sexta-feira, 20 de abril de 2018

Where do they all belong?

À conta do tema e cumbersé no post abaixo, musicóles para aqui, musicóles para ali, dei por mim num momento facepalm ao me dar conta que esqueci de mencionar (e com as devidas honras) aquele que é talvez!, quiçá!, o filme musical que mais me influenciou, marcou, emocionou, alegrou, e cujos temas ainda hoje cantarolo tantas vezes nesta cabecita de vento.

Sim, sim, o Yellow Submarine. Não faço ideia da idade que teria quando o vi pela primeira vez, mas era criança, não teria ainda dez anos, julgo, foi de certeza no tempo dos dois canais de tv. Fui levada por um conjunto de factores que eram total e completamente enganosos: desenhos animados + cantoria, ainda por cima dos Beatles (tooooda a gente sabia quem eram os Beatles, tooooda a gente já tinha ouvido uma ou cinco deles, toooda a gente gostava dos Beatles, incluindo a minha heroína de papel, a Mafaldinha). Tinha que ver, e fiquei a ver.

E tau, não era nada, nada o que esperava. Os desenhos, pá, os desenhos animados não eram nada do costume! Mesmo para uma garota habituada a todos os experimentalismos koniec apresentados pelo querido Vasco Granja, e que já levava no curriculum inúmeras visualizações de O Bichinho Gaspar (ainda alguém se lembra deste desenho animado?), a coisa mais fora que já tinha visto, aquilo era muito, muito bizarro. Muito colorido e histriónico, ou como sei agora, psicadélico. Que raios. Mas agarrou-me logo, não sei se graças aos Blue Meanies, se à Glove, dear Glove. E depois aquele pedaço mágico, em que o submarino entra num mundo real de recortes monocromáticos e em movimento aflitivamente repetitivo, e entra o Eleanor Rigby. Céus, alguma coisa acordou e nunca mais adormeceu em mim. All the lonely people. All the lonely people. De onde vêm, onde pertencem. E a música, credo, a música, a coisa mais bela, melódica, una de sempre. Uma sinfonia à e de solidão.


Havia quem soubesse de nós, quem percebesse estas existências. A dos eternamente sós num lugarzinho dentro de si. Que não sabem de onde vêm, para onde vão, onde pertencem. Num mundo de bulício e rebuliço estridente, a constante da solidão.
Parece triste, mas não é. Não é triste que uma garota tão nova soubesse identificar o sentimento, passados todos estes anos sei que não seria, decerto, caso único. E não é triste porque naquela música encontra-se conforto, o calor do reconhecimento. Além de que, apesar de all the lonely people, há uma casa onde um capitão de marinha bate à porta, gritando help!, help!, e onde recebe de resposta thanks, we don't need any. Ainda hoje me rio, só de pensar nessa cena. E há um submarino (amarelo!), uma missão de salvamento - que no caminho também inclui salvar um nowhere man que também reconhecemos e tememos um dia sejamos nós - uma terra de onde foi abolida a alegria e a música, mas esta volta graças à Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, YAY!, os Blue Meanies derrotados. E continuam a ser derrotados, hoje e sempre, nem que seja à força, à bruta, ao estalo. E pode-se sempre começar com esta aqui, do mesmo bando de despenteados. Recomendo vivamente. It's all in the mind, dizia o George no filme, e a mind é nossa, fazemos com ela o que nos apetecer, ora.

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