quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Ecoponto rosa

A falta que me fazia ter um manto de invisibilidade, para as situações em que não posso deixar de estar, mas me convinha muito, tanto, não darem por mim. É que é sempre para caralhices do caneco, para merdices que valhamecoiso, e para as quais, vá-se lá perceber porquê, me acham habilitada, me procuram. Eu. A deprimidinha certificada desde os vinte (mas angustiada desde que tomei consciêcia de mim). A ansiosa e fóbica social. A introvertida com jeito nulo para lidar eficazmente com 'ssoas em contexto pseudo-psicoterapêutico. E é a esta alminha, não sei por que raios e coriscos, por que raio de maldição ou má fortuna, que calha sempre, mas seeempre a rifa do dar colinho, nomeada mas não exclusivamente à nova aqui do lado que está a espiralar desde passada uma semana de cá chegar; o oferecer o abracinho consolador, o "vá, vá", a palmadinha compreensiva no ombro à outra que tem mais energia num dia mau que eu num dia bom; o dispensar -  a quem precisa, e há muita gente a precisar e a dar-me conta do facto - da palavrinha amiga e esperançosa, o sublinhar que as coisas se resolvem ou a gente adapta-se e acaba a aceitá-las como são; acabando, por norma, a rematar com o suspiro final que sela a irmandade na aflição: "é lidar".
Donde, portanto, resumindo, concretizando, não percebo porque me calha sempre, a mim, à desorganizada mental, à ventania cerebral, ao tornado emocional, esta sina de caixote do lixo das agruras alheias, e é nestes momentos que dou graças pelas costas todas fornicadinhas que me impedem de andar de metro e autocarro, ou ainda acabava a acumular o/s desabafo/s de um/a qualquer desconhecido/a (acontecia-me muito), que tomava a cara de parva aluada de perdida na vida como sinal inequívoco de está ali uma pessoa que quer ouvir, vai empatizar e decerto entenderá (e até ouço, empatizo, e entendo; mas dispensava a solicitação. ou tanta solicitação. porque depois sobro eu. e o silêncio.).

2 comentários:

  1. Então, como eu disse algures, acho que isto é a confirmação da Lei da Atracção. Eu também atraio gente triste/ desorientada/ a necessitar, se não de terapia, pelo menos de terapeuta. Ou então, fui psi noutra encarnação. Ou padre. Só estou ainda por conseguir explicar por que é que atraio igualmente bêbados, chatos e cães. Espero que sejam tudo excepções à tal Lei, assim como à hipótese de reencarnação.
    Já tentei vários estratagemas de escapatória e fuga, mas dá-me a sensação que é sempre tarde demais. As melgas transformam-se em carraças e consomem-me energias e paz de espírito. É um you can run but you can’t hide constante.
    Também me pergunto há anos se a cara que tenho é um catalisador, ou se isto é só azar, mesmo.
    Estou do teu lado, se isso ajudar.

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    1. Linda, não somos as únicas, já ouvi mais gente queixar-se. E também atraio chatos, daqueles muito chatos... Já bêbados, felizmente, e até ver, não :D
      E é bem verdade, se alguns não passam de melgas, outros, por circunstâncias de proximidade, tornam-se autênticos carrapatos sugadores de energia (ando um bocado cansada, preciso de toda e não tenho para dispensar).
      Como se diz, 'tamo junta <3

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