sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

[não querendo agoirar]

 2020, 2021 e 2022 é para esquecer, vamos lá ver o que aí vem.

(não me lembro de ter partido nenhum espelho, pode ser que tenha sorte :P)

domingo, 4 de dezembro de 2022

It's my [pity] party, and I cry if I want to

Sucede que há cinco meses (e uns dias) que ganhei uma empatia muito especial, feita de conhecimento próprio, a quem sofre de dor crónica. Oi, lamento muito. Espero que tenham uma solução. 

Parece que eu tenho, pelo que consenti (deliberada, livre e conscientemente), que me espetem uma faca nas costas, escarafunchem, e cortem o que está a mais / mal. A coisa vai dar-se ali pelos princípios de Janeiro, que é para ver se metade de 2023 não seja passado como metade de 2022. A decisão não foi fácil, derivado de caguinchice. E excesso de optimismo, porque houve ali um período, durou cerca de uma semana, dez dias, em que parecia mesmo, mesmo que a fisio estava a resultar e ia ficar como nova. Até que segunda crise.

Resumidamente, se alguma vez alguém vos desejar uma valente dor ciática, saibam que têm ali inimigo a valer. Podia ter sido só uma crise, aquelas dores lancinantes (não estou a exagerar, juro, nunca tinha chorado - copiosamente, a ponto de ter vergonha - de dor, em 51 anos) passarem com medicação e pronto, volta-se à vidinha, mas não. Em 15 dias (e depois de uma passagem de 13 horas pelas urgências, e ninguém me diga mal do SNS, por favor, que parto para a violência), com um diagnóstico feito e a medicação adequada, passei do lancinante do tipo nem consigo andar / deitar / sentar, para o dói quase-sempre, mas já se anda, meio coxinha, mas anda; e finalmente para o olha, agora não dói e duas horas depois lá está outra vez o corpinho, malcriadamente, a dizer que existe. Uma perna a ficar intermitentemente dormente. Uma anca a só suportar 5 horas de sono. Uma sensação de cãibra constante nos gémeos. O choque tipo alta voltagem na coxa. Às vezes tudo ao mesmo tempo, outras alternadamente. Seguidinho foram os dois meses em que não sentia completamente o pé direito, só andava de ténis ou com as (únicas...) sandálias rasas com sola e revestimento quase ortopédico, porque tinha medo constante de cair. Princípio de Setembro, e um dia já sinto o pé todo. Todo! Se não o visse todos os dias, alturas houve em que parecia que se tinha sumido. E finalmente, ali estava. Mas continuei de salto raso, porque o resto, pois. 

Juro que não quero ser aquele tipo de pessoa que parte uma unha e se vai queixar, de lágrimas nos óios, à pessoa com a perna engessada. Sobre isso, um dia ainda conto aqui uma boa. Mas eu cá sou a dona aqui do tasco, que é um tasco virtual, e sei lá se há quem esteja pior. Assumo que sim, há sempre alguém pior que nós. Ou melhor, e a esses os meus sinceros votos de que se mantenha e ainda melhore. E que nunca vos calhe uma hérnia discal tombar em cima do nervo ciático. Pela minha rica saudinha.

(estou tão acagaçadinha, credo, sou a miss medricas da década, mas a parte do fartinha de sofrer e ter uma qualidade de vida muito diminuída em relação ao que tinha ganhou. acho que tomei a decisão mais racional. mas estou acagaçadinha.)

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O inferno são mesmo os outros, e tenho uma lista

Éramos todos mais xófens, mais inocentes, mais imbuídos de esperança (lembram-se?), naqueles tempos iniciais da pandemia em que se propalava "vamos sair disto melhores". Não saímos, e eu já sabia, que sou uma cabra cínica que nunca acredita nestas merdas delicodoces pseudo-proféticas. 

Resumindo e precisando, com a preciosa ajuda de um meme gamadíssimo da internet:


Anda tudo maluco, ainda mais que antes, e continua a ser crime assestar umas valentes bolachadas na face alheia. Vá, umas palmadinhas no rabiosque, só a título pedagógico. Mas não se pode, não pode. Pena. Que com a idade a paciência diminui na razão inversa da chalupice que uma pessoa tem de aturar, e refiro-me apenas ao ambiente laboral porque, para além deste (consulta notas) não tenho vida que se conte.

