sexta-feira, 5 de junho de 2015

Don't have a cow

Percebo perfeitamente o misto de antipatia e gozo que os vegans suscitam: são pessoas muito chatas. Para ser justa, não são as únicas pessoas muito chatas, nem serão as mais chatas, mas são chatas que se farta. É natural, o proselitismo faz pessoas muito chatas. E, quanto mais minoritária é uma determinada corrente de pensamento, filosofia de vida, crença, mais chatos são os seus defensores. É assim, e não tenham dúvidas: aqui há coisa de 2000 anos os cristãos eram gente muito, muito chata, e prova disso era o gozo com que os seus opositores os eliminavam, empregando requintes de malvadez de um grafismo marcante.

Mas, sejamos ainda mais justos: o facto de serem muito, muito chatos, a pontos de ninguém manifestar o desejo de repetir a experiência de os ter como companheiros de mesa num jantar (been there, done that, got the t-shirt), não significa que não tenham razão em algumas coisas. Os relógios parados também acertam duas vezes por dia, os vegans não são excepção. Têm é uma forma muito, muito chata (repito-me, eu sei) de ter razão. E escolhem mal as batalhas. E não têm noção de timing. Nem estratégia comunicacional. 

Ora bem, voltando à tal da razão. É verdade que nós, os omnívoros, gostamos de separar as águas, e até de nos incluirmos no grupo dos animal-lovers, mas, hélas, temos de comer, e isso é natural, e iada-iada-iada. Mas, indo ao fundo da questão, e sendo verdade que temos de comer, não existe uma diferença ética significativa entre degustar um canídeo, um gafanhoto, ou uma bela febra de porco preto. Só uma diferença civilizacional, geográfica, cultural. A verdade é que, nos entretantos, um bicho morre. E um bicho é, de facto, um ser senciente, sabemo-lo agora porque science, bitch. (Achamos que os vegetais não são, mas mantenhamos a mente aberta.)

E pronto, é isto, comer animais implica morte dos ditos, e ou vivemos com isso ou não. Eu vivo, não significa que goste, e até admito que se tivesse eu que executar um para o jantar marchava antes sopa com salada. Até vou mais longe, incomoda-me uma nica, mas pronto, vivo com isso, e não faço distinções entre espécies, do género “a Cornélia merece morrer para me alimentar mas nem toques no Bobby”. Portanto, concordo com os vegans quanto ao “especismo”, i.e., hierarquização das espécies animais conforme nos dá mais jeito, e mata-se uns porque se come e os outros têm direito à vida porque são fofos. Acho que racionalizar este entendimento é hipócrita e não tem fundamento ético, adiante. 

Sem embargo, e numa base puramente emocional, é claro que me faz mais impressão a morte ou utilização de um chimpanzé em experiências que um ratinho, o primeiro partilha mais de 90% de adn connosco, e admito, e friso, que isto é puramente emocional, que afinal no grande plano das coisas somos todos carbono vivo e tal. Resumindo, não me sinto melhor pessoa por ser omnívora, mas também não me sinto (muito) pior pessoa. É uma opção, vivo com ela, e não ponho paninhos quentes. Assumo-me como membro de uma cadeia alimentar, e como também não levo a mal que pequenos vermes ou parasitas se ocupem de fazer pela vida à custa desta aqui, também não acho um crime horrendo sobreviver à custa de outros seres vivos. Não é excelente, não é ideal, não me desculpo, mas também não perco o sono por isso. 

O que já me faz perder o sono são coisas que, na minha (e sublinho, minha) escala de valores situo mais alto, como uma falta de respeito flagrante que, enquanto espécie inquilina deste ecossistema, o tratamos. E passando só ao tema “bichos”, sim, incomoda-me a displicência com que, em geral, este animal racional trata os demais, só porque estamos no topo da cadeia alimentar. Nem falo de temas quase consensuais como os maus tratos a animais de companhia, mas também a forma como tratamos o nosso alimento, enquanto vivo. 

E é aqui que, entrando pela vertente do timing e estratégia, os vegans perdem imenso. Valerá a pena empunhar a bandeira dos direitos do caracol enquanto a criação de gado e aves se faz nos moldes actuais? Pois. Para um vegan a resposta é afirmativa, nem se esperava outra coisa (é a cena do especismo, aliada ao chatismo), mas, caneco. Não é muito eficaz, em termos de angariar simpatia para o movimento. Isto sou eu, mas se calhar começar a discussão com, por exemplo, e haverá mais, a questão da criação de galinhas em gaiolas, ou o transporte e abate de gado, fosse mais profícua. Uma coisa de cada vez. Passinhos curtos e bem medidos. 

