quinta-feira, 24 de março de 2016

Telescola

Se ainda há quem diga que não se aprende nada a ver tubisão, é porque não anda bem sintonizado. É caro, que seja; mas já não passo sem o meu cabinho. Netflix ainda não entrou, a não ser por portas travessas (delinquenteahééém), mas o resto, oh momma. A ser preciso exemplos, cá vai:

Não fosse a tubisão, a bem dizer os sempre mãos largas da HBO (santinha seja), e mais concretamente o senhor Martin Scorcese (nossosenhoroconserve) ainda hoje não sabia quem era Howlin Wolf. Mate sabia, mas como é caixinha, não tinha contado. Mate has the blues. E também foi ele quem, na sequência de um episódio de Sobrenatural, me confirmou que a lenda sobre o próximo senhor existia, sim senhor, e que era um grande autor (provavelmente o primeiro a integrar o club dos 27). Rimei, mas veja-se lá se não é verdade:


 


 E pronto, é isto. E a série Vinyl está muito bem e recomenda-se. Devia esperar pelo fim para falar do assunto, que já me espalhei ao comprido com a Empire (que prometia, prometia, mas espetou-se a cento e oitenta contra uma parede de betão ali à roda do episódio dez). Esta, ao menos, tem melhor música. Com guitarrinhas.

We are all mad here

Tive de ver/ouvir duas vezes, para confirmar. Não o óbvio e a que nem vou dar tempo de antena, mas um pequeno pormenor: um professor doutor (minúscula propositada) de uma Universidade Pública, com estudos na área de Relações Internacionais e sua história, chama à colação do seu (aliás tresloucado) discurso um infame livro de Rosenberg, cujas teorias, e aqui estou a citar, que ouvi duas vezes para ter a certeza que foi isso que foi dito, "foram aproveitadas pelo nazismo".
Fiquei mal disposta. Com tudo; mas relativamente ao discurso do ódio, nem vou entrar na discussão. É que dizer que Nietzsche foi aproveitado pelo nazismo, sim senhor. Mas Rosenberg não foi "aproveitado", Rosenberg foi O teórico, ideólogo, do nazismo, Rosenberg foi membro inicial do partido nazi, Rosenberg fez parte do "aparelho" do III Reich, Rosenberg advogou e foi cúmplice do extermínio de judeus e outros povos, Rosenberg foi julgado, condenado e executado em Nuremberga. Rosenberg não tem méritos académicos (as suas publicações e "estudos" não têm qualquer valor científico, e isto não é a minha opinião, o tipo não tinha formação, nem dados, nem suporte para as suas "teorias"), não é citável, não é referência de nenhuma pessoa de bem. Ouvir, no século XXI, na Europa ocidental, um académico dizer o que disse, no contexto em que o disse, citar Rosenberg e caracterizar a sua obra como "tendo sido aproveitada pelo nazismo", preocupa-me mais que mil bombas armadas por fanáticos. Porque actos de terror não estão sob o nosso controlo, mas como lhes reagimos, sim. Tão importante como não sucumbir ao medo, é resistir ao ódio; e o ódio cria-se na ignorância. Rejeitá-la é um dever. Que, obviamente, este "académico" desconhece.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Se te queres matar, porque não te queres matar?

Tenho andado caladita, sem grande vontade de alardes, e ainda menos de polémicas. Não me apetece, a modos que. Mas hoje quebro o jejum, e nem é para lançar e me meter em baderna, é só para registar algumas perplexidades, inquietações e dúvidas que se amontoam, ainda por cima a propósito de um assunto sobre o qual sempre tive muitas certezas. Cá vai.

Sou e sempre fui a favor da eutanásia, tal como do aborto. Não à baldex, claro, há que impor e prever limites, dentro do razoável, quanto ao aborto basta dizer que entendo o actual enquadramento legislativo como perfeitamente razoável, que perfeito não há nada. Relativamente à eutanásia, fiquei toda contente quando se avançou com a cena do testamento vital (que eu, como perfeita anormal e procrastinadora, ainda não fiz), e mais ainda quando se teve a coragem de dar o passo em frente e trazer para a linha da frente o tema, sem paninhos quentes. E depois comecei a ver e ler coisas, e comecei a matutar, a congeminar, e a ficar preocupada. A vexata quaestio, como dizem os juriconsultos, é aquele pequenino pormenor da noção, da definição, que daí parte tudo; a saber, definição de limites, o quando, o a quem, o porquê da coisa.

