terça-feira, 23 de janeiro de 2018

[até me esqueci de dar um título a isto]

Ah, as pausas. No trabalho, quero eu dizer. Todos precisam; diz que é higiénico, há quem defenda que retempera e faz recuperar a capacidade produtiva, e depois há os realistas como eu, que as aproveitam para reflectir no horror existencial que é esta rat race, a escravatura do ordenado, e no tanto – ou nada – a que nos poderíamos dedicar não fosse haver continhas para pagar. Ah, a chafurdice em auto-comiseração – quem nunca?

Mais saudável que o cigarrinho é um hábito de pausa que adquiri. Ou daí não, porque poderá advogar-se tratar-se de uma prática um nadica obsessiva-compulsiva. Mas adiante: passear naquele site de venda de cenas, que começa por “O” (não faço pub, que não me pagam para isso). Assim a título de exemplo, podemos escolher pesquisar imóveis em Lisboa, e rir muito quando nos pedem 450 mil batatas por um apartamento com quarenta anos e que se viu uma camadinha de tinta desde que foi construído é já ser optimista. Ou então, ruma-se aos móveis, escreve-se como critério de busca “vintage”, e depois gargalhamos à parva quando se constata que, nos tempos que correm, há quem tenha um conceito tão lato da palavra que até inclui na categoria uma bola de cotão com mais de cinco anos. Enfim, um fartote.
No entretanto, e como ainda não perdi a esperança de arranjar uma coffe table mêmo, mêmo gira, ainda que a precisar de uma mãozinha, esta é uma das minhas opções. Já tropecei em coisas inacreditáveis, como gente a tentar despachar coisas do Ikea a preço de custo (ou mais), ou foleiradas que nem dadas, mas esta minha última descoberta, oh pá.
Vede, vede:








A descrição que acompanha o anúncio:
“Mesa de centro com Mosaico de Azulejos Centenários (mosaico abstrato de Azulejos clássicos, branco e azul cobalto). A estrutura da mesa é em Madeira de Carvalho. Peça única (exclusiva), de autor.”

Tradução:
Por “azulejos centenários” entenda-se cacos dos ditos, ou apanhados numa demolição (opção optimista), ou deliberadamente partidos a partir da peça gamada / comprada a quem gamou ou receptou. “Peça única” porque, r’almente, quem se lembrava disto. “De autor”, sim, alguém é autor do crime, embora não digam quem. Pelo preço proposto, fica a suspeita, a insinuação, a esperança que se trate de artista consagrado, quiçá um Pomar, talvez um Cargaleiro, poderei sonhar uma Vieira da Silva, ou mesmo um… Gaudi? Que por acaso até é um sujeito que se lembrou disto.

O preço? Oh, uma pechincha. Só 720 biscas. Isso mesmo: setecentos e vinte. Sete nas centenas, dois nas dezenas. Sete, dois, zero.


Fica à consideração do amável leitor, que eu passo. Mas só porque as medidas não me satisfazem, só por isso.
Corram, corram que ainda a apanham!

4 comentários:

  1. O que tu precisas é de uma cena de porcelana a imitar madeira :D.

    Essa mesa é horrenda. Não me admirava se fosse uma mesa comprada em lojas de decoração durante os 80-90 e depois ligeiramente modificada.

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    1. A mesa até tem uma boa estrutura (se for madeira maciça). Mas gostos à parte, caramba, €720??? Por isto?? As pessoas têm uma noção...

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    2. Se for de madeira maciça é crime. Mas as pessoas gostam de complicar (ou «são gostos»).

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    3. Dá-me ideia que seria uma mesa com tampo de azulejo, dado ter ali uma zona rebaixada (onde agora colaram o "mosaico"). É no mesmo género de uma mesa de refeição que temos em Santa.
      Se assim for, mais valia arranjar uns azulejos bonitos e tradicionais (aqueles com relevos, que custam os olhinhos da cara), ficava uma cena mesmo vintage.

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