terça-feira, 3 de julho de 2018

Requiem para tímpanos em guitarrinhas e bateria

Ou, parafraseando Daniel Glover, que o diz recorrentemente antes de se atirar para a tal da dita cuja,  I'm too old for this shit. Pelo menos foi o que pensei ontem, várias vezes, aliás, enquanto tinha a sensação de estar a sangrar dojóvidinhos, derivado da intensidade decibélica e, há que dizê-lo com toda a frontalidade, a rameira da acústica daquele pavilhão atlântico (mudem-lhe o nome o que quiserem, chamem-lhe até pavilhão nutella, mas não contem comigo para vos acompanhar nesse frenesim onomástico).

Mas comecemos pelo início, como diria a Menina Maria, a contar esta saga geriátrica. Foi há coisa de dois meses que comprei os bilhetes para mate ir ver o Founding Father (palavras dele) do rock e eu me inaugurar num concerto de metal. Afinal era metal bélhinho, rock pesado, isso aguento, até gosto, pensava eu. Afinal o espectáculo começava às oito, hora bem simpática, uma pessoa lá para as dez e meia já tem os sapatinhos a caminho de casa, a tempo de se deitar a horas decentes e fazer o doce ó-ó, julgava eu. Ah!, doce, inocente, pobre d'eu.

Sucede que não, a tudo. Menos a parte do gostar: gostei. Diverti-me bastante, até. Mais do que esperava. A pontos de sair de lá a sentir pena por já não haver bilhetes para Iron Maiden. Oh. Mas os meujovidos, senhor. E sim, começou a horas, às 8 Judas Priest entravam em palco, mas tocaram quase hora e meia (porque bélhos, mas tesos, apre), entretanto acontece mudança de palco, entra Ozzy, tocam p'a falo, abreviando, saímos ali pelas onze, apanhar táxi, casinha, seis horas, cinco e picos de sono, acordo afónica e com uma sensação de idiotia, o café levou um tempão a bater, ainda estou a ouvir muito mal de ambos os lados, assim não há condições.

Anyhoo, o que interessa. Parece que se confirma, velhos são os trapos. Mais uma para eu guardar na minha caixinha de aprendizagens à custa de muitos "bem feita!".
Andei dois meses a gozar com me mate, que o home ia mazé cantar sentado num banquinho, tipo Paulo Gonzo, com uma senhora enfermeira ao lado a tomar-lhe o pulso a intervalos regulares. Que o home ainda se finava a meio da tornée, e ficávamos a chuchar no dedo. Que provavelmente aquela cabecinha toda mamada já não se lembrava das letras. Que a meio se esquecia de onde estava e começava a deambular enquanto gemia "Shannonnnnnn".
Sim senhora, tudo o que disse? Engoli. A seco, embrulhadinho num wrap de piretes polvilhado com raspas de tafuder.

Pô, grande concerto. Mesmo com a acústica miserável (a sério, gastaram quanto, a fazer aquilo? os projectistas, arquitectos, inginheiros responsáveis pelo auditório do CCB, não estavam disponíveis? não há um santo de um sonoplasta que saiba acertar no som? qualquer coisa? cada vez que lá vou venho com a sensação que se perdeu imenso por causa da sala) foi do caracinhas. O home não só está vivo como se mexe, canta, e nota-se que vibra com o que faz. Já não são vinte ou trinta anos, verdade, mas tomara eu aos setenta estar metade daquilo. E levou uma banda de apoio que faz favor. f-a-z-f-a-v-o-r. Caneco de guitarrista, cujo nome entretanto descobri, de sua graça Zakk qualquer coisa. Um cabelo lindo, já agora, pantene até, embora a barba já levasse uma aparadela, mas quanto à mestria na guitarrinha, u-a-u.
Encontrei isto no iutubas, se quiserem (e tiverem paciência para conferir), faz favor:




Ou seja, tenho uma colmeia muito activa nojóvidinhos, acho que me fizeram uma lobotomia e esqueceram de avisar, preciso de dormir doze horas seguidas asap, sim senhora, se calhar estou muito velha para estas merdas, mas quando é o próximo.

[disclaimer: nenhum morcego sofreu ou deu a vida para realização deste evento]

7 comentários:

  1. Protectores auditivos, daqueles dos bons.

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    1. No próximo acho que ponho tampões...

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    2. tampões é pouco, acho eu. protectores auditivos, feitos à medida, a oitava maravilha, dizem os meus ouvidos

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  2. Pode contar, assim à laia de off record,q sei de uma empresa q lá foi p meter o som daquilo em condições, e parece que os senhores acharam mto caro o custo da coisa...true story

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    1. Muito caro? Caro foi fazerem um pavilhão para espectáculos cuja acústica é uma caca...

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  3. Olha eu não percebo nada de som, mas fui lá ver Muse há muitos anos e achei inacreditável. Se fechasse os olhos parecia que os estava a ouvir de um rádiozinho pequeno em cima do palco. Inacreditável como ninguém sente vergonha em apresentar aquilo como sala de espectáculos e cobrar bilhetes para oferecer aquela experiência. Caramba, já há séculos (literalmente?) que sabemos fazer melhor, não tinham que reinventar a roda.

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    1. Há séculos que se sabe fazer salas/locais boas. Olha os gregos e os seus anfiteatros, bem hajam. E o Coliseu tem uma acústica tão boa (tal como o grande auditório do CCB). Aquilo é uma tristeza.

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