terça-feira, 25 de janeiro de 2022

We don't talk about Bruno-no-no-no*

Terceiro shot, booster, dose, reforço: check. Me mate também. Sem efeitos secundários, tirando a dor no braço. Yay. Continuamos, todavia, mui confinados (vá, bastante, não tanto como em 2020 e 2021, caramba, há limites, sendo que o pior de todos, aarrrghhh, trabalho) e com cuidadinhos. Quero crer que é esse factor, somado ao super-factor de não termos filhos (alguém com filhos que escapou?, sorte, muita sorte!), que nos tem mantido negativos. Oh, o sonho, viver esta época em que se manter negativo é ponto de honra. Em que pelo menos algum positivismo é, garantida e reconhecidamente, tóxico. Um dia chegamos lá, à utopia, em que outras pragas como o coaching, wellness, proactividade, go getterismo, atitude up, terão o mesmo carimbo. 

Ou então sou tan ruim que nem a omicron quer nada comigo, e eu ralada, xô. Veremos.

Os dias continuam aborrecidamente, compridamente, esticadamente iguais. Panicar por causa do trabalho, trabalhar, panicar mais um bocadinho porque se trabalhou como uma mula e ainda ficou tanto por fazer, trabalhar mais. Ando a adiar a atribuição do prémio "Cadeirada nos Cornos 2022" - sim, ainda estamos em Janeiro, mas já está atribuído, e duvido que alguém ultrapasse o mérito da sodona agraciada nos próximos onze meses, antes acredito que ela também vai acumular a menção honrosa - porque os nervos já não se recomendam, mas começa a ser inevitável a abordagem ao nível da gritaria, dado que com (muitas. demasiadas. serenas.) conversas sodona não chegou lá. Deuznossosenhor vos livre de ter de trabalhar com alguém assim, que me calhou na rifa via antiguidade, e eu venho suportando estoicamente com o mantra "estáquaseareformarse", calma, Izzie, mas entretanto disseram-me que ainda lhe faltam dois anos. Não sei se aguento. Alguém vai falecer, entretanto. Provavelmente, eu. Agora chamam-lhe "burn out", quando comecei era "esgotamento" (sou uma pessoa antiga), been there, não tenho nem quero a t-shirt e, principalmente, apreciava deveras não voltar a esse sítio. Os meus fins de domingo são muito calvinistas - d'apres Calvin&Hobbes, isto é, a sonhar com catástrofes que me impeçam de ir à escola trabalhar segunda -, mas toca o despertador e vá, tu consegues (nope), e vai correr tudo bem (não corre). Presa por fios escafiados, colada com cuspo, até ver. Uhuuu, 'tadinha d'eu, aqui a choramingar como uma coisinha. Pronto, já desafafei, acabou.

Para não dizerem (os sobreviventes assaz resilientes que ainda cá estão) que vieram aqui debalde, vou agora armar-me um bocadinho em influencer do audiovisual, e mandar umas larachas:

Cobra Kai 4: havia necessidade?, não. vimos, com alegria e satisfação?, sim. iup, há piscadela à quinta temporada. há necessidade?, não. vamos ver?, óbvio. de qualquer forma, uma série para teens bem feita e, atenção pais, wholesome as fuck, coisa que já vai rareando.

Dexter: New Blood: havia necessidade?, não. vimos, com moderadíssima alegria e satisfação?, sim. queremos mais? não. and that's all I have to say about that.

Only Murders in the Building: precisam de alegria na vida?, é no canal disney, com este nome. que gosto, ver Steve Martin, Martin Short e (lágrimas de felicidade, foram buscá-lo) Nathan Lane em plena forma, com um texto à altura. Divertimo-nos tanto. Tirando as partes em que o Steve Martin nos esfrega na cara o bem que fica com um chapéu pork pie e esta cabeça de ovo que fica ridícula com este feitio morre de inveja. we'll always have trilbys, vá lá.

After Life 3: havia necessidade?, completamente. vimos, com enorme alegria e intensa satisfação?, sim. chorámos que nem uns totós?, confirmo. como dizia o outro, adorei, adorei, adorei.

E pronto, já está. Filmes, não me apetece, que não há nada digno de nota. Apenas que gostava de ter visto The Power of the Dog no cinema. Merecia. E quero ver - no cinema! - Belfast.  

*o filme (Encanto) não é nada de especial, mas esta passou a ser a banda sonora da minha mente cansada e doente. and we don't talk about that, either.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Trabalhar empata-me muito a vida

Hoje de manhã vi um bando de flamingos a voar sobre os arrozais, dezenas de cegonhas e garças, três cavalitos a beber numa pequena presa de água, uma manada de vacas castanhas acompanhadas de bezerrinhos, um rebanho de ovelhas com imensos borreguinhos pretos, estradas ladeadas de azedas, e outras floritas a atrever-se a aparecer.

Hoje de manhã não estava a trabalhar, obviamente.

(agora estou, mas contrariada)

Mais uma rodada

 A senhora minha mãe não acredita que o calendário é uma construção social, e a prova disso é que me telefonou a avisar que já estavam abertas as inscrições para a terceira dose da vacina para os +50. O meu primeiro instinto foi "e o que tem isso a ver comigo" (a primeira dose foi dada em regime de sub-50, e a segunda era no seguimento), mas depois caiu a ficha. Suspiros. Já marquei, de hoje a uma semana é mais uma pica para o curriculum. 