Apelar ao boicote da caracolada enquanto nos supermercados se vendem, a preços de uva incontinente, frangos criados em caixotes, engordados a antibiótico e farinhas proteicas – fabricadas a partir de… carne, uau –, sem verem a luz do dia, empilhados e a pisar os seus dejectos – que se acumulam nas parcas seis/oito semanas de existência destes seres, e só após o seu abate são limpos, para receber nova mole de pintos -, não leva a nada. As pessoas precisam de uma escala, de uma graduação, de partir do mais gravoso para o menos gravoso. As pessoas precisam de um processo. Além de que as pessoas são emocionais, e é mais fácil criar empatia com um ser que cacareja ou alegra as paisagens pastoris que com um ser vil, rasteiro, insidioso, que sai de noite para nos chacinar os lindos, jovens, tenros rebentos de salsa que ainda ontem verdejavam em pura alegria*. 

Tergiverso. Ahém. A cena de ser emocional. Isso. 

Conquistem o omnívoro, não o alienem, não o agridam, não o excluam. Pensar nisso. E sim, se calhar vós até estais num patamar civilizacional superior, mais avançado, vá; admito até que sim senhora, sois dotados de um nível de empatia superior ao meu, e reconheço que isso vos faça sofrer insuportavelmente por todos os bichos, e não vos diminuo ou faço piores por isso. Mas caneco, nem sequer Roma e Pavia se fizeram num dia, tende paciência e, ouso dizer, alguma inteligência, e até empatia para com os bacon-lovers. Afinal existimos todos, temos de nos aturar, e mais vale trabalhar em conjunto que andar a discutir quem são os melhores. É que no entretanto o resto continua, e assim é que não se avança nada. Agradecida.



*se algum vegan se oferecer para ir lá a casa catar os gastrópodes, levá-los e libertá-los em meio livre, correi, que amanhã vou-me a reabastecer de limacide e dar início ao holocausto.

34 comentários:

  1. Não conheces o truque da cerveja para as lesmas?

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    1. Conheço, mas o mini-garden não tem espaço para enterrar um copinho com cerveja. Pá, juro, dizimaram a salsinha. Já estão temperados, portanto.

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    2. Pois, são lixados. Por acaso não nos deram cabo das alfaces (estão lindas) mas volta e meia o manjericão leva um avanço - só que agora não queremos pôr veneno devido ao infante que anda sempre a meter o nariz em tudo.

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    3. Pois, o limacide é capaz de ser tóxico para o bicho... No minigarden não tenho esse problema

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  2. És uma espécie de Emma Watson meets Pipoco dos direitos dos animais :P

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    1. Oh, Rita, soou assim tão pedante? :P
      Atenção, friso mais uma vez, caso não tenha ficado claro: acho que os vegan têm carradas de razão. É pena é a forma como a verbalizam. Assumir uma espécie de superioridade moral, mesmo que exista, é tão irritante. E deixem-me lá com o pouco bacon que já como....

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    2. Não soou nada pedante. Mas soou um bocadinho a "é muito importante não hostilizar o inimigo se queremos chegar a algum lado" e a "são tão radicais que perdem a razão que tinham", que é uma coisa que se ouve muito quando se discute discriminação de género ou privilégios de raça.

      (dito isto, eu assumo publicamente que os defensores dos direitos dos animais me cansam muitas vezes e que, não podendo lutar por todas as causas, a sua não me é prioritária)(e que gosto de bacon e ainda mais de ostras cruas)

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    3. A parte Emma Watson percebi, e concordo, é a minha postura dominante, nestes temas fracturantes ;)
      Quanto a este assunto em particular, não, não acho que tenham perdido a razão, porque tenho que, honestamente, reconhecer que a têm. Acho é que foi mal jogado, só. A hostilização dos comportamentos com que não concordam, também não me choca. Se não o fizessem a denúncia a que se propõem perderia força. O que me aborrece é a postura do nós contra eles. E acho que não lhes retiro legitimidade quando assumo uma postura crítica quanto às bandeiras escolhidas. A campanha é legítima, fundada. Mas não é eficaz, e, parecendo que não, isso é mauzito. Chateia-me ver gente que tem razão escolher más estratégias.
      Dito isto, sim, são muito chatos, faz parte.

