quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Querido Diário:

 A pessoa tem muito com que se chatear; a pessoa precisa imensamente, estupidamente, intensamente, de válvulas de escape; a dita pessoa já teve, na escrita no blog, essa válvula; a pessoa quer voltar a ter.

Mas: como. Quando pergunto "como" é mais "escrever sobre o quê". Não, este não é um post à pesca de comentários de sugestões. É um post introspectivo do tipo "quem sou eu [agora], o que devo dar de mim, o que quero dar de mim". Blaahhh, super chato, eu sei. Nunca antes tive este tipo de interrogações: como uma pequena amostra o poderá revelar, escrevi sempre sobre o que me dava na gana, fosse o assunto sério ou fútil, de interesse relevante ou só parvo, intimista ou sobre o muuuundo e as 'ssoas em geral, música, livros ou cinema. Ou seja, nunca conseguiria fazer vida disto, porque coisinha mais generalista, all over the place, não há. Zero editorial, zero temática, zero a comportamento, principalmente. 

Acresce que há aquele sentimento (será isto, a maturidade que só a idade traz?) de que, se calhar, muito se calhar, tendo para o oversharing; e que se calhar, mesmo muito se calhar, talvez isso não seja avisado. Esta boquinha muito pouco santa já me meteu em tantos sarilhos, credo. E, em vendo, se calhar já não tenho paciência para polémicas, ou para dar o flanco. Que chatice, isto de ser crescida. Ou assim. Verdade seja dita, esta tasca sita numa viela pouco frequentada, até pelo mosquedo dos turistas ocasionais, pouca chatice me poderá trazer, actualmente. Na verdade, tirando da equação os que me conhecem de conhecer, e que já estão habituados aos meus repentes e disparates, poucos ou nenhuns dos eventuais passantes me poderão causar mossa.  Mas coise. Já não me apetece, as mais das vezes. Se calhar isto deriva de um excesso de navegação (sem participação, livra) no twitter onde, da casca de um alho, se cria uma guerra sem quartel. Já não tenho paciência para essas situações. 

E depois há aqueles dias em que até tenho ideias que parecem boas ideias de cenas para partilhar, mas. Ah, o ímpeto de escrever toda uma elaborada tese e, ainda antes desta me saltar das pontas dos dedos para o teclado, o cair da ficha "isso não interessa nada". Donde, se calhar o melhor é fazer o número de sempre: improvisar. Preciso da distração. Vamo'lá ver: sapatos dez números acima, check. Nariz vermelho de bola, check. Maquilhagem ridícula, fato mal cortado, amarrotado, e a não combinar com nada, check. Cabeleira de nylon baratucho em cores berrantes, olé, cá está. Tarte de creme: vamos tratar disso. Tropeçar e cair de forma ridícula, oras, é a minha especialidade. Disparatar para não pensar (demasiado) no que é grave e pesado e triste e preocupante: é praticamente o meu modo de vida. Opções.

Só passar aqui o chão a pano, que está uma miséria de pó.


 

2 comentários:

  1. Que bom que está de volta !

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  2. Ola moca


    Se calhar, muito se calhar, escrever num blog e' uma actividade de lazer, de prazer, de terapia ate, quica. Nao sinto que haja oversharing, nao estaras a overthinking? O ocasional desabafo familiar terapeutico nao constitui, e como sou aluada e twitter-excluida nao reparo no resto.

    Ninguem quer saber de linha editorial e qualidade de conteudo. Estamos aqui para nos rir com montras pateticas e apoiarmo-nos mutuamente. Sabes que isto e' tao terapeutico para quem le, como para quem escreve, ne?

    Um xi, va.

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