sexta-feira, 5 de junho de 2020

The Cat Diaries [20] You've Got a Friend in Me

Ena, ena, ena. vai quase um ano que não actualizo o The Cat Diaries, se dúvidas houvesse que nunca sobreviveria como cat influencer via um kitty blog, estão afastadas.

Estão todos bem, felizmente. A meio de Março a Scully começou com uma tosse esquisita, decidimos aguardar dois, três dias a ver como evoluía, e como estava tudo na mesma resolvemos ligar para o vet. Em pleno período covid, e como só atendiam casos mesmo, mesmo necessários, lá relatei os sintomas e recebemos o ok para levar a moça, hora marcada e pronto. Depois é que foi. Custou-nos mais a nós que a ela, literalmente. Nem falando da conta calada que um exame completo implicou (raio x, hemograma, etc), apanhar e engaiolar Sua Alteza foi o filme que já se esperava, ficando eu com marcas que o comprovam, apesar de usar luvas de jardingem que, hélas, não me protegeram os pulsos.
Nada nos pulmões, voltámos com comprimidos de cortisona que resolveram a situação, ufa, não foi preciso antibiótico. É que dar medicação a esta Senhora Doutora é outro filme, resultou o estratagema de misturar no paté, mas ela já estava desconfiadíssima, só nos saem gatos espertos e com pelinho na venta.
A má notícia é que a Ex.ma Senhora Dona está acima do peso (é a bucha do bando, come só porque sim, por tédio, porque sei lá eu) e com uma glicémia elevada, ou seja, obesa e pré-diabética. E como se põe uma gata em dieta, pergunto eu, quando os outros três estão elegantes e finos, e comem só o que precisam? Não faço ideia, mas comprei ração específica para diabetes que passei a misturar na outra. A ver vamos, um dia destes ganho coragem para marcar outra consulta a ver se nos recomendam um plano exequível.
Tirando a ciumeira louca que tem da mais nova, Dana Scully continua uma fofa-fofa-mimosa, que já ronrona imenso e adora mimos e ser escovada (bem precsia, é uma fábrica de pelo).
Bombom da mamã.



Já a mai'nova, fonte da referida ciumeira, continua linda que só ela, cresceu um bocado (mas vai ser sempre uma gata pequena), e adora, adora, adora todos os manos. Olha para o Fox Mulder com uns olhos de admiração que não se descreve, e sempre que o apanha a jeito dá-lhe um abracinho (juro, patinha em cima do pescoço do outro que, se de início estranhava, agora até acha bem). Faz a parelha da parvoíce com Mad Max, correrias e brincadeira que, infelizmente, muitas vezes incluem corrida de obstáculos sobre corpos humanos às tantas da madrugada. E continua a tentar seduzir a mana mai'velha, com aproximações estudadas. É frequente estarem as duas a fazer a sesta na mesma almofada grande (do ikea, recomendo vivamente, é um sucesso lá em casa), mas com distância de segurança. Já foi possível manter as duas, mas por pouco período de tempo, lado a lado no sofá, entre nós, mas de vez em quando há patada da Scully, só para mostrar quem manda. Como eu disse, pelinho na venta.

A pequenina Selina Kyle, reconheça-se, é insistente e tenho a esperança que um dia se alcance um estado de convivência pacífica, unida, amiga entre ambas. O esforço está todo do mesmo lado: nunca vi uma gatinha tão sociável, com tanta vontade de fazer amizade, com tanta inteligência emocional, patente no relacionamento diferenciado que mantém com cada uma das personalidades felinas residentes.

Aqui há tempos tivémos a demonstração que não é só com gatos que demonstra esta facilidade no trato social. Chego eu ao quarto, já numa hora de lufa-lufa-temos-de-sair-não-tarda, e está me mate sentadinho na cama a olhar para a janela. Faz-me sinal para ficar em silêncio e sentar também, e que espectáculo se desenrolava? Selina no parapeito, a olhar para a rua, e um pássaro pequeno (fui verificar a um site da especialidade, era uma fuinha-dos-juncos) aparece a esvoaçar e a piar mesmo em frente à cara dela, desaparece, e volta a esta negaça. A pequenita estava encantada: arrulhava (sim, ela não mia, arrulha) de felicidade e espanto, olhava para nós e para a janela. Nos dias seguintes voltou ao mesmo poiso, à mesma hora, ficava a fitar o lá fora, à espera do seu amigo, que não aparecia, e arrulhava de desapontamento.   

Amigos, amigos, são todos potenciais amigos. Ainda dizem que os gatos não sei quê. Gotta love'hem.


Selina e Max a dormir no seu colchão preferido, esta que vos escreve.



Não, não é fácil fotografar (bem) gatos pretos :/


Ei. Tázaí a fazer?

terça-feira, 2 de junho de 2020

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Tempos houve em que eu estaria comidinha para botar faladura e com um formigueiro nos dedos que nem um tubo de fenistil me impediria de aqui vir debulhar tudo, tudinho, tudooo o que me vai na alma neste momento do tempo e da história, mas olha, não sei se cresci, me tornei mais indiferente (aos outros, que aos assuntos continuo na mesma inquietação dolorosa de sempre), que nope. Não tenho idade nem vocação para educar ou esclarecer ninguém, e muito menos quem resiste estóica e heroicamente a deixar-se convencer do contrário que defende, apesar de o facto de se envolver em toda a polémica ou discussão pública assim faça crer aos mais ingénuos.
Eu também já fui isto e aquilo, já acreditei e defendi coisas que hoje me fazem corar de vergonha; mas entretanto calhou cair-me uma ficha que me cai amiúde, que se resume num "e se eu não tiver razão e estiver a fazer uma valente figura de parva" (bendito síndrome de impostor, alguma valia havia de ter). Acto contínuo, vou ler / ouvir / aprender mais sobre o assunto, de preferência bebendo as palavras, ideias, sentimentos de quem directamente é afectado pelo assunto em causa. E não é que já mudei de ideias muitas vezes? Isto r'almente. Sair da caixa, do nosso lugar de conforto, para mim é isto: assumir a desconfortável possibilidade de estarmos enganados, em erro, a não ver bem a coisa; ir procurar mais respostas, pensar aturadamente, reflectir com seriedade, e não ter medo de assumir que estávamos a ser um pedaço besta.
Muitas vezes tenho sorte, e a nova perspectiva apresenta-se sem que eu tenha de fazer este esforço todo. Dou com ela de frente, olha-me nos olhos, abana a cabeça em reprovação, e eu não a corro à vassourada, é este o meu "trabalho". E pensar, claro. Nem que seja para rejeitar  - acontece - mas ao menos fez-me pensar. E reflectir para rejeitar também nos faz encontrar novos argumentos que fortalecem a nossa visão.
Enfim, como em tudo na vida, não ter sinapses de betão pode conduzir-nos a processos altamente desconfortáveis, mas caneco, a sensação de se avançar um pedacito que seja em direcção a uma maior empatia, compreensão do outro, aceitação de realidades diferentes, e até que não sabemos nada e estar calado, sem abdicar de ser aliado, pode ser a melhor conduta, é uma recompensa bestial.
E pronto, não era para dizer nada e disse mais do que queria (devia?). Parto do princípio que as outras pessoas têm os mesmos meios que eu para se educar e informar, vieram equipadas de origem com um cérebro que funciona, pelo que usem-no, se quiserem, se não quiserem também (já) não contem comigo para discussões patetas.