segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Do you believe in fairies?

Não me belisca minimamente que exista quem não goste de Star Wars. Não me incomoda um nanosegundo que haja quem não entenda o fenómeno, e pasme perante o mesmo. Não me chateia, e até brinco com o facto de, haver quem confunda ou não distinga Star Wars e Star Trek (pagãos!, ateus!, hereges!). Cada um gosta do que gosta, cada um é para o que nasce, inserir aqui mais um chavão respeitador da diversidade de gostos, etc, viva o amarelo. O que já me causa alguma perplexidade é a alegria quase cinzenta e engravatada com que algumas pessoas se distanciam disto tudo. Uma alegria com o suave odor de acinte e uma nota de bazófia. Ó pá, tudo bem, não gostas não comes, isto não é o refeitório da escola, não há menu único em que no dia de iscas passa tudo fome. Mas fazer pouco da "cena" não é uma inocente manifestação de opinião. É raro ouvir um simples e singelo "não gosto, não é a minha onda." Não raro, a opinião é polvilhada de considerações sobre os que mergulham histeriamente ou mais discretamente nessa onda. E é isto que não percebo. Ou antes, até. Precisam mesmo de se sentir importantes, superiores, melhores, é isso, não é? 'Tá bem, levaide a bicicleta. Eu (e muitos) ralada. Sou capaz de apostar que os fãs não são virgens nisto do achincalho. Lembro, sem saudade, aquela vez em que um indivíduo - que nem era meu conhecido, antes daquele dia, mas ali estava como amigo de conhecido - me gozou intensa e longamente por causa de... um álbum de BD. Uma jóia de pessoa, cheia de predicados e interesses elevadíssimos, decerto, que não teve problemas em me gozar intensa e longamente por "ler aquela merda". "Aquela merda" por acaso até é a nata das natas, dentro do género, mas adiante. Um gajo não dá conversa a caralhetes. E não o mandei para a meretriz que o deu à luz porque, apesar de tudo, tive mais consideração pelas pessoas que o tinham trazido à boleia que por ele.
Anyhoo. Cada um gosta do que gosta. Não preciso que me expliquem porque não gostam de Star Wars, como não preciso que me expliquem que não gostam de chocolate, há (des)gostos para tudo, credo. Mas, já agora, um livro de estilo. Não precisam de nos explicar, devagarinho e de olhinhos muito abertos, que aquilo é tudo fantasia. Nós sabemos. E vocês, rigorosos realistas, contam histórias do Pai Natal aos putos, inscreveram-nos na catequese?, que bom p'ra 'ocês. Também escusam de gargalhar alarvemente por haver adultos que têm bonecos dos personagens, ou montam legos alusivos, ou até se vestem como os seus favoritos. Se começarmos a escarafunchar, ainda descobrimos que se vestem de matrafona no carnaval de Torres, e nisso não vêem mal algum. Chacun à son goût. Live and let live. Somos todos ridículos, aos olhos de alguém. Tenhamos alguma graciosidade e generosidade em admiti-lo. E há espaço para tudo. E ninguém se define por uma parcela dos seus gostos. Uma pessoa pode, sem qualquer problema e desconsideração, ter Céline na mesa de cabeceira, ao lado de Borges e Blake e Mortimer. Não que eu conheça alguém assim, é só um exemplo. Star Wars não é Fassbinder, nem sequer Fassbender, mas há ocasiões em que uma pessoa só se sacia com panna cotta e outras chega pão com manteiga, e sabem igualmente bem. É a tal maravilhosa da diversidade. E eu gosto mesmo muito de pão com manteiga. E gosto de gostar.