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    4. Sim, claro, eu acho que se pode sempre discutir a pertinência e inteligência da comunicação, especialmente quando ela não é espontânea mas sim estratégica, como é o caso.

      (mas também por aí não sei se não terá sido bem esgalhada: toda a gente falou deles e até eu que não como caracóis descobri que se cozinham crus. Por outro lado, continuei a planear comer ostras vivas, sem sequer ter a delicadeza de as matar)

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    5. Ah, as ostras não têm sistema nervoso central. Vem a mim oh superioridade moral #longlinewikipedia

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    6. Nem os caracóis. Esse tem sido o argumento dos omnívoros. todavia, sentem o calor e fogem dele. Mas há plantas que também "sentem" mudanças de temperatura e outras agressões, e, pasme-se, há plantas que comunicam (através de emissão de substâncias químicas). E agora? Complicado, hein?
      (há uma vertente mais radical dentro dos vegan, os frutívoros, que só se alimentam de frutos que se separaram da planta, tóing)

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    7. Vou ficar pelo bacon, a superioridade moral alimentar está a começar a parecer-me demasiado complexa e volátil.

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  3. Também não acho que tenha sido a estratégia mais inteligente, mas não considero que nos caiba questionar. Todos têm o direito de defender as causas que entendem e entrar numa hierarquização do "mais defensável" parece-me uma hipocrisia dos "não vegan". Não percebo a polémica à volta da defesa dos caracóis pois o acto de os matar e comer é, do meu ponto de vista, muito semelhante ao de matar e comer outros animais (ainda que o humor à volta disso tenha valido a pena :p ). Aliás, acho que é pior do que em alguns animais pela forma como o fazemos, sendo que está provado que eles sentem dor, e é desonesto ridicularizarem, comparando a couves, alfaces e tudo o mais. Há vegans muito chatinhos sim, tenho alguns no facebook que passam mais tempo a chamar-nos de assassinos do que em se focarem no que defendem de uma forma positiva, e isso não me gera empatia nenhuma. Pior, quando passam a vida a meter posts do quanto o ser humano é um bicho terrível, quando nunca metem nada da miséria humana por oposição à miséria animal, como se os animais fossem mais importantes do que nós. Não acho que sejam mas evoluídos que os outros, apenas que despertaram para algo com mais força, assim como muitos de nós despertaram para outras coisas (eu por exemplo, depois de ser mãe, despertei mais para a forma como tratamos as nossas crianças e imagino o revirar de olhos de alguns quando partilho um artigo sobre algo que defendo sobre esse assunto - e não acho que o que meto ou deixo de meter tenha de ser adequado ao grau de receptividade dos outros).
    Enfim, resumindo, e como escrevi num post, apesar disso continuo a comer carne, caracois etc. A diferença é que admito que é uma escolha que faço, sem querer andar a provar que eles estão errados, porque não acho que estejam. Sim, contribuo para a chacina de imensos animais e sim, isso não é bonito. Sou egoísta... Beijinhos ;)

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    1. Mãe sabichona, concordo com tudo. Tudinho. E sim, não temos que lhes exigir formas de luta aceitáveis, mas eu gostava que fossem um bocadinho mais inteligentes nas abordagens que fazem, porque, lá está, é uma causa que me é simpática e acho que tem muito mérito. Está campanha dos caracoles fez-me mandar as mãos à cabeça, pronto. E eu nem cozo animais vivos (não consigo comer sapateira, lagosta, e camarão ou bivalves só os congelados, coisas, é mau à mesma, mas faz-me menos impressão). E claro que não pode haver uma hierarquia, defendo isso mesmo, e a minha hipocrisia e a dos demais ao acha-lo. Mas isto do nós contra eles é tão palerma, acabamos todos por nos focar na luta de ver quem é melhor em vez de fazer avançar as noções éticas. Enfim. E como eu sou eu, não resisto à provocação, porque aposto que muitos vegan não se opõem à eliminação de pragas, né. Lá está. Assim como um agnóstico é um ateu sem tomates, muitos vegan são budistas sem tomates. E tomam b12 feita a partir de animais. E outras coisas. Tirando a parte mística da coisa, de achar que um piolho pode ser a nossa querida avó reencarnada, os budistas têm a coragem de seguir a filosofia até às últimas consequências.

