segunda-feira, 13 de março de 2017

O ponto alto do fim-de-semana

Julguei que tinha ocorrido logo sábado ali pela hora de almoço, quando assistimos a duas indivíduas de etnia cigana a rematar uma discussão com um lojista de tez castanha com um "vai para a tua terra!".

Mas entretanto, no domingo à noite, dei com um post de um reputado escritor português, há muitos anos radicado num outro país europeu (para onde emigrou há décadas, em busca de uma vida melhor e um país onde não fosse perseguido ideologicamente, ó ironia), manifestando a sua intenção de voto no Wilders. Explica ele, entre outras pérolas, que partilha a sua ideia de deportar os marroquinos que, na Holanda, encabeçam as estatísticas da criminalidade (estou a citar, e não, não há link. como citado autor também não se dá ao trabalho de lincar a fonte de tal afirmação sobre as estatísticas da criminalidade).

É o remate, a cereja no topo do bolo, daquilo que me parece um fim-de-semana temático. Deportemo-los, portanto. Todo um grupo, porque xis por cento deles fazem merda, sem mais. Nada cá de averiguar se entraram legal ou ilegalmente, ou atribuir penas acessórias de explulsão apenas a quem seja condenado por prática de determinados crimes. Todos, to-dos porta fora, aahhh, e quando isso não resolver os problemas sociais, e seja necessário arranjar outro bode expiatório, hum, logo se vê, há tanta escolha, já dizia o outro, primeiro vieram pelos judeus e eu nada fiz.

Por este andar, porque não privar de direitos cívicos todos, mas mesmo to-dos os homens? Afinal também são eles que encabeçam as estatísticas da criminalidade. Vamos a isso, cria-se uma espécie de reservas, enfiamo-los lá todos, ou talvez não, pois não? Logo vi.

[removido da minha lista de leitura. já andava a ponderar de há uns tempos a esta parte, atento o teor de umas transcrições de colunas de opinião nesse excelso pasquim que é o correio da manhã. e não deixo de lamentar que alguém envelheça assim, amargo, carcomido por preconceito, afogado em fel.]

17 comentários:

  1. Não é esse o enconado muito apreciado por um dos bloggers mais paternalistas da blogoesfera? Admito que, só de ler os longos textos de homenagem e as citações, já ficava enjoada.

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    1. :D eu não o apelidaria de enconado, caramba! Posso não concordar com as ideias dele (anda avinagrado que agonia) mas gosto dos livros (os que já li, pelo menos.
      Sim, houve ali uma fase de bromance com o pipoco, mas eu não li esses textos - ainda falam mal das mulheres, credo, aquilo era adocicado que enjoava.

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  2. ... é o José Rentes de Carvalho?

    Also: https://www.facebook.com/RabidFeminist/photos/a.371249409573054.87983.371082499589745/1294102180621101/?type=3&theater

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    1. Esse mesmo. Fiquei pasmadinha, não esperava. Que andava a veícular ideias muito amargas, é um facto; que se tivesse transformado num angry white old man, nunca acharia compatível com o nível de inteligência que lhe achava. Numa penada, adere às ideias que a)se deve deter os refugiados por não termos capacidade para os acolher (dava um dedo mindinho para saber se chegou "legal" à Holanda, e se já lhe faltou comida no prato, por contribuirmos para os refugiados); b) deportação dos marroquinos, porque parece que são maus; c) iadaiadaiada contra o politicamente correcto.

      Adorei o cartoon: é isso mesmo, se abraçamos uma lógica populista e simplista, homens, tenham cuidado.

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    2. Lá está a razão para o "enconado". Os textos da criatura enrolavam-se, eram uma xaropada preconceituosa...de outra forma, não seria apreciado por quem e.

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  3. Vivemos tempos interessantes, como naquela praga chinesa. Difíceis, arriscados mas também muito úteis, as pessoas revelam-se. Neste caso para mim é pouco surpreendente, outros serão desilusões. Mas eu gosto das desilusões penso o mesmo que da reforma: o mais cedo possível, e mesmo assim será sempre tarde.

