segunda-feira, 2 de maio de 2016

Science, bitch

Vale (mesmo) a pena ler: alguém decidiu acompanhar os concorrentes de determinada temporada do The Biggest Loser, e os resultados de tal estudo são surpreendentes. Sim, sim, o universo estudado é muito pequeno. Mas, como se realça ao longo do artigo, é demonstrativo para situações de perda de peso rápida através de dieta e exercício. E parece que se encontram resultados semelhantes noutros estudos. Engraçado. Embora não tenha piada nenhuma.
É ler tudinho, e cada um que retire as suas conclusões. Mas talvez fosse importante para quem tenta, tenta, tenta despistar quilos e acaba com o mesmo peso, ou mais ainda, e muita culpa em cima dos ombros. E, se calhar ainda mais, para quem aponta o dedo aos "falhados" dos gordos, essa gente sem auto-controlo, auto-estima, motivação. Eu sou das semi-sortudas cujo "peso sem esforço" - ou melhor, quase sem esforço - ainda a situa abaixo do índice odioso da não menos odiosa (e infundada, e demasiado genérica, e completamente não substanciada) tabela de IMC. E depois há os outros. Que merecem melhor que o que a sociedade lhes reserva hoje. Não, fechar a boca e "queimar" não é solução. Espantoso, hein.

"Most people who have tried to lose weight know how hard it is to keep the weight off, but many blame themselves when the pounds come back. But what obesity research has consistently shown is that dieters are at the mercy of their own bodies, which muster hormones and an altered metabolic rate to pull them back to their old weights, whether that is hundreds of pounds more or that extra 10 or 15 that many people are trying to keep off.
There is always a weight a person’s body maintains without any effort. And while it is not known why that weight can change over the years — it may be an effect of aging — at any point, there is a weight that is easy to maintain, and that is the weight the body fights to defend. Finding a way to thwart these mechanisms is the goal scientists are striving for. First, though, they are trying to understand them in greater detail."

"Slower metabolisms were not the only reason the contestants regained weight, though. They constantly battled hunger, cravings and binges. The investigators found at least one reason: plummeting levels of leptin. The contestants started out with normal levels of leptin. By the season’s finale, they had almost no leptin at all, which would have made them ravenous all the time. As their weight returned, their leptin levels drifted up again, but only to about half of what they had been when the season began, the researchers found, thus helping to explain their urges to eat."

"Dr. Lee Kaplan, an obesity researcher at Harvard, says the brain sets the number of calories we consume, and it can be easy for people to miss that how much they eat matters less than the fact that their bodies want to hold on to more of those calories."

"But Dr. Ludwig said that simply cutting calories was not the answer. “There are no doubt exceptional individuals who can ignore primal biological signals and maintain weight loss for the long term by restricting calories,” he said, but he added that “for most people, the combination of incessant hunger and slowing metabolism is a recipe for weight regain — explaining why so few individuals can maintain weight loss for more than a few months.”
Dr. Rosenbaum agreed. “The difficulty in keeping weight off reflects biology, not a pathological lack of willpower affecting two-thirds of the U.S.A.,” he said."

27 comentários:

  1. Eu já tinha visto há tempos uma TED talk sobre o assunto, e sobre esse peso que o corpo se esforça por manter, e é algo que eu noto completamente em mim. Eu nunca ganhei substancialmente peso em portugal, sempre que ganhei peso foi devido a mudança de país (itália, estados unidos e holanda) e de tipo de alimentação. Mas estacionando num peso (e na alimentação portuguesa), fico ali e dali muito dificilmente sai. Noto muito isso desde que me meti na nutricionista para tentar perder uns quilinhos que acho que estão a mais - apesar de estar ainda com um BMI normal - e o que noto é que a não ser que não faça mesmo batota nenhuma, e coma 400 vezes ao dia talos de aipo ou assim e beba 5 litros de água, não emagreço. Tenho tentado mudar um pouco a alimentação para mais saudável e tenho perdido massa gorda (que era o que me assustava um bocado, pq estava com valores demasiado altos), mas peso, propriamente, não.
    Curiosamente, se fizer pausa na dieta um ou dois meses - fiz na altura do final do phd até ao fim das festas - e me alambazar à vontadinha sem pensar nisso, sou capaz de ganhar aí um quilo. Ou seja, se não tenho facilidade em perder peso, também não tenho em ganhar, e acho que há uma espécie de auto-regulação, pq não faz mesmo grande diferença eu andar ou não a controlar o que como.

