quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Not woke, insomniac

 Hoje em dia não se pode simplesmente 'tar, que és logo acusado de não ser envolvido, ou esquecer o sofrimento de não sei que franja da sociedade. Novidades: o tempo não é elástico, um gajo não consegue ir a todas. Digo mais: desconfio imenso de quem quer ir ou vai a todas. De duas, uma: ou não tem nada com que se ocupar e tornou-se activista profissional (revirar de olhos), ou é um ser acrítico que simplesmente adere a tudo o que está a dar para o seu lado ideológico (duplo revirar de olhos) - porque, a sério, não é fisica, psicológica ou intelectualmente possível - ou honesto - ter uma opinião fundada e informada sobre tudo, mas tudo o que se passa.

É triste, mas dominante: não ter opinião sobre determinado assunto é coisa para pena capital. Não tens opinião, não sabes que determinada questão é problemática, não estás acordado, não estás consciente, e isso, por sua vez é problemático. Estares fora é uma opção, donde, estás a escolher não te interessar, donde, estás a contribuir para a perpetuação do problema, donde, permites a opressão / agressão / exclusão de x/y/z, donde, fazes parte do problema, do sistema, és o sistema. 

O que é problemático, nisto tudo, é a seca que esta forma de estar me dá. Não me acorda mas, admito, contrariada, tem dias que me piora as insónias. O movimento woke está a tornar-me insomne. E cansada. Tão cansada.

As pessoas têm o direito a não ter ou querer não ter opinião sobre determinado assunto. Por diversas razões: ou não sabem; ou não sabem e não querem saber; ou sabem mas não querem saber. Todas são legítimas. Confesso que não tenho opinião formada e informada sobre imensas coisas. Sobre muitas tenho um princípio de opinião, ou seja, tenho certos factos e conclusões como certos, mas não me levam a uma conclusão única, final, e inabalável. Sobre algumas coisas tenho opinião formada, e sobre outras já não quero saber. Mas não partilho estas não, meias e opiniões com toda a gente. Porque não quero, porque não sou parva, e porque sou menina para responder "não tenho conhecimentos que me permitam formar uma opinião" a qualquer pergunta. Sem vergonha. 

Mas se tenho uma opinião, ó meninos, não me venham dizer que é problemática. Sabem o que era problemático, aqui há 50 anos? Ter uma opinião. Defender algo que é contra-corrente (depende sempre do público, mas hoje em dia ninguém diria) não faz de ti um facho, um não-sei-que-fóbico, um opressor, um traumatizador dos oprimidos. [Essa é outra, a obsessão com o trauma, mas fica para outra diatribe.] Dá lugar a discussão. Isso! Opiniões diferentes -> discussão, debate! Mas não, parece que não se pode. No meu caso, porque sou boomer (não sou, em Portugal ninguém é, no rigor dos conceitos, mas para a chavalada parece que isso não interessa nada), e ao querer contrapor, desafiar, rebater, estou a ferir os sentimentos da parte contrária, que se sente atacada, não se sente segura e, portanto, não me deixa completar uma frase sem me interromper com um destes neo-chavões, e acaba definitivamente com a conversa com uma retirada emocional.

E pior que opiniões ou não opiniões, é gostar de alguma coisa que caiu no desagrado dos iluminados acordados. Ó céus, é o degredo. Não se pode. Não pode. E, mesmo não gostando, lá vão eles, todos!, por dever de ofício, ler / assistir / ouvir, para melhor se indignar. Tenho uma teoria: tempo a mais. É um privilégio que não possuo: se um livro, filme, música não me agrada, até posso dar cinco, dez minutos de benefício da dúvida, mas continuando a má opinião, passa a outro. Há melhor em lista de espera, e não tenho tempo para queimar.

Minto, às vezes lá calha ter um tempinho em que a cabeça não dá para mais, e aproveito para acabar o último do Trevor Noah que deixámos a menos de meio, por puro tédio. Me mate desistiu, eu um dia voltei a pegar, e confirmei, triste. Porque já lhe li um livro fantástico, e ri muito com outro stand-up, mas este é tão insípido, tão blah, tão sensaborão. Não ri, zero, nada. Mas atenção: não ofende ninguém, o que lhe mereceu muitos e bons encómios. É, portanto, um espectáculo insípido. Bom para certos palatos, mas eu gosto da minha comédia como não gosto da minha comida: cheia de sabor, extra-temperada. Como a da Taylor Tomlinson, ou da Iliza Shlesinger. Que não ofendem nenhuma espécie protegida, mas têm muita piada.

É claro que há comediantes que considero ofensivos, ainda outro dia aguentámos uns dez minutos de um que não conhecíamos, Matt Rife. Odiámos. Fomos para as redes vociferar, exigir um auto de fé? Não. Parámos e fomos ver outra coisa. Não é o primeiro.

Depois há aqueles de quem gostamos, mas nunca sabemos se vamos continuar a gostar. Acontece, uma pessoa desgosta-se constantemente. E às vezes até vê e consegue dar valor a coisas que desgostam. Um exemplo, eu odiei, com todas as letras, em caps e bold, Succession; aquela gente e estilo de vida dava-me vómitos, queria que morressem todos, mas mortes lentas, dolorosas e sofridas, e vi tudinho. Porque é uma excelente série, muito bem escrita e interpretada. 

E é isso que me custa, que as pessoas não consigam dizer "é bom, reconheço valor, mas não é para mim". Dizem horrores da Gadsby, quando, na verdade, acho que queriam antes dizer aquilo ali. Ou "não consigo entender comé c'uma gaija feia / gôda / lésbica tem mais sucesso que eu, buhuuu". Eu gosto E dou valor. 

