sexta-feira, 12 de junho de 2015

Então bom dia, Lisboa

Começar bem o dia? Indo buscar uma encomendinha ao Parque das Nações. Pá, que cu de Judas. Ou onde este perdeu as botas. Sim senhora, a construção é moderna, há arvorezinhas, mas pá. O trânsito, o trânsito! Sim, porque dali não se vai a lado nenhum sem ser de carro. E que carros. Tantos de marca Patus modelo Bravis. Mas ai de quem disser que aquilo é um dormitório, um amontoado de prédios, um subúrbio em fino! Cai-nos logo em cima o Carmo e a Trindade. Qual subúrbio. Embora as coordenadas estejam ali mais perto de um Sacavém, ou uma Moscavide, Le Parque é la créme, nada de confusões. Novidades: passou-se o mesmo noutras décadas do passado. Lumiar (ali para Santa Clara, Quinta das Conchas ou do Lambert, ou mesmo a tal de Alta, coladinha a habitação social), Telheiras, tudo subúrbios mas um nadinha menos periféricos que os outros, habitat preferencial da classe média-alta emergente. Ah, a soberba com que Telheirinos e Lumiarescos olhavam os outros, os mesmo-mesmo suburbanos. Fofos, é igual. Apenas mais recente. O estilo de vida, de urbanismo, de trânsito, de transporte, é tudo igual. Ah, temos o rio. Tem graça, é o mesmo corpo de água que banha o Barreiro e Almada. E vocês ficaram com a mosquitada e melgaria toda, calha bem.
Cereja no topo do bolo: quarenta minutos para chegar ao trabalho, nas Avenidas Novas. De casa, e de carris ou metro, não levo mais que meia hora. Sim, sim, é um privilégio morar ali. Então não?

17 comentários:

  1. Serve bem a quem lá trabalha, para poder ir a pé. Fora isso é mesmo parvoíce (ainda que melhor do que a Alta, por amor de Deus).

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    1. Sim, mas isso aplica-se a qualquer bairro ou urbanização, trabalhar a walking distance de casa é um luxo. Se é melhor que a Alta, não sei. Fui uma vez à Alta, aqui há 13 anos, quando fui procurar casa nova, e fugi. Em termos de construção e organização parece-me muito semelhante, e sempre com o verniz do "luxo".

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    2. Acho que a diferença da Alta é que tem muito espaço, ainda tem muito por onde crescer antes de ficar um amontoado igual ao Parque das Nações. Mas vai pelo bom caminho, porque pelo que pude ver outro dia em vez de construir cidade estão a fazer como o costume, montes de prédios uns em cima dos outros separados por quilómetros de baldios. O luxo deve viver-se mesmo ali em cima do vizinho, se não não há ninguém para ver.

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    3. A Alta não tem nada de bom. Parece o Carregado mas com casas novas. Já Telheiras é outra conversa, na parte antiga até nem se está mal. Mas sinceramente, pelo preço que custa uma casa nestes sítios, meu rico centro de Lisboa.

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  2. Esses projetos novos começam sempre com planos muito bonitos, vai haver espaço, vai haver jardins, vai haver... ... mas eis que repentinamente são plantados em Portugal e são sujeitos a condições atmosféricas especiais, os ventos das pressões imobiliárias, um microclimazinho de corrupção e um público muito mais ávido de status do que de espaço, jardins ou qualidade de vida e puff, fez-se o Chocapic (que é como quem diz, mais um aglomerado de prédios, com sorte mais bonito e agradável que o Cacém, com azar nem isso).

    Eu como andava lá na escola vi crescer Telheiras e vi o que aconteceu a todos os baldios que iam ser jardins quando fossem grandes e que tanto faziam brilhar os olhos dos moradores orgulhosos - num deles, construiram prédios. Noutro, prédios. E noutro ainda, prédios, cada vez mais, cada vez mais próximos uns dos outros.

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    1. Eu vivi em Telheiras, mas já na Telheiras hiper-urbanizada. E fugi para o bas-fond, aka, bairro central com autocarros e metro, população variada, prédios com mais de 50 anos. Há algum caos urbanístico e coisas más, mas já não trocava - talvez por Alvalade, quando for ryca e puder comprar o tipo de casa que quero. Em Telheiras tinha de ir a todo o lado de carro, o 47 passava de longe em longe, havia muita habitação social concentrada, com problemas gravíssimos porque misturaram etnias que não se davam (ciganos + cabo-verdianos = confusão constante). Enfim, not for me.
      E ainda andei a fazer uma prospecção de mercado, mas aconteceram duas coisas engraçadíssimas: 1- os preços eram ridículos, mesmo de casas usadas. 2- Os T2 novos tinham todos, mas todos, 2 estacionamentos, o que explica tanta coisa sobre o tuga. 3- fui tratada com algum desprezo por vendedores, porque ao fim-de-semana, quando me dedicava à tarefa, não tinha um perfil de hum, classe média-alta emergente.
      Tanto melhor: arranjei uma casa por menos e com maior área, de onde se vê e desfruta verde e p'ssarinhos. Tá-se.

