quinta-feira, 28 de junho de 2018

It’s my party and I cry if I want to

Faz agora um ano que estava a entrar nos 46 (e a trabalhar, como de costume, embora não afincada ou devotamente) quando recebi o telefonema que já temia mas esperava não chegar a acontecer. Pela enésima vez em quatro anos que já lá vão entrei em modo bombeiro, mas desta vez cm máquina de reanimação, para além da agulheta, escada magirus, e caixa de primeiros socorros. Desta vez era mesmo a sério. Tal como das outras, mas isto do fundo do poço é uma coisa muito gira, quando se pensa ter lá chegado de repente abre-se um alçapão e lá vamos nós outra vez. Isto não é uma ladainha, um queixume de buuuu, estragaram-me os anosssss, calhou lembrar. Este ano não houve crise, embora o novo rock bottom possa estar sempre ao virar da esquina. Não vamos agoirar; mas é o que é. Se há um, dois, três, quatro anos me garantissem que se pode viver assim, eu ficaria pasma. Qual quê! Nunca! Não pode ser! Ou melhora ou rebenta! Mais: ou resolve ou coiso. Não é assim que funciona, ou não é assim que funcionará para mim. É o que é e eu sou o que sou: não arredo. No retreat, no surrender. Não é sempre fácil, mas torna-se mais gerível. E prova disso é que cá estamos, a entrar nos 47 firme e hirta, depois de um ano do caracinhas, do caralho, vá, a bater bolas com não sei quantos Federer (é assim que o tipo se chama?) e a apanhar com muitas em cheio na cara. Auch. Ainda que. Porque. Já esteja ali a uns 60, 70% grisalha, debaixo da tinta; as articulações não me deixem esquecer as muitas horas de cu sentado e computador; o estômago se manifeste cada vez mais caprichoso; as vitaminas tenham passado de suplemento a constante; já tenha de levar uns fideputa de uns ólicos na mala para conseguir ler cenas pucaninas que se me atravessem no caminho (mentira, esqueço-me propositadamente dos óculos e finjo que estou a ver lindamente, embora de bracinho esticado). Mas. Todavia. No entanto. Ainda consigo estudar e ter pica a aprender coisas novas; ainda me sinto a campeã do universo quando deslindo o enigma, encontro a saída do labirinto, coloco a última peça do puzzle; ainda fico com o friozinho na barriga porque vou ter de enfrentar aquele touro muito, mas muito grande e cornudo, e macacos me mordam se o cabrão percebe que estou aos gritos de pavor por dentro; ainda passo demasiado tempo a uivar à lua a cada nova tarefa hercúlea que me caia no colo, ainda que já comece a acreditar que, bom, enfim, talvez consiga - e acabo por conseguir sempre, porra, porque sim, mesmo com o grilinho irritante constantemente  a bichanar-me ao ouvido que me meti a besta, way over your head, vais-te espalhar ao comprido e toda a gente a ver, vão descobrir-te a careca de incompetente, inapta, burra, incapaz e pôr-te na rua, nua, e ao frio e à chuva. No retreat, no surrender. Em nada, por nada, nunca, foda-se, nunca. Vamos indo. Vamos.

14 comentários:

  1. Parabéns, Izzie! E muitos, muitos destes, melhores ainda, se possível.
    Olha, eu acredito em ti. Adoro ler- te :)
    Cá beijinho e xi

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    1. Obrigada, Linda!
      (não sou grande comentadeira, mas também te leio, sempre)

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  2. Parabéns Xô D. Izzie!!
    E cá estamos nós, mais um ano passado, com a taça erguida, em modo jovial, porque isto são mesmo dois dias e hoje já é quinta.
    Acho que irias ter pena de perder esse friozinho na barriga porque é isso que nos lembra que estamos vivos. A levar porrada. Mas vivos. Tchim, tchim!!

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    1. Anna, já dispensava ali uns 25% de porrada, que os ossinhos já se ressentem ;)
      Obrigada!

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  3. muitos parabéns =) Pelo dia, pelas vitórias, pelas derrotas, mas sobretudo pela capacidade de combate!

    Entendo-te tão bem, também tenho sempre um grilo que me diz "és um erro de casting, és um erro de casting e vão descobrir-te."

    Mas tenta-se sempre, e surpresa, consegue-se.

    Muita força e beijinhos =)

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    1. Obrigada, Espiral! Ah, o síndrome de impostor: somos muitos a batalhar com ele...

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  4. Mais uma ficha, mais uma volta... e torna a girar.

    Estás rija rapariga!

    Parabéns, beijo.

    Dulce/Porto

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  5. Parabéns!! Mesmo atrasados :) Eu gosto muito de ti e das tuas palavras todas juntas assim. Muitos, muitos parabéns com muitos beijinhos daqui e um abraço apertadinho :)

    (estou velha e lamechas)

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  6. Bem atrasada, mas não poderia deixar de cá vir dar parabéns sentidos. Que se sigam muuuuitas primaveras/verões/outonos/invernos e que, nelas, nos permitas continuar a partilhar destas tuas diatribes tão divertidas quanto certeiras, quanto assertivas, quanto adoráveis. Depende do dia, depende do espírito. Sempre valem a pena. Sempre nos rimos. Sempre aprendemos. Sempre ventilamos. Eu, que já não vou a lado nenhum, continuo a cá vir ao tasco, certinho. Beijinho

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