sexta-feira, 26 de julho de 2019

Como ia dizendo

Não, não ia: não tenho muito para dizer. Estou viva, e acho que isso já é de notar. Tudo o mais é assoberbamento, cansaço acumulado e extremo, um stress que paralisa. Não faltam temas, não; nem opiniões sobre os ditos. Mas a realidade desenvolve-se a uma tal rapidez que uma pessoa está a maturar o que pensa sobre x e já y tomou conta da actualidade. De permeio, o trabalho, embora interrompido uma semana, volta a receber-me como o fantasma da casa: sem susto, sem surpresa, mas responsável pela habitual sensação de desconforto e constante inquietação. É então que entra o stress, agudo, pesado, a pregar-me e não deixar sequer começar, evoluir e muito menos acabar. Hoje foi o dia de olhar para o ecrã e texto e não sair de onde se ficou. Ontem foi bonzinho, daqui a quinze dias melhor será, espera-se.

Vou parar quinze dias, portanto. Ainda não decidi que livros me acompanharão, mas serão decerto mais que os que conseguirei ler e menos dos que me apetecia. Não acabo um livro desde a Páscoa, as minhas últimas férias. Não que isso me preocupe, faz parte da saturação de letras que se torna a minha vida, nesta altura. Mas aborrece-me. Porque ler era, e quero que continue (sempre) a ser, o escape, a alegre fuga. E tenho tanto para ler, e desse tanto quero muito ler tudo. Mas o vício de comprar livros, fruto de uma insaciedade constante, está a tornar-se francamente embaraçoso, face a esta inércia. Caramba, não preciso do stress da pilha a crescer. Não preciso, mas isso não me impediu de carregar uma mala com mais sete quilos que à partida - ainda me dói o braço direito, o fideputa do metro de Londres tem sempre uma escadinha a galgar ou descer, com vinte quilos ainda que em cima de rodas é dose. E não trouxe uns três que bem me apetecia (dois eram repetidos, mas são clássicos em edições bem mais bonitas que as que tenho, canudo, grande tentação, à qual não cedi, e não me arrependo, quando topei com um capa dura de Good Omens que quero, tenho de reler), e nem tive o tempo que gostaria para vasculhar tudo ao que ia.

Fui, de novo, a Londres, voltar onde sou sempre feliz. Desta vez com companhia nova, um par de olhos virgens. E fui, de novo, muito feliz. Melhor que regressar aos nossos portos preferidos é ter o privilégio de os partilhar. Já quero regressar. Agora para conhecer a Londres pós- Johnson (piada seca), voltar aos sítios de sempre e acabar em sítios onde nunca antes. Há-os, ainda. Esta certeza acalma enquanto entusiasma. Pode levar dois, três anos, mas volto sempre. Cruzando os dedos para voltar a acontecer com um voo Tap que sai a horas tanto à ida como à volta (sim, aconteceu; estou cá eu para testemunhar. já não me lembrava da última.)

Nos entretantos, até já.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

[ ]



(na verdade vão ser cinco dias, mas uma pessoa é uma diva, uma pessoa precisa de mais tempo)

sexta-feira, 12 de julho de 2019

The Cat Diaries (19) Mother of Cats

Tenho o equivalente a um cadáver bem encorpado na mala do carro: dois sacos de areia (15l cada), dois sacos de ração (10kg + 3 kg). O espaço ocupado é seguramente o mesmo, e o peso, atrevo-me a alvitrar, andará por perto: a raça da areia é fina e compacta, pesa que se farta. Visto que aquilo terá de ser acartado da garagem (atenção, não é no prédio, avença mas vá, na mesma rua) e subido até ao primeiro andar, tenho os instintos maternais um bocadinho em baixo. É que se a vantagem de ter gatos é que vão à casa de banho sozinhos, a desvantagem é que somos nós a levar a casa de banho até aos gatos. Finórios.

O que também não ajuda o enlevo maternal é o facto de Mad (indeed!) Max viver num fuso horário diferente do nosso, e achar que às cinco da matina já chega de cama. Ou antes, já é hora do pequeno almoço. Some-se a isto o facto de este meliante se ter tornado o mentor de Selina Kyle, que aprendeu com o melhor todas as patifarias possíveis, e está o circo armado. Quer dizer, os dois que vieram da rua não partem um prato; tinha de vir um pequeno demónio adoptado em bebé e uma ladra trepadora (mais uma vez, acertámos no nome) que esteve ali vai-não-vai duas vezes, e que tratámos com tanto amorrrr, tanto desvelo, para nos acabar com o sossego. E a paciência.