"Ah, mas pagam-te para isso, ou não pagam, faz parte, julgas o quê". Eu cá já não julgo nada, pah. Enquanto o ordenado der para ansiolíticos, cá estamos, mas ele há 'ssoas, santa paciência, ele há 'ssoas. E um coisinho destes em cima da secretária, é que era:


 

(vai ser este calvário em doses semanais, até meados de Dezembro, e tenho a certeza que não mereço)

   


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Dá-se, a quem estimar

- Cifose dorsal;

- Uncartrose e artropatia facetária posterior, com moderada etenose foraminal direita;

- Ligeira artropatia facetária posterior;

- Escoliose lombar dextro-convexa;

- Discopatia degenerativa;

- Hérnia discal em L4-L5 com ligeira migração descendente;

- Hérnia discal em L5-S1, com migração descendente.

Condições especiais (transporte e entrega grátEs) a interessados no pacote integral (código KosTasFudiDAs).

Eu, por mim, acho que vou pedir para me instalarem uma coluna nova.

Em adamantium, que isto do osso não presta para nada. 

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Então vamos lá a isso, tudo de mãozinhas no ar para um belo momento de comiseraçãozinha

 *esqueci de especificar: é um momento de auto-comiseraçãozinha 



Caso alguém ainda tenha curiosidade (já sei, não têm), e pergunte (ok, ok, não perguntam) "ó Izzie, filha, donde andaste tu, que fizeste quatro meses e picos tão caladinha", eu respondo (pronto, ninguém quer saber, mas isso nunca me deteve), com toda a verdade!, toda a çinçeridade!, toda a acutilância que me caracterizam (tenham paciência, façam-me a vontade e finjam que acreditam).

A deprimir. A chorar. A desesperançar.

É. Sou uma pessoa muito em cima, uma companhia muito boa, a alegria da festa (nota: não há festa).

Em jeito de resumo autobiográfico, sou uma deprimida crónica, (ou, tivesse nascido rica, desocupada e no século XIX, uma melancólica inveterada, prefiro esta versão). É um facto, já me habituei a lidar com ele (30 anos de experiência, não vem no CV, não serve para nada, mas pronto), tomo a minha dose química de sobrevivência e cá vamos andando.  

Sucede, porém, que até o mais atento e experiente deprimido pode cair ainda mais um bocadinho. E, como experiência nem sempre equivale a competência, o deprimido crónico ignora os sinais, anima-se com o eterno "é só uma fase", seguido do sucesso "isto passa". Mas não passa. Uns dias piora, outros não piora. Mas não melhora. 

E segue a requentada rotina: tristeza permanente, choradeira persistente. À menor provocação. Por norma despachava a situação logo de manhã, depois do banho, que nisto (só nisto) sou muito organizada: despacha-se a deprimência logo de manhã, que é quando começa o dia. Da choradeira ficava arrumada; mas já a tristeza, a sensação de desamparo, desconsolo, a anomia, carregava-as todo o dia. Ainda assim, persistia em encontrar causas - que as havia, e há - e soluções, népia, adiava. Porque. Vai. Passar. Só. Porque. Sim. Caso vos tenham enfiado a balela, fica aqui a voz amiga: pensamento positivo não é solução. Principalmente quando o nosso cérebro não o consegue gerar, e faz uma fita do caraças quando o tentamos forçar.

Depois há o dia em que uma pessoa  tem um lampejo, assume, e procura ajuda, sem reservas. Marca a consulta, não disfarça, chora ali toda a baba e ranho que vem acumulando, e sai com a receita reforçada. E resulta. Há quem tenha um nojo muito específico a esta solução, "ah, estás a encher-te de químicos", e depois? Química está em tudo. Nós somos química, é aqui que está a receita de como funcionamos, pior ou melhor. Química é a sopa que é o nosso cérebro. Um bocadinho de sal a menos ou a mais pode estragar ou consertar. Há que abraçar a química. Dar valor à química. Achei que era oportuno lembrar, diz que hoje é o dia mundial da saúde mental. Afinem a vossa receita de sopa, se não vos souber bem. Vale a pena. Mesmo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Querido Diário:

 A pessoa tem muito com que se chatear; a pessoa precisa imensamente, estupidamente, intensamente, de válvulas de escape; a dita pessoa já teve, na escrita no blog, essa válvula; a pessoa quer voltar a ter.

