segunda-feira, 11 de abril de 2016

Because the sky is blue

E eu, que nunca fui de montanhas russas, de rodas gigantes e sequer de carrosséis, ontem fui acometida de uma vertigem aterradora, enquanto confortavelmente sentada num também muito confortável sofá, enquanto assistia a uma não menos confortável repetição de uma série que já sabia ser causa de um confortável morninho interior. Sem surpresas, sem angústias visíveis, um domingo em branco ainda a iniciar-se, e cai de repente a certeza de que não tenho e nunca terei certezas nenhumas na minha vida. Nada, antes, o nada a bailar-me em frente dos olhos. Sei apenas o agora muito imediato, o daqui a cinco minutos poderá ser previsível e até planeado mas mantém-se desconhecido, o daqui a seis meses é apenas absurdamente longínquo, o daqui a dez anos um buraco negro. O que serei, onde estarei e com quem? Que tapete debaixo dos pés? Não sei, não posso saber.
E pronto, foi o que aprendi até agora, resta aprender a (saber) viver com esta aquisição.

10 comentários:

  1. Eu tenho sempre aquele certeza aterradora de que o pior está sempre por vir... felizmente na maior parte dos dias isso não me atinge.

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    1. Também acho sempre que ainda há uma tempestade por se abater, mas desta vez nem foi bem isso, foi mesmo uma sensação de vazio total. De não ver nada à frente, ou pela frente. É estranho.

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  2. isso mesmo.
    talvez revele a ingenuidade com que tenho levado a minha vida, mas a maior lição que tenho aprendido nos últimos tempos é mesmo de que nada é garantido, absolutamente nada. Como se lida com isso, são outros quinhentos.

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    1. Wallis, acho que intimamente sabemos isto desde sempre, mas há aqueles momentos em que se olha para a frente e não se vê nada, porque se sabe que não se pode, verdadeiramente, projectar nada. E saber lidar com isso, pois. agora que se ganha essa consciência, como.

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    2. Sim, intimamente saberemos... mas sabes como é, estou muitas vezes em negação :)

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    3. A negação é uma forma de vida, pá. Muito saudável, nos dias que correm #etudolindoesoufeliz

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  3. Sei exactamente do que falas e evito pensar nisso. É como o: "se o Universo contém tudo, o que é que contém o Universo?". Uma pessoa fica tonta.
    As bases do Budismo assentam nisso, em praticar o desapego da ilusão do absoluto, fixo ou concreto (tentei reescrever isto de várias formas e soou sempre confuso).

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    1. Fuschia, eu também evito pensar em muita coisa, mas as coisas têm o mau hábito de me saltar ao caminho, à traição :P Estava eu tão posta em sossego, tão confortavelzinha e pumbas. Resta dizer que hiperventilei, quase tive uma crise de ansiedade, mas enfim.

      (e pode soar confuso, mas não é muito confuso, acho eu)

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    2. tiveste um momento de hiperrealismo :D

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    3. Eu chamo-lhe um "aijasus qué que me deu agora, bolachinha já". A sério.

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