Odeio aquela expressão "o dia tem as mesmas 24 horas para toda a gente" e pior, julgo que posso ser acusada e condenada por já a ter usado. Não posso dar a certeza, mas é bastante possível. Não deixa de ser verdade, sim, qualquer medida de tempo convencionada é igual para todos, mas tenho tantas provas de que não rende o mesmo para todos. E aqui afirmo, com toda a certeza, que me podem acusar condenar, com pena agravada, de não saber usar, medir, aproveitar, usufruir do tempo na mesma medida dos demais.
Facto: depois do último post, tive alguns assuntos que me apeteceu gravar aqui na rocha, mas pensei "ah, amanhã", e entretanto passou um mês. No entanto, se me perguntassem há quanto tempo não postava, era capaz de apostar que uns dois meses e meio. Total falta de noção, e em vários planos da minha vida. Mas chego sempre a horas a todo o lado - atenção, ser pontual é chegar pelo menos quinze minutos antes; para mim, menos de vinte já causa ataque de ansiedade. Por outro lado, acho que é a minha faceta depressiva que me dificulta esta capacidade de medir tempo, ou antes, ter a noção da marcha do tempo em períodos longos.
Exemplifico: estive 77 dias de baixa, praticamente não me lembro do que fiz no primeiro mês. Não consigo destacar um único evento, um acontecimento, algo de importância que tenha feito. O tempo parecia um nevoeiro húmido e pegajoso, e eu uma indivídua sentada num banquinho a apanhar frio mas sem capacidade de me levantar e ir para dentro. Arrastava-se, parecia não ter fim; passado este período, capaz de jurar que esse mês tinham sido quinze dias. No segundo mês já consegui "mexer-me" mais, mas continuava com a sensação de eternidade que não passava e, afinal, já é abril e comecei a baixa a semana passada. Regressei ao trabalho, pensando que ajudaria estar ocupada, e enquadrada numa disciplina externamente imposta, nah. De repente já era fim da tarde e não tinha feito nada de jeito. Ou estava cansadíssima porque me tinha fartado de trabalhar mas ainda faltava tanto para acabar a tarefa. Um mês parecia quinze dias, mas o trabalho de quinze dias ainda estava por terminar ao fim de um mês.
Sempre fui a pessoa que leva o dobro do tempo a fazer certos trabalhos ou certas tarefas. Achava que devido a uma natureza procrastinadora, uma inata picuinhice que me fazia rever e repensar tudo vezes sem conta, um constante síndrome de impostor a sussurrar que ainda não está bem assim, na verdade está uma bosta, uma vergonha. Mas é também a depressão, esse banco de nevoeiro que, percebo agora, há uns anos se foi adensando e parece tardar em levantar.
[e tenho estratégias! práticas ancoradas em saber adquirido empírica e teoricamente ao longo de anos! que faria se não as tivesse. sobre isso talvez fale noutro dia, com um título pomposo tipo "gestão da depressão para iniciantes". amanhã, ou daqui a um mês, quem sabe.)
Querida, querida Izzie. Alcanças tanto. Tomara tanta gente (tantos de nós ) ter a tua lucidez e sabedoria.
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