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    2. Eu vinha só aqui dizer que sou agnóstica e estou bastante satisfeita com o tamanho dos meus testículos. Não sei mesmo se Deus existe ou não, acho que as duas convicções são uma questão de fé não demonstrada pela ciência, não há provas de que existe nem de que não existe, e não sinto necessidade de ter opinião sobre isso nem acho que seja a pessoa mais capaz para resolver essa questão. No fundo, estou a seguir até às últimas consequências a filosofia "só sei que nada sei".

      (e gostei muito do comentário da Mãe Sabichona)

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    3. Eu defini-me como agnóstica durante muitos anos, porque estava - erradamente - convencida que o que definia o ateu era a certeza da não existência de Deus. Não é assim; o ateu não acredita, e esta é a única certeza que tem. Quanto à existência de Deus, o ateu considera, com um grau de probabilidade maior ou menor (eu situo-me no alto) que a sua existência é improvável; mas aceita provas do contrário.
      Quanto à questão da prova, o ónus é de quem alega a existência. Não é possível provar a não existência, e é errado, em termos lógicos. Agarrando num exemplo de Carl Sagan, eu posso afirmar que tenho um dragão na garagem, e tu não consegues provar que é mentira (não o vejo - pudera, é invisível, e por aí fora). Claro que há crentes que já perceberam que não há uma forma científica de fazer tal prova, e portanto assumem que é uma questão interior, de crença. vivo bem com isso, desde que percebam que não me podem levar com eles.

      Eu também gostei muito do comentário, e gosto muito da Mãe Sabichona (ó eu a falar dela como se não estivesse aqui); é uma pessoa muito mais equilibrada e ponderada que eu, e faz-me reflectir, tudo bom, portanto.
      Mas há uma coisa que discordo, ao menos no campo dos princípios. Acho que nos cabe questionar, sim senhora, as formas de luta adoptadas por movimentos que até nos falam ao coração. A não ser assim, também não poderia questionar formas de luta de movimentos que considero detestáveis. A evolução ética da espécie, principalmente no campo dos direitos humanos e cívicos, não se faz sem uma postura adversativa, certo. Mas se há formas de luta que, embora não tomasse, não me chocam nada (ex, FEMA), outras, né. No way, Jose. Só em movimentos com que simpatizo, lembro-me dos ecoterroristas e do pessoal mais marado da Peta que rebenta com laboratórios ou os invade e liberta animais usados para testes (acho que já houve um filme com este pitch, libertação de macacos com ébola ou outra doença? mate deve saber). Pá, não pode ser. Não exijo que sejam todos MLK ou Ghandi, há espaço para os Malcom X, mas a partir do momento em que o discurso radical incentiva acções radicais, que desrespeitam o outro, não. Quanto ao resto, não vou ensinar vegans a lutar, mas podiam pensar um bocadinho antes de erguer a bandeira com um petisco de gente pobre. Causaram mais mal estar e antagonismo que simpatia, ou seja, não resulta. E isso é mau, em primeiro lugar para os bichos, que afinal é por causa deles que isto acontece.

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    4. Eu tenho um dedo do pé, pequenino mas existente, pousado no campo que acredita que tens um dragão na garagem, talvez por causa da dificuldade de abarcar racionalmente a grandeza do universo. E, de certa forma, aceito um ónus da prova bilateral se nenhum dos dois lados estiver a tentar convencer a outro - sei que historica e sociologicamente isto não é o que costuma acontecer, mas foi o que aconteceu dentro de mim.

      Sobre o questionamento ético dos movimentos, absolutamente de acordo contigo, à partida os fins não justificam os meios e claro que podemos sempre questionar os meios utilizados para lutar em prol de qualquer causa, quer concordemos com ela ou não, quando são eticamente errados. E, depois disso, podemos claro
      avaliar a inteligência da estratégia de comunicação escolhida, era só o que faltava que não pudéssemos. Mas sinto que o fazemos muitas vezes em vez de organizarmos uma luta da forma que consideramos correcta, e não em complemento a isso. Ou que o faço, eu - isto é mais um mea culpa do que uma crítica - e foi por isso que o comentário da Mãe Sabichona me soou logo bem.