Eutanásia, sem tretas, é terminar uma vida. Matar, pronto. Escusamos de estar com merdiquices. Não é bonito, pois claro que não é bonito. Na minha maneira de ver as coisas, há situações em que se justifica. Há aquela eutanásia mais light, que é a omissão de cuidados quando se entende que estes apenas prolongam uma existência sem esperança e sofrimento sem sentido, deixa-se morrer. E depois há uma mescla de omissão/acção, em que não se prolonga a vida retirando o suporte (artificial) que a mantém, o famoso "desligar a máquina". Estas já se praticam amplamente, e não são consideradas a eutanásia que agora se quer regular. Não ressuscitar é já prática corrente (e que podemos até determinar, o tal testamento vital), desligar a máquina pratica-se em casos de morte cerebral ou em que esta é quase certa, sendo que a "vida" física apenas é mantida com respiração e batimento cardíaco artificial. São situações consideradas de não retorno, ou quase não retorno. Ainda assim, dependem de um acto de vontade e consentimento, do próprio ou terceiros, e parecer médico. Mas não oferecem grandes problemas éticos - acho eu.

Agora matar-matar. Pois. É que cabe aqui muita coisa, seja "apressar" a morte (por exemplo, ir aumentando gradualmente doses de morfina até que a pessoa, que se encontra num estado terminal de grande sofrimento, enfim sucumba, sem que retorne à dor), ou o auxílio ao suicídio. E mesmo homicídio a pedido. E aqui é que a suína torce a caudita. Quando, em que situações, a quem? Toda a gente merece morrer com dignidade? Não nego. Toda a gente merece escolher a hora da sua morte? Não contesto. Mas quando é que alguém pode, legitimamente, pedir a outrem que se encarregue de fazer chegar tal morte? Quando, em que situações, deve e pode o Estado - que é isso que se trata - avançar, tomar nas suas mãos a execução da decisão alheia?

E aqui fico embatucada. Não sei, pá. Não sei como se legisla isto. Em casos particulares não teria grandes dúvidas. Alguém deixa um documento, um "testamento vitalíssimo", em que manifesta expressa vontade que lhe dêem ordem de marcha caso um dia se encontre um vegetal, ou num estado de demência tão profundo que não possua réstia daquilo a que se possa chamar consciência, alguém em estado terminal de uma doença dolorosa, sem possibilidade de cura: sem dúvida. Ressalvado que seja que aquela manifestação de vontade tenha sido expressa enquanto na posse das suas faculdades.

E noutros casos? Tenho uma doença terminal, mas tenho mobilidade, capacidade de por termo à minha vida. Existe porventura algum fundamento moral que me permita pedir a outrem que me despache? A minha existência é muito limitada por determinada doença, vivo em sofrimento e desejo que acabe, mas nada me impede de tomar uma overdose de qualquer coisa: idem. Sofro de depressão profunda crónica, não há tratamento que não tenha tentado e tudo sem efeito, não vejo sentido em continuar vivo: idem. Epá, levando o assunto com alguma ligeireza, porquê encarregar o Estado de praticar o odioso, quando a iniciativa privada pode resolver o assunto?

Vêm todas estas inquietações a propósito de uma reportagem que vimos outro dia, e me incomodou imenso. Um médico (acho que suíço ou holandês) falava do direito à morte, etc e tal, e se, de início estava a 100% com ele quanto a questões como dignidade, fim do sofrimento inútil e por aí, de repente começou-se a falar de casos concretos. Uma senhora com uma profundíssima depressão, após a morte da sua única filha, que não reagiu a qualquer tratamento, e ele deu parecer favorável para eutanásia. E nós "woa!". Pá, não. E sai-se mate, uns relatos de casos mais à frente "este gajo gosta de matar". Dei-lhe a cotovelada da praxe rematada com o habitual "não sejas assim", mas passou-me um frio na espinha. Gostar não seria o verbo que escolheria, mas digamos que se sentia demasiado à-vontade com a cena de. Talvez um tiquinho de complexo de deus. E seguiam-se estatísticas, números de pedidos e deferimentos de eutanásia, números esses em cavalgada ascendente. E as causas. Problemas psiquiátricos a tomar dianteira de doenças terminais, gente muito, muito jovem a pedir para ser encaminhada para a quinta das tabuletas. E começo a pensar que phoda é esta. Desde quando é que se pode permitir que o homicídio a pedido - sim, já não é um mero auxílio ao suicídio - se torne uma regra em vez de uma excepção. Aparece ainda um tipo que já foi a favor da eutanásia, fez parte de uma comissão de ética relacionada, e entretanto deixou de conseguir dormir. Demitiu-se e mudou de ideias. E assim estou eu. Principalmente desde que soube que num desses "países evoluídos" deram parecer favorável e despacharam uma garota de 24 anos, com uma depressão "intratável". Pá, não.