Mas: como. Quando pergunto "como" é mais "escrever sobre o quê". Não, este não é um post à pesca de comentários de sugestões. É um post introspectivo do tipo "quem sou eu [agora], o que devo dar de mim, o que quero dar de mim". Blaahhh, super chato, eu sei. Nunca antes tive este tipo de interrogações: como uma pequena amostra o poderá revelar, escrevi sempre sobre o que me dava na gana, fosse o assunto sério ou fútil, de interesse relevante ou só parvo, intimista ou sobre o muuuundo e as 'ssoas em geral, música, livros ou cinema. Ou seja, nunca conseguiria fazer vida disto, porque coisinha mais generalista, all over the place, não há. Zero editorial, zero temática, zero a comportamento, principalmente. 

Acresce que há aquele sentimento (será isto, a maturidade que só a idade traz?) de que, se calhar, muito se calhar, tendo para o oversharing; e que se calhar, mesmo muito se calhar, talvez isso não seja avisado. Esta boquinha muito pouco santa já me meteu em tantos sarilhos, credo. E, em vendo, se calhar já não tenho paciência para polémicas, ou para dar o flanco. Que chatice, isto de ser crescida. Ou assim. Verdade seja dita, esta tasca sita numa viela pouco frequentada, até pelo mosquedo dos turistas ocasionais, pouca chatice me poderá trazer, actualmente. Na verdade, tirando da equação os que me conhecem de conhecer, e que já estão habituados aos meus repentes e disparates, poucos ou nenhuns dos eventuais passantes me poderão causar mossa.  Mas coise. Já não me apetece, as mais das vezes. Se calhar isto deriva de um excesso de navegação (sem participação, livra) no twitter onde, da casca de um alho, se cria uma guerra sem quartel. Já não tenho paciência para essas situações. 

E depois há aqueles dias em que até tenho ideias que parecem boas ideias de cenas para partilhar, mas. Ah, o ímpeto de escrever toda uma elaborada tese e, ainda antes desta me saltar das pontas dos dedos para o teclado, o cair da ficha "isso não interessa nada". Donde, se calhar o melhor é fazer o número de sempre: improvisar. Preciso da distração. Vamo'lá ver: sapatos dez números acima, check. Nariz vermelho de bola, check. Maquilhagem ridícula, fato mal cortado, amarrotado, e a não combinar com nada, check. Cabeleira de nylon baratucho em cores berrantes, olé, cá está. Tarte de creme: vamos tratar disso. Tropeçar e cair de forma ridícula, oras, é a minha especialidade. Disparatar para não pensar (demasiado) no que é grave e pesado e triste e preocupante: é praticamente o meu modo de vida. Opções.

Só passar aqui o chão a pano, que está uma miséria de pó.


 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

 Há quem se queixe da chuva torrencial, e há quem fique encantado com esta bem oportuna (e grátis!) lavagem auto da natureza.

É pena é não haver um fenómeno meteorológico de aspiração, mas não podemos querer tudo, né.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Querido Diário

 Não estou a dar conta da situação, sendo que a "situação" é aquela inerente a estar vivo e viver. É tudo ou demasiado ou escasso: demasiado o trabalho, escasso o tempo para dar conta dele; demasiada preocupação, escassa a disposição para a por em ordem; demasiado isto, escasso aquilo. Ali pelo Natal pensei que estava por um fio mas consegui remendá-lo; entram em cena os suplementos vitamínicos e o fio passa a guita, que entretanto se escafiou toda, mas há-de voltar a ser remendada, não seja eu uma macaca do tipo sapiens. Hoje acordei obcecada com a situação "parafusos que preciso e não consigo encontrar", pelo menos no leroy, parece que a procura de parafusos de 2mm, cabeça redonda, e não mais de 15 mm de comprimento não justifica, seja, mas não tenho tempo para correr as lojas de ferragens tradicionais, que já sei que me vão safar, e quero muito arranjar a meretriz da porta da casa de banho e fixar a rameira da tranca. Há muito para arrumar, na cabeça e em casa, e uma pessoa vai deitando mãos à obra naquilo que ainda consegue, casa. Maior arrependimento da vida, não ter estantes com portas de vidro, raisparta o pó, mas onde é que eu tinha comprado estantes com portas a um preço que não causasse desmaios, ó, pois, sacode livros, pequena, sacode. Devia era contratar alguém para me fazer o horror de merdices que tenho para compor, mas, para além de eletricidade, gás e água, que não me encarrego, o resto faz-se entre os dois, e poupa-se um dinheirão. E quem diria que rectificar juntas é uma actividade tão terapêutica, hein. E, ouso dizer, ficam melhor feitas por mim, apre, os empreiteiros são cá uns trapalhões nos acabamentos, ou sou eu que sou muito coca-bichinhos, também admito a possibilidade. Não são tempos bons, mas também não são tempos horríveis; importante é ajustar as expectativas. Apesar de ainda não estar mentalmente preparada para as ajustar à dificuldade de arranjar um carpinteiro decente, já rejubilo com o facto de, finalmente!, começar a haver resposta às dezenas de cv enviados por me mate, um ano sem nada, silêncio, e começam a chegar; call center, seja, é melhor que nada, ajustar expectativas, já tinha dito, melhores oportunidades surgirão.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

