sexta-feira, 3 de julho de 2020

Bummer, não boomer

Aqui há dias, por ocasião do meu quadragésimo nono aniversário, o meu sobrinho adolescente (*suspiros*) olha com ar sarcástico (que passou a normal, nele, derivado de *suspiros*) para os meus pés e sai-se com "não sei se ainda podes usar desses ténis". Pontos por não ter dito "não tens idade". Ou antes, tinha levado pontos - no posto de saúde - se tivesse dito "não tens idade", mas adiante. Estava implícito, eu sei, mas ainda se aprecia a delicadeza no trato (considerando e descontando *suspiros*). Respondi de imediato "claro que posso: a) gosto deles; b) tenho dinheiro para os comprar." São uns ténis por acaso bem giros, rosa fuschia. E, no campo do téne colorido, nem sequer são filhos únicos, e ele já me viu com outros calçados. Mas resolveu ser engraçadinho, benzó deus, que eu já não tenho paciência. Em três meses de distânciamento social o catamiço cresceu bem um palmo, mudou de voz, e refinou a palermice. Por exemplo, continua a, ocasionalmente, responder-me com o já mítico "ok, boomer". E isto dá-me nervos, não porque enfie qualquer carapuça, mas porque já tive oportunidade de lhe explicar que nem me enquadro na referida faixa etária, como o termo não tem, em rigor, aplicação em Portugal. Eu e o pai, cheios de paciência, já tivémos oportunidade de lhe explicar o que é um baby boomer, e que tal fenómeno se restringe a um país. Mas ele, népia. "Ok, boomer", e ri-se muito. E a mim chateia, porque se está a rir da sua própria ignorância (que, neste caso, é opcional e insistente), e falta de sentido crítico. 
Sinceramente, pá. Deviam passar dos dez, onze para os vinte, e pronto.

8 comentários:

  1. Não vais conseguir nada com essa explicação, já que, nos EUA, o "ok, boomer" também só é usado para cortar argumentos e chatear. Como não podes reagir à moda do twitter, mandando para o "c******", recomendo o uso da mais fria indiferença

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    1. Já percebi isso, principalmente no twitter: pessoa de trinta e tal diz qualquer coisa que cai mal a pessoa de vinte e poucos, e tunga, ok boomer. Está a perder-se o significado, que é pena, porque (acho eu) te alguma relevância.
      Agora que me chateia enquanto gen X, que nas bulhas boomer / millenials só fico a comer pipocas, ser metida neste saco, isso chateia.
      (o puto está parvo que dói, os 14 anos cairam-lhe que nem uma tonelada)

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  2. A tendência é para piorar até aos 16, depois têm altos e baixos ao sabor das hormonas,mas passa, a nós também passou. Se bem que me parece que eles são mais parvos do que nós fomos, mas a minha mãe também dizia que nós éramos mais parvas do que ela tinha sido.

    A parte boa, se é que há, é que me parece, mas não tenho a certeza, é que eles só dizem directamente estes mimos, quando gostam, quando não gostam, gozam nas costas. Tenho tido muitas demonstrações deste amor.

    "Deviam passar dos dez, onze para os vinte, e pronto": AMEI!

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    1. Ai, Mac, a sobrinha já passou por esta fase e foi muito mais suportável, o rapaz está tolinho de todo, é piadola parva encaixada em piadola parva, interrompe toda a gente, fala altíssimo, enfim, ao menos não me calha todos os dias :D
      Folgo em saber que só mandam bocas a quem gostam, vá lá isso (era um miudo tão fofinho aos dez, onze ...)

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  3. Se era rosa fuschia tens mio permesso. Olha agora também há polícia dos ténis queres ver.

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    1. Se houvesse polícia dos ténis nunca seria mandada parar e identificar. Tudo windo, windo, windo. (aqueles rosa são assim do <3)

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  4. PT também passou um período de baby boom nos anos a seguir à revolução de 74. Eu sou dessa geração. O meu liceu no centro do porto tinha 4 mil estudantes nos anos 90 quando lá andava, agora tem 700, alguns fecharam. O ano em que eu concorri à faculdade (95), foi o ano com o número record de candidaturas, e mais de metade dos candidatos não tiveram vaga. Hoje em dia até as universidades estatais não preenchem todas as suas vagas.

    Falhaste ser uma boomer portuguesa por pouco, mas chamarem-te boomer é tirarem-te meia duzia de anos, portanto, agradece.

    Tenho 2 rapazes... tenho um medo terrível da adolescência deles. Primeiro porque vou ser velha e sabe-se lá se por essa altura até vote tory,cruz credo, vaderetro, não acredito que a demência venha assim tão cedo,mas... Depois porque a minha foi tão difícil e os meus pais fizeram tantos erros. Espero conseguir aprender a fórmula mágica de como lidar com estupidez hormonal adolescente nos próximos 10-12 anos, quando estiver eu a passar a minha estupidez hormonal da menopausa. Vai ser lindo.

    AEnima

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    1. Ah, mas eu sou de '71, muito antes disso ;)
      E não vais nada ser velha na adolescência deles, vais ter a idade da maior parte das mães da geração dos gaiatos! Do que tenho visto, a estupidez hormonal é grande, mas uma pessoa com a idade também adquire paciência :D

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