terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Vim só aqui aproveitar um bocadinho, enquanto não me fino

Como já tenho pouco que fazer (quarenta trabalhos quarenta, para ler e avaliar, somados ao trabalho normal que nesta altura por acaso é ainda mais anormal que a anormalidade normal) andei a ver de cursos pós graduados em que me podia inscrever. Eia! Aprender! Fazer curriculum! Eia! Juro, há dias em que fico exausta só de me aturar, não entendo é como consigo nos outros dias. Encontrei um bem interessante, por sinal. Uma matéria em que não só ia consolidar conhecimentos como até aprender cenas novas, e bem úteis para o meu dia a dia (no trabalho, a pós graduação não me vai passar roupa, mas é pena). Custando mil e cótrocentos pastéis de bacalhau. Eia. Até vale? Valerá. Mas some-se as três horas por semana em zoom pós-laboral, por quase cinco meses, e não, pah, não aguento. Caiu a ficha da exaustão. Pior: uma das aulas calhava no aniversário de me mate. Resolvido. Mas é bem interessante. E útil, já disse. 

Estava nesta ambivalência de Izzie hiperactiva / Izzie preguiçosona, e vi outro curso. Eia! Aprender! Não fazer curriculum! Tempos livres! Actividade manual! Eia! Inscrevi-me, paguei (proporcionalmente, é bem mais caro, mas é bem feita, quem manda os académicos de direito serem tão chatos, é o mercado) e vou queimar dois dias de descanso lidando com um material volátil altamente tóxico. Na brochura do curso nem uma palavra sobre equipamento de segurança individual. 'Tá bem, fornecem todo o material, vou dar a abébia de pensar que as luvas de nitrilo sim senhor, mas não acredito na máscara de vapores, méne, eu sei quanto custa uma, porque a comprei (sou uma pessoa dada a empreitadas que implicam manuseamentos de acetonas, diluentes e outros potenciais acidentes). Enfim, levo na mochila. Não vou lixar mais os pulmões que o tabaco já lixou, nem arriscar uma dermatite de contacto, ou infecção ocular (quando se fala de coises voláteis, convém usar ólicos estanques, tenho três pares de óculos de segurança, estes são como os de natação, mas em grande, para te ver melhorrrr, comprei em conjunto com a máscara), chiça.   

De resto, é assim, a vida. Chata como uma panqueca. E seca como, também. É barrar de manteiga. Ou doce. E canela. Vou deixar a pós graduação em stand by, que é como quem diz, nope. Tenho tanto livro para ler, e tanto soninho para repor. E tanta malha para acabar, iniciar, e retomar. E um bolo inglês prometido. E uma casa para arrumar - a sério. Não tenho tempo para viver tudo o que quero. 


11 comentários:

  1. Não consegues um grant que te pague a pós-graduação? Pergunta se não haverá fundos no trabalho para essas coisas (chamamos-lhe continuous professional development). Nós não pagamos cursos do nosso bolso. Se é para nos fazermos melhores profissionais, é o empregador que deve cobrir. O nosso tb não cobre directamente (é raro), mas felizmente podemos usar dinheiro de grants para pagar essas coisas. E depois tem que te dar tempo de a fazer durante as tuas horas de trabalho. Tenta! Depois até o facto de conseguires que alguém te pague a pós graduação tb melhora o teu CV, até mais que a PG em si.

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    1. Infelizmente, aqui não há disso :´( Temos formações promovidas pela entidade patronal, e pronto. Também dá curriculum, mas há sempre coisas melhores, mas a pagar (as universidades e faculdades têm muita oferta). A formação profissional que não pagamos, é feita em horário laboral, e também conta para evolução é o que é. Eu acho que tem vindo a ser cada vez mais fraquinha.

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  2. O ano passado também andei a cortejar um curso numa área que me interessa, dá para enriquecer a minha actual ou mudar de rumo profissional se eu quisesse. Estive quase a inscrever-me, mas acabei por desistir da ideia pelos mesmos motivos, que a vida como está por aqui, não conseguiria conciliar com responsabilidades familiares. Formações através da entidade empregadora são só para cumprir o mínimo de horas anuais obrigatórias por lei. Se uma pessoa quiser algo de jeito, tem de ser um brutal investimento não só de dinheiro mas de tempo. A ultima vez que me meti numa PG foi antes de ter filhos.

