segunda-feira, 16 de abril de 2018

Como perder duas horas e oito minutos desta já curta vida

Empenhem-se num acto de fé, daqueles tipo "caraças, havia boas críticas e até foi nomeado", e vejam o La La Land.
Que. Grandecíssima. Seca. E. Refinadíssima. Bosta.

Lá a ver, às postas, pequeninas, a ver se consegue mastigar melhor.

"Ai, é uma história menita e remântica".
Então não é. Está para a complexidade dramática e romântica como aquelas novelas em papel jornal da colecção Arlequim*. Passo.

"Ai, tem o Ryan Gosling e a Emma Stone, e fazem um casal tan menito".
Sim senhora, o Ryan é um belo exemplo do seu género, mas para quem já mostrou do que é capaz em "Lars e e Verdadeiro amor", não sei que lhe deu para se meter nisto. E há pares de jarras também muito lindos, o que não significa que façam uma boa decoração.

"Ai, tu és mazé uma intelequetualoide e não gostas é de musicóles"
Ai não que não gosto. Até mais do que seria decente confessar. Admito: sou uma parolona por musicais. Vem-me de miúda: já vi o "Música no Coração" tantas vezes que nem as consigo contar. E trauteio o My Favorite Things em situações críticas da vida, não necessariamente trovoada, gosto de trovoada. E canto muitas vezes a me mate "How do You Solve a Problem Like Maria", quando ele asneira. E nem me façam lembrar do Mary Poppins, que nunca mais saio daqui. E depois vocês precisavam de uma Spoon full of Sugar para ler o post até ao fim.

"Ai, não percebestes nada, é uma homenagem, um back memory lane, de quando Óliuode era um sítio para sonhar e assim"
Uma homage, dizeis vós? (puxa fumaça do cachimbo imaginário). Ó valhamedeuz. Homenagem era as pessoas conhecerem os clássicos onde este pretende colar, ou, como dizeis, homenagear, para verem que é como oferecer um molhinho de trevos e azedas a quem tem um roseiral. Mas já lá vamos.

"Ai, a música é muita winda, e as cenas de dança também"
Drogais-vos? Ou nunca visteis um musical a sério, foi? Já disse que sou uma parolona (embora não necessariamente uma especialista) por musicais? E que passei muita féria escolar a papar Fred Astaire e Ginger Rogers? Sapatear é isto. E isto, se quisermos avançar para a outra lenda, Gene Kelly. E quereis mais romântico, e com música que, por si só, é um regalo? Então pegai no balde de pipocas e gritai Kelly!, Gershwin! Isto sim, é romântico. E se não amais por aí além a dança, que tal a natação? Yay Esther Williams!
Agora a sério, qual homage?  Amerdalharam os clássicos, isso sim. Ou tentaram, que não se consegue.
E se não sois de lamechices, bom, não falta escolha. Também temos o bizarro. O musical no ácido - e acho que não é só figurativamente - como este (não encontro nenhum clip completo , buá), com a assinatura Brian de Palma. Se quiserem um bizarro mais user friendly, mais icónico e não tão obscuro, bom, é dar uma chance ao Dr. Frank-N-Furter, tão bom, pá.

Até o Chicago, nem que seja pelo Cell Block Tango, dá quinze a zero a este La La Blah.



*sim, eu li uma. por pura curiosidade. gasto muito mal o tempo que me foi dado nesta existência. mas ópois estou habilitada a dizer mal. que estou.

24 comentários:

  1. Eu odiei o filme visceralmente, mas eu odeio musicais em geral (com duas ou três exceções). Mas ao menos assim já sei que mesmo para quem gosta do género, é filme cocó.

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    1. Para quem odeie musicais, nem imagino o sofrimento. Achei uma miséria, que história mais poucochinha. E muitas cenas a "colar" imenso a coisas do Americano em Paris.

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  2. Não odiei o La la land de forma visceral. Tal só me aconteceu com o Thor Ragnarok. Mas como pessoa que também detesta musicais, só me apeteceu assassinar o Gosling umas 68 vezes.

    Aquela cena em que a Stone está em casa dos pais e ele vai lá raptá-la: apeteceu-me gritar que sim, ela era uma actriz de merda que nunca conseguia fazer nada de jeito nos castings.

    Nunca percebi o problema com a banda do amigo dele. Era excelente.

    Um artigo descreveu-os como duas pessoas vaidosas, incapazes de encaixar o outro na sua vida. E o La La Land é um filme apaixonado por si mesmo.

    Em relação ao prémio para a Emma Stone nem tenho comentários. Há momentos em que o tédio dela é por demais óbvio. E são ambos tão irritantes!!

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    1. Filipa, não odiei, mas se revirasse mais os olhos eles ainda saltavam das órbitas. Que perda de tempo.
      A banda do amigo não era muito o meu género (era o John Legend, não era?), mas o amigo tinha carradas de razão: ele já deixava de ser pedante e parava de recusar trabalhos naquela de "ah, eu sou um purista, e se não é jazz a sério não vale a pena". Há lugar para tudo, credo.
      Um filme apaixonado por si mesmo é um tiro no alvo. Não podia concordar mais.

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  3. Eu percebo-te =)

    Gosto de músicas e este estava a achar mediano até às cenas finais. As cenas finais mexem-me com certos nervos, e por isso amei. Pah, pronto, há coisas que é como é.... e quando há empatias e identificações não há muito por onde não dar =)

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    1. Espiral, nada contra, a sério. Mas as cenas finais tiraram-me do sério exactamente pelas razões opostas. Oh que caneco, fiquei tão arreliadinha, achei fácil.

