sexta-feira, 6 de março de 2020

Palavra da Senhora

Vinde, vinde a mim, pequenitas e bondosas almas sequiosas de conhecimento, que titi Izzie tem algo mui premente, mui gigante para partilhar.

Adivinho uma certa estranheza, e até suspeita, ó minha estrúspida, tu não estavas aí atada pelo pé numa caverna a escavar um túnel para não sei onde e tinhas até anteontem para o terminar?, qué lá isso de agora apareceres aqui cheia de urgências comunicativas? Titi explica, titi apazigua: pobre titi Izzie, essa assalariada oprimida e torturada pelas exigências de uma sociedade individualista, insensível, e indiferente, de facto está há coisa de um mês a pão e auga, amarrada por correntes a uma empresa quasi impossível e um prazo desumano. Mas titi Izzie prevalecerá, titi Izzie já passou a fase inicial do ohraisparta isto é impossível eu vou falhar porque sou uma falhada eu vou morrer porque não aguento eu vou desistir porque não consigo; passou para a etapa do enaenaena já a meio só mais um bocadinho vá, upa upa arriba; seguiu para o túnel - sem uaifai! - do ohquecaraças que o quase no fim é o pior eu vou mazé falecer na praia encravei isto não há meio de de acabar deem-me um tiro por caridade e aprovem lá a eutanásia que é a minha única esperança de uma morte digna; e está agora nos finalmentes, a aproveitar a energia desta espécie de melhoras da morte, e confiante que domingo termina esta porra nojenta, esta caca fedorenta, esta gigantesca e pulsante chaga, esta pústula agoniante, e segunda chegará ao lugar infecto onde passa horas a ganhar a vida de costas direitas, olhar triunfante, cabeça erguida, e também olheiras até ao joelho, ojolhos raiados, uma espécie de vazio cerebral, e um fio de baba a escorrer pelo canto da boca, entregará a encomendinha, e dirá qualquer coisa memorável como está feito, que vini, vidi, vici já foi usado por outrem e, na verdade, é um bocado mentira.

Explicado isto e, espero eu, conseguida uma quantidade mui apreciável de simpatia e comiseração pela minha lamentável e atormentada pessoa, passemos à boa nova que me faz suspender a minha laboriosa actividade.
Ahééém.
A máquina de cortar pão do Lidl. Eu repito, devagarinho. A. Máquina. De. Cortar. Pão. Do. Lidl.
[pausa dramática]
Quem conhece já está aí desse lado fremente, aos pulinhos de excitação infantil - espero.
Quem não conhece, é correr - correide, correide! - ao Lidl mais próximo e ficar de mãos postas perante tal portento.

Ó pá. Óóóóó pááááá. A minha semana não é bem sucedida se não for, pelo menos uma vez, comprar pão ao Lidl e fatiá-lo na dita máquina. É um milagre da téquenologia, é uma maravilha do engenho humano, é um mash up da bricolage e panificação, pura arte do quotidiano, um bálsamo para alma ver aquela lâmina potente, possante, poderosa a transformar um pãozão em fatias fininhas - ou mais grossas, no caso da broa, sim, esta máquina corta broa na per-fei-ção, sem esboroar - é, de facto, aquela máquina de que falavam os profetas, o princípio e o fim das coisas, o instrumento que traz sentido à vida, o elemento primordial da existência.
Acalmem-me, por favor: digam-me que não estou sozinha neste êxtase.
Ou então indiquem-me um bom grupo de auto-ajuda.

10 comentários:

  1. Há anos, anos, mas mesmo anos, que corto o pão do lidl na máquina.
    Especialmente o pão de nozes que é maravilhoso. Maravilhoso.



    Em França.

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    1. R, cá só chegou no final do ano passado. E não temos cá esse pão de nozes, que discriminação inacreditável! Quero!

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  2. Eu vou à do Aldi. A mesma coisa. Todavia, o melhor pão, de longe, é do Minipreço. Mesmo sem máquina.

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    1. Sãozinha, não tenho nenhum Aldi perto. E felizmente tenho um café onde se compra pão de Mafra a sério, por isso é sempre a minha primeira opção.

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  3. Não estás sozinha neste êxtase. :)

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    1. Rita, é maravilhoso, tão satisfatório ver aquela lâmina em acção :')

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  4. Já lá diz o ditado brit que não há invenção melhor desde o pão fatiado...

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    1. AEnima, desde que seja pão bom, e não auquela coisa do panrico, sim senhora, uma excelente invenção

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