quarta-feira, 17 de maio de 2017

Não entendo como é que em 2017 ainda há quem tenha dúvidas em relação a isto

Se uma pessoa se apresentar evidentemente embriagada, ou num estado que evidencie não ter completa noção do que faz, num cartório notarial ou numa conservatória, ser-lhe-á evidentemente negado outorgar / celebrar testamento, escritura pública, ou casamento.
É claro e cristalino, e ninguém com um módico de senso comum - ou conhecimento da lei - dirá que não é assim.
Então por que raios e coriscos ainda há quem desculpe o perpetrador ou se atreva a dizer que não há coacção sexual ou violação se a vítima se encontra no mesmo estado de evidente embriaguez e/ou incapacidade para entender o que faz / lhe é feito? Como é que há quem ache que pode haver consentimento quando há incapacidade de entender e formar vontade? Como pode alguém presumir um sim quando a pessoa nada diz ou nem sequer tem capacidade para dizer seja o que for?
Ultrapassa-me, angustia-me, agonia-me, enfurece-me.

21 comentários:

  1. Disseste tudo.
    Aquilo não é muito diferente de estuprar um cadáver.
    Também me ultrapassa, angustia, agonia e enfurece a multidão que filma, fotografa, gargalha, dá opiniões. Tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta.
    Sempre pedi às minhas filhas para nunca beberem até ao ponto de ficarem à mercê. As raparigas são muito mais frágeis, mais vulneráveis, e isso é de todos os tempos. No limite, serão sempre culpadas de tudo o que lhes acontece, gravidezes incluídas.
    Vamos aguardar o triste desenrolar de mais esta tragédia.

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    1. Entristece-me tanto, Linda, que ainda seja necessário ensinar as meninas a terem cuidado com o que vestem, por onde andam, com o que bebem, quando o que era mesmo necessário era educar TODOS para o que é consentimento, que é tão errado por a mão no corpo de alguém inconsciente ou incapacitado, como ver alguém caído no chão e aproveitar para lhe roubar a carteira.

      E os que filmam e acham um pagode? Fosse filho meu e nem sei. Mas não ia ser bonito. Que gente.

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  2. Pior... ainda a culpam, porque quem vai para as queimas sabe bem que se bebé faz "asneiras". E nao ha provas, e nao ha reaccao e... as deaculpas bestas, cretinas, animalescas, desumanas, burras que nem um cepo. E muitas delas vindas de mulheres. Ai que nervos izzie, ferve-me o sangue nas veias.

    Lembras-te do filme "os acusados"? Espero que a miúda tenha coragem e denuncie. Espero que o Estado tome acção contra os abusadores mesmo que ela não consiga ter denunciar. E acima de tudo... Espero que vão todos para à prisão, quem o fez, quem aplaudiu, quem filmou, e quem publicou online, incluindo multas tão pesadas ao CM que o atire para a falência.

    Fartinha do Portugal de brandos costumes que passa a mao na cabecinha de jovens criminosos e não os condena por nada.

    E não vi o vídeo. Recuso-me. Por todos os que viram sinto muita vergonha alheia por darem azo a coisa destas se tornarem virais.

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    1. AEnima, não vi o vídeo porque não contribuo nem dou cliques a abutres, mas soube do que se passou por outra página no face. Fui logo apresentar uma queixa à ERC, andei o dia todo agoniada e com o coração apertado por aquela rapariga.
      E depois li comentários desses, do "bebem e depois estão à espera do quê", e pronto, não aguento. Portanto, uma pessoa embriagada e incapaz de resistir pode ser abusada, violada, roubada, agredida, é? Que tipo de gente faz esta inversão de valores?
      Há muitos anos uma amiga, num jantar de festa, ficou sentada ao lado de um colega que andava de olho nela. Sem que se apercebesse, o animal estava sempre a encher-lhe o copo, e ela não teve noção de quanto bebeu, só quando se começou a sentir muito zonza. Claro que o reles se ofereceu para a levar a casa, já a contar com mais festa. Felizmente as amigas dela deram conta e intervieram, foram elas que a levaram a casa, mas e se ninguém se tivesse dado conta? Alguma vez ela consentiu seja no que fosse? O comportamento dele é que foi atroz, revoltante, condenável. Que nojo de pessoas.