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    5. eu cá não quero (des)converter ninguém, nem me proponho a isso. Mas gosto de uma boa discussão ;)

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    6. Oh caraças, só agora vi os vossos comentários. Pronto, já vim tarde para discorrer mais sobre os caracóis mas queria só dizer que tenho a mesma opinião da Rita Maria sobre a existência/não existência de Deus. Por norma dizem-me isso Izzie de que não é correcto ter de se provar a "não existência" e em termos de lógica até posso admitir que sim. Mas como explicar que neste caso faz-me sentido porque, ainda que nunca tenha visto ou sentido nada que me diga que exista, acho que este mundo é um lugar demasiado incrível para ser apenas obra do acaso, da evolução, etc? É que no caso do Dragão na garagem não há nada que me "puxe" mas quanto a Deus ou algo superior acho mesmo que somos uns ignorantes e que poderá haver por aí muita coisa que não atingimos. Uma espécie de crença de que pouco se sabe, sem poder dizer que acredito em Deus.

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    7. Isto do ónus da prova é mais para espantar os melgas dos crentes que atiram sempre aos ateus, como argumento primordial, "ah, e como é que vocês provam que Deus não existe? Não conseguem!". Pois claro que não, nem a maioria dos ateus se propõe a tanto. Nós, os ateuzinhos, já só queremos um bocadinho de respeito e que não nos batam :D
      Agora a sério, eu respeito a crença alheia, e entendo a sua necessidade. A verdade é que não perco muito tempo a escalpelizar a crença de A ou B, porque dedico mais tempo a espantar-me com o facto de eu não ter crenças (ou muitas, vá), e a questionar o "meu lado". Não gosto é de fundamentalismos, e aqui não coloco quem é veemente e "chato", mas quem acha que é justificável impor a sua crença a outrem, matar em seu nome, etc. Olha, os Jeovás são chatíssimos, mas são, enquanto grupo religioso, pessoas muitíssimo decentes, honestas, pacíficas. Têm lá a coisa do sangue, pronto, mas ninguém é perfeito ;)

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  4. Tão verdadinha. Mas o (meu) problema é mesmo esse estabelecer de uma graduação, é criar critérios de avaliação das nano até às mega-causas. Quanto mais a causa nos é querida, mais difícil é desenhar os tracinhos na régua da relevância.

    (Ainda bem que não fechaste, só relocalizaste a enterprise.)

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    1. MC, atenção, eu acho que as nano causas, desde que parte da causa maior, têm validade, toda, aliás. Mas optar por divulgar uma causa com preconceitos e superioridade moral é estúpido. Chamar assassinos aos que pretendem mudar, é parvo. Por exemplo, em termos puros de ética, não vejo qualquer mal em comer ovos, desde que as galinhas poedeiras vivam em condições de liberdade, vejam o sol, sejam alimentadas de forma natural. Idem para a lã: tosquiar não é esfolar. Quando feito como deve ser, não causa dor ou sofrimento, só uma momentânea privação de conforto. E as ovelhas devem ser tosquiadas.
      Acho que isto tudo é uma questão de inteligência. E também de não abraçar a causa da ética animal como uma crença, como um culto cujos membros são superiores e por isso estão autorizados a lixar a cabeça a todos os demais. Criar uma maior empatia, sim, antagonizar quem ainda não viu a luz, meh

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    2. Queria dizer as nano causas que integradas numa causa maior, e não desde. Duh. Aquilo que para nos pode ser infinitamente pequeno pode ser algo até bem grande. Quem diria aqui há vinte anos que lutar pela igualdade de direitos civis dos não hetero é parte de uma causa tão grande como a liberdade de autodeterminação sexual, ou liberdade de identidade sexual?