24 comentários:

  1. (como gosto de ti)

    Há coisas que de tão más que são, se tornam boas. Eu gosto e gosto principalmente da onda. Alguma coisa boa tem, que até a geração do meu filho mais velho, que já nasceu muito depois do primeiro filme, gosta. Quero cá bem saber dos comentários, considerações e aproveitadores de tudo e tudo para criticar e achincalhar todos e todos ;)

    (hoje vou ver com o meu filho adolescente e amigos!! opáaa, eles convidaram-me e eu estou nas nuvens, que para quem não sabe, um convite de adolescentes é coisa para nos deixar transidas de orgulho)

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    1. Uau! Um adolescente a convidar a mãe para o acompanhar, e aos amigos, é um euromilhões. Verdade. A minha sobrinha (14 anos, uf) anda cá uma chata, olha para nós como se fossemos o fim da linha, em termos de seres vivos :D

      É engraçado, mas esta "saga", tal como o Indiana Jones e o Regresso ao Futuro, envelheceu muito bem. Os meus sobrinhos já lhes deram o seu aval ;) (cojasmaboas da titi, já os avisei para irem ver rápido, e podermos trocar ideias no Natal)

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  2. 'Somos todos ridículos, aos olhos de alguém'. Pois, é isso mesmo. Eu não gosto de Star Wars, nunca me interessei porque não acho piada a cenas passadas no espaço, mas compreendo a histeria por um universo alternativo. Afinal eu hei-de gostar de HP até ao fim da vida e portanto não posso falar, né. Mas o que me encanita um bocado é haver histerias que são muito mais bem aceites socialmente que outras. E apesar de um ou outro achincalhamento, Star Wars é uma das histerias mais bem aceites que me consigo lembrar. Porquê que a histeria do 50 Shades of Grey foi tão achincalhada, por exemplo (e contra mim falo, que gosto de odiar o fenómeno)? Ou o Twilight, e afins. Parece-me que tudo o que é estereotipicamente associado a (homens) nerds é bem mais bem visto do que fenómenos dirigidos a mulheres/raparigas. Isto sem falar da questão da qualidade, mas se é uma questão de gosto, como discutir a qualidade ou quem é que define o que tem qualidade e o que não tem? Ralo-me muito com estas coisas.

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    1. Ah, o Harry Potter. Bate cá fundo, esse também :)
      O 50 shades e Twilight, pois, não me dizem nada. Os livros, não li. Vi uns filmes Twilight, mas achei aquilo muito mauzinho, acho que a jubentude merece melhor que uma história de pseudo vampiros que não é mais que um coming of age de uma garota, e com laivos de algum machismo. O 50 Shades, bom. Vi metade do filme, e depois macei-me. Tenho problemas com aquela história, e até onde vi pareceu-me uma pura e simples relação abusiva, a explorar o mito da violação, sob a capa de uma excitante iniciação da pobre virgem inocente (convencida a ficar e experimentar não pelo seu prazer, mas sim porque, no fundo, acredita que consegue mudar o macho e fazê-lo seu companheiro). Nada contra quem aprecia este tipo de erotismo, mas acho que se devia debater mais a ideologia subjacente. Coisas minhas, má sorte ser feminista ;)

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    2. Pois, conheço os problemas desses dois exemplos, a minha questão é se no geral quem achincalha também conhece ou se é só uma reação instintiva quando veem mulheres em histeria.

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    3. Boa pergunta, D.S., acho que é a segunda. E confesso: se não me faz confusão ver teens em histeria, com esta saga twilight ou o justin bieber, já mulheres de 40 anos a guinchar pelo vampiro adolescente, credo. creepy.

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    4. Pois, mulheres feitas tinham obrigação de 'know better', sim. Mas no outro dia li a expressão 'mummy porn' como descrição do tipo de literatura do 50 Shades e não consegui deixar de achar que há muitos laivos machistas no gozo que se faz a quem lê aquele tipo de livros (eu própria não consigo evitar rolar os olhos sempre que alguém me diz que leu/adorou 50 Shades of Grey, que consta que para além dos problemas que mencionaste aquilo está muito mal escrito).