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    1. a.i., verdade, se uma pessoa quiser uma formação como deve ser, tem de pagar e fazer fora de horas. Já houve muita pós graduação que nem ponderei, umas porque até eram fora de Lisboa, implicavam ou apanhar o comboio sábado de madrugada ou dormir fora. E atenção, esta é na FDL, que de todas é a mais baratinha. Uma vez andei a ver de cursos na católica e juro, nunca mais. Devem achar que 5.000 são trocos :D

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    2. Cheguei a fazer fora de Lisboa, ia à sexta ficar em casa de uma amiga, ou ao sábado às 6.00. Hoje, seria impensável.

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  3. Que chatice pa, fico triste saber das vossas áreas. Acho que a mentalidade de como gerir capital humano ainda tem muito que andar aí. Embora aqui se ande muito melhor nesse aspecto, eu tb posso estar a ver a coisa por lentes cor de rosa. A minha area encoraja, até obriga a certas qualificações. O meu moço não é da minha área e tb tem as formações todas pagas e feitas dentro das horas de trabalho. Vê-se a rasca para conseguir fazer tudo, mas não trabalha fins de semana como eu.


    (Mas para não ficares triste, aqui está-se bem pior de certos direitos. Nem te conto o que passei nas minhas licenças de maternidade, por exemplo, que as tive que pagar com grants. Nem a miséria de subsidio que é (não é o nosso salário, é metade e só 16 semanas!)

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    1. Pá, não pode. A licença de maternidade? Se é para mexer, é para aumentar. Aqui, felizmente, as alterações que têm vindo a fazer são positivas, no sentido de o pai ter direito a X dias irrenunciáveis, a possibilidade de a licença de parentalidade ser gozada por ambos, conforme aos pais dê mais jeito. Já não é paga a 100%, mas também, caramba, cinco meses a 80% é bem bom.
      O problema é que há quem ache que a licença de parentalidade é um privilégio dos pais, mas é um direito dos filhos. Claro que também há a questão da recuperação do parto, e beneficia todo o agregado familiar quanto a criar laços, mas os verdadeiros beneficiários são as crianças. É tempo que elas precisam, e têm direito, bolas.

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    2. E as creches gratuitas, uma medida que faz diferença. Vamos ver quanto dura, com os tempos que se adivinha virem.

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    3. Yeap... creches. 1500 libras por mês, cada um, até aos 3 anos e 2 meses. Depois sao entre 800 a 900, até ir para a escola. É ridículo. Houve um ano e pico que um de nós pagava para poder trabalhar - 3 mil... 3 mil em creche. Pqp!! Estas coisas fazem-me falar mal.

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    4. Em Lisboa são 200 a 300 euros cada um, para uma família com rendimento médio (que para efeito de IPSS é na verdade considerado último escalão; quem tenha rendimentos baixos, paga menos). Com a medida das creches gratuitas, as famílias libertam-se dessa despesa, que tendo em conta os salários médios em Portugal, é considerável. Pré-escolar difícil haver vaga no público gratuito. Muitos não têm outro remédio senão ir para privado ou IPSS, pagando entre 300 a 500.
      1.° ciclo (a antiga Primária) em Lisboa se crianças forem condicionais (fazerem anos a partir de setembro até dezembro) não arranjam vaga perto de casa, têm de ir para privado a pagar cerca de 400 a 500 cada um. Há possibilidade de contrato com Ministério da Educação para famílias de mais baixo rendimento. Mas, de novo, último escalão (sem direito a desconto) é na verdade uma família de rendimento médio, tendo em conta o custo da habitação/comida etc.

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    5. Realmente viver na província é outra coisa...em Santarém há sempre vaga no público, mesmo que não seja na escola que queremos...e distam uns dez minutos de carros umas escolas das outras.

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