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    2. É mesmo triste. Desculpa lá tanto erro acima mas com os nervos nem parei para corrigir o autocorrect. Temos ainda tanta estrada para andar, para educar os homens e mulheres deste mundo sobre igualdade e justiça. Tanto. Sabes, as vezes apanho a minha irmã e a minha mãe a dizer coisas assim parecidas ao "tas-te a habilitar" e pergunto-me como é que elas podem pensar tão diferente de mim? Saímos todos da mesma família. Se calhar eu é que penso diferente por qq razão que não compreendo, mas ainda bem, que à custa de muita explicação a coisa melhora.

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    3. E fico feliz pela tua amiga ter amigas com tomates e agir. Nem todos têm essa sorte.

      Espero muito que as pessoas se lembrem desse tal filme com a Jodie Foster "os acusados" e revejam os seus preconceitos nele.

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  3. No Facebook do "Truques da imprensa portuguesa", não faltavam bestas a dizer isso. Que os rapazes eram uns coitados, só estavam a brincar. Uma tipa só dizia que a violação não era crime público.

    Um nojo total.

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    1. Filipa, soube da situação pelos Truques. Felizmente não li todos os comentários, mas li o suficiente. Como é possível que não achem um total horror alguém tocar numa mulher incapacitada, filmar e divulgar? Que gente é esta? São os que educam aquele tipo de homens?

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    2. Não sei o que me enojou mais: se o CM, se aquelas bestas.

      E o grupinho que afirmava que, como a jovem não lutava, não era violação? E se alguém lhes desse um tiro nos cornos e eles não tivessem tempo de protestar? Já não era crime?

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    3. Enojo-me tudo. Mas a divulgação, por um órgão de comunicação social, de um vídeo feito sem consentimento - e, muito provavelmente, sem conhecimento - da rapariga, é inqualificável. Aquilo é um bando de facínoras, uma súcia de hienas.

      No mais, achava que já era consensual que não haver resistência activa ou oposição não faz presumir consentimento. Primeiro é preciso que a pessoa esteja em condições de consentir, e depois passividade não é consentir. A não ser assim, não havia roubos: perante uma arma eu entrego a carteira, e isso não torna a situação numa doação, certo?

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  4. Eu acho que é aquele discurso que se mantém porque serve o interesse de muitas pessoas. No fundo, toda a gente percebe, mas depois era uma trabalheira desmontar um mundo misógino que alimenta tanta piadola.

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    1. Verdade, é mais fácil apontar o dedo à parte mais frágil, concluir que se pôs a jeito e siga. Mas, e isto é algo que já falámos muito lá em casa, que tipo de homem é que usa estas desculpas, admite que é tão fraco, tão animalesco, que não sabe comportar-se, respeitar o outro, ou resistir a impulsos básicos? Me mate diz que se sente ofendido com o discurso do "ela provocou" ou "ela pôs-se a jeito", porque não é nenhum animal sem controlo, ou um depravado sem noção. E eu também acho ofensivo, porque, felizmente, os homens com quem fui criada e com quem mais lido não se portam assim, não se consideram autorizados a fazer determinadas coisas, a agredir, ofender, abusar por qualquer comportamento de outrem.

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    2. Não acho que os abusadores vejam o argumento dessa forma. Neste caso o lado animalesco coloca-os em suposta superioridade, ou pelo menos, assim o sentiram e eu acho que assim sentem os homens que perpetuam esta ideia que têm o direito de perseguir a mulher ou de abusar dela em determinadas situações.

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    3. Também acho que não nos serve de muito olhar para estes jovens em particular e questionar-nos o que se passa com eles em específico. É uma sociedade que pensa assim, em conjunto, e eles são apenas o lado visível daquilo que se passa em conversas de café e em corredores de escola. É como o racismo. Até podemos ser contra o racismo individualmente e em pequenos grupos, mas vamos a um café ou a um jantar de família, e as piadas racistas sucedem-se. Estamos mais polidos, mas não tão diferentes.