    (mesmo a entrada para o ginásio não se reflectiu no peso, apenas no volume e percentagem de massa gorda)

    ResponderEliminar
  2. Neste momento da vida, e foi preciso muitos anos para aqui chegar, só me preocupo em ter os níveis de colesterol, triglicéridos e massa gorda controlados. De resto, caguei. Foram quarenta anos de uma luta inglória, desde miúda massacrada por uma cena que, compreendo hoje, não consigo controlar. Sempre fui bolachinha, comia bastante (sempre fui esfomeada), mas em casa até havia regras muito razoáveis em termos de alimentação: sopa, salada e fruta eram obrigatórias, sobremesa nunca havia. Fazia desporto, e mesmo quando tinha natação 4 ou 5 vezes por semana (yep!) continuava a ser rechoncha. Ainda comia mais, caneco, muito apetite. E depois, na adolescência, sem fazer nada por isso, puf: peso desce muito, fiquei magra. Como era uns bons 10cm mais alta que a maioria das minhas colegas, naturalmente pesava mais que elas, logo, achava que era gorda, e assim me tratavam, mas a verdade é que tinha 1,67 e pesava 52 kg. E depois, ali nos 20, subiu outra vez; e nos 27 desceu outra vez, muito (aqui foi stress puro, e problemas de estômago, quase não comia e acabei com uma anemia). E depois uns problemas e medicação hormonal e upa, e um horror para perder os 10 quilos que ganhei em 2 meses, e depois mais outra subida. Tem sido assim anos e anos e, tirando uma ou outra ocasião em que associo o comer mais ou menos a subidas e perdas de peso, as variações são muito aleatórias, ou têm que ver com outras situações de saúde (quando deixei de precisar de ansiolíticos foram logo 3 quilos à vida, por exemplo).
    Desde há 15 anos há um peso ao qual regresso sempre, sempre. Pode variar um, dois para cima ou para baixo, mas tem sido estável. Para ter menos 5 vou passar fome, e não me venham com tretas. Por isso, e desde que a saudinha ajude, cá fico.

    Agora nem imagino o que é a vida de uma pessoa que tenha mais peso que eu, sempre a levar com os fanáticos da saúde, da motivação, do raio que os parta. Conheci uma vez uma moça que era gorda, ou clinicamente obesa, e comia bem mas muito pouco. Vivia de sopas, a desgraçada. E com fome, muita fome. Tiróide.

    ResponderEliminar
  3. Entretanto, com aquela discurseta toda, acabei por me afastar do essencial, a cena do metabolismo em descanso: desconhecia que este diminuía após grandes perdas de peso. É assustador, e ainda mais que o corpo mantenha esse metabolismo em baixo até recuperar tudo. Porque estás, literalmente, a lutar contra uma programação base do teu corpo, e quanto menos comes ou mais exercitas, mais o corpo aperta e baixa o metabolismo.

    ResponderEliminar
  4. Btw, aqui fica:

    https://www.ted.com/talks/sandra_aamodt_why_dieting_doesn_t_usually_work

    ResponderEliminar
  5. Obrigada, vou ver agora, enquanto almoço ;)

    ResponderEliminar
  6. Já vi, muito bom. E ela tem razão: temos de parar de dizer às pessoas para perder peso, e focar a coisa no estilo de vida. A guerra não pode ser à obesidade, mas à má alimentação. Mesmo comendo bem, há pessoa que vão sempre ser gordas, e não faz mal. A minha avó nunca comeu fast food, despacha legumes que é uma loucura, mas é e sempre foi rechoncha. E sim, saí a vó.

    ResponderEliminar
  7. As dietas são muito focadas no corpo e sabe-se que o corpo e a cabeça funcionam em conjunto. Talvez tentar não pensar em comida seja a pior forma de nos relacionarmos com a comida, que convenhamos, nesta fase comemos não só por necessidade mas por prazer. No caso da oradora da ted talk, quem é que foi dizer a uma miúda que precisava emagrecer?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Por mim falo, quanto mais restritiva a alimentação, mais penso em comida. É desgastante, frustrante, e contra-producente.
      E olha que há muito quem diga a miúdas que precisam de fazer dieta. A minha sobrinha, que nuuunca foi gorda, já o ouviu. É inacreditável e irresponsável: a miúda estava uma nica cheia, o que é natural porque era uma criança a crescer. E eu ouvi-o toda a vida, mesmo de gente que não conhecia a minha alimentação ou estilo de vida: tens de ter cuidado com o que comer e mexer-te mais, ou o inefável "se", se comeres melhor/menos/whatever. E normalmente aproveitam quando nos vêem a comer qualquer coisa calórica, mesmo que seja uma vez num mês. Eu raramente como batatas fritas - ou fritos, fazem-me mal, fico mal-disposta, fisicamente - mas de vez em quando debico. So what? Mas muita gente sente-se autorizada a concluir cenas e debitar lemas de vida.