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  5. Os vegan também têm todo o meu respeito e admiração. Fico de boca aberta com a sua força de vontade: viver sem o prazer que temos ao comer certas coisas? Respect. À conta de um ou dois documentários que vi já mal toco em carne (hipocrisia #1: bebo leite e como os seus derivados todos os dias, hipocrisia #2: não como muita carne porque na verdade não gosto assim muito de carne), acho que me falta ver um documentário/ler artigos sobre como são tratados os peixinhos em viveiros a ver se ganho mais consciência.
    Mas se há coisa que me irrita no veganismo (mais propriamente no mundo da culinária vegetariana) é roubarem os nomes das receitas aqui aos omnívoros. É que se eu até aceito uma "soja à bolonhesa", um "tofu à brás" ou um "seitan à Gomes de Sá" parecem-me muito mal! :)

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    1. Sinceramente? Como pouquíssima carne, e tento sempre comprar de bichos que levaram uma existência normal. Não como peixe de criação, porque são alimentados a farinhas proteicas, um nojo, e sabem-me muito mal. Claro que prevarico, e o queijo, aí o queijo. Mas não fosse o consumo de leite e derivados tão intenso, talvez fosse possível haver produção de leite mais ética, gostava disso. Ah, e o roubo de receitas é muito parvo, que um gajo cria expectativas e depois fica a odiar a versão vegetariana. Tofu à Brás é criminoso, bolas.

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    2. E já depois deste post a Joanna Godard fez também um post sobre vegetarianismo. Como te sentes por ela vir cá buscar inspiração? :)

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    3. Queres lá ver que já sou uma blogo-trend-setter? :D

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  6. essa dos caracóis lembrou-me aquele artigo do wallace: Consider the lobster. Eu percebo que é cruel meter um bicho vivo dentro da panela (por isso me recuso a cozinhar caracºois, nem quero saber como se faz), mas e a lagosta e a sapateira? quanto tempo levam ali a morrer aos bocadinhos? porra. Olha qualquer dia não como nada, nem caracóis, nem vaquinha, nem franguinho, nem nada que tenha cara e seja filho de alguém como dizem os entendidos. vivo do ar, torno-me vegan e talvez ganhe super poderes:
    "— short answer: being vegan just makes you better than most people"

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    1. Fuschia, ainda não li esse ensaio. Esse livro vai aos poucos, que o Wallace é demasiado bom, já não escreve mais, e faço-o render :P
      Pois, a lagosta. E as gambas. E a sapateira. eu cá não cozinho, mas felizmente não sou grande fã de marisco. Mate diz que a se pode matar a sapateira com vinagre, que é mais rápido e causa menos sofrimento, mas eu já lhe disse que o jantar não entra vivo lá em casa (sou muita caguinchas)

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  7. Eu não aguento com a postura testemunha-de-jeová/promotor-da-bimby. Bota chatos nisso. Porque antes comiam e faziam porque não sabiam e desde que aprenderam - e viram a luz - então querem informar outras pessoas e ajudá-las a deixarem de ser assassinos ignorantes comedores de carne.
    Eu tenho uma opinião semelhante à tua, haja alguém que a explique tão bem, respeito-os e valorizo a opção deles. Não é a minha e não me acho pior pessoa por isso.

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    1. Red, eu cá tento fazer escolhas da melhor forma possível, não evangelizo ninguém, e pronto, cá andamos. Se ando às compras com uma pessoa e ela se encanta com uma t-shirt, não vou a correr ver a etiqueta e lançar-me numa diatribe sobre as condições de trabalho de quem a produziu, e como o comprar aquela peça de roupa contribui para oprimir pessoas do outro lado do mundo. Pode-se falar do assunto, levantar a questão, contribuir para melhor informação das pessoas, mas estas fazem as suas escolhas, caramba. E caneco, como é difícil comprar uns jeans "éticos", hein.

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    2. Exacto, e isso eu aceito perfeitamente. Informação é informação e acho muito bem alertar-se as pessoas para esses aspectos. Mas bem, grande parte das minhas amigas vegan são meeesmo fanáticas. Elas justificam-se dizendo que é informativo e porque antes não tinham noção, que se tivessem tinham mudado de estilo de vida muito mais cedo, e daí nos quererem também fazer ver a luz. Mas quando percebem que não têm sorte passa facilmente do informativo para o condenatório. E eu tenho noção que nem sempre faço as escolhas mais ecologicamente conscientes, mas juro que dispenso as lições de moral - até porque não é que não as faça por não saber que devo.

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    3. Não tenho amigos vegan. Felizmente. Bastou-me aquela vez num jantar de anos, em que fiquei sentada ao lado de três veggies. Tive de ouvir contar como tinha morrido todo o menu. Pá, não se faz. Escatologia à mesa é falta de educação; proselitismo dá cabo da digestão ;)

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