SEMPRE

 


Faz-se o que se pode

 E, ultimamente, derivado do cansaço, ler não tem sido uma prioridade. Ou antes, não é fácil, que a vontade está lá sempre, a latejar, o que ainda torna mais difícil a incapacidade de ler duas páginas sem cair a dormir. Desmotivante, no mínimo. E os livros-por-ler, essa espécie implacável e de dentinhos finos e afiados, a rosnar-me das estantes. Qualquer dia saltam-me à jugular, medo.

Mas depois há a banda desenhada (vozes de anjos em fundo), as novelas gráficas (aleluias), e todo o textinho ilustrado em que possa botar as mãos. Sim senhora, há quem não aprecie o género, tudo bem, mas caneco. Mas posso (tentar) influenciar? Vamos a isso.

Este foi encontrado no próprio dia do livro, e no comércio tradicional (a Kingpin é, para mim, "comércio tradicional": livraria especializada, fora do circuito das "grandes", perto de casa, e um espaço muitíssimo agradável). 


Lindo, lindo, lindo. A história, a ilustração, tudo supinamente bom. Pena ler-se num ápice, embora exija uma lenta apreciação do trabalho de ilustração. É caro? Sim, toda a BD é -relativamente - cara. Mas pense-se no trabalho envolvido, e que a ilustradora aqui explica, no pósfácio.

Recomendadíssimo, tal como as anteriores colaborações de Troll Bridge e o magnífico Snow, Glass, Apples.

No início do ano apaixonei-me pela colecção Armazém Central (já traduzido, o meu francês não chega para tanto, infelizmente).


Tudo bom. As personagens, os cenários, o texto, a ilustração. Vou continuar a colecção. Mais uma vez, relativamente caro, mas o trabalho, senhores, o trabalho que está em cada álbum, página, quadrícula.

Finalmente, em português, uma das coisas mais maravilhosas que me passou pela retina, já no ano passado:


Que maravilha. Uma maravilha maravilhosa, perdoe-se a redundância. Quem ainda não teve a experiência, pá, não sabe o que está a perder. É correr à livraria mais próxima, física ou online (a editora também vende online, dica). Ide, ide. A correr, já disse.



sexta-feira, 22 de abril de 2022

Bless her little heart

 Aqui há atrasado, derivado de uma situação que sucedeu, veio-me subitamente à memória um episódio passado há um horror de anos, e que vou partilhar para aborrecimento de quem tiver a má sorte de aqui passar (e também para memória futura, não me apeteça um dia coligir todas as insignificâncias da minha vida numa nada excitante autobiografia. minha, por mim mesma. já disse que adoro redundâncias? ah, nota-se, não é?).