      Eliminar
    2. Pois, é como os fumadores, toda a gente se sente no direito de dar uma nota de moral "olha que". Olha eu acho que todos vamos morrer de alguma coisa. Agora é ver que qualidade de vida se quer ter. Eu por exemplo acho que uma vida sem pão não vale a pena.

      Eliminar
    3. Sem dúvida. E, de preferência, bom pão. A vida é muito curta para mau pão :P

      Eliminar
    4. E manteiga. Favor não esquecer a manteiga.

      Eu sou moça de estar sempre disposta a debicar qualquer coisinha. Raramente estou tããããoooo cheia que não caiba nem mais um bocadinho.

      Se gostava de ter menos uns quilos? Gostava, pois. Uma vez fiz uma dieta rigorosa. Mesmo rigorosa. Com pesagem de gramas de carne / peixe e contagem de rodelas de cenoura.

      Emagreci 16 quilos e andava tão feliz! (Tirando o facto de me cair cabelo como se não houvesse amanhã; tirando as unhas que se partiam todas e se esfarelavam como palha seca; tirando as gengivas que sangravam abundantemente mal lhes tocava). PQP. Já estou velha para isso.

      Eliminar
    5. Manteiga, queijo, natas, gelado. São coisas boas, feitas com coisas da natureza e dadas pelas vaquinhas. Agora a sério, cá em casa coisas como margarina e óleo duram séculos, até passam de prazo. Manteiga e azeite é que se gasta, se faço um bolo leva manteiga a sério, e é tão bom.

      Eliminar
  8. Se for ligar à tabela IMC, sou obesa grau I. Sempre pesei de carai, desde pequena. Mas sou dura com'ó raio.E olha que caminho pros 50, como sabes.
    O pior disto tudo, para mim, são os médicos. Sempre que me pesavam lá vinha a ladaínha que tenho que perder 15 a 20 quilos.
    Pá, tenho o castrol no sítio, os triglicoisos ali a tinir, não tenho diabetes, faço exercício três vezes por semana... só se cortar uma perna. E foi isso mesmo que eu disse vai pra um ano à última médica que me pesou. E disse-lhe mais: nunca mais subo para uma balança. Estou farta.
    É que estou mesmo. E, olha, Izzie, ler este artigo só vem dar razão ao que eu pensava: temos o corpo que temos, eu sou grande, por mais dietas que faça - e fiz uma dieta (ou melhor, comecei a seguir um regime alimentar mais controlado) e comecei a fazer exercício aqui há 5 anos por causa do cholesterol (cheguei aos 350), perdi 16 quilos de gordura, perdi volume, mas no espaço de 5 anos ganhei quase o peso todo, mesmo com um regime alimentar mais controlado, embora não tenha voltado ao volume de antes. Portanto, o peso que ganhei foi músculo. Quero que os teóricos dos IMC's e os fanáticos das dietas se forniquem.
    E agora que tenho a saúde controlada, entrei num ritmo estável. Sei que nunca vou cair ali no número que a puta da tabela quer, mas sinto-me bem.
    Como me disse a última médica que me pesou: "sim, tem peso a mais, mas olhe que não queria nada levar um murro seu..."
    Dulce/Porto

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quem não queria levar um banano teu seu eu quem é. E nunca te darei razões para correres atrás de mim, que me apanhavas logo e moías-me de pancada :D
      Por acaso ando desleixada com o castrol e tal, derivado do medo das picas. Mas sou uma hipocritamente alimentar: queres chocolate?, janta brócolos e sopinha. Tenho muito medo de ficar diabética e deixar o chocolate. Snif.
      E isto é só a minha opinião, mas não te acho gorda. Maciça, isso és. Mas é carninha. Eu até posso disfarçar um bocado, que sou esticada, mas isto é só entremeada.