Não vou mentir: quem me dera ter uma desculpa, mas não tenho, que o cagaço não é desculpa. Negacionista, também não sou, que ainda fiz a quarta classe com aproveitamento (e sim, nesses longínquos tempos éramos ensinados, logo na instrução primária, de acordo com os conhecimentos da época e passíveis de ser transmitidos a uma criança, o que era uma vacina, para o que servia e como funcionava. na altura não se falava no 5G porque não havia.). Mas admito, com alguma vergonha: custa-me horrores - pavor de agulhas - e tenho de fingir que sou uma pessoa regular, que se rala lá com isso. Para a primeira dose ia com um camadão de nervos que só visto, mas acho que a enfermeira percebeu, afinal disse-me para descontrair o braço mais vezes que julgo será habitual com um freguês normal. 'Tadinhas, já devem estar habituadas a caguinchas. A minha até empatizou e disse que era igual, contraía sempre o músculo (a-mo-ro-sa, aumentem este pessoal por favor); depois fez aquele número infantil do contar até três e espetar a agulha ao dois (é o que digo, a-do-rá-vel), e eu fiz o número de fingir acreditar que era ao três. Patético, eu sei. Na segunda dose fingi melhor - ainda dizem que os ansiolíticos não servem para nada -, mas por dentro era uma criança aos berros e de ranho a escorrer pela cara, juro. 

Anyhoo, se uma palhacita medrosa como eu consegue, toda a gente consegue. Idade para ter juízo é que já vamos tarde, se não aconteceu até agora, não me parece que vá acontecer. Já agora, e em compensação por todo este sacrifício e forte dor emocional, agradecia que o bicho continuasse a não me atacar. Se não for pedir muito. Eu ajudo com a máscara, também, que agora uso as FF em preto, e até me favorecem imenso.  

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

O Calendário é uma Construção Social

 E por isso coise, siga a marcha que não se passa nada. Houve ali um intervalito de três dias na habitual miséria interna e angústia existencial que são, verdade seja dita, dois dos meus melhores encantos pessoais e, nesse entretanto, avariou a minha batedeira moulinex adquirida nas lonjuras de mil nove e noventa e oito, ano da emancipação filial, e mesmo quando ia começar a bater as natas para o cheesecake, sendo que desta vez até me tinha lembrado de comprar o marcarpone e tudo. É o fim de uma época. Tive de bater natas com uma vara de arames (momento de life coaching: não. se. metam. nisso.) e a varinha mágica da mesma marca e vetusta idade (ficou uma joça), mas tomei a decisão de guardar a batedeira, vai ser um dos bibelots da cozinha que planeei remodelar em 2017 e entretanto ficou para depois derivado de situações. Diria mamãe que tenho vocação para ferro velho, guardo tudo, mas raramente me arrependo. Também guardei a minha primeira máquina fotográfica digital, uma coisa com resolução de 3,5 mega pixels que, na época, era super-duper e custou um rim, apesar de ter esperado quase um ano que saísse outro modelo para a comprar mais em conta. E o meu walkman. E o meu nokia 3310. E o meu mini gravador, e respectivas cassetes. E disquetes. E dois rolos kodak. Está tudo em exposição na mesa sala, e os meus sobrinhos adoram. Eu: 1; Mamãe: 0. Já o gira discos e vinis, ficou o meu irmão com eles. Ou seja, o resto da herança dos meus pais é minha, e ficamos quites. Abdiquei do gira-discos não por amor fraternal ou um rebate de generosidade, mas porque Mad Max. Nem quero imaginar a reacção do filho dilecto do demo a um gira discos em funcionamento. Este gato já me está a dever umas boas centenas de euros, juro. Vá, duas? (mas é tan fofinho. quando não morde. bandido.). Além de coleccionar tralha também me tornei aquela pessoa que toma nota de cenas, como os filmes e séries que viu em determinado ano. Comecei no primeiro ano da peste, e que ano de produtividade foi, a esse nível. Curiosamente, não aponto os livros que li, acho que por vergonha inconsciente. Cada vez leio menos, talvez porque, sei lá, passe já quase todo o dia a olhar para papel escrito e a produzir mais inanidades escritas. Verdade. Tenho ali dois "esqueletos" de trabalhos com cinquenta páginas cada, e falta o "recheio". Estou muito cansada. Achei que ia rebentar de todo ali na penúltima semana de Dezembro, mas ou comecei a absorver mais vitaminas (da comida saudável que não como) ou deu-se um milagre qualquer e agora sinto-me medianamente ok. Tirando as dores de cabeça. E de costas. E a constante sensação de que estou a chocar alguma (sim, testei; sim, deu negativo; sim, já comprei mais testes que gastei três em histeria de somatização após um contacto de pouco risco). De resto, tenho sono. E frio. E esta humedade, caneco, precisava tanto de fazer mais duas ou três máquinas de roupa. Louça estou-me lixando, mas abomino roupa suja acumulada. A nossa sala, além de antro de velharias e lego, está uma aldeia da roupa branca. E pronto, não maço mais. Embora soe um bocadito contraditório, porque o tempo existe mas o calendário é aquilo ali, para este ano quero mais melhor. Só isso. E energia para isto aqui:


    daqui