E falemos do Gervais: o gajo não está (podre de!) rico por ter roubado ou enganado meio mundo. O produto dele vende, e vende muitíssimo bem, de forma constante, consistente, e há mais de uma década, porque é BOM. Fim de conversa. Não gostam, não comem. Eu odeio sushi, e consigo sempre comer qualquer coisa nos restaurantes japoneses; não faço é uma fita a exigir p'exinho grelhado com arroz de grelos. Idem para Chappelle. Ui, a urticária. Com este fiz um percurso engraçado e muito anti-woke: gostei, deixei de gostar quando estava no auge, continuei a não gostar quando voltou, e voltei a gostar. Pior: adorei o último, The Dreamer. O que é suficiente para me condenar às chamas do inferno woke, o cancelamento total e irrevogável, mas ainda acrescento um agravamento de pena: o Armageddon é melhor, tanto ao vivo (iep, estava lá :P) como na tv (claro que voltámos a ver), embora não seja tão selvagem, digo, bom como anterior Supernature. É ofensivo? Será, sensibilidades há muitas. Ninguém é obrigado a ver. 

Pronto, já forneci todos os argumentos para a acusação. Quem quiser debater, venha, estamos na boa. Se não souber responder digo "não sei"; se não tiver opinião, admito que não a tenho. Essa honestidade ninguém pode negar que tenho. Tomara muitos. Mas sim, os gostos discutem-se. Já não se educam, a menos que se esteja a falar de vossos filhinhos: a esses eduquem como quiserem, [a minha geração tem feito um trabalho do caralho, estão todos de parabéns, sim, é ironia]. Já eu, sou adulta, e não aceito doutrinamentos, ou tentativas de. Fartinha, a ponto de desmaiar de sofrência, de homilias. Ide pregar para uma azinheira, pode ser que vos apareça a Vossa Senhora e faça a caridade de vos levar consigo.  

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Sim senhora, sim senhora

 Diz ela de mãozinhas atrás das costas, olhando em redor com toda a atenção, tentando micar defeitos na pintura, manchas de humidade. 

Cinco dias de ano novo, dou-lhe cinco em dez, ou seja, tem espaço para crescer. Ou não. A primeira semana não está especialmente famosa, teve um feriado, daí os cinco valores. Mas hummm, não sei. Anteontem fui ao supermercado e já não havia mon chérie. Só um apontamento, hein. 

Lá a ver. Lá a ver.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

(esta agora baixinho, para ninguém ouvir)

 (ou ainda me cancelam o cartão de feminista, ahém)

Também vimos o Barbie. O filme, não o Klaus (piada muito datada, para pessoas antigas como eu). Fiquei entre o desconsolada (eu nem gosto na boneca, eu era mais Nancy, e estou aqui a ver isto), e o furiosa (ah bom, se isto é o feminismo moderno, milenial, de terceira vaga, estamos bem entregues, sim senhora).

Em resumo, valha-me uma divindade qualquer, não sou esquisita, e assim com'assim também não acredito. Mas gostava porque, no caso, uns raios e coriscos eram bem adequados. Aquilo, pah, aquilo é um desfiar de feminismo palatável, urbano-chic, cor-de-rosinha, vogue, não se aguenta. Ai, as expectativas que caem sobre as mulheres, mas depois a cena "celulite" é running gag. Ai, das mulheres espera-se e exige-se tanto, e se queremos brilhar temos de trabalhar o dobro, mas o "trabalho" da bonecada é tão pueril, tão fofinhoco-superficial, e pior, tão assente num status quo que, no mundo real, não admitimos exista! Sim, a barbielandia é um local assente numa organização social profundamente injusta, de primado de um sexo sobre outro porque (ahém) uma é o brinquedo "oficial" e o outro é o "bengala". Anyone? E a cena de ah, é a boneca que nos faz crer que as mulheres podem ser o que quiserem. Primeiro, não podem. Podem querer ser, mas não podem ser. Porque realidade, não me obriguem a dar exemplos. E deixem-se de merdas, não basta vestir uma boneca de fato macaco (rosa, já agora) para vir dizer que promove a equidade. Balelas. 

Anyhoo, já estava enjoada de rosa, e de vacuidade, e fofinhice, e nós rulamos, yay, e somos windas apesar de diferentes (mas celulite, iac, só há uma gorducha, e a esquisita vive à margem, adiante), e eis que entra o Ken. Ok, a representação, tal como a da Barbie, é fidedigna, é aquilo que ele é. E depois lá vão todos para o mundo real, mas não tão divertidamente como noutras fantasias. Spoiler alert, o Ken descobre que (pá, que barrigada de riso) só por ser home pode arrogar-se ser o que quiser, apesar de - óbvio - não ter competência seja para o que for. Mas é macho, e descobre a machitude no mundo real. E leva-a para a Barbielândia, onde reivindica as casinhas cor de rosa (nota, não estou numa cruzada para defender os homens, porque não precisam, mas o facto de o Ken não ter casa é.... esquisito) e machifica  os outros Kens. E pronto! Lição social! Os Kens não têm nada na cabeça (lol) mas só porque são homens podem tudo (cansaço). E a Barbie fica muito espantada por a sua influência no mundo real (a cena de promover a mulher, caso já tenham esquecido) não ser tão grande como devia (pah, 'tá mal). Claro que a Barbie volta, não gosta do papel que os Ken chamaram a si, e organizam, as B todas, um golpe para reconquistar o poder, com o plano mais tolinho de sempre, e que resulta porque os Ken são uns cabeças de vento. 

Muito cansada. Muito, muito cansada. É que nem sequer terminam num tom positivo de cooperação e equidade entre sexos, nope, a história dá uma volta completa e regressa ao ponto de partida: ninguém aprende, ninguém evolui.