Aqui a titi Izzie sempre foi um bocado repentista, o que, juntando à vaidade, gosto por coisas giro-fofinhas, e tendência consumista, levava a que, muitas vezes, em calhando ver um acessório ou peça de roupa gira, tau, adquiria para sua sobrinha. Ora isto passou-se a sobrinha não teria mais de cinco anos. Calhou que dei com umas meias de menina mêmo-mêmo-mêmo cridas, com margaridas brancas, e comprei. Numa ida a casa de mano-cunhada, anuncio a sobrinha que tenho um miminho para lhe dar, e estendo-lhe as ditas meias. Acontece que mal lhe passo as meias para a mão a pequena muda, em milissegundos, o semblante de normal a birra iminente, faz beicinho, grunhe, e as atira para o chão. E eu?, nada. Apanho-as, e digo qualquer coisa como "olha que pena, não gostas; não faz mal, dou a outra pessoa, ou troco por qualquer coisa para mim." Rebenta de imediato num berreiro. Nem tive tempo de reagir, aparece de imediato sua mãe, a quem explico o que se passou sem qualquer julgamento e com toda a simplicidade: "trouxe-lhe isto, jogou para o chão, parece que não gostou pelo que levo de volta". Ui. Berreiro aumenta de intensidade, está prostrada na caminha, cara escondida na almofada. Dra-ma. Não aprecio especialmente, mas não me compete lidar; nada mais digo ou faço, para além de me afastar para ir guardar o presente rejeitado. A mãe, bom, faz uma cara de pânico, e enquanto acalma a menina, segura-me, tira as meias da minha mão, e justifica que não, ela gostou, ela fica com elas, está só num daqueles dias mais sensíveis ou lá o que era. Insisto que não há problema nenhum, se não gosta não gosta, ora essa, que seria; mas mãe já as tem na mão, e continua a consolar pobre criança. Ok. Ficamos assim. Não me compete. Mas, interiormente, abro muito os olhos e penso que chiça (pode não ter sido só "chiça", sou muito asneirenta, principalmente em pensamento), isto tem tudo para correr tããããão mal. 

E correu? Mal? Bom, digamos que não foi a primeira vez que pensei nessa possibilidade, nem foi - infelizmente - a última. Correu bem em muitas, imensas coisas, (felizmente, porque neste tipo de prognósticos prefiro sempre errar). Noutras, nem por isso. A frase-chave, que nos últimos dias me tem passado, non-stop, pela ideia é "it's not your fault you weren't raised right", (com sotaque sulista e tudo).

Não, não me competia, nem me compete. Mas atinge. E se vindo de uma criança (até) se releva e se consegue não levar a mal, duma pessoa já adulta, enfim. 

Como nas fábulas de antigamente, e à confiança aqui da vossa carroceira titi Izzie, vai este ensinamento: eduquem (bem) os vossos rebentos, c@r@lho.

Ler. Reler. Repetir.

 “You are not special. You're not a beautiful and unique snowflake. You're the same decaying organic matter as everything else. We're all part of the same compost heap. We're all singing, all dancing crap of the world.”

Chuck Palahniuk
Fight Club

quarta-feira, 6 de abril de 2022

Here I Go Again

 


Três horitas e picos de sono, mas depois a amável Tinta da China informa, via redes sociais, que está no prelo uma reedição das caricaturas do João Abel Manta, uma pessoa viola a sua auto-imposta regra de não comprar mai'nada este mês para além de comida (vá, é um bem essencial. a i'alma também come), encomenda, e pronto, está tudo bem.

(podeis ir, é aqui. eu nem sei dizer há quantos anos ando à procura / espera deste livro)

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

We don't talk about Bruno-no-no-no*

Terceiro shot, booster, dose, reforço: check. Me mate também. Sem efeitos secundários, tirando a dor no braço. Yay. Continuamos, todavia, mui confinados (vá, bastante, não tanto como em 2020 e 2021, caramba, há limites, sendo que o pior de todos, aarrrghhh, trabalho) e com cuidadinhos. Quero crer que é esse factor, somado ao super-factor de não termos filhos (alguém com filhos que escapou?, sorte, muita sorte!), que nos tem mantido negativos. Oh, o sonho, viver esta época em que se manter negativo é ponto de honra. Em que pelo menos algum positivismo é, garantida e reconhecidamente, tóxico. Um dia chegamos lá, à utopia, em que outras pragas como o coaching, wellness, proactividade, go getterismo, atitude up, terão o mesmo carimbo. 

Ou então sou tan ruim que nem a omicron quer nada comigo, e eu ralada, xô. Veremos.