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    1. Pessoalmente, preferia tempos menos interessantes, em que as pessoas não fossem tão poucochinhas a ponto de acreditar que o mal será vencido deportando-se marroquinos ou impedindo iraquianos de entrar.
      Senti como uma desilusão, embora certos artigos já o deixassem adivinhar - mas eu tinha lido a sua saga em Com os Holandeses, mantinha alguma esperança. E sim, o mais cedo possível.

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    2. Partilho da opinião da Rita (para quando o regresso??): é deixar que se revelem.

      Ah, o Trump era tão bom, mas parece que vamos ficar sem seguro de saúde. Ah, a Le Pen, afinal, anda a lamber cus a outros políticos e a roubar dinheiro da UE.

      Ah, bloggers que vieram, espumante da boca, acusar a esquerdalha de censurar uns tipos e, agora que sabe que não houve censura, que os tipos são neo-fascistas e queriam levar milícias armadas para dentro da faculdade, continuam sem corrigir o post. Ah, os bloggers que só falam nos direitos das mulheres quando é para atacar o Islão. Agora, sabemos quem é quem. Só espero que não repitam os os erros do passado. "Fool me once, shame on you, fool me twice...".

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    3. O Islão é feito de muita gente, não podemos por todos no mesmo saco. Seria tão injusto como confundir toda a cristandade com uns loucos que culpam os homossexuais pelos desastres naturais...

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  4. Se nem um escritor percebe essa ironia, o mundo vai mesmo mal...
    Mas se ele for como os emigrados da geração dele que conheço, há os emigrantes de primeira e de segunda categoria, logo, não estão todos no mesmo saco. Ainda que, no caso dele, aposto que se considera expat, exilado, ou outro eufemismo qualquer.
    Paula

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    1. Paula, oh, o que eu gosto dos snobs que se qualificam como expats, para não serem confundidos com a ralé :D Até parece que é vergonha, emigrar. No caso deste, não sei, mas que lhe falhou a ironia, isso falhou.

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  5. E a entrevista à antena!, diz que não acredita que vá ganhar, mas por fazer uma boa oposição e de dizer que em cima, em baixo ao lado, já não há Holandeses, epá que falta de senso, então e ele, enfim até me custa ouvir, quem possa (parecer) escrever tão bem e depois suja as mãos e a boca assim que triste e a crónica sobre o Soares, enfim e eu era fã do Senhor (o Soares leia-se, do outro até gostava mas está a cair tão rápido...)

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    1. Misha, essa de não acreditar que vai ganhar, blablabla é só um voto de protesto, bom, correu lindamente aos britânicos, agora choram. Ainda que fosse protesto, a verdade é que afirma sem pudores concordar com políticas puramente xenófobas, e não acho normal, não acho mesmo. Humpf.

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    2. E hoje ao DN já dizia que se ganhar, é um 1755 na Holanda, o homem decida-se!!!!
      aos brits, aos eua, aos filipinos, enfim, os problemas duma democracia...

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  6. Olha, uma desilusão. Mais uma vinda de quem esperávamos mais. Mas o trump ganhou, o brexit ganhou (e, estou convencida, ambas as situações se repetiriam hoje) e ainda vamos ter outras surpresas nesta Europa/Mundo.

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    1. Patrícia, fiquei muito desapontada. Que ele andava amargo, atribuí à idade, saturação, desilusões; mas caneco, sair um trumpista? Para mim chega de surpresas, obrigada. Já preenchi a minha quota :D

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  7. Já agora, muitos dos marroquinos residentes na Holanda não se consideram marroquinos, mas sim habitantes do Sahara do Sul, um estado que há anos procura a independência. Nem sequer têm o árabe como língua materna. Ou seja, são duplamente discriminados: em Marrocos e, agora, na Holanda.

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