sábado, 28 de maio de 2016

Steady as she goes, Mr. Sulu

E a vida lá segue, em piloto automático, se bem que nem o piloto tirou curso ou se formou nestas artes da navegação, e o automático nem por isso é muito auto, e menos ainda mático. Mas segue, ao sabor da corrente, e se ela nos é mansa e tranquila até se estranha, aguça-se o olhar para mais cedo detectar o remoinho que, decerto, não há-de deixar de aparecer. Bate na madeira, cruzes canhoto, isola. O pensamento mágico é uma bengala frouxa, mas está sempre lá, bendito seja. Dá azar, reconhecer, não, rejubilar com o bom. Mais vale desconfiar. Porque nunca corre tão bem como pensamos que está a correr, assim nos ensinou o passado, e somos, queremos ser o bom aluno, atento e diligente, sempre à coca da armadilha no problema demasiado fácil.
De repente, não é uma corrente cruzada, não é uma tempestade, não é um rochedo submerso: um raio de sol, uma brisa suave. Cai-nos no colo uma recompensa inesperada, abrimos a arca do tesouro à espera de uma bota velha e sai um euromilhões para a alma. Fechamos a tampa apressadamente, como que para reter a boa aventurança, não vá ela escapulir pela fresta. É demasiado bom, não pode ser, olha-se em volta à espera que nos salte de trás de uma moita a multidão aos gritos de gozo e a berrar "primeiro de abril!". Não sai. Segura-se bem o baú. Começa-se a acreditar. Mas de olhinho bom no horizonte, que os velhos mitos do monstro marinho podem devem ser verdade e, segundo as nossas contas, não faltará muito para alguém soltar o kraken.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

segunda-feira, 23 de maio de 2016

I tawt I taw a puddy tat

Em seis tapetes possíveis, e de uma só vez, a gata conseguiu gremitar em quatro.
Que rica estola vou estrear no próximo outono/inverno.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Under pressure

Fases de meltdown Izziano:

1- Sou uma pessoa muito doente dos nervos.
2- Oh que merdaputacaralhofoda.
3- Puta de vida, pá.
4- A minha vida é uma merda, uma merda!
5- Odeio a minha vida! Odeio!

A subida de 1 a 4 é relativamente suave, passando-se o tempo adequado em cada uma das etapas para a apreciar, saborear, degustar devidamente. Consigo passar bastante tempo no ponto 4. A passagem do 4 ao 5 é, por norma, súbita e imprevisível, e normalmente desencadeada por um percalço completamente fútil, corriqueiro ou insignificante. Por exemplo: num dia muito mau, depois de uma semana muito má, fui a correr ao sweet drop, de propósito, porque tinha acabado (todo!, todo!) o papel higiénico. Saí do estabelecimento ajoujada de mercearias, hortaliças e outros precisandos; chegada a casa verifiquei que tinha esquecido o papel higiénico. Fase 5plus. E, garanto, é de meter medo.
Anyhoo, estou aqui em plateau na fase 4 há coisa de três, quatro dias; aguardo ansiosa qual a merdinhância que me vai lançar na estratosfera do meltdown.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

O Gato das Botas

Já vi expresso todo um leque de sentimentos em relação à coisa, mas o que ainda ninguém disse, e a mim faz muita confusão, muita espécie, é isto: como é que pessoas (alegadamente instruídas - pelo menos uma - moderninhas, viajadas, coise), que podem gastar dezoito mil patacas numas férias, as escolhem enterrar precisamente em Formentera.
Eu cá não sei, mas supondo que dispunha de tal pecúnia, e assim de cabeça, Capri, Sardenha, Malta, Saint Thomas, Guadalupe, Saint Marteen, Barbados, Tortuga, Zanzibar e, que se lixe, Fidji ou Vanuatu, estariam num lugar mais elegível.
Mais um bocadinho caiam em Torremolinos ou Marbella. Credo.

Salad Days

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A series of unfortunate events

O acessório must have desta primavera verão? Vocêzes, não sei, o meu é este:

Para a mão direita, que na esquerda já tenho o relóge. Muito in. Fixe, fixe, era fazer-se numa bonita paleta de cores, para combinar com o autefite, mas não há visão nenhuma, zero empreendedorismo na indústria ortopédica.

