sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Zona de conforto

Uma pessoa volta de férias cansada como foi; uma pessoa cai na sua terra natal, a bela capital, cheia de planos para arrumações, trabalho, dar a volta a cenas, e ainda por cima o tempo está fresquinho, ajuda, e começa o calor a sério; a pessoa sofre muito com o calor, fica uma plasticina, um blob, uma cerelac; pessoa em causa acaba a fazer menos de metade do que queria, mas ainda faz qualquer coisa, hey, festejemos!, sejamos positivos!, o motor de felicidade da nossa vida!, a atrair boas energias cósmicas!; nã, cinco minutos e passa; afinal a pessoa, bem pesadas as coisas, continua a medíocre, vá, não exageremos, a mediana de sempre, não adianta nem atrasa, creeeedo, porque tuuuudo custa tanto, tuuuuudo; e entretanto voltam as dores de cabeça, moinhas de dois três dias, com dores musculares para acamar; vontade de nada, motivação para nenhum; pessoa capacita-se que tem de contrariar este estado natural de coisas, pessoa imbui-se de raivinha no sentido de andar em frente; pessoa precisa de dar uma volta a isto; pessoa calha ir dar uma volta para espairecer e acaba a comprar um vestido preto.
Mais um.
Vestido preto.
Bem giro, por sinal, um bom negócio, também, mas.
Um vestido preto.
Ainda bem que não há um limite legal, ou já estava presa por crime de vestido preto. Agravado por tentativa de vestido preto, em que o (pouco) branco ou outra cor neutra, ou só umas sarapintas de cor afastam o crime consumado. E nem falemos em calças. Ou sapatos / sandálias / botas.
Portanto, um vestido preto.
Bem giro, e que me fica bem.
Às vezes é preciso que nada mude para que não fique tudo na mesma.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Enquanto a Amazónia arde

Ao que se sabe, pelo menos há 15 dias, e sem que a comunicação social ligue puto - juro, sigo uma mão cheia de jornais no face, soube ontem à noite pelo Twitter, e finalmente hoje os media começaram a cobrir - a gente segue com a sua pacata e corriqueira vidinha, assistindo a um presidente de um dos países mais poderosos no mundo oferecer-se para comprar parte do território de um outro país, ao decretar-se a requisição civil de pessoal de voo de uma low cost privada que não tem ligações aéreas exclusivas e relevantes em termos estratégicos, a continuar a haver barcos carregados de gente desesperada no Mediterrâneo, enfim, e isto é o novo normal, same old, same old, e só me ocorre que decidir ter filhos, hoje em dia, ou é um acto de extrema coragem, ou optimismo, ou inconsciência, ou todos.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Ora cá estamos

Em primeiríssimo lugar, quero esclarecer que não possuo, nunca fui dona de, nem pretendo adquirir o actualmente famoso objecto que dá pelo nome de jerrican. Sim senhores, que atestei na quarta, porque tinha o depósito a menos de um quarto, e já foi uma festa: normalmente só me dou ao trabalho quando está na reserva. Na quinta vi filas nas gasolineiras, na sexta e sábado nem imagino porque não passei por nenhuma. Tive gasolina suficiente para voltar, e depois logo se vê, quer'lá saber. Também não fui fazer nenhum aviamento ao supermercado, s'a lixe. Se o meu povo entra nestes extremos de histeria por causa de combustível, nem quero imaginar se um dia acontece o apocalipse zombie, chiça.

De resto, acho que desaprendi de trabalhar. Estou aqui há mais de um par de horas a ver se me recordo, mas não, ainda nada. E agora tenho fome. Só ralações.