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    4. Fuschia, é tudo muito complicado, e de facto só admitindo que há uma cultura de violação e submissão é que pode explicar que indivíduos se sintam legitimados a ter este tipo de comportamento. É que, como este episódio demonstra, é transversal, não tem que ver com baixa escolaridade ou determinados estratos sociais :/

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  5. Eu faço parte de um grupo de mães no facebook onde esta notícia foi partilhada (não vi e recuso-me a ver o video). A quantidade de mães a dizer que "são todos culpados", "ela também não se está a debater", "já se sabe que quem se deixa ficar nesse estado habilita-se a que as coisas aconteçam" é assustadora! Deixa prever o pior para a forma como educam os filhos e filhas...

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    1. São todos culpados é o caracinhas. E habilita-se é o fónix. Então se me sentir mal e desmaiar, também me habilito? Se saio à noite, de mini-saia, também me habilito? É bonita, habilita-se? Essa gente não pensa? Caneco, que aflição.

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    2. É assustador como as mulheres interiorizam o machismo. Já comuniquei muitos conteúdos à ERC, relativos aos reality shows e a como conteúdos sexistas passam sem serem condenados. Nunca há resultados. Mas, tendo em conta que a TVI continua a ter lá o Quintino e nada lhe aconteceu, é claro que o problema vai mais fundo.

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    3. O Quintino é um homem das cavernas. Até duvido que tenha tirado o curso de psicologia, só se marrava para exames e depois esquecia tudo. Um dia feriado tive o desprazer de o ouvir, num caso de que envolvia violência sexual, e a forma como desculpou os agressores deu-me vómitos, e com frases feitas de "não se sabe o que se passou". Era um menor! Uma criança! Só ao estalo.

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  6. Eu não tenho nenhuma filha, mas se tivesse ensinava-lhe artes marciais e não a não vestir isto ou aquilo! Chave de pescoço nos imbecis (e aqui tb incluo os que acham que "são todos culpados")

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  7. Começo por dizer que não vi o video,nem quero ver, a descrição basta.
    Esta tendência de "criticar a vitima" tem para mim, muito a ver com a necessidade de criar uma situação que não se aplica à pessoa que critica, do genero "isto nunca me iria acontecer porque"- eu nao bebo - eu nao uso mini-saia e decotes - eu nao ando na rua sozinha as 2 da manha, etc.
    Para mim demonstra uma completa falta de empatia pela vitima e uma falta de noção da realidade. Abuso sexuais podem infelizmente acontecer a qualquer mulher, em qualquer situação. Uma mulher nua, bebada as duas da manha numa rua escura não esta a pedir que a abusem, e qualquer ser humano com um minimo de inteligencia e decencia deveria perceber isso.
    A roupa que tinha a vitima? Não interessa. Esta numa rua sozinha? Não interessa. Tinha bebido alcool a mais? So torna o energumeno ainda mais energumeno. Teve 1, 10, 20 parceiros sexuais? Irrelevante.
    Enquanto se continuar a procurar uma explição para um abuso no comportamento da vitima, esta-se a desculpar o culpado, a descreditar a vitima e a criar uma sociedade onde uma mulher pensa duas vezes antes de se deslocar a policia por ter medo que nada seja feito para apanhar o culpado e por ter medo do julgamento que ela vai sofrer.
    Esta-se a criar uma sociedade onde existem vitimas de primeira classe (estava em casa e o culpado forçou a entrada) e vitimas de segunda classe (estava numa festa a beber e conversar com o culpado). E a criar culpados de segunda classe (era um ladrao, violento, etc.) e culpados de primeira classe (era um senhor tao bem vestido, um estudante universitario, etc.). Os de primeira classe tem tratamento privilegiado.

    As perguntas que se colocam são "a pessoa em questão estava em condicoes de dar consentimento?" e "deu consentimento?" (e a ausencia de um não, não é consentimento). Se a resposta a uma das perguntas é não, é abuso. Como é que é possivel não compreeender isto?


    Ana (na Alemanha ... e com dificuldades em por acentos em todas as palavras)








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