quinta-feira, 24 de março de 2016

We are all mad here

Tive de ver/ouvir duas vezes, para confirmar. Não o óbvio e a que nem vou dar tempo de antena, mas um pequeno pormenor: um professor doutor (minúscula propositada) de uma Universidade Pública, com estudos na área de Relações Internacionais e sua história, chama à colação do seu (aliás tresloucado) discurso um infame livro de Rosenberg, cujas teorias, e aqui estou a citar, que ouvi duas vezes para ter a certeza que foi isso que foi dito, "foram aproveitadas pelo nazismo".
Fiquei mal disposta. Com tudo; mas relativamente ao discurso do ódio, nem vou entrar na discussão. É que dizer que Nietzsche foi aproveitado pelo nazismo, sim senhor. Mas Rosenberg não foi "aproveitado", Rosenberg foi O teórico, ideólogo, do nazismo, Rosenberg foi membro inicial do partido nazi, Rosenberg fez parte do "aparelho" do III Reich, Rosenberg advogou e foi cúmplice do extermínio de judeus e outros povos, Rosenberg foi julgado, condenado e executado em Nuremberga. Rosenberg não tem méritos académicos (as suas publicações e "estudos" não têm qualquer valor científico, e isto não é a minha opinião, o tipo não tinha formação, nem dados, nem suporte para as suas "teorias"), não é citável, não é referência de nenhuma pessoa de bem. Ouvir, no século XXI, na Europa ocidental, um académico dizer o que disse, no contexto em que o disse, citar Rosenberg e caracterizar a sua obra como "tendo sido aproveitada pelo nazismo", preocupa-me mais que mil bombas armadas por fanáticos. Porque actos de terror não estão sob o nosso controlo, mas como lhes reagimos, sim. Tão importante como não sucumbir ao medo, é resistir ao ódio; e o ódio cria-se na ignorância. Rejeitá-la é um dever. Que, obviamente, este "académico" desconhece.

4 comentários:

  1. E não acontece nada? Não pedido de desculpas da RTP? Comentário sobre a opinião não refletir a visão etc e tal?
    Para além de ter dado espaço de antena aquela besta estou pasmada com a posteriori não haver nenhuma reação. Nem do canal nem social diga-se. Mafalda

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    1. Mafalda, até fiquei azul. E não, não acontece nada, e passou-se na tv pública...

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  2. Não foi esse o mesmo que apelou ao extermínio dos muçulmanos? Não admira que cite um ideólogo do nazismo.

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    1. Apelou, mas de uma forma sonsa, ou seja, disse que se não se reprimir o radicalismo, lá da forma que ele acha correcta, e que passaria por exigir aos líderes religiosos ocidentais que adoptassem certas posturas, a população "se revoltaria", poderia tornar-se violenta, e até acabar na expulsão e no extermínio de muçulmanos. Achei grotesco e cobarde, mais radical que os muçulmanos normais e pacíficos, que são felizmente maioria, merecem. E esquecendo que estes muçulmanos são as principais vítimas dos radicais islâmicos, que ainda este fim de semana mataram umas dezenas no Iraque. Nojo.

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