sexta-feira, 12 de julho de 2019

The Cat Diaries (19) Mother of Cats

Tenho o equivalente a um cadáver bem encorpado na mala do carro: dois sacos de areia (15l cada), dois sacos de ração (10kg + 3 kg). O espaço ocupado é seguramente o mesmo, e o peso, atrevo-me a alvitrar, andará por perto: a raça da areia é fina e compacta, pesa que se farta. Visto que aquilo terá de ser acartado da garagem (atenção, não é no prédio, avença mas vá, na mesma rua) e subido até ao primeiro andar, tenho os instintos maternais um bocadinho em baixo. É que se a vantagem de ter gatos é que vão à casa de banho sozinhos, a desvantagem é que somos nós a levar a casa de banho até aos gatos. Finórios.

O que também não ajuda o enlevo maternal é o facto de Mad (indeed!) Max viver num fuso horário diferente do nosso, e achar que às cinco da matina já chega de cama. Ou antes, já é hora do pequeno almoço. Some-se a isto o facto de este meliante se ter tornado o mentor de Selina Kyle, que aprendeu com o melhor todas as patifarias possíveis, e está o circo armado. Quer dizer, os dois que vieram da rua não partem um prato; tinha de vir um pequeno demónio adoptado em bebé e uma ladra trepadora (mais uma vez, acertámos no nome) que esteve ali vai-não-vai duas vezes, e que tratámos com tanto amorrrr, tanto desvelo, para nos acabar com o sossego. E a paciência.

Max inspecionando a máquina da loiça, e achando tudo conforme

Anyhoo, um resumo e um update: a Selina, encontrada a miar debaixo de um carro, trazia consigo uma pneumonia; por duas vezes achámos que se finava, mas em tempo a levámos ao vet. Da segunda ficou internada, e a fazer um ciclo de dois antibióticos, com o risco de ficar com o crescimento comprometido. Antes anã e viva, e viva está ela. Dois meses, dois!, a dar antibiótico de manhã e à noite, misturado com o paté; aqui a ursa sentada no quarto de colher estendida enquanto ela se fazia rogada, por vezes a segui-la de gatas, porta fechada com o Max a miar do outro lado e a distrair a pequena, e nem pensar em deixar o Max na mesma divisão porque é um gatuno lambão que comia o paté todo, com ou sem antibiótico. Ao fim de dois meses e uma última radiografia temos ordem de suspender, e manter vigilância. Estava fina. E com o cio. Marcou-se logo a esterilização, que correu lindamente, excepto a parte do body, que a pequena odiou. Andava como se estivesse aleijadinha, fazia uns olhares que davam dó, aqui a estronça pensa que se calhar tem dói-dói na cicatriz e abre o body para ver, e a pequenita filha de satã saltou-me do colo como uma pulga atómica, sacudiu a vestimenta, e quem é que a apanhava para lha vestir? Pois. Na consulta de revisão lá aparece esta incompetente com uma gata embrulhada numa manta dentro da caixa (única forma de a apanhar, a manta), o body na outra, e um sorriso de "perdão, sou estúpida e deixei-me enganar por um nico de gata". Tudo bem, a bichinha sarou lindamente, e pronto. Fica a faltar as vacinas, mas tomámos a decisão de a deixar estar uns tempos, a ganhar confiança (é mesmo, mesmo muito difícil apanhá-la, topa à légua que vai haver asneira, e arranha que é uma beleza).

no início da nossa relação, pucanina, pucanina


Suspirámos de alívio, a besuga está viva e de saúde, agora é engordá-la e deixá-la habituar-se à casa e nova família. E eis que na véspera de termos um avião para apanhar, a biscas vomita um líquido claro mas rosado (em cima do tapete, claro. só temos 3 tapetes naquela casa, mas é sempre em cima do tapete, faz parte do livro de estilo da gataria, e este ainda por cima é clarinho). Fui buscar toalhetes para limpar, um bocado ralada com o rosado, e noto que nos toalhetes estão uma espécie de grãos quase brancos, com um rabinho, parecem sementes de quinoa, aiminhanossasenhora, a quinoa está viva e a desenrolar-se. Yep. Lombrigas. E muitas. Pânico. Ligámos para o vet, tentámos apanhá-la, fomos lavar o sangue dos braços e mãos, desistimos de a apanhar, metemo-nos no carro e vamos ao vet para ao menos comprar desparasitante. E yay, somos informados que temos de desparasitar todos. Todos, incluindo os bons selvagens a quem não é possível agarrar e enfiar um comprimido goelas abaixo, nem tampouco disfarçar em paté, porque topam e não comem. E yay, somos informados que já há desparasitante em pipeta, e not-yay, bem mais caro, mas yay, resolve o problema. Dão-nos o calendário de desparasitação, e abalamos cheios de pipetas e comprimidos (a Selina só assim, ninguém a segura, nem à traição). Já agora, havendo parasitas, comprovadamente, não chega administrar uma vez, o desparasitante só mata a bicheza adulta. É preciso esperar 21 (acho) dias para que os ovos e júniores cheguem à idade de serem massacrados, e pumba, segunda dose.
Bom, conseguimos pipetar e comprimidar toda a gente, e fomos de férias. Voltámos, esperámos, repetimos, e quero crer que não há mais inquilinos indesejados.