E depois há a coisa de simplificar as partilhas e tomadas de poder, que as m'lheres são inteligentes, a gente ganha, lol. Não. Porque os Ken, além de descobrirem que o man-card dá acesso prioritário a tudo, também aprenderiam, porque o veriam, que um encontrão, um empurrão, um bananão, e ao ar a inteligência. Porque se queremos falar de realidade, falemos disso: a ainda prevalente submissão feminina assenta na repressão que, por sua vez, depende da iminência do exercício da força física, da efetiva, real, sempre presente violência. Não há corderosismo que branqueie isto. 

Suspiros. 

Na altura achei que era uma cena geracional, o não ter gostado do As Mulherzinhas desta realizadora (enervou-me tanto, mas tanto, dizer-se que era a versão feminista que as mulheres merecem! pá, o livro já é feminista. mas realista, também. e se é preciso explicar, por a+b, o sentido de vida da Amy, então é porque não perceberam nada), mas pelos vistos somos mesmo incompatíveis. Feminismo deste, dispenso.

  

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Pagava para saber

Desde quando passou a ser socialmente aceitável uma pessoa ter atitudes rudes, malcriadas, mesmo ordinárias, não em contexto de convívio social, entre gente que se conhece e até pode ter abertura para certas "manifestações", mas com desconhecidos, gente que está a exercer uma função ou profissão, a fazer a sua vidinha, ou a quem simplesmente calhou o azar de se cruzar com a bestunça? É no trânsito, é em estabelecimentos (e juro, é preciso ser, além de uma cavalgadura, muito desprovido de imaginação para hostilizar alguém que vai mexer na nossa comida, adiante), é no trabalho, e já não tenho espaço mental, não tenho paciência, não tenho obrigação, e outro dia a coisa chegou a tal ponto que me levantei e saí, a perimenopausa, o hipertiroidismo, a carência de ferro, a ansiedade crónica e o mau feitio juntaram-se todos numa manobra defensiva de "não tenho força nem vontade de aturar isto" e, em bom rigor, não tenho mesmo o luxo de poder dever encaixar feitios merdosos, misóginos, e grunhos. 

E, para acamar, depois de uma nega de quem manda mais que eu, alguém a tentar meter-me uma cunha, puxando à lagriminha. Fiquei dois, três dias sem reação. É que favores, não temos. Nem dados, nem vendidos, nem emprestados. A lata, sequer, de pedir. Já ultrapassa a falta de noção, é não me conhecer. Ofendi. 

(há a tese que é desde a pandemia, as pessoas "mudaram"; mas, se vamos por aí, há tanto psicólogo sem trabalho, invistam um bocadinho no olhar para dentro e melhoramento pessoal, hã.)

   

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

'tão

No sábado vimos o último do Indiana Jones (até me dá uma tontura, ter o nome "Indiana Jones" e último na mesma frase) e ficámos tão desconsoladinhos, tão tristes, tão amarfanhados, que vimos os outros (três, são só três, e em toda a minha vida só vi três, e esfolo, estripo, dependuro quem me contrariar) de seguida.

 Óia. Pah. Lagriminha de felicidade e nostalgia. 

Um dia, contaremos aos pequenitos, à roda de uma fogueira (virtual), debaixo de um céu estrelado (gerado por i.a.), sobre aqueles tempos em que se levava quinze dias, três semanas -depois de outros tantos a escrever, desenhar storyboards, pré-produzir - a filmar uma cena de ação, com atores, duplos, uma equipa técnica bastante boa e grande, e a coisa ficava, ó, bem melhor c'as joças que vedes agora. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Vim só aqui aproveitar um bocadinho, enquanto não me fino

Como já tenho pouco que fazer (quarenta trabalhos quarenta, para ler e avaliar, somados ao trabalho normal que nesta altura por acaso é ainda mais anormal que a anormalidade normal) andei a ver de cursos pós graduados em que me podia inscrever. Eia! Aprender! Fazer curriculum! Eia! Juro, há dias em que fico exausta só de me aturar, não entendo é como consigo nos outros dias. Encontrei um bem interessante, por sinal. Uma matéria em que não só ia consolidar conhecimentos como até aprender cenas novas, e bem úteis para o meu dia a dia (no trabalho, a pós graduação não me vai passar roupa, mas é pena). Custando mil e cótrocentos pastéis de bacalhau. Eia. Até vale? Valerá. Mas some-se as três horas por semana em zoom pós-laboral, por quase cinco meses, e não, pah, não aguento. Caiu a ficha da exaustão. Pior: uma das aulas calhava no aniversário de me mate. Resolvido. Mas é bem interessante. E útil, já disse. 

Estava nesta ambivalência de Izzie hiperactiva / Izzie preguiçosona, e vi outro curso. Eia! Aprender! Não fazer curriculum! Tempos livres! Actividade manual! Eia! Inscrevi-me, paguei (proporcionalmente, é bem mais caro, mas é bem feita, quem manda os académicos de direito serem tão chatos, é o mercado) e vou queimar dois dias de descanso lidando com um material volátil altamente tóxico. Na brochura do curso nem uma palavra sobre equipamento de segurança individual. 'Tá bem, fornecem todo o material, vou dar a abébia de pensar que as luvas de nitrilo sim senhor, mas não acredito na máscara de vapores, méne, eu sei quanto custa uma, porque a comprei (sou uma pessoa dada a empreitadas que implicam manuseamentos de acetonas, diluentes e outros potenciais acidentes). Enfim, levo na mochila. Não vou lixar mais os pulmões que o tabaco já lixou, nem arriscar uma dermatite de contacto, ou infecção ocular (quando se fala de coises voláteis, convém usar ólicos estanques, tenho três pares de óculos de segurança, estes são como os de natação, mas em grande, para te ver melhorrrr, comprei em conjunto com a máscara), chiça.   

