segunda-feira, 3 de maio de 2021

Aqui a pensar

Se, tendo eu uma segunda habitação, por acaso situada numa zona onde há muita produção agrícola em estufas com mão de obra sazonal e estrangeira, a cederia para ocupação por trabalhadores agrícolas, para fins de isolamento profilático ou mesmo por doença Covid.

Se calhar sou uma bobona de primeira, mas não vejo grande problema. Se me pagassem os consumos (água, electricidade, gás), e uma limpeza / desinfecção (pá, o vírus, né) no final, na boa. Se, para além disso, ainda me remunerassem, tanto melhor. Apenas pediria um fim de semana para retirar objectos pessoais de valor sentimental, ficaria desolada se se partissem ou estragassem, e bastaria haver crianças na equação para essa possibilidade ser real. Ah, além da exigência de que não me sobrelotassem a casa - o que, na verdade, também contrariaria a finalidade da ocupação / requisição.

Dito isto, não, não entendo a gritaria que vai por aí à conta da possível requisição de unidades isoladas de um estabelecimento hoteleiro, por acaso em estado de insolvência, ainda mais por acaso com dívidas ao Estado, quando as unidades a requisitar e ocupar são, somente, aquelas propriedade do estabelecimento, e não as propriedade de particulares.

O medo e nojinho de pessoas em situação de emergência social e de saúde (pobres, portanto) é uma coisa lamentável, desejo melhoras para essa condição. Infelizmente ainda não há vacina nem medicação, mas era uma coisa bonita, poder injectar-se empatia directamente nas jugulares.

16 comentários:

  1. Tal e qual. Pensei o mesmo. É completamente uma questão de xenofobia + classes. E não há por onde dar a volta.

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    1. Espiral, as opiniões indignadas que li eram de alegados proprietários (que não seriam afectados directamente, a não ser pela "vizinhança") a queixar-se que se tratava de uma violação do direito à propriedade privada e outras coisas que tal. Notoriamente o problema não é esse.

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  2. O plano de recuperação foi aprovado. As obras iriam começar e o resort iria reabrir. O Estado contribuir para a irrecuperabilidade de uma empresa viável, por desistência do investidor, choca-me bastante, estando em causa milhões de euros, e postos de trabalho. O Estado e a sua remuneração não substituem o investidor. De resto, não fosse isto, tens toda a razão.

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    1. Sãozinha, esse é um dado novo. Como respondi à Espiral, a discussão que está ao rubro no twitter é da alegada violação do direito à propriedade privada. Li umas menções a um investidor que existiria - mas nunca identificado - e que iria desistir.
      Ora se a dona do empreendimento está em PER, foi aprovado um plano e há, de facto, um investidor, a coisa é diferente, e não se trata de uma violação do direito à propriedade (nunca seria, os proprietários privados não seriam afectados), mas inviabilização do PER. Isso já é um argumento sério e relevante, concordo. Mas a discussão a que acedi era totalmente diferente.

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    2. Não se trata de um PER, é um plano de recuperação dentro do processo de insolvência. Tenho acompanhado de perto o processo, tenho amigos que têm lá casa. Tentei explicar no Twitter que a discussão teria de ter este dado em conta, no Instagram, em todo o lado. Ninguém quer saber e perde-se tempo em discussões que não refletem o problema.

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    3. Esse dado é O dado a ter em conta, para mim. E o único que me faz mudar de ideias, e dizer que se calhar não é boa ideia avançar com a requisição, e pensar em alternativas.
      Mas as idiotices que li eram pura xenofobia e classismo disfarçados de preocupação com direitos constitucionalmente garantidos (e que nem sequer são absolutos, mas adiante)

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    4. Nao estou de todo por dentro da celeuma, mas nao me faz confusao nenhuma o Estado apoiar uma empresa em insolvencia se um investidor recua, para uma causa de valor meritorio social. O Estado injectou muitos milhoes na banca em falencia. O Estado paga salarios a empresas fechadas por COVID. O Estado financia servicos em mercados que os privados nao acham lucrativo entrar (transportes, saude, educacao, etc), onde muitos privados estao 'a volta lucrando. Num Estado social, onde nao sei do que estas a falar, so pelo que aqui li, o Estado intervir para financiar uma empresa que servira um proposito de apoio 'a economia, nao me faz transtorno nenhum.