Os dias continuam aborrecidamente, compridamente, esticadamente iguais. Panicar por causa do trabalho, trabalhar, panicar mais um bocadinho porque se trabalhou como uma mula e ainda ficou tanto por fazer, trabalhar mais. Ando a adiar a atribuição do prémio "Cadeirada nos Cornos 2022" - sim, ainda estamos em Janeiro, mas já está atribuído, e duvido que alguém ultrapasse o mérito da sodona agraciada nos próximos onze meses, antes acredito que ela também vai acumular a menção honrosa - porque os nervos já não se recomendam, mas começa a ser inevitável a abordagem ao nível da gritaria, dado que com (muitas. demasiadas. serenas.) conversas sodona não chegou lá. Deuznossosenhor vos livre de ter de trabalhar com alguém assim, que me calhou na rifa via antiguidade, e eu venho suportando estoicamente com o mantra "estáquaseareformarse", calma, Izzie, mas entretanto disseram-me que ainda lhe faltam dois anos. Não sei se aguento. Alguém vai falecer, entretanto. Provavelmente, eu. Agora chamam-lhe "burn out", quando comecei era "esgotamento" (sou uma pessoa antiga), been there, não tenho nem quero a t-shirt e, principalmente, apreciava deveras não voltar a esse sítio. Os meus fins de domingo são muito calvinistas - d'apres Calvin&Hobbes, isto é, a sonhar com catástrofes que me impeçam de ir à escola trabalhar segunda -, mas toca o despertador e vá, tu consegues (nope), e vai correr tudo bem (não corre). Presa por fios escafiados, colada com cuspo, até ver. Uhuuu, 'tadinha d'eu, aqui a choramingar como uma coisinha. Pronto, já desafafei, acabou.

Para não dizerem (os sobreviventes assaz resilientes que ainda cá estão) que vieram aqui debalde, vou agora armar-me um bocadinho em influencer do audiovisual, e mandar umas larachas:

Cobra Kai 4: havia necessidade?, não. vimos, com alegria e satisfação?, sim. iup, há piscadela à quinta temporada. há necessidade?, não. vamos ver?, óbvio. de qualquer forma, uma série para teens bem feita e, atenção pais, wholesome as fuck, coisa que já vai rareando.

Dexter: New Blood: havia necessidade?, não. vimos, com moderadíssima alegria e satisfação?, sim. queremos mais? não. and that's all I have to say about that.

Only Murders in the Building: precisam de alegria na vida?, é no canal disney, com este nome. que gosto, ver Steve Martin, Martin Short e (lágrimas de felicidade, foram buscá-lo) Nathan Lane em plena forma, com um texto à altura. Divertimo-nos tanto. Tirando as partes em que o Steve Martin nos esfrega na cara o bem que fica com um chapéu pork pie e esta cabeça de ovo que fica ridícula com este feitio morre de inveja. we'll always have trilbys, vá lá.

After Life 3: havia necessidade?, completamente. vimos, com enorme alegria e intensa satisfação?, sim. chorámos que nem uns totós?, confirmo. como dizia o outro, adorei, adorei, adorei.

E pronto, já está. Filmes, não me apetece, que não há nada digno de nota. Apenas que gostava de ter visto The Power of the Dog no cinema. Merecia. E quero ver - no cinema! - Belfast.  

*o filme (Encanto) não é nada de especial, mas esta passou a ser a banda sonora da minha mente cansada e doente. and we don't talk about that, either.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Trabalhar empata-me muito a vida

Hoje de manhã vi um bando de flamingos a voar sobre os arrozais, dezenas de cegonhas e garças, três cavalitos a beber numa pequena presa de água, uma manada de vacas castanhas acompanhadas de bezerrinhos, um rebanho de ovelhas com imensos borreguinhos pretos, estradas ladeadas de azedas, e outras floritas a atrever-se a aparecer.

Hoje de manhã não estava a trabalhar, obviamente.

(agora estou, mas contrariada)

Mais uma rodada

 A senhora minha mãe não acredita que o calendário é uma construção social, e a prova disso é que me telefonou a avisar que já estavam abertas as inscrições para a terceira dose da vacina para os +50. O meu primeiro instinto foi "e o que tem isso a ver comigo" (a primeira dose foi dada em regime de sub-50, e a segunda era no seguimento), mas depois caiu a ficha. Suspiros. Já marquei, de hoje a uma semana é mais uma pica para o curriculum. 

Não vou mentir: quem me dera ter uma desculpa, mas não tenho, que o cagaço não é desculpa. Negacionista, também não sou, que ainda fiz a quarta classe com aproveitamento (e sim, nesses longínquos tempos éramos ensinados, logo na instrução primária, de acordo com os conhecimentos da época e passíveis de ser transmitidos a uma criança, o que era uma vacina, para o que servia e como funcionava. na altura não se falava no 5G porque não havia.). Mas admito, com alguma vergonha: custa-me horrores - pavor de agulhas - e tenho de fingir que sou uma pessoa regular, que se rala lá com isso. Para a primeira dose ia com um camadão de nervos que só visto, mas acho que a enfermeira percebeu, afinal disse-me para descontrair o braço mais vezes que julgo será habitual com um freguês normal. 'Tadinhas, já devem estar habituadas a caguinchas. A minha até empatizou e disse que era igual, contraía sempre o músculo (a-mo-ro-sa, aumentem este pessoal por favor); depois fez aquele número infantil do contar até três e espetar a agulha ao dois (é o que digo, a-do-rá-vel), e eu fiz o número de fingir acreditar que era ao três. Patético, eu sei. Na segunda dose fingi melhor - ainda dizem que os ansiolíticos não servem para nada -, mas por dentro era uma criança aos berros e de ranho a escorrer pela cara, juro. 