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    2. Esqueci-me de dizer isso, que Telheiras quando se pensou ainda foi planeada com alguma diversidade social, mal ou bem realizada é outra questão, mas tentou-se pensar cidade. Aí, zero semelhanças com o Parque das Nações, que estava desde o princípio condenado a ser habitado pelos nossos jets 5-6.

      (uma coisa que nunca hei-de perceber é o fascínio português com as casas novas. Antes de me terem alertado para isso, nunca tinha imaginado sequer que fosse uma coisa valorizada por alguém. Nisto sou toda berlinense, quero construção antiga, por favor, e de preferência com tectos muito altos - gosto da construção da Alvalade, mas prefiro a pombalina)

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    3. Também não percebo o fascínio pelas casas novas. Quando ficam muito surpreendidos com a idade do meu prédio (79), eu respondo que se não caiu até agora é muito provável que ainda aguente uns anos. E tem um índice de vetustez janota, ou seja, IMI baixo! O pé direito com 3 metros é uma mais valia, sim senhora. Já me sinto um nadinha claustrofóbica na casa dos meus pais. Mas em Alvalade tens ainda alguns exemplos do melhor dos dois mundos: placa de betão e pé direito alto, em prédios ali da década de 40/50.

      A diversidade, pois, no Parque das Nações não entra. Aliás, uma parte daquilo pertenceria ao município de Loures, e houve muita pressão para ficarem em Lisboa. Tal como houve muito lobbying para terem uma freguesia própria - não queriam misturas com os Olivais ou Moscavide - e uma zona escolar própria, com fronteiras muito bem estudadas - não queriam os rebentos nas escolas dos Olivais e Moscavide, e não queriam os petizes destas zonas na magnífica escola modelo lá deles. E isto aconteceu também em Telheiras, que tem excelentes escolas, mas escolhem a dedo os alunos. E sim, isto passa-se em escolas públicas, há segregação deliberada. Olha, eu andei na escola com pobrezinhos e não me fez mal nenhum. Ah, espera, fez de mim xoxialista, espera...

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    4. Eu acredito muito nas misturas, nas escolas e nos bairros, embora tenha feito o secundário todo numa escola privada (ou numa escola pública de outro país, para ser mais exacta).

      Mas concordo que o Parque das Nações devesse ser uma freguesia - sempre que se misturam zonas muito diferentes numa mesma representação política local, fica toda a gente a perder, as zonas mais rica porque há problemas mais urgentes a resolver nas zonas mais pobres, as zonas mais pobres a perder porque as pessoas das zonas mais ricas têm mais voz e poder, as zonas com mais espaços verdes a perder porque é mais urgente criar os das zonas vizinhas do que cuidar os que existem, e por aí fora. É também por isso que acho que a Baixa devia ter sido acrescentada ao Chiado, e não à Mouraria/Castelo/Alfama. Aconteceu a mesma coisa em Berlim com Wedding acrescentado a Mitte, um dos bairros mais pobres de Berlim na mesma "freguesia" que os Portões de Brandenburgo.

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  3. (já o rio, é favor não desfazer do rio. É lindo, sempre lindo, em todo o lado, em Cacilhas, no Barreiro, no Seixal, no Parque das Nações, em Alcochete, no Restelo, em Alfama e em qualquer lugar de Lisboa de onde se lhe aviste um quadradinho que seja. E deve valer os mosquitos todos, se se estiver mesmo em frente àquela imensidão de azul)(aviso à navegação: esta comentadora tem uma imensidão de azul e está a planear nunca a perder. Nem que seja preciso ir para o Montijo, ou para o Parque das Nações)

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    1. (eu não desfaço no rio, mas precisamente, uma vista dessas vale tanto em Cacilhas como em Alfama como no Parque.)
      (esta autora do blog tem muita inveja de quem tem essa vista, e sonha um dia também ter, além do verde, azul. mas no Parque é que não, tenho planos de enriquecer e comprar um prédio no Castelo, na Graça, Sé ou em São Vicente. peço pouco, eu sei. mas com terraço e logradouro.)

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    2. Por acaso pedes muito, que esses prédios desde a airbnbização são valiosíssimos, mas estou contigo (o meu sonho é igual, jardim e Tejo, e até sei de quem tenha e tudo).

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    3. Sabes de quem tenha conseguido o graal? Puxa, ainda bem que não conheço, que falecia de inveja. (gosto muito da Lisboa velha, mas para este lado, a zona de Alcântara e Belém não me fala ao ouvido)

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    4. Sei, é minha vizinha e julgo que tua leitora :)

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    5. (babando e quase a sufocar em sucos salivares)

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    6. Vou-te mandar o perfil dela no Instagram. Não vais gostar nada, porque como se o resto não bastasse também tem muito bom gosto, cozinha coisa com muito bom aspecto, tem uns filhos giríssimos e é amorosa.

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    7. Ele há pessoas que nasceram para nos fazer inveja, está visto.

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