Selina pós-op, ao colo de mamãe

E a Selina, passado tudo isto? Continua um bocadinho mini - quando a trouxemos aparentava uns 3, 4 meses, mas já teria passado dos seis, segundo a vet, porque não sei quê placas fechadas que se via no raio x - mas, é com orgulho e baba escorrendo, que anuncio que ganhou corpo e peso. O que também se deverá a já não ter de alimentar uma comuna de ocupas. Está linda, fofa, mimosa, mas continua fugidia e desconfiada. Vem para o nosso colo raramente, aceita festas mas só se sentir segura (sapatos da rua calçados? get thee behind me, satan), o seu spot preferido é deitadinha numa almofada do sofá ao lado do papá, e dorme em cima de mamã - ela e Max, fui promovida a colchão de gatos, e já acordei com nós nas costas e pescoço à conta da graça. Está uma brincalhona, adora bolinhas, e imita toda a asneira que o Max entende fazer. O Max adora-a, fazem corridas - às vezes de obstáculos, calhando esses obstáculos serem os corpos adormecidos de papais, suspiros - e envolvem-se em lutas acrobáticas que fariam inveja a um wrestler.

Max e Selina, bff

Tudo a correr bem, portanto. Até ao dia em que formos de férias - já decidimos que ela e Max vêm. Aí teremos mais histórias para contar e braços e mãos para desinfectar, mas não me rale agora com isso.

coija má boa

10 comentários:

  1. Férias com gatos! Essa é de coragem. Conta tudo :P

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    1. Bom, nós vamos para uma casa (de família), a 50 minutos de Lisboa. Dois não podem ir, pelo que ficam (nós vimos cá de 3 em 3 dias reabastecer e mostrar que ainda estamos vivos). O Max é muito dependente, não o vamos deixar cá, e portanto Selina vai para fazer companhia. E pronto, é só levar comida e areia. E apanhar a Selina. "Só". :D

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    2. Por aqui também os gatos vão de férias connosco, 1800km, "ambos os dois" dentro da caixa e da arnês com trela postos, trelas presas com um mosquetão ao carro, porque ao fim de 2 horas lá lhes abrimos as caixas, ou os deixamos ir ao wc (que vai connosco no porta bagagens e é posto à disposição no chão do carro, se precisarem do truque eu explico) e assim não há fugas por causa das portas abertas.

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    3. Ufa, devem ter muito bom feitio, para aguentar a viagem! A nossa é só de 50 minutos, vão dentro das transportadoras, e estas presas com os cintos de segurança (passa-se pela pega da caixa e prende-se), não vá o diabo tecê-las.
      Gostava de conseguir por um arnês à Selina, facilitaria muito apanhá-la :D

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  2. Coisinhas mais fofinhas :D. Será seguro levá-los de viagem? Não fugirão do local para onde vão?

    Os mais velhinhos devem achar q todos vós sois doidos, lolol.

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    1. É seguro: ficamos num apartamento sem acesso ao exterior e, apesar de ser um andar alto, já temos uma série de rotinas de segurança (a nossa Amélie ia sempre connosco). Nunca há uma janela aberta sem que a persiana esteja baixa, não vá o diabo tecê-los.

      A Scully a olhar para os mai'novos parece uma velhota a comentar"ai esta juventude" :D

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    2. Sim, ela tem esse ar de "no meu tempo" :D

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  3. Eheheh, os gatos mais "antigos" mal sabem que também vão ter uns dias de férias... da criançada!

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    1. Sim, por um lado é bom, porque têm uma folguinha, mas por outro não há cá acesso à varanda e pátio, tadinhos...

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