Max inspecionando a máquina da loiça, e achando tudo conforme

Anyhoo, um resumo e um update: a Selina, encontrada a miar debaixo de um carro, trazia consigo uma pneumonia; por duas vezes achámos que se finava, mas em tempo a levámos ao vet. Da segunda ficou internada, e a fazer um ciclo de dois antibióticos, com o risco de ficar com o crescimento comprometido. Antes anã e viva, e viva está ela. Dois meses, dois!, a dar antibiótico de manhã e à noite, misturado com o paté; aqui a ursa sentada no quarto de colher estendida enquanto ela se fazia rogada, por vezes a segui-la de gatas, porta fechada com o Max a miar do outro lado e a distrair a pequena, e nem pensar em deixar o Max na mesma divisão porque é um gatuno lambão que comia o paté todo, com ou sem antibiótico. Ao fim de dois meses e uma última radiografia temos ordem de suspender, e manter vigilância. Estava fina. E com o cio. Marcou-se logo a esterilização, que correu lindamente, excepto a parte do body, que a pequena odiou. Andava como se estivesse aleijadinha, fazia uns olhares que davam dó, aqui a estronça pensa que se calhar tem dói-dói na cicatriz e abre o body para ver, e a pequenita filha de satã saltou-me do colo como uma pulga atómica, sacudiu a vestimenta, e quem é que a apanhava para lha vestir? Pois. Na consulta de revisão lá aparece esta incompetente com uma gata embrulhada numa manta dentro da caixa (única forma de a apanhar, a manta), o body na outra, e um sorriso de "perdão, sou estúpida e deixei-me enganar por um nico de gata". Tudo bem, a bichinha sarou lindamente, e pronto. Fica a faltar as vacinas, mas tomámos a decisão de a deixar estar uns tempos, a ganhar confiança (é mesmo, mesmo muito difícil apanhá-la, topa à légua que vai haver asneira, e arranha que é uma beleza).

no início da nossa relação, pucanina, pucanina


Suspirámos de alívio, a besuga está viva e de saúde, agora é engordá-la e deixá-la habituar-se à casa e nova família. E eis que na véspera de termos um avião para apanhar, a biscas vomita um líquido claro mas rosado (em cima do tapete, claro. só temos 3 tapetes naquela casa, mas é sempre em cima do tapete, faz parte do livro de estilo da gataria, e este ainda por cima é clarinho). Fui buscar toalhetes para limpar, um bocado ralada com o rosado, e noto que nos toalhetes estão uma espécie de grãos quase brancos, com um rabinho, parecem sementes de quinoa, aiminhanossasenhora, a quinoa está viva e a desenrolar-se. Yep. Lombrigas. E muitas. Pânico. Ligámos para o vet, tentámos apanhá-la, fomos lavar o sangue dos braços e mãos, desistimos de a apanhar, metemo-nos no carro e vamos ao vet para ao menos comprar desparasitante. E yay, somos informados que temos de desparasitar todos. Todos, incluindo os bons selvagens a quem não é possível agarrar e enfiar um comprimido goelas abaixo, nem tampouco disfarçar em paté, porque topam e não comem. E yay, somos informados que já há desparasitante em pipeta, e not-yay, bem mais caro, mas yay, resolve o problema. Dão-nos o calendário de desparasitação, e abalamos cheios de pipetas e comprimidos (a Selina só assim, ninguém a segura, nem à traição). Já agora, havendo parasitas, comprovadamente, não chega administrar uma vez, o desparasitante só mata a bicheza adulta. É preciso esperar 21 (acho) dias para que os ovos e júniores cheguem à idade de serem massacrados, e pumba, segunda dose.
Bom, conseguimos pipetar e comprimidar toda a gente, e fomos de férias. Voltámos, esperámos, repetimos, e quero crer que não há mais inquilinos indesejados.

Selina pós-op, ao colo de mamãe

E a Selina, passado tudo isto? Continua um bocadinho mini - quando a trouxemos aparentava uns 3, 4 meses, mas já teria passado dos seis, segundo a vet, porque não sei quê placas fechadas que se via no raio x - mas, é com orgulho e baba escorrendo, que anuncio que ganhou corpo e peso. O que também se deverá a já não ter de alimentar uma comuna de ocupas. Está linda, fofa, mimosa, mas continua fugidia e desconfiada. Vem para o nosso colo raramente, aceita festas mas só se sentir segura (sapatos da rua calçados? get thee behind me, satan), o seu spot preferido é deitadinha numa almofada do sofá ao lado do papá, e dorme em cima de mamã - ela e Max, fui promovida a colchão de gatos, e já acordei com nós nas costas e pescoço à conta da graça. Está uma brincalhona, adora bolinhas, e imita toda a asneira que o Max entende fazer. O Max adora-a, fazem corridas - às vezes de obstáculos, calhando esses obstáculos serem os corpos adormecidos de papais, suspiros - e envolvem-se em lutas acrobáticas que fariam inveja a um wrestler.

Max e Selina, bff

Tudo a correr bem, portanto. Até ao dia em que formos de férias - já decidimos que ela