. Tou ctg. A fadiga imensa n permite alongar mto...
    Todos estes temas me agastam, outros é mais entristecem.
    O pior é q a cada partilha estúpida que vejo no FB, só me apetece insultar as pessoas (que por acaso até calham ser amigos e/ou familiares)

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    1. Sónia, tenho a sorte (?) de ter um face muito restrito, poucos amigos, e felizmente não tenho tido desilusões. Mas lê-se cada coisa, credo. Se uma pessoa estiver virada para um camadão de nervos é só clicar nos comentários de notícias :P

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  6. Confesso que boa parte das polémicas me anda a passar ao lado porque acho tudo tão exagerado, porque é tão difícil exprimir uma opinião sem ter que justificar cada vírgula e porque há tanta gente por aí com quem é impossível conversar...
    1. A história dos beijinhos aos avós foi uma dos me que passou. Por um lado, os PeC que tento ver acabam comigo antes do primeiro intervalo e fico muito enervada, pelo que já desisti e dp porque a confusão no Twitter foi tal que não me apeteceu opinar. Não sou, nunca fui, apologista de obrigar os miúdos a dar beijinhos mas acho o exemplo infeliz (porque afasta a discussão para outras coisas) porque acho que é se uma criança não quiser dar um beijinho aos avós é preciso tentar perceber porquê. Mas é importante perceber que um ser pequenino também é gente.

    2. O mundo anda a assustar-me e sinceramente não sei como se dá a volta a isto. Assusta-me muito a ignorância. Não a ignorância que vem da iliteracia mas a ignorância escolhida, auto-imposta, numa época em que a informação (ainda) está disponível para todos. Sinto-me cada vez mais um personagem numa distopia.

    3. Essa passou-me ao lado. Mas a UZ tem-me desiludido bastante no que diz respeito à postura pública. Não sabia dessa deles terem recusado a Pipoca… parece-me só muito estúpido.

    4) Não há palavras. Nem para os actos, nem para as reacções nem para as desculpas esfarrapadas. Não é novidade, infelizmente.

    5) Ando tão a leste que só tenho uma vaga noção do que falas. Tenho que me pôr a par. Mas tb aí, já não há grande novidades, não é?

    6) Num dos podcast que oiço, sobre os tais livros que um dia te vou convencer a ler, alguém dizia que na literatura (fantástica) é o único sítio onde se pode falar, discutir e reflectir sobre religião sem que haja gente louca a entrar em parafuso e a sentir-se ofendida. Tenho muito medo que se deixe de falar de coisas tão importantes como estas porque a maioria das vozes que se ouvem são de gente maluca. No outro dia caí na asneira de ler uma crónica de opinião do energúmeno daquele psicólogo da TV (não me lembro do nome) em que, falando do caso Ronaldo, dizia ele que 75% das denúncias das mulheres eram falsas (qdo o número que alguns estudos apontam extremamente baixo – pelo menos tendo em conta números oficiais do relatório Anual de Segurança interna ou números oficias em vários países, por exemplo). Também não percebo a relutância (ou não quero perceber) com os vários movimentos que pretendem dar voz (muito mais do que condenações) às vitimas. Continuamos a culpabilizar as vítimas, a desvalorizar o que lhes aconteceu acusando-as não só de mentira mas também de minarem os processos de “verdadeiras vítimas”. Isto parece-me de uma crueldade…

    7) dizes isso tudo muito melhor que eu.

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    1. Nisso dos beijinhos, como tenho um sobrinho que não os dá, nem um, nem meio, não estranho nada. O puto gosta dos avós? Gosta. Dá beijinhos? Népia. Idem para o resto do mundo. É mesmo assim, não é defeito, é feitio, e por mim está tudo bem. Nem sempre a recusa será sintoma de algo.

      De resto, 'tamos nessa, né.
      Esse tal psi da tevê é o Quintino Aires, e não sei como ainda lhe dão tempo de antena, o homem é um celerado, uma fraude. Esse número é inventado, aliás, parece que é costume da criatura inventar estatísticas para apoiar as suas opiniões. Recordo vagamente de há tempos ter feito uma correlação entre o consumo de marijuana e a prática de actos homossexuais. O homem é uma abjecção.

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