Anyhoo, se uma palhacita medrosa como eu consegue, toda a gente consegue. Idade para ter juízo é que já vamos tarde, se não aconteceu até agora, não me parece que vá acontecer. Já agora, e em compensação por todo este sacrifício e forte dor emocional, agradecia que o bicho continuasse a não me atacar. Se não for pedir muito. Eu ajudo com a máscara, também, que agora uso as FF em preto, e até me favorecem imenso.  

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O Calendário é uma Construção Social

 E por isso coise, siga a marcha que não se passa nada. Houve ali um intervalito de três dias na habitual miséria interna e angústia existencial que são, verdade seja dita, dois dos meus melhores encantos pessoais e, nesse entretanto, avariou a minha batedeira moulinex adquirida nas lonjuras de mil nove e noventa e oito, ano da emancipação filial, e mesmo quando ia começar a bater as natas para o cheesecake, sendo que desta vez até me tinha lembrado de comprar o marcarpone e tudo. É o fim de uma época. Tive de bater natas com uma vara de arames (momento de life coaching: não. se. metam. nisso.) e a varinha mágica da mesma marca e vetusta idade (ficou uma joça), mas tomei a decisão de guardar a batedeira, vai ser um dos bibelots da cozinha que planeei remodelar em 2017 e entretanto ficou para depois derivado de situações. Diria mamãe que tenho vocação para ferro velho, guardo tudo, mas raramente me arrependo. Também guardei a minha primeira máquina fotográfica digital, uma coisa com resolução de 3,5 mega pixels que, na época, era super-duper e custou um rim, apesar de ter esperado quase um ano que saísse outro modelo para a comprar mais em conta. E o meu walkman. E o meu nokia 3310. E o meu mini gravador, e respectivas cassetes. E disquetes. E dois rolos kodak. Está tudo em exposição na mesa sala, e os meus sobrinhos adoram. Eu: 1; Mamãe: 0. Já o gira discos e vinis, ficou o meu irmão com eles. Ou seja, o resto da herança dos meus pais é minha, e ficamos quites. Abdiquei do gira-discos não por amor fraternal ou um rebate de generosidade, mas porque Mad Max. Nem quero imaginar a reacção do filho dilecto do demo a um gira discos em funcionamento. Este gato já me está a dever umas boas centenas de euros, juro. Vá, duas? (mas é tan fofinho. quando não morde. bandido.). Além de coleccionar tralha também me tornei aquela pessoa que toma nota de cenas, como os filmes e séries que viu em determinado ano. Comecei no primeiro ano da peste, e que ano de produtividade foi, a esse nível. Curiosamente, não aponto os livros que li, acho que por vergonha inconsciente. Cada vez leio menos, talvez porque, sei lá, passe já quase todo o dia a olhar para papel escrito e a produzir mais inanidades escritas. Verdade. Tenho ali dois "esqueletos" de trabalhos com cinquenta páginas cada, e falta o "recheio". Estou muito cansada. Achei que ia rebentar de todo ali na penúltima semana de Dezembro, mas ou comecei a absorver mais vitaminas (da comida saudável que não como) ou deu-se um milagre qualquer e agora sinto-me medianamente ok. Tirando as dores de cabeça. E de costas. E a constante sensação de que estou a chocar alguma (sim, testei; sim, deu negativo; sim, já comprei mais testes que gastei três em histeria de somatização após um contacto de pouco risco). De resto, tenho sono. E frio. E esta humedade, caneco, precisava tanto de fazer mais duas ou três máquinas de roupa. Louça estou-me lixando, mas abomino roupa suja acumulada. A nossa sala, além de antro de velharias e lego, está uma aldeia da roupa branca. E pronto, não maço mais. Embora soe um bocadito contraditório, porque o tempo existe mas o calendário é aquilo ali, para este ano quero mais melhor. Só isso. E energia para isto aqui:


    daqui