segunda-feira, 13 de julho de 2015

Green Acres

Às vezes bate uma nostalgia dos tempos da minha infância, em que a televisão se via a preto e branco (e umas cinquenta sombras de cinza), a opção real repartia-se entre o que estava a dar ou fazer outra coisa qualquer (sim, ainda sou do tempo em que a emissão não era non-stop, e a dois só abria à noitinha). Foi o tempo da missa ao domingo e só depois bonecos animados, com o Vasco Granja ou, como eu o referia, ó mãããããe, o homem nunca mais se cala e nunca mais começa o Pernalonga*. Em dias santos, que pediam missa alongada, nicles, nada de Pato Maluco** (mas vê lá se cancelavam o TV Rural ou o 70 x 7, caneco; a gente não tinha direitos, a gente não tinha qualidade de vida, a gente não era target, a canalha sofria e calava). Foi o tempo em que achávamos que entretenimento era assistir às descobertas musicais, entrevistas, e rábulas apresentadas pelo Júlio Isidro (tudo em directo, sem rede, sem fios); quais fechar uma data de rafeirões numa casa e ficar a ver. Foi também o tempo em que nos telejornais tínhamos peças satírico-informativa-humorísticas com o senhor Fernando e esta, hein? Peça, e também havia tempo para aligeirar com aquilo a que agora se blogo-chamaria não-assuntos.
Ora, entre os não-assuntos mais tele-famosos e sistematicamente na berlinda, era o horto-assunto. Quero acreditar que ainda há quem se lembre dos fenómenos do Entroncamento, dada a prevalência da zona em tais reportagens. Ele era a batata de quilo, a abóbora de arroba, o pimento com a cara do Bochechas, o pepino de metro - e chalaças mesmo a propósito. Um fartote. Não havia mês, pelo menos, sem um hortícola ter os seus quinze minutos de fama.
E agora chegámos ao ponto: é disto (e do Pernalonga, vá) que tenho nostalgia, e para onde é que ligo para me irem fazer uma reportagem lá a casa? Juro que deixo crescer o bigode e ponho um lenço na cabeça, eu dou uma rústico-patusca muito janota, prometo.


(são ou não são os chilis mais compostinhos que já viram, hein?)


(se alguém vem com a conversa do ah, e tal, dá-me ideia que as tuas mãos são enfezaditas de pequenas, apesar de rechonchas, não vale: isso é inveja, isso é ser má pessoa.)



*Bugs Bunny, para os nascidos depois de mil nove e oitenta.
**Duffy Duck, para os nascidos depois de mil nove e oitenta.

6 comentários:

  1. :DDDD… adorei a denominação “rústico-patusca janota”, mas informo que aqui na ruralidade o must have rústico é e continua a ser o bibe. Já o carrapito coberto pelo lenço anda démodé. Quando queres que chegue a equipa de reportagem?

    Obrigada por este regresso ao passado. Acrescento só a memória das tardes de verão em as tardes no canal 2 começavam com aquela euro-coisa, cujo nome já não ma lembra e depois seguiam com o “Agora Escolha”. Bons tempos esses em que as férias pareciam não ter fim...

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    1. Ah, o Agora Escolha. Acho que já estava no final da secundária ou na faculdade, quando isso dava, e era uma excelente desculpa para não estudar :P punha-me a ver o Boi Bocas e seguia com o programa escolhido, por norma uma velharia qualquer.
      (vou já comprar um desses bibes - eu chamo-lhes bata. como me pude esquecer da bata em terylene às florinhas?)

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    2. Final da secundária?? Mas temos assim tanta diferença de idades?! Eu apanhei isso durante a minha primária, que foi na década de 80.

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    3. Ai, tu queres ver? Nasci em 71, e lembro-me de ver isso na década de 90, já na faculdade... Já dava na década de 80? Estou com'as velhotas, misturo tudo :/

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    4. Ah, bem me parecia que não era tanta a diferença de idades. Sou safra tardia de 76. Entretanto fui googlar (estou óptima na arte de procrastinar, não sei se já deu para reparar) e o Agora Escolha foi para o ar entre 86 e 94. Está explicado. (Ainda não é Alzheimer :DDD)

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