Bom, logo na estreia a aviar o Frankenstein, do senhor que fez aquela coisa inenarrável a querer ser a história de amor do século entre um indivíduo com guelras e cara de peixe e uma senhora da limpeza, enfim, toda a gente tem direito a fazer merda ao menos uma vez na vida, mas com este o home queimou três chances, pelo menos.
Mas falava do outro, o monstro de retalhos e sem nome, que Frankenstein é o senhoure doutore que o cria, e pronto, vantagens, pontos positivos, o filme não é enooooorme (parece que a tendência já passou, atenção, eu não viro costas a um Ben Hur, um Os Dez Mandamentos, até fui ver a Cleópatra ao cinema - 4 horas - e, com muita pena, não fui ver o 1900 - 5 ou 6 horas, acho - porque estávamos de férias, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é filmes chatos e realizadores sem capacidade de edição).
É uma fita lindíssima, que é, esteticamente a bater no topo, em tudo: cenários, guarda roupa, caracterização. As interpretações começam por prometer, mas ali a meio do filme já não podia com o ar sofrido do Isaac, e no fim estava com um verdadeiro enjoo das vozes dramáticas, olhares sofridos, histórias trágicas for the ages daquela gente toda. Grande surpresa (positiva) com a mocinha, Mia Goth, mas também foi trucidada pelo tadinhamento.
Se pudesse resumir, diria que é um filme sentimentalão, ali a roçar o choninhas demasiadas vezes. Me mate adorei, muda alguma coisa do original, mas acho que a Mary Shelley não ficaria aborrecida (ele leu, eu não), e a aqui a feminista ball breaker, talvez. A surpresa, o horror: não gostaste?
Explico-me. Gostei, mas... é demasiado coisinho, percebo que tu, como homem, tenhas gostado, porque anda tudo à roda dos sentimentos, as motivações, os ímpetos, os ideais, os dramas, as emoções do criador e da criatura. Me mate estava ficar um bocadinho chateado. Mas expliquei melhor: tanto o Frankenstein como o monstro são criaturas de péssimos sentimentos, diria mesmo má índole, um enquanto adulto mal formado, o outro como criança abandonada e negligenciada; em ambos domina a raiva doente, a força bruta, o instinto predador; mas aqui tudo é suavizado, entendido, perdoado, porque coitadinhos. E o pior, fiquei muito desconfortável com o fio e o fim da personagem da Mia Roth, uma bela que quer salvar o/s monstro/s, sempre a mesma efabulação masculina, irra, o amor de uma boa (e bela) mulher me redimirá - que, ainda por cima, não é fiel ao livro, e torna tudo pior.
Se este blogue fosse um divã arriscava dizer que o Gui do Toiro anda com uma ideação e/ou identificação esquisita, mas quem sou eu. Olha, se calhar beneficiaria da ideia não do xanax mas um antidepressivozito na água da rede.
Mas gostei, sim, é muito lindo, muito perfeitinho, e tinha resultado muito melhor não fosse, mais uma vez, a rameira da visão masculina sobre o masculino (e um certo feminino), é coisa que com os anos (décadas, séculos, já não tenho esperança) talvez comece a desentranhar.