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    2. Ah ah ah adoro opiniões diferentes =) Lá está eu ficaria arreliada se eles tivessem ficado juntos. =)

      O giro é isto. Perceber que o mesmo filme pode ter tantas perspectivas =)

      (Também não o acho um filmão. Mas lá está mexe-me com fios sensíveis.)

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    3. Ah, mas eu não esperava nem queria que acabassem juntos. Eram demasiado infantis e auto-centrados, não seria um final credível.
      Mas achei uma possidonite as cenas de regresso dela, como grande diva, com um marido muito status quo, uma bebé linda, a nanny, papás a sair para um - decerto - importantíssimo event, e tudo o que se seguiu. Achei pretencioso, principalmente aquele what if tão - hummm! - semelhante ao de A Última Tentação de Cristo.

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  4. Ai que eu gosto tanto de ti.
    Aconselho vivamente a que não vejas o "A forma da água" que é uma mistura do maravilhoso El Labirinto de Fauno e do La la land. O resultado foi uma bosta.
    E só deus sabe o quão pirosa eu consigo ser e como consigo gostar de maus filmes e séries (já tenho mais dificuldade em gostar de maus livros mas más séries é comigo) Mas não fui capaz de gostar do La La Land.

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    1. Patrícia, eu tenho tanto, tanto medo desse A Forma da Água. Até porque gostei do Hellboy e adorei tanto, venero O Labirinto do Fauno. Ainda me falta o As Costas do diabo, que diz que é muito bom, também. quando passar nos canais de filmes logo vejo. Ou não. Sei lá.

      E falei imenso de musicais e falharam-me dois de antologia: O Feiticeiro de Oz (imperdoável, até porque me calha cantar muito "ding, dong the witch is dead", e o Yellow Submarine. I believe in Blue Meanies. Eles andem aí.

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    2. Eu não gosto do Michael Shannon. Durante a Forma da Água, considerei que só o Michael Shannon se salvava.

      As personagens são incrivelmente estúpidas, não há outra forma de as descrever.

      E aquelas cores deram-me náuseas.

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    3. Epá, eu ADORO o Michael Shannon. Quer dizer, adorei-o no Boardwalk Empire e num filme que adorei-adorei-adorei, mas assim, tipo, fiquei bazaruca de todo, achei uma maravilha que não tem explicação, o Take Shelter. Já haveis visto?

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    4. Já ouvi, mas nunca calhou ver, não sei porquê. Irei guardar essa sugestão:D.

      Sem ironias, penso que ele este filme, já que era a personagem mais credível.

      Outro filme insuportável é o Battle of the Sexes, também com a Emma Stone. Arrasta-se e arrasta-se e arrasta-se...

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    5. Não é possível não gostar do Michael Shannon :) O Take Shelter é do caraças, mas eu passei a adorá-lo naqueles cinco minutos do Revolutionary Road em que ele rouba o filme àquela gente toda. E vejam o Waco, já agora. Quanto ao Shape of Water, tive pena dele, o argumento era tão mauzinho, a personagem tão unidimensional...

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    6. Parei ai só para dizer: take shelter <3
      (o michael shannon causa-me arrepios.)

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    7. Filipa, esse não vi, nem conhecia (fui googlar). Já agora, foi vocelência que me recomendou o Ex Machina? Se sim, vimos já há imenso tempo e adorámos, adorámos, adorámos.

      Sãozinha, é um daqueles actores pouco badalados, sempre remetido para papéis secundários, mas tomara muitos de primeira linha serem tão competentes e constantes. Cumpre sempre, sempre. Já não me lembro dele no Revolutionary Road, tenho de ir ver disso.

      Red, é do caracinhas. Perturbante mas ao mesmo tempo tão adulto. Trata todas as personagens e seus dramas pessoais com tanto respeito. Amei.

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  5. Ui, o Shape of Water...boooooring. Até fiquei com pena dos atores.

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  6. Não sou fã de musicais... mas à pala do teu post, e porque segui alguns dos links, acabei por ter um curioso de sete anos alampado no meu colo a ver os vídeos do Fred Astaire e do Gene Kelly. "Mais, mãe, mostra mais..." Talvez os musicais ainda se safem com esta geração mais nova.
    Já eu, prontEs, confesso que me falta a paciência. Acho que o último que vi foi o Chicago no cinema. Fui googlar... em 2002, portanto.

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    1. <3 Rico menino, tu guarda-o bem! (tem música e pessoas alegretas a dançar, qualquer criança adora. foi com essa idade que me encantei com o Astaire e o Kelly)

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  7. Vi jo cinema, num cinema especial com sofás, almofadas e mantinhas e servem-nos gelado no lugar... e nesse cenário admito que tudo deve parecer melhor. Amei a primeira cena, para mim a melhor de todo o filme. A cena da dança vale o que vale pela forma como foi filmada. E gostei de uma outra pelo meio no interior se um "ceu estrelado". Mas sim... achei que prometia muito ao inicio e não "deliverou" no fim. Mas ainda o acho um filme bonitinho. O mate odiou-o visceralmente como tu, até se recusou ver no cinema.

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    1. Lá está, se todos gostassem do azul :D
      (teu mate é cá dos meus - high five!)

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