sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Looks like I picked the wrong week to quit amphetamines

A propósito da gradual reposição dos salários da função pública, já tive o grato prazer de, neste primeiro dia do ano, ouvir ilustre e douto paineleiro exprimir preocupação com o aumento de despesa em consumo interno que tal acarretará. Porque, como toda gente sabe, esses marotos não podem ter uns tostões a mais que logo se apressam a gastá-los em porcarias, como contas de supermercado mais longas, eia, carne de primeira, quiçá, ou se calhar é desta que se consegue comprar os livros da faculdade, escusa o rebento de estudar por fotocópias, ou, na loucura, troca-se a máquina de lavar que esta enfim, ou a chaleira a que chamam carro, se for permitido sonhar. Gosto sempre de ouvir gente que, obviamente, não tem grandes dificuldades em pagar o básico, a mandar bitaites sobre o governo da casa e carteira alheia. Estamos a falar de pessoas que, desde 2011, se não me falha a memória, andam a fazer umas ginásticas financeiras que mais parecem, em tantos casos, acrobacias ou números de contorcionismo. É claro que o vão gastar. Ou alguém acha que, neste bordel deste país, um salário médio - e nem me façam falar dos trinta eurinhos a mais no mínimo - dá para poupar seja o que for? Boa sorte nisso.

6 comentários:

  1. Então isso do aumento do consumo interno não era suposto ser uma coisa boa? Tipo, repercutir-se em mais impostos pagos, mais gente a trabalhar, mais dinheiro a circular por mais mãos?

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    1. Pois não sei, Snowgaze. Ele há comentadeiros que acham mau, porque relacionam com o aumento da despesa, e devia era haver poupança. Sou toda a favor da poupança, mas com os ordenados praticados em Portugal, quem é que se pode dar a tal luxo?

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    2. Poupança? No estado calamitoso em que o sistema financeiro está, até um depósito à ordem a render 0% tem inaceitável risco; o colchão é o melhor banco, e gastar é a opção racional. A questão é onde. Numa "mala" Chanel? Pois, nunca tive tal sonho. Numas obras que valorizarão a minha toca. Na loucura num imóvel para alugar a "young professionals".

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    3. Sim, esse é outro argumento. Realmente, com o juro no estado em que está, e com a confiança que se pode ter nos bancos, hoje em dia... Caramba, mais vale gastar.
      Se tivesse suficien€ para isso, juro que comprava um T1 numa zona turística e metia-me a arrendar.

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  2. Mas não foi por pararmos de gastar dinheiro em porcarias que começaram os problemas?
    Eu tenho ouvido o quanto é injusto voltarmos às 35 horas, mas nunca ocorreu a ninguém que isso também foi uma redução no ordenado. Eu achava justo aumentarem o equivalente às 40 horas que agora se trabalha, mas fazer o quê? Ninguém disse que era justo.

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    1. E os dias de férias que nos tiraram, que também implica uma redução de ordenado. Enfim, é tudo mau, tudo mau. Repor ordenados não é mau, é o mínimo. Há pessoas que andam há cinco anos a viver numa bolha e a racionar oxigénio.

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