De resto, é assim, a vida. Chata como uma panqueca. E seca como, também. É barrar de manteiga. Ou doce. E canela. Vou deixar a pós graduação em stand by, que é como quem diz, nope. Tenho tanto livro para ler, e tanto soninho para repor. E tanta malha para acabar, iniciar, e retomar. E um bolo inglês prometido. E uma casa para arrumar - a sério. Não tenho tempo para viver tudo o que quero. 


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Coisas que não sabia, e também ainda ninguém me tinha dito, mas algumas já calculava

Ensinar é giro, mas é como andar no arame: não sabemos se estamos a fazer papel de idiota ou um figuraço do caraças; se chegamos ao outro lado ou nos estampamos em grande. De qualquer forma, a experiência já valeu a pena. Diz a pessoa quase a chegar ao outro lado, mas que se calhar ainda cai no vazio. Sensação disso não me falta.

Corrigir trabalhos é cocó. Dá uma trabalheira insana, às tantas questionamos se não estamos a ser umas bestas perfeccionistas sinistras - pausa para auto terapia, analisar se o nosso síndrome de impostor decidiu abrir sucursais e criar trauma ao seu redor -; ou umas fadinhas madrinhas muito tolinhas - pausa para auto análise, tentar entender se estamos de facto a achar que o aluno fez uma coisa upa-upa ou estamos a empolar derivado daquela necessidade de que gostem de nós, nos aprovem, nos amem! Chegar ao meio termo leva sé-cu-los, reler três vezes a mesma coisa, vezes vinte, x páginas, tentar afinar critérios, apontar ao meio, sempre o equilíbrio, e acabar a pensar que fizemos tudo mal, é, ó, terrível. E cansativo, pior quando feito em tempo livre, tenho sono, desejo falecer.

Avaliar é para durões, e pessoas com o tiquinho de psicopatia que me falta; e ele há dias em que não falta muito, mas hoje estou capaz de chorar todas as gotas de sangue no meu corpo por causa que há quem não se reveja na nota e o quaralho, olha, fizessem melhor que eu expliquei melhor, nã estivessem no uátezep, e 13 ou 14 ainda é uma g'anda nota, querem viver embrulhadinhos em plástico de bolhas, força, depois até fazem um barulho giro a cair, ou ir contra esquinas, phodam-se mazé, a vida é dura, não gostam, invistam numa fábrica de colchões.

(tenho um ligeiro feeling que não nasci para isto)  

 

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Está tudo maluco

Considerando que uma pessoa já não consegue distinguir quem é utente e quem governa o manicómio, e isto quer a nível local quer internacional, vou, doravante, abster-me de tecer comentários à situação em curso, seja ela qual for. Não tenho estudos, não tenho ansiolíticos que cheguem, não tenho vinho.

De qualquer forma, e porque consumo de bens essenciais só indirectamente diz respeito à situação, quero deixar a minha indignação, o meu bufanço, por uma garrafa do mais normalzinho azeite me ter custado sete, sete, hã, sete euros e quarenta e nove, e outras havia mais caras, outras também mais baratas, as de marca branca, mas com azeite não se brinca e este dura-me mais de um ano (que é o intervalo com que se gasta uma garrafa lá em casa, óleo ainda dura mais) sem ficar rançoso, mas friso, é simplezinho, nada de cenas grumê ou azeitonas criadas a leite de bezerro albino, nã, azeite normalisco. Se bem me recordo, a última vez que comprei andava a passar dos quatro para os cinco euros, e olha lá. Ao menos a manteiga, que a isso sim dou avio, está a baixar para os valores pré guerra da Ucrânia. Mas não se pode. É um escândalo. E não vejo ninguém a fazer nada. Ao menos já há mon chérie à venda, e saquei em promoção no lidl, nem tudo é deprimente (já nem me lembro por que raios comprei o azeite, devo ter visto alguma receita que já me esqueci).

No campo do electrodoméstico, tendo-se reformado a minha rica empregada de quase 19 anos, e apenas tendo conseguido alguém por metade do tempo que ela fazia (e o que custou, entre súplicas a um deus que não acredito, uivos, inquirições vãs, lágrimas),  rendi-me à evidência e adquiri um aspirador robot. Claro que antes de decidir queimei os fusíveis todos a pesquisar marcas, e gastei toda a capacidade emocional a angustiar-me com a escolha de um coiso com o tamanho de um prato de conduto que custa um piparote e com um piparote mal dado pode finar-se. A conselho amigo adquiri um robotrock, que sim senhora, e assim lá temos Rocky Balboa a por KO o cotão e poeirada entre passagens do aspirador a sério que, já agora, as minhas costas não permitem manusear. E a falar sozinho, que é todo um entretém, ó me mate, qué qu'ele tá a dizer?, e ele hã? e eu lá a ver se o rocky se enredou num fio, e ele, olha, estava parado no corredor a olhar para debaixo do móvel e eu virei-o, e eu 'tá bem. Todo um folclore doméstico, os gatos que o digam, três ignoram o bicho e põem-se ao fresco, o quarto, Mad Max, claro, segue-o de olhão aberto, escondido pelas ombreiras, e temo que seja o primeiro a perder o medo e a fazer-lhe uma emboscada. Luta à sujidade, sim, mas com supervisão, portanto, derivado do perigo felino.

Voltando à questão custo de vida e electrodoméstico, também eles caros comó raio, quando fui levantar o bicho à loja, que não me pagam para publicitar, e já merecia, o empregado lá me convenceu a uma extensão da garantia (eu cá conheço Mad Max, ok), e rematou, como num desabafo, que nunca tinha visto um aspirador tão caro. 'esculpa? Comássim? O moce está estacionado na caixa, mesmo em frente ao expositor da dyson, e o meu Rockyzinho é que é muito caro? Como se atreve?  Às vezes tenho pena de tomar re-li-gio-sa-men-te a medicação, que (já) não me deixa soltar a Karen que há em mim. Pena. Não, depois do ralhete épico (e merecido) que dei a um velhote na fila da caixa do lidl, poupem-me a mais vergonhas. Mas isso do meu destrambelhamento metabólico, que me fazia perder a cabeça com um santo, fica para outro dia, que já estou outra vez cheia de fome e vou lanchar.  