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    5. Diz que sim, mas não sei que não li. Lembro-me que a Rita do Boas Intenções leu, e escreveu um post lindo.

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  3. ainda no sábado tive essa conversa com uma pessoa que insistia em gozar com o universo star wars. eu também gosto muito de star trek (talvez até mais) e foram esses filmes e o carl sagan que me deram todo um universo imaginário por explorar e isso vale muito.

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    1. O Star Trek tem uma magia muito própria, do bando de aventureiros que vão universo fora descobrir novas vidas e civilizações. Outro dia li no Oatmeal uma strip sobre o criador, o Roddenberry, e fiquei maravilhada. vou procurar e já te deixo o link.
      O Carl Sagan, pois. De uma forma científica também me maravilhou para a magia do universo.

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  4. Que post certeiro, Izzie.
    Tb me chateia quem diz que não gosta como se o objecto não gostado fosse um nojo absoluto.

    Era mesmo preciso dizer que era tudo a mesma merda e depois ficar chateada quando alguém disse que sexo e a cidade é anatomia de gray tb lhe parecia a mesma merda.

    Parece que ninguém saiu da adolescência, que é tudo segmentado. Como dizia a Rita, ng viu 50 sombras, mas o filme esgotou.

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    1. Bom, eu não vi, mesmo, as 50 sombras quando passou no cinema :P Não é a minha cena, lá está. A Anatomia de Grey também nunca me puxou (se calhar porque nunca me dei ao trabalho), mas a verdade é que cada um gosta do que gosta, né? E já descobri coisas fantásticas por recomendações improváveis. Nunca se sabe.

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  5. O Star Wars é o do Spock, certo? Aquele que parece um gorila e é amigo do robot dourado?
    :)) Não sou entusiasta e palavra que ainda fiquei ali a pensar na diferença entre o Wars e o Trek. Sim, é possível... Lembro-me de ver a trilogia em pita e na altura não desgostei, mas olha, a força não me agarrou e prontUs. Cada um com os seus gostos e mai nada.
    Dá-lhe!

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    1. AaaaaHHHH! Herege! Pagona! Ateia! :D
      É muito fácil distinguir uns dos outros, titi Izzie ajuda:
      Sta Wars: luta do bem contra o mal, democracia e plurarlismo vs fascismo e autocracia.
      Star Trek: bando de aventureiros espaço fora, vide descobrimentos portugueses, Fernão de Magalhães, mas com naves.
      Gallactica: as doze tribos de Israel, fugidas deserto fora, à procura da terra prometida. (na série original eram doze naves e tudo, acho).
      Pronto! ;)

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  6. Pois eu cá, não sei se gosto, logo nem sei se é a minha cena. Vai-se a ver e chega o dia em que vejo e acho que é a melhor coisa do mundo, a seguir ao chocolate. Até esse dia e depois desse dia também, é sempre bonito respeitar os outros. Dizia a minha avó, que me enfiava na catequese, querendo eu ou não.

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    1. Há quem diga que gostos não se discutem, mas eu acho que tudo está aberto a discussão. Agora se parto logo para a discussão com arrogância e superioridade, já perdi. ;)

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  7. Mas assim como há quem achincalhe quem gosta há quem o faça com quem não gosta. E em relação à literatura é um absurdo. Há quem olhe de cima a quem gosta de determinados livros (basta quem falemos de JRS e é uma desgraça) ou géneros (quando eu digo que adoro fantasia sou tantas vezes tratada como leitora de segunda).
    Por isso percebo completamente a loucura com o Star Wars, apesar de não ser fã (estamos a pensar fazer lá em casa uma maratona de todos os filmes porque já nos sentimos um bocadinho tolos) tal como percebi com o Senhor dos Anéis (vénia para os livros) ou o Harry Potter (como não leste os livros???? são tão bons!).
    E para quem por aí fala de HP e de fantasia aconselho muito a saga Mistborn do Brandon Sanderson (das melhores coisinhas que li este ano).
    E não percebo nada de BD mas gostava de perceber, por onde me aconselhas a começar (e não digas MAUS, pf, esse já conheço).