Retorno ao título do post: Pessoa sabia o que dizia. É só isto. E não quero, recuso, rejeito ser cúmplice ideológica de uma cena que pode descambar naquilo que actualmente se pratica no norte da Europa. Mas vivia muito mais descansada se soubesse que um dia, esperemos que não, calhando estar um vegetal a babar pelo canto da boca, ou em dores terríveis e entubadinha até à alma, alguém teria a piedade de me acabar com a miséria, em vez de ficarem ali a assistir uma decadência inexorável e sem sentido. Mas se para garantir a minha dignidade na morte é necessário sancionar a indignidade de cortar vidas que dizem que não querem mais ser vividas, então pronto, assumo o risco. Contrariada, mas assumo. E vou forçar, lá em casa, um pacto Amour.

[ ]

[sim, é uma metáfora. sobre o que quiserem.]

sexta-feira, 18 de março de 2016

This is it

[Por Capicua, na Visão desta semana. Toda a crónica vale muito a pena, mas este resumo é ali, ó.]

sexta-feira, 11 de março de 2016

quinta-feira, 10 de março de 2016

The horror, the horror

Interrompo esta blogo-sabática para vir aqui prestar um verdadeiro, único, premente serviço público na área da saúde pública, que os telejornais abrem, meiam e terminam com lixo vário, entre o qual diversas notícias sobre um tal de zika, mas sobre isto nicles, nada, népia, e a coisa - não querendo ser alarmista mas sendo, porque é preciso que alguém o seja, caramba, alerta, alerta, aos abrigos! - parece que já deixou de ser pontual, pelo menos a confiar na minha observação meramente casuística, e já toma proporções que não quero apelidar de dantescas, que essa qualificação fica reservada para jornalistas em época de fogos florestais, mas pronto, são preocupantes.

O fenómeno é o seguinte: pessoas relativamente jovens, do sexo feminino, de cútis laranja. Fosse eu um Nilton, e acrescentava "o que é isto?", mas não é caso para piadas, mesmo más. É um caso sério. Seríssimo. Com o qual contactei numa recente feira, onde diversas vendedeiras de produtos pseudo-féchion e tópe - e que não passavam de cenas importadas via ebay, ou ideias copiadíssimas ou tunning de acessórios banais via aplicação de fitinhas e outras merdinhas adquiridas chez chenez - apresentavam tal característica. Afligiu-me. Muito. Afastada a hipótese de solário ou férias na neve - muito laranja e pouco bronze - restou-me não aproximar muito, que nunca se sabe a origem e transmissibilidade da bicheza responsável por aquela sintomatologia. Como sou uma pessoa deveras optimista, pensei que podia ser um excesso de beta-caroteno, adquirido por ingestão de qualquer das iguarias grumê que também eram vendidas em viaturas trêndi-vintage naquele espaço.

Passou-se. Mas, entretanto, detectei a coisa fora de recintos com características semelhantes, que aliás não voltei a frequentar. Queria adiantar, para efeitos puramente científicos, o meu contributo para um estudo epidemiológico: detectei o fenómeno só em indivíduos do sexo feminino, aparentando menos de trint'anos, e, dentro deste grupo, moçoilas com ar beto-urbano, vestidas de acordo com blogo-tandances. Alguém pegue nisto, alguém arregace as mangas e investigue, alguém detenha esta catástrofe. Se a coisa se pega, vamos ser o país mais côlalanja possíííííível, em coisa de dois, três meses. Já ando de máscara, por via das dúvidas.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Whatever





[se o tempo que se ganha é o tempo que não se perde, isto de não ter qualquer urgência de encher o tasco de opiniões, derivações ou simples ocasiões, de não ter a necessidade de vigiar e aprovar comentários, de não ter logo a pulsão de fotografar qualquer bizarria para postar, de não me importar mais, enfim, apresenta um saldo muito positivo. o que tenho lido, senhores. podia partilhar, que podia. mas plantar uma foto de capa e copiar uma sinopse não é a minha cena, e não me apetece mais.]