 

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Euromilhões

 Se ganhasse ao disparate (que ouço, leio, ou aturo) estava milionária. Esta quinzena, então, acho que me tinha rendido pelo ano inteiro. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

*tão crescida*

Ontem pedi um orçamento para uma intervenção cirúrgica, com duas opções / abordagens. 

É oficial, cheguei à idade em que se trata o corpitxo como um automóvel. Esta viatura precisa de mexer em peças, e há que fazer a análise do custo / benefício, o que implica raciocínios como a) por quanto vale a pena investir a tratar do sistema eléctrico já, b) ou espera-se pelo curto circuito final para justificar o arranjo?

Quando foi a situação das costas a ponderação foi simples, um carro não anda sem direção, troca-se já o eixo e o que for preciso; mas há outras situações em que o SNS não nos pode ou consegue valer (e devia, que isto pode prevenir gastos futuros bem mais significativos e, dado o elevadíssimo custo, estaria afastadíssima a hipótese de tratamento pelo privado; portanto, electiva é o caracinhas), e a nossa opção é gastar agora e sofrer menos, ou aguentar mais uns anitos e pronto, já que tem que ser. 

Lá a ver a continha que me apresentam. Da-se. 

(histerectomias à borla para todas, já!)


quarta-feira, 18 de outubro de 2023

É tudo demasiado mau

E é isto, o post. 

Porque é mesmo tudo demasiado mau. 

(vou ao gelado e hoje nem ligo a tv)


quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Numa terra estranha

 Turistificaram o Pinóquio e o Café Gelo, que agora servem refeições debaixo de toldos azuis e em mesas com toalhinha de pano, têm montra de peixes, garçons de farda preta e branca (com avental!) de corte moderno, nada da calça de térilene, camisa branca e laço de elástico que nunca estava direito. Juro que já vi aquilo em todo o lado da Baixa onde abre um restaurante novo: a ilusão do chique, do bem, do moderno, atendido por migrantes e gerido sabe-se lá por quem. 

Quero os tascos de parede de azulejo foleiro, mesa de fórmica, cadeiras que arrastam com estrondo, o almoço feito em panela de alumínio ou tacho de barro, o carapau grelhado com molho à espanhola ou só azeite, a batata frita descascada e palitada à mão, a mousse com cheirinho. Ainda há alguns, verdade, mas no centro-centro dir-se-ia que foram proibidos. A Rua das Portas de Santo Antão está um corredor de tourist traps, o destroço do sinal outrora luminoso da Solmar  ainda pendurado, a anunciar ruína. Não há nada verdadeiro, genuíno. 
Uma pessoa sai confiante que as coisas ainda são o que são, e de repente está num país onde já não é bem vinda.

Também tenho saudades de (poder) ir ao Chiado de elétrico, só porque sim. Já perdi a conta aos anos.

(yep, há muito, muito tempo que não ia para ali. aliás, de abril a outubro evito a Baixa, para não dizer que não ponho lá os pés. quanto aos tascos que ainda há, é fazer figas para que não me desapareçam, valha-me a Nossa Senhora da Maçã Verde e o Santo Protetor da Casa do Miguel, e vejam lá agora não m'inundem aquilo de turistas)

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Para começar a semana

 É possível ser crítico da atuação de um Estado em relação a outro Estado, empatizar com o sofrimento e luta da população oprimida do segundo e, ainda assim, ficar horrorizado quando um grupo terrorista chacina indiscriminadamente civis do primeiro. E condenar, claro, porque nem podia ser de outra forma, a atuação de tal grupo terrorista, sem "mas", sem "é preciso contextualizar", ou "é uma luta legítima".

NÃO.

Repetir todos os dias, pela manhã e noitinha: massacre de civis, sejam eles quem forem, não é uma forma de luta legítima, e ainda menos aceitável. Sem "ah, mas os civis do outro país..."

NÃO.

Não pagam inocentes pela morte de inocentes. Aceitar isto é perder a última centelha de decência, de humanidade, de sentido de justiça. Recuso.


Pronto, era só isto, e que cada vez estou mais orfãzinha, ideologicamente falando; a minha esquerda, que contemporiza com o horror disseminado por um grupo terrorista fundamentalista islâmico, ironicamente, financiado pelo Irão, uma teocracia, onde ainda a semana passada mais uma jovem foi posta em coma pela polícia da moral por andar de cabeça destapada, a minha esquerda, dizia eu, perdeu o norte, caiu e bateu com a cabeça, como dizia o outro jaz morta e apodrece, e parece que só meia dúzia sente o cheiro e vê o cadáver. 

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Vai! Tu consegues! O caraças!

 Enquanto fazemos o luto por The Bear 2 (o episódio seis vai levar os émis todos, todos, e merece), decidimos picar a lista dos filmes animados da Disnér. Yep, cenas de gente que não tem coisas a sério para fazer, MAS, há que precisar, não pretendo ver todos-todos. Me mate pretende, coisas lá dele, mas já é crescido e faz o que entender, a mim é que num'óbriga.

De momento, já marcharam The Aristocats (sim, este plano é também uma catarse por uma infância traumatizada, a ver a porra dos filmes dobrados em brasileiro), Vaiana, e já há uns tempos vimos a Branca de Neve, e The Sword in the Stone. 

Fun fact: o Aristogatos / Aristocats traz um disclaimer inicial, sobre a forma de retratar pessoas de outras culturas, iadaiada, como isso já não se faz, etc e tal. Bem melhor que a queima de livros, filmes, séries que alguns puristas woke advogam. Adiante.