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    5. AEnima, aqui não está em causa o Estado apoiar uma empresa em insolvência por causa do recuo do investidor, mas o possível recuo do investidos caso o Estado avance com a requisição civil de unidades de alojamento, para ali colocar trabalhadores agrícolas em confinamento. Há um surto de Covid na área de Odemira, entre trabalhadores agrícolas; estes são praticamente todos imigrantes, vivem em condições sub-humanas, e é necessário realojá-los em condições decentes para conter o surto.

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    6. Ah, percebi. Entao o racismo e' do investidor, que ter pobres (e doentes) 'a porta e' mau para o negocio. Bonito.

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    7. Pelo que percebi o investidor desiste porque pretendia iniciar obras no complexo para o começar a rentabilizar este verão. Aquilo é uma espécie de aldeamento turístico, num conceito eco. Há unidades que pertencem à empresa que o explora, a tal zmar, e outras que pertencem a particulares. As que seriam requisitadas são as que pertencem à sociedade dona, mas os particulares é que andam aflitos e revoltados - e isto é que me admira, porque estes não são diretamente afetados - a não ser pela "vizinhança" de imigrantes.
      Até percebo que o investidor se desinteresse, porque ter unidades ocupadas à ordem do Estado implica que não pode iniciar obras nem a atividade turística este verão. Enfim.

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    8. As pessoas estão seriamente preocupadas com a possibilidade de encerramento do complexo. Ficam todos a perder, quando há 840 camas que as Forças Armadas podem disponibilizar. Antevejo grande indemnização.

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    9. E já agora, este era o único ponto que deveria ser abordado, explicar às pessoas o que se passa, e não virar uns contra os outros. A política e os media de esgoto, como sempre.

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    10. Sãozinha, completamente de acordo quanto à forma como o assunto está a ser abordado na CS. Até o bastonário entrou na coisa pelo lado errado (caramba, a propriedade privada não é um direito absoluto, expropriações e requisição são institutos mais velhos que ele), e ouvi uma intervenção do Júdice que bradava aos céus e escorria xenofobia.

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  3. Tudo isto é preconceito, só e apenas preconceito. Ainda não há investidor, a empresa tem 6 meses, dentro do processo de insolvência, para o encontrar. Não me parece que os imigrante, se para lá forem, lá fiquem por todo esse tempo - ou até muito menos tempo. Tanto quanto sei, quem querem alojar são os assintomáticos, e sabemos todos que a quarentena, nem sequer faz jus ao nome, pois não são 40 dias. Apesar de os argumentos mais usados não o puderem ser aqui (malandros, vivem de subsídios, etc, pois toda a gente já percebeu que estas pessoas não são só trabalhadores, são hiper trabalhadores, ao ponto de se poder comparar o seu trabalho a trabalho escravo), outros argumentos falaciosos são usados, quando na verdade o problema destas cabecinhas é "não quero ser vizinho de um imigrante, credo, que nem sabe o que é uma sanita". No fim, prevejo eu, até irão ficar todos amigos, afinal os tais imigrantes não eram bichos-papões, nem de marte, apenas terrestres a querer (tal como muitos portugueses fizeram e fazem), ganhar algum para investir lá na sua terrinha. E este gesto, que até poderia ser bem utilizado pelos RP (relações públicas) está a ser minado por uma gentinha preconceituosa e mesquinha. Que não quer vizinhança dessa. Não por estarem infectados, oh não, se fossem médicos portugueses, ou vá lá alemães, etc., toda a gente se sentiria honrada por ajudar no que pudesse. Mas não, olha logo por azar calharam-lhes os pobres.

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    1. Peço desculpa, mas o plano prevê um investidor específico, que neste momento não sabe se avança ou não. As obras iriam começar na segunda feira passada, com o regresso dos trabalhadores. Havia reservas feitas. Nada disto é preconceito. É o Estado a meter a pata na poça à grande e impedir que a empresa sobreviva.

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    2. Helena, tenho de concordar que as reações a que temos tido acesso são puramente xenófobas e classistas, e, nesse aspeto, tenho de as repudiar totalmente.
      Mas se, de facto, a requisição põe em causa a recuperação de uma empresa, há que ponderar este argumento de peso.

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