Anyhoo, e como complemento, junte-se o seguinte:

Que também tenho o ombro direito todo fornicadinho. Oh, felicidade. E as dores, hein, as dores? Super trêndi, adormecer e acordar todos os dias como se tivesse um pica-pau no ombro e outro no pulso. Maravilha. Além de que estou a teclar a uma velocidade de primeiro ciclo, e a manuscrever com uma letra correspondente.

E ainda dizem que trabalhar dá saúde.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

I must make amends

Querido Estado:

Dirijo-te [posso tratar-te por tu, verdade?, afinal não nos conhecemos de ontem, e nada da minha vida te escapa, tudo o que tenho vem e volta a ti, sinto-nos assim como que ser e sombra; deixa, por favor, ter esta breve ilusão de intimidade] estas breves e esperançosas palavras, no desejo e expectativa que se corrija, doravante, grave injustiça de que, como cidadã contribuinte, sujeito de direitos, sou alvo. Sem mais delongas, passo já ao(s) assunto(s), a saber, que é(são) o(s) seguinte(s):

- Desejo uma casa maior. Com jardim. Pode ser para recuperar, sempre fica ao meu gosto. Portanto, reformulando: desejo uma casa maior, com jardim, garagem (já me esquecia!) e uma verbazinha para recuperação/qualificação. Não tenho ainda propostas, mas sou pessoa modesta: qualquer meio milhão servirá. Vá, seiscentos mil, já sabemos que as obras tendem a derrapar. Visto que não sou possuidora de tal quantia, agradecia o obséquio. Afinal tenho o direito (constitucionalmente garantido!, ó o art. 65º nº1!) à habitação, ou não? E eu é que sei, eu é que estou em condições de determinar o que é isso de "uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal." Entendidos, portanto.

- Falando em habitação, também me contratavas um sistema de segurança. É um direito que eu tenho (art. 27º nº1, outra vez da Constituição), o direito à segurança. Sim, eu sei que há forças de segurança públicas; mas a menos que me prometas um polícia à porta, em permanência, não vejo como mo possas assegurar com a mesma eficiência que uma empresa privada me garante. Ficamos assim, portanto: alarmes de intrusão, videovigilância, ligação à central. A mensalidade não é assim tão alta, pá. Afinal para que servem os meus impostos?

- Já agora: quero um mini. O que me dava imenso jeito era aquele que aparenta uma carrinha, o clubman. Muito giro, jeitoso, arrumado. Em verde garrafa. Ou castanho chocolate. Depois combinamos. Dois era o ideal: um mais prático, o tipo carrinha, e outro para as voltas mais doudas, em azul real, com o union jack no tejadilho. Como? Já tenho um utilitário? E, ademais, passe social? Ó senhor, então e os meus direitos? Está na constituição, o de deslocação (art. 44º nº1). E, já que tenho esse direito, quero escolher. O dito meio. De deslocação. Uma coisa com estilo, ou não mereço? Mereço, pois.

- Não querendo agourar, mas já que não vou para nova e prevenindo: em me acontecendo uma necessidade (bate na madeira!) preferia um daqueles hospitais privados com quartos individuais. Nem em estando saudável gosto de partilhar espaço de dormida com estranhos, quanto mais. Além de que diz que têm escolha entre dois ou mais pratos, nas refeições, e eu não posso comer de tudo. E se é um direito que eu tenho (art. 64º nº1), e se há estabelecimentos que garantem uma assistência mais confortavelzinha que os teus, prefiro escolher. E, caramba, acho que tenho o direito de escolher. Ora essa.

- Finalizando, que eu sou uma pessoa que nem pede muito, mas pede em bom, queria um smartphone novo, que o meu já não sei se aguenta as novas actualizações que por aí virão. Prevenindo, portanto, queria um, a breve trecho, tipo, já. Não precisa de ser uma coisa muito fina, nem muito cara, basta que tenha acesso à net e uai-fai, de molde a me garantir o meu direito ao acesso à informação (art. 37º), e à expressão, que blogar também é isso. Já agora, também a netflix, e tomavas conta da minha continha de tv cabo (pacote de filmes incluídos), a ver se me garantes o meu (efectivo!) direito à cultura (art. 73º nº1). Uma vez que na érre-tê-pê não passa nada de jeito, e eu ainda tenho o direito a escolher o que melhor serve as minhas (aliás elevadas) exigências culturais, não fazes mais nada que a tua obrigação.