Ontem marchou A Pequena Sereia, a antiga, não gostamos de versões com 'ssoas e... pá. Desiludi. Se um gajo vai animar uma história criada pelo Hans Chirstian Andersen, pá, é porque a leu. Em calhando, até leu mais coisinhas do senhor. E já sabe que não há uma, uma historinha que não esteja tingida de negrume, horror, desesperança, melancolia, às vezes todas ao mesmo tempo. A Pequena Sereia deve ser das histórias mais cruéis, desoladoras, triste, que já saíram daquela pena. E o qué c'os disneiritos fazem com o material? Um final feliz! Com uma má a meio, claro, que seria, mas derrotada! Cantoria! Alegria! 

Sinceramente, até nem me faria espécie que tornassem o conto um bocadinho mais kid friendly, mas aquilo é, desculpem a franqueza, uma merdice. Alguém se lembra do Bambi? Ali quase a começar com a morte da mãe? E a Branca de Neve, aquela madrasta? Eu tinha cinco anos quando vi, e ia morrendo de ataque cardíaco! Pronto, que não se traumatize as crianças como antes (pena). Mas querem crianças não traumatizadas, ou criancinhas iludidas, até a atirar para o apatetado, a julgar que o bem prevalece sempre, e tudo acaba a contento? Petizes a serem criados para caírem nas patranhas de que tudo está bem e se não está, vai estar, depende deles!, da sua fortitude!, do seu empenho!, mesmo bons para caírem nas mãos de coaches? É isso que querem? Um dia apanharem o vosso filho a ler Gustavo Santos? Ou o Peterson? À vontade. Força. Traumatizar, não; mas caraças, shit happens, às vezes a vida corre mal, ele há pessoas que morrem, e isto não acontece só aos maus, não pode ser vencido só com uma boa atitude, e não é um reflexo de serem mais ou menos meritórios. Simplesmente, shit happens... E também lhes vai acontecer. 

E pronto, esta Piquena Sereia é uma valente merda, que é, e vendo a data em que saiu explica muito sobre a geração de milenials, zês e por aí fora. Palavra de uma GenX que aos oito anos já tinha um canivete (antes que perguntem, para afiar paus e fazer setas, ora, e o mais que fosse preciso. e sim, as setas eram usadas, mas felizmente não tínhamos muito jeito para fazer arcos. chegámos todos a adultos com os dois óios funcionais, tirando algumas miopias, obrigada pela preocupação.) 

   

terça-feira, 19 de setembro de 2023

E tu??? O que é que o bicho covid fez por ti?????

Além de ainda andar com umas dores de cabeça nhéf, e meia totó das ideias, que parecem envoltas em nevoeiro cerrado, como ontem e hoje de manhã, só me faltava o olhar vazio e a baba a escorrer pelo canto da boca, to-tal-men-te na estratosfera, e o chato é que depois começo a enervar-me porque não consigo pensar e trabalhar, digito as letras ao lado, troco números, enfim, mas além disso, do cérebro feito em algodão doce, que mais fez o bicho por vocês?

Hum?

Olha, eu deixei de fumar. 

Ah, mas isso tem lá a ver ca covide, parva, deixaste porque querias, oras, não senhora, efeito covid 100% certificado.

Explico: como boa, empenhada, e veterana (dos 15 aos 52, é fazer as contas) fumadora que sempre fui, não era uma doençazeca qualquer que me detinha. Dói a garganta? Aguenta, que já és crescidinha. Tossinha? Oh, filha, há vidas piores e não os ouves a queixar. Podia fumar menos, que também não sou irresponsável (ahéééém), mas fumava. É uma cena de militância, só sabe quem cá anda. Ou andava.

Sucede que derivado de ter passado a ser proibido fumar nos edifícios, já tinha aderido ao tabaco aquecido. Mau grado estar sozinha numa salinha com janela, e poder fazer batota, estou rodeada de abstinentes com olfactos muito apurados. Mas, apesar de me estar a habituar bem ó iquozinho, não abdicava do meu tabaquinho "a sério", lá está, militância. Pelo menos dois por dia, e ao fim de semana era como se os outros não existissem.

Até que. Covid. Eu tentei, juro que tentei. Mas não era só desagradável (ou horrível, confesso, nos casos de amigdalite mais fortezinha), era impossível. Não sei explicar, puxava, travava, e parecia que morria: uma coisa surreal, mas real, porque testei várias vezes. Mas morrias, como? Ó pá, sei lá, era uma sensação como que tinha os pulmões cheios de água, uma agonia que me apanhava o estômago e me arrepiava a pele toda, uma coisa do além. 

Pronto. Tinha acontecido aquilo que já muitas vezes, farta da escravatura do cigarrinho, tinha imaginado: e se eu não pudesse de não poder mesmo, nunca tivesse experimentado e agora não conseguisse, como será não fumar, não gostar de fumar, não ter de fumar?

É assim. Como vivo, agora. Um cheirinho de tabaco e eu, nojo. Habituei-me a não feder cheirar a tabaco permanentemente. Já não tenho bafo de dragão, e estou a habituar-me. É fixe. Embora haja situações em que entre em pânico porque, consigo jurar, tenho esse bafo outra vez. 

Resta, apenas, a nostalgia da militância. Fazem-se bons amigos, nas trincheiras do activismo. Por isso, e só por isso, fumo um iquos todas as noites. Já nem travo, mas lá está, digo presente.

Só um, é o único, e sempre na mesma altura, zero desculpas para a antecipar. Não tenho vontade nenhuma de voltar atrás, por isso mantenho estar regra e, também, um maço numa gaveta, só com um último cigarro, coincidência, sobrou-me um só. E vai continuar a sobrar.    

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Todos os dias, um novo desafio, uau

 

Pelo preço que custam as #%&#»£ das meias de compressão, deviam dar direito a uma assistente para nos ajudar a calçar aquilo. Idem para collants de descanso (desisti, tinha horas para ir trabalhar). Reservem uns 20 minutos para as primeiras, 15 para as segundas, tempos conservadores. 