      Eliminar
  9. Eu tenho 1,63 e peso 60 ks, logo devia perder 4 ou 5 kgs. No entanto, sinto que o meu peso está completamente estabilizado e não vale a pena o sacrifício necessário para emagrecer. A verdade é que não me privo de nada, como um doce praticamente todos os dias. Também como a sopinha, os legumes e por aí fora. Já tive situações em que, por problemas vários da vida, deixei quase de comer. Infelizmente, quando estou ansiosa fico sem apetite nenhum. O certo é que depois de passar umas semanas a comer que nem um pisco pesava exatamente os mesmos 60 kgs.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, Manuela, também cheguei a essa conclusão. Se perdesse 5 quilos, que felicidade. Mas e o sacrifício, compensaria? Nem por sombras.
      Já passei por épocas de stress sem comer e perder muito peso, ou não perder nenhum. E outras em que comia muito e engordava imenso, ou engordava pouco ou quase nada. Isto do metabolismo é um mistério.

      Eliminar
  10. E falando neste tema, também é de referir que venho de uma família com história de colesterol muito elevado, e ainda ninguém teve AVC ou enfartes. Anda para aí a polémica do mito do colesterol, mas eu não tenho conhecimentos suficientes para poder tomar uma posição. Talvez a Luna possa ajudar nisso:)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Confesso a minha ignorância, também. Na minha família, pelo lado materno, temos tendência a aumentar a tensão arterial com a idade, por exemplo, e tanto eu, a minha mãe a vó tínhamos tensão até bastante baixa em jovens. Vá lá a gente perceber a genética.

      Eliminar
    2. A Luna não é médica e não estudou biologia de organismos pluricelulares, isto aqui só vai até à célula. :)

      Tenho tendência a colesterol alto (e a níveis astronómicos de lipoproteina A, uma fofa*), mas deixei de andar a pesquisar na net e tal depois de ter passado uns tempos cheia de medo de ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Não quero saber.

      *mais tarde o meu pai mostrou as minhas análises a um amigo cardiologista, e embora a lipoproteina A seja um factor de risco, só o é em conjugação com os outros: colesterol, triglicéridos e hipertensão.

      Eliminar
    3. p.s. mas eu também adoptei a forma holandesa de estar relativamente à saúde, se estiver doente, vou ao médico, se não, não vou. não ando cá a fazer análises de rotina, etc., em que uma pessoa entra no médico saudável e sai de lá cheia de doenças e medicamentos para tomar. só faço as rotinas estritamente necessárias. assim como assim, não é assim que se descobre o cancro.

      Eliminar
    4. Eu cá também sou muito holandesa, vou ao médico quando estou doente. A medicina preventiva é muito gira, mas tirando ginecologia, não estou a ver vantagens. E evito que me transformem num passador.

      Eliminar
    5. Durante alguns anos, devido a um problemita que acabou por ser resolvido cirurgicamente, tive uma médica que me mandava fazer análises e exames a tudo e um par de botas de 6 em 6 meses, parecia que andava sempre a ver se finalmente encontrava o cancro (ou outra doença péssima) e nunca resolveu nada. Desde então decidi que não voltaria a ser escrava de médicos e exames, e rotinas que não servem para nada, tirando ginecologista e dentista. E tirando esses dois, não vou ao médico há mais de 5 anos. Acho que se nunca fiquei doente nos últimos 8 anos, é capaz de querer dizer que estou com um sistema imunitário porreiro, o que dá uma ideia de um geral bom estado de saúde.

      Acho que em portugal se vai de mais ao médico, que as pessoas correm para o hospital a encher as urgências porque deram um espirro ou tiveram uma dor de barriga, que as pessoas adoooooooooram fazer mil exames de rotina, e tomar muitos medicamentos para tudo e mais alguma coisa, e que isso é parte da razão do deficiente funcionamento e da morosidade do sistema nacional de saúde, atafulhado de não doentes a tirar a vez aos doentes.

      Eliminar
    6. Yep. A cena das análises anuais justifica-se quando se tem uma doença crónica ou antecedentes familiares, digo eu. Embora reconheça que em muitos exames de rotina se possa despistar coisas chatas. Em Portugal gasta-se horrores em exames complementares de diagnóstico. Ainda hoje estou para perceber porque me mandavam fazer análises a 1001 rubricas, quando bastava o simplezinho.

      Eliminar
  11. olha, por causa destas cenas (e vem aí o verão, ai jesus vem aí o verão), começou a época das sms a torto e a direito com promoções de ginásios e tratamentos estéticos, tudo para ficar fit e não sei quê.
    :(

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso do verão não me aflige nada, é da maneira que curo a entremeada :D chatos, pá. E no verão há sardinhas, e gelados, e choco frito.

      Eliminar