E pronto, era só. Claro que fica tudo em meu nome, afinal tenho o direito à propriedade privada, (art. 62º nº1). E o Estado quer-se uma pessoa de bem, que não viola direitos, muito menos os fundados em legítimas expectativas constitucionalmente consagradas. Em falando de direitos, mormente os adquiridos, repõe também aí o salário e horário com base no qual fui contratada. Mas só depois de me assegurares o resto, que o importante e essencial é o importante e essencial, e não quero ser responsável por um súbito descalabro das contas públicas.

Subscrevo-me, com toda a estima e consideração, e melhores votos de continuação,
Izzie
(blogger. pessoa. mulher. cidadã. contribuinte.)


[disclaimer: todas as normas citadas neste post partem de uma pessoalíssima e mui conveniente interpretação do texto Constitucional pela subscritora.]

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Hello, I must be going*

Ora numa semana aqui há atrasado ganhei sete euros e trocos no euromilhões; noutra mais próxima dezasseis e coiso. Duas apostas, dois prémios. Alguém instruído nas artes dos númbaros faça aí a caridade de me facultar uma formulazita que me permita calcular quantos sorteios me faltam até me sair qualquer coisa que se veja, isto é, no mínimo o suficiente para uma viagenzita janota, ou a casa de banho forrada a mosaico hidráulico e azulejo de metro que gostaria (e, por razões puramente cois€, não dá). Não peço muito, vá. E prometo que até jogo.

*aposto que não sabiam que havia mais um irmão Marx. ó ele aqui. na excelsa companhia do Capitão Spaulding, essa lenda viva.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Science, bitch

Vale (mesmo) a pena ler: alguém decidiu acompanhar os concorrentes de determinada temporada do The Biggest Loser, e os resultados de tal estudo são surpreendentes. Sim, sim, o universo estudado é muito pequeno. Mas, como se realça ao longo do artigo, é demonstrativo para situações de perda de peso rápida através de dieta e exercício. E parece que se encontram resultados semelhantes noutros estudos. Engraçado. Embora não tenha piada nenhuma.
É ler tudinho, e cada um que retire as suas conclusões. Mas talvez fosse importante para quem tenta, tenta, tenta despistar quilos e acaba com o mesmo peso, ou mais ainda, e muita culpa em cima dos ombros. E, se calhar ainda mais, para quem aponta o dedo aos "falhados" dos gordos, essa gente sem auto-controlo, auto-estima, motivação. Eu sou das semi-sortudas cujo "peso sem esforço" - ou melhor, quase sem esforço - ainda a situa abaixo do índice odioso da não menos odiosa (e infundada, e demasiado genérica, e completamente não substanciada) tabela de IMC. E depois há os outros. Que merecem melhor que o que a sociedade lhes reserva hoje. Não, fechar a boca e "queimar" não é solução. Espantoso, hein.

"Most people who have tried to lose weight know how hard it is to keep the weight off, but many blame themselves when the pounds come back. But what obesity research has consistently shown is that dieters are at the mercy of their own bodies, which muster hormones and an altered metabolic rate to pull them back to their old weights, whether that is hundreds of pounds more or that extra 10 or 15 that many people are trying to keep off.
There is always a weight a person’s body maintains without any effort. And while it is not known why that weight can change over the years — it may be an effect of aging — at any point, there is a weight that is easy to maintain, and that is the weight the body fights to defend. Finding a way to thwart these mechanisms is the goal scientists are striving for. First, though, they are trying to understand them in greater detail."

"Slower metabolisms were not the only reason the contestants regained weight, though. They constantly battled hunger, cravings and binges. The investigators found at least one reason: plummeting levels of leptin. The contestants started out with normal levels of leptin. By the season’s finale, they had almost no leptin at all, which would have made them ravenous all the time. As their weight returned, their leptin levels drifted up again, but only to about half of what they had been when the season began, the researchers found, thus helping to explain their urges to eat."

"Dr. Lee Kaplan, an obesity researcher at Harvard, says the brain sets the number of calories we consume, and it can be easy for people to miss that how much they eat matters less than the fact that their bodies want to hold on to more of those calories."

"But Dr. Ludwig said that simply cutting calories was not the answer. “There are no doubt exceptional individuals who can ignore primal biological signals and maintain weight loss for the long term by restricting calories,” he said, but he added that “for most people, the combination of incessant hunger and slowing metabolism is a recipe for weight regain — explaining why so few individuals can maintain weight loss for more than a few months.”
Dr. Rosenbaum agreed. “The difficulty in keeping weight off reflects biology, not a pathological lack of willpower affecting two-thirds of the U.S.A.,” he said."