segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Titi Izzie ajuda e aconselha




Muitas vezes, durante as minhas deambulações por esse grande mundo mágico e colorido, me interpelam jovens e frescas moçoilas querendo beber da minha sabedoria. "Titi Izzie, titi Izzie, nos conte, nos diga, qual o segredo de um casamento, uma relação longa e feliz?". Ah, pobres florinhas, só o meu universal amor a todo - e em especial o aflito - ser humano me impede de responder, sarcasticamente, a surdez - apesar de ser verdade. Ele há dias em que, bom, quem me dera, mas isto com a idade uma pessoa vai desenvolvendo uma surdez muito funcional e seletiva, um life saver, como diriam os mais modernos. Decido, porém, ir mais além, aprofundar, filosofar, e explico que depende, cada um é como cada qual, cada relação é tudo nada diferente, vamos aprendendo vivendo. E elas, desapontadas, naquela ânsia juvenil de encontrar respostas peremptórias, definitivas: "Oh, titi Izzie! Não acreditamos! Deverá haver um segredo, uma lição, uma máxima que connosco possa partilhar!". E eu, paciente, transbordando de magnanimidade, como aliás é meu apanágio, decido-me a levantar um pouco o véu. "Minhas queridas, posso apenas falar da minha experiência e, se vos servir, pois que façais uso dela: um dos segredos da minha (nossa) longa relação é não possuir licença de porte de arma, e manter afastados e devidamente arrumados, portanto difícieis de alcançar num piscar, objectos letais como facas aguçadas, berbequins, martelos, ferros de engomar, panelões de fundo duplo." 

Se calhar, como elas, julgais que brinco, faço pouco, estou na reinação (e se eu sou reinadia!). Nada mais errado! Se não, atentai nesta pequena vinheta da vida conjugal, passada aqui há dias. Titi Izzie posta em sossego, seguindo atentamente no tablet mais um episódio do The Crown. Passa ele e sai-lhe, "ah, estás a ver a tua novela". 

Lá está. Tivesse ali à mão objecto perfuro / corto / contundente, e acabava asinha uma longa e feliz relação, derivado da viuvez. E, sendo o mundo um sítio muito injusto, ainda me calhava ir malhar com os ossos na cadeia um horror de anos (sem uai-fai! aposto! e a temporada quatro a sair em novembro!)

Tendo eu seguido minha máxima de vida, e após um mero olhar matador, cá estamos nós, o homem vivo e com as duas rótulas inteiras, já lá vão quinze anos, faz hoje (and counting?). 





terça-feira, 25 de agosto de 2020

Como enlouquecer em coisa de uma hora, hora e meia (um tutorial de borla, que sou uma boa alma)

Precisais de mudar a titularidade de contratos de fornecimento de bens essenciais? Not so fast! Primeiro consultem o vosso seguro de saúde (quem o tiver, eu não tenho) a ver quantos dias de internamento paga numa casa de repouso (eufemismo para manicómio daqueles em bom). Não tendo esta possibilidade, passem no médico habitual e abasteçam de receitas de ansiolíticos, beta bloqueantes ou, no caso de pessoas mais dadas a fúrias incontroláveis, reguladores de humor. 

Só depois se atrevam a aceder aos sites onde, promete-nos a modernidade tecnológica e necessidade de distanciamento social dos tempos actuais, conseguireis tratar de tudo num golpe de asa. Spoiler: não vão conseguir. A menos que se trate de um caso simples, mas mêmo-mêmo-mêmo muito simples. eu achava que os meus "casos" eram; ledo engano.

Começando pela única história de sucesso, consegui mudar a titularidade e débito directo do contrato da NOS para a minha mãe, e cancelar um serviço de segunda habitação, com apenas um telefonema. Foi um telefonema longo, que foi, mais de uma hora; mas quem me atendeu foi de uma simpatia e eficiência extrema, e ficou tudo resolvido. Além de que sendo eu cliente, o telefonema me ficou em zero euros. Kudos.

Depois seguiu-se a MEO, e ó minhanossasenhora. O telefonema, que se adivinhava longo, seria pago (e bem, que não ia ligar de um número da rede). Estávamos em confinamento, com tudo fechado, mas ainda assim a minha sovinice venceu. Safoda, mando um mail com a certidão de óbito digitalizada. Procura na factura o contacto de mail, népias. Procura no site contacto de mail, nicles. Para me contactarem tenho de lá deixar o meu número, com a patranha de que se trata de um assunto comercial (não é). Ainda assim, insiro, prometem ligar num dia. E ligaram. Duas vezes. Estava a conduzir, e o número não dava para ligar de volta. Ainda não fui à loja física, pretendo começar um plano de treino cardio / meditação zen antes. E passar na farmácia.