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    1. MAUS é muito bom, uai. Agora aconselhar BD, caramba, grande responsabilidade. Há tantos géneros, tanta coisa igualmente boa. Eu gosto de variar. O mercado americano é dos mais variados, há de tudo para todos os gostos, desde super-heróis (atenção, já há histórias muito boa neste segmento), a fantasia, policial.
      Eu tenho dois "mercados" de eleição, que são os principais "produtores" de BD: o franco-belga e o americano. No franco-belga há os clássicos como Tintin, Asterix, Blake e Mortimer, e depois outros mais "modernos". Gosto muito de Moebius (mistura de scy-fy e surrealismo) e Bilal (os escritos por P. Christin, que também escreveu para a série Valerian e Laureline, ficção ciêntífica mais leve). Do Bilal, acho A Caçada e A Cidade que não Existia um portento. E as Falanges da Ordem Negra.
      Num género autobiográfico, adorei o Persépolis.
      Americanos: dentro do género fantasia, Tudo o que seja escrito por Neil Gaiman (que por acaso é inglês, mas trabalha para o mercado americano) é aposta ganha. A magnus opus é a série Sandman (dez volumes), mas o 1642 também é muito janota.
      Outro inglês, mas também mais no mercado editorial americano, é Alan Moore. Obra prima: Watchmen (detestei o filme).
      Um pequenino que adorei: Ghost World.

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    2. Ena, obrigada. Por acaso já tinha ouvido falar de alguns (Neil Gaiman, por exemplo, mas não tenho coragem de começar pelo Sandman - é o Ulisses da BD, ou Persépolis) mas sou mesmo naba neste género...

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    3. Somos todos nabos, até começar. Comparada com me mate, eu sou nabíssima!
      A BD é como o resto: mais vale ter umas luzes, mas ir para a livraria e começar a folhear, a ver o que nos puxa ;) Boas leituras.

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  8. Consigo gostar do Star Wars, conheço os filmes, penso que já os vi todos, menos o que está agora no cinema, conheço a história e as personagens, e gosto dos actores mas não sou fã. Star Trek, nem por isso, sendo honesta nunca me dei ao trabalho, não conheço bem, nem quero fazer por conhecer, no entanto sei que o Spock é do Star Strek. O meu problema não é com o producto em si, ou qualquer outra serie "for that matter". O meu problema é mesmo o fanatismo e especialmente o "fanatismo de momento" porque está na moda, penso que gostar sem fanatismo é mais que suficiente, sem o "tenho que viver a minha vida baseada em . . . " ou "tenho que ver primeiro e vou passar duas semanas na fila". Isso não entendo, faz-me comichão e não gozo verbalmente porque cada um sabe de si, mas cá dentro irrita-me.

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    1. Bom, nisso de fanatismos, há para todos os gostos. Mas, ainda assim, percebo melhor o fanatismo dos geeks que passam duas semanas na fila para ver o Star Wars que os que fazem o mesmo para comprar o último modelo do telefone da maçã...

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    2. Nisso estamos de acordo, em todo caso qualquer fanatismo me faz comichão! Especialmente aquele de "Tenho que planear a minha vida conforme os jogos de uma equipa!"
      Mas como alguém disse por ai, somos gozados por ver ou por não ver, pois já fui olhada de lado (como quem diz gozada por "viver debaixo de uma pedra")por não fazer a mais palida ideia do que trata " A guerra dos Tronos"

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    3. E tungas, que também gosto da Guerra dos Tronos (já li todos, a série vai mais devagar, que já sei o que acontece). Mas não me faz a mínima comichão que alguém não goste, ora essa. Já eu, bem tentei e nunca consegui ler o The Hobbit ou o Lord of the rings...

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