Meias pelo joelho são mais user friendly, mas quentes à brava, e impossíveis com vestido / saia.

Ah, mas tens mesmo de usar essa coisa? Sim, ou ao fim do dia tenho uns tornozelos que parecem aqueles barrilinhos de quilo de ovos moles.

A vida não é justa, e eu não tenho idade para esta m€rd@. 

Cá calharão


Xóvens!

Se trabalharem numa sapataria que venda isso, nunca façam graçolas sobre a calçadeira de meio metro que a cliente vai levar, juntamente com o par de ténes. Da maneira que passais a vidinha mal sentadufos em frente ao ecrã, vão precisar de uma mais cedo que eu. 

Não é preciso ficarem tão espantados / divertidos quando uma cota grisalha de jeans e ténes, carregando ferragens e ripas, vos pergunta onde está o pladur e acessórios, e à vossa resposta sabe muito bem onde é a tal zona de carga de materiais de construção. Antes assim que com um cabelo loiro canário indizível, unhas footlong, tatuagem do nome dos filhos no antebraço, e calça elástica dois números abaixo. Sim, sim, já vi, da minha geração. Não, não parecem mais novas, adiante.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

*suspiros*

 E quem é a pató que, andando cheia de trabalho que nem sabe para onde se virar, que tem de ir entregar os ólicos para lhe porem as novas lentes de ver ao perto, tem de ir levantar um aspirador robot e umas meias de descanso 

[nem me vão por aí, eu sei que caminho para bélha, a passo de corrida, mas o espírito continua xóbem, ok, xóbem!, e tenho lá culpa deste ano ter apanhado as maleitas todas que deunossossenhor deitou sobre a terra, incluindo covid, sim, quando já nem sequer é féshion, assim como não é féshion a puta da neblina mental que deixou atrás, e quanto às dores nas articulações não sei atribuir culpas, que entretanto entrei no calvário hormonal dos bloqueadores, que já há anos, anos!, que isto não desengonça e fui muito çinçera com a gino, a peri está a dar comigo em doida e ainda mato alguém, além de que não se faz, pah, 52 e ainda fértil, estão a gozar, já pedi a reforma da reprodutibilidade há anos, anos!, deixem-me um bocadinho, pelamordedeuz, eu já andava a tomar os restos de tramadol para as dores]

e ainda vai arranjar um cadichinho para ir ao Leroy comprar um materialito, para provar a um homem que está errado?

Ah, oui, c'est moi. 

A parvalhona esteve a dar a explicação audio, não resultou, vamos passar ao audiovisual, para no fim chegar à mesma conclusão, tá mal, é desfazer e fazer outra vez. Ego, pah, ego de homem é aborrecido, mas de empreiteiro, apre, chiça. 

[nem é bem empreiteiro, isso já não se arranja em Lisboa, por umas obras abaixo de uns bons milhares não se levantam da cama, é mais biscateiro, pinturas ao fim de semana, dinheiro na mão ou mbway, e é se queres]

E o tal do ego começa logo a chiar se é uma mulher a apontar. Porque, como já me disse uma vez, por uma coisa pela qual não valia a pena chatear-me, do meu trabalho sei eu. Sabe o caralhinho, que a dona do barraco sou eu, se o arranjo está mal é porque está, porque eu digo, porque basta ter um par de olhos e só meio funcional para ver a joça que ali está, e posso ter zero experiência, mas na prova teórica bato os pontos, sim, sei qual é o resultado expectável, e o que fazer para lá chegar, e tenho meios para o provar.  

Mas estou já a antecipar a resposta, quando lhe entrar pelas meninges que tenho razão e aquilo é uma chacina, o que ali está, que vai ser ah, mas esta era a única maneira de fazer. Era mas é o caralhinho, não tivesse eu vertigens e tivesse eu esqueleto e músculo fazia a cena toda ali, só para ele ver quem tem razão. Teimoso de merda. Chauvinista d'um corno. 

[Se não é desta que arranjo coragem para me lançar a escrever um muito necessário livro de empoderamento feminino, "Como dizer NÃO ao seu empreiteiro, e ter sucesso"!.  Capítulo I: Conformou-se porque não sabe como se faz? Está tudo no youtube. Não esquecer o tutorial de navegação em sites de venda de material, (já estou a ver, aha!, então aquele coiso sempre existia!); e o conselho de descarregar sempre fichas técnicas e de montagem (olha, o animal estava a dizer que não percebia porque vertia, que estava tudo bem montado, mas afinal tinha-me era furado os azulejos um centímetro a mais para fora - este é baseado em factos reais, mas eu era -mais- nova, não sabia impor-me com a fúria e intensidade que só uma peri de mais de cinco anos e uma menopausa induzida podem conferir. Juro. Só não prevejo um morticínio que faria Jack the Ripper corar de vergonha porque o bloqueador me fornece uns mínimos estrogéneos, benditos farmacêuticos, levam-me ali aos 97 euros por mês, mas evitam que abra o jornal da noite da CMTV, ou faça a capa do Correio da Manhã. Bem hajam. E continuem a estudar e fabricar coisas boas pá gente, as meninas e as çenhouras, nós temos um século e picos de atraso, é preciso recuperar o tempo perdido, leiam lá o livro a ver se não tenho razão)]. 

    

sexta-feira, 7 de julho de 2023

TV Guia

[já ninguém se lembra da tv guia, claro, a não ser alguns bélhotes e genXers que se socorriam do precioso almanaque para a) ler os resumos das novelas; b) saber que filmes iam dar no Lotação Esgotada; c) verificar que não nos tinham cancelado ou mudado o horário da série preferida - e, as mais das vezes, única. mas calha bem que aqui a titi Izzie, genXer e com muito orgulho, vem preencher esse vazio]

Sim, eu sei que muita gente está chateada com a netflix por causa da cena de não se poder partilhar senha, mas eu ralada, que não tenho esse problema (hashtag childfree). Admito que é carota, mas ainda vai tendo umas coisas fixes (pah, eu gostei de Rabo de Peixe, deslarguem-me) e, principalmente,  a-do-ro documentários. Tchi, o que nós papamos documentários (só se estraga uma casa), então aqueles de real crime que fazem dar graças por dormir num sommier, que reduz, em muito, o pavor irracional do monstro debaixo da cama (em verdade, até agora só um nos deixou mesmo sem sono, o Night Stalker, credo). E os de cultos? Até me deu um arrepio de satisfação. Imaginem que me mate não sabia quem era o Warren Jeffs, agora já sabe; e um que lá há sobre Waco também está muito fixe.

Voltando à vaca fria, documentários, daqueles bem giros, e mesmo à medida de genXers? Temos. Cá vai:

- Wham! - Quem era menina nos anos 80 e não teve uma grave paixoneta pré-adolescente pelo Michael George? Eu não fui. Passei muito tempo a dançar o wake me up before you go-go, depois chegou a adolescência e virei-me para os Duran-Duran, ia casar com o guitarrista, enfim. O documentário está mui giro, quanto mais não seja pela nostalgia. Dispensava era me mate a repetir, frequente e repetidamente, "a sério que vocês não percebiam que ele era gay?", NÃO INTERESSA. Chato.

- Arnold - Sim, o Shwarzie, o austríaco, o terminator. O documentário está giríssimo embora, como espectadora, eu oscilasse entre o achar que afinal o tipo é sim senhor; ou não, não é, g'anda pato; ou estar a revirar os olhos com o nível das tiradas de self help tu consegues se quiseres, o eterno foco, e por aí fora. De qualquer forma, há que reconhecer que o home é um mouro de trabalho, e tem cá uma determinação, upa, upa, embora, suspiros, pah.

- American Gladiators - (traduzido como forte e feio, buh) Não seguia, mas vi bocaditos de quando em vez. O interesse do documentário é ver (na onda do anterior) a importância e quão trendy foi, em certa altura, a cena do bodybuilding. E as permanentes. E a lycra. E o mullet. Para além disso, a construção de um conceito, tirado do chapéu; a forma como o programa foi sofrendo evolução na produção, e, acima de tudo, a forma como eram tratados os tais gladiadores. Bru-tal. Dão a cara vários antigos gladiadores, produtores, e o realizador mais creepy que já tive o desgosto de ver.

E chega, que já é foleirada com fartura. 


terça-feira, 27 de junho de 2023

Dá-se, a quem estimar, ou mesmo a quem não estimar

Durante muito tempo não sabia que havia um nome para este sentimento; aliás, nem fazia ideia que era tão comum que merecia um nome, uma caracterização. Achava que era uma coisa minha, que lá haveria outras (poucas) pessoas também assim, coitadas, todas nós muito defeituosas, que não conseguíamos ter foco, ter confiança, acreditar!, essas qualidades tão batidas nos discursos motivacionais, donde se retira que, se não consegues, é porque não quiseste, não te esforçaste o suficiente (tretas, já agora, isto é tudo treta, adiante).

E um dia, ali estava, no título de um artigo: síndrome do impostor. Aaaahhhh. O alívio, por a coisa ter nome. E perceber que afinal não era defeito meu, uma falha de carácter que não tinha a competência - ou pior, empenho, vontade - para ultrapassar.  

Quando o bicho que nos atormenta passa a ter nome, descrição, conseguimos encará-lo melhor. É um bocadinho mais fácil lidar com a criatura do mal. Não resolve, mas ajuda. Determinada situação, e lá reconhecemos o monstrinho, ó síndrome do impostor (vou chamar-lhe Crispim), outra vez a fazer das tuas, pára de me comer as roseiras, xô. Nunca se vai embora, o bandido, fica sempre ali, à espreita, a mandar bocas, mas uma pessoa consegue mantê-lo debaixo de olho, e lá de longe até o ouvimos mal. 

Finalmente, podemos ter coragem para dar um passo. Ainda que continuemos a ouvir o eheheheheh, isso vai dar asneira, vais acabar a fazer cá uma figurinha, tens lá arcaboiço para te meteres nisso. É esta a vidinha de uma pessoa assombrada por síndrome de impostor. Mais de vinte anos a trabalhar, e vinte especificamente numa área, e ainda duvidar que se deva arriscar algo diferente, hesitar em dar um passinho em frente, por medo de falhar.

[traduzido em filme, que passa em loop na cabeça de quem sofre deste mal, o "falhar" é sempre uma coisa épica, um desastre natural mas em grande, tipo um tsunami com erupção de diversos vulcões à roda, tremores de terra e ainda explosões nucleares, com uma praga de gafanhotos para acamar, tudo por culpa nossa, que dissemos um disparate, cometemos um erro, e toda a gente vai saber que a culpa é nossa, e vamos a passar na rua e toda a gente vai apontar com nojo, ou a rir.]

Bom, esta conversa toda para dizer que tenho o coisinho do Crispim aqui a fazer previsões desastrosas, mas consegui reunir a coragem para me oferecer para uma coisa. Não sei se vou ser seleccionada mas, se for, vai implicar sair da minha zona de conforto e fazer uma cena diferente que envolve contacto e interacção com 'ssoas. Mais de dez, chiça. E passar-lhes informação, credo. De maneira a que as 'ssoas aprendam alguma coisa comigo, a responsabilidade, o pavor, o aijasuz. 

Vai correr bem. Já estou muito contente por ter decidido arriscar. E tu, Crispim, chiuzinho, ok? Ok.