Serviços municipalizados de auguinha, lá da terrinha onde passamos férias e tenho habitação secundária. Telefonei e confirmei, só facilidades: preencher o impresso que está no site, enviar documentação digitalizada, booom. Só que não. Impressos de mudança de titularidade e débito directo não se podem preencher online, há que imprimir (ok, dou desconto, é por mor da assinatura). Primeira perplexidade: os espaços não dão para inserir, na íntegra, tudo o que me pedem; as quadrículas são assim, ó, e terei de escrever numa letra mesmo picarruchita. Acresce que depois terá de ser digitalizado, o que é dizer, bem digitalizado; e mesmo preenchendo a tinta preta tenha sérias dúvidas de que fique uma coisa legível. A ver vamos, enfim, coise. Note to self: passar na farmácia.

E a 'létricidade, hein, a luz? Finíssimo, o site da EDP está muito janota, aquilo é uma categoria, um utilizador médio (estou a ser optimista na minha auto-avaliação) chega facilmente onde tem de chegar para tratar das cenas. Como já tenho gás e electricidade da habitação principal na empresa, agregava tudo e pronto, uma só factura, uma só conta, tudo çimples. Só que não. A opção de juntar ambos os fornecimentos só prevê gás natural. Consulto a minha papelada, e lá na beira mar agreste a gente serve-se de gás propano. Ainda assim, a esperança é a última a morrer, donde, e porque me pedem um tal de CUI (código universal de instalação), volto a consultar a factura do actual foenecedor, onde nada consta, e devia constar. Mau. 

Segue portanto para o site do tal fornecedor, a Galp, a ver se descubro o mistério. Inicio registo, sim senhora, pedem NIF e insiro o de papai (titular), e informam que aquele NIF não está associado a qualquer contrato. Começamos bem, dado que tenho uma factura à minha frente, o titular é fulano de tal, o NIF de fulano de tal é o que inseri, e fulano de tal é, efectiva, indubitavelmente, cliente.  OK, calma. Calma. Não consigo registar, vamos ligar para o númbaro 808 que gentilmente fornecem. Faz ligação, cai. Vezes cinco. Calma, calma, calma. Procurar melhor num site que, nem por acaso, é pouco intuitivo, como posso descalçar a bota. Não consigo; felizmente há o google, que me direcciona para a página do site onde deveria ter conseguido ir ter sem este desvio. Mas calma, muita, muuuuita calma. Quem me pode informar do tal CUI é o fornecedor da zona, a benfazeja Lisboagás, que também tem um númbaro 808. Menina liga. Chamada cai. Sempre. Desisti de contar as vezes. Um cigarro, invocar mais calma, paletes de calma. 'xa cá ver nos contactos, há-de haver um ponto físico onde tratar desta joça, yay, ali em cima dá para clicar em contactos e lojas, não aparece nada. A este ponto uma pessoa já pode passar, justificadamente, aos foda-ses que caralho de puta de vida a minha, mas eu sou uma çenhoura, uma çenhoura, ouvisteS, Izzie Maria, tu tem calma. E já agora aproveita para ver se esta gente tem aqui contactos de reparadores que o teu hotspot teve uma pataleca, encontro (a custo, fodasecaralho, e mais uma vez passando pelo google, é que não há vergonha, chiçaporra) linques para a questão, e o que me recomendam as boas alminhas da galputasqueospariuatodos? Que contacte uma loja que venda o produto. Been there, done that, got the t-shirt; e lá disseram para vir ao site, calha bem. 

Resumindo: não consegui concluir a mudança para a EDP, esta ao menos tem lojas físicas onde terei de me deslocar; com um bocado de sorte fazem-me também o contrato para gás propano, não fazendo tenho de ficar com a Galputedo e caraças que no site parecia uma via sacra fazer a caralhada da mudança de titularidade, valha-me a minha já bastamente conhecida caaalma, serenidade e bonomia ante qualquer adversidade, ou estava já aqui a espumar da boca, e a magicar passar na decathlon para comprar um bastão de baseball e ir lá partir aquela merda toda, o que evidentemente não posso fazer porque além de bombas de gasolina e sede onde, presumo, trabalham os mui excelsos gestores que gerem a choldra e oferecem bilhetes para a bola a governantes, a galputaquepariu não acredita num contacto presencial com os fregueses.  

Mas estou calmíssima. Que remédio. Até porque não tenho seguro de saúde, vide supra.



segunda-feira, 17 de agosto de 2020

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[voltei das férias-fora-daqui, continuo nas férias-aqui, e não tenho nada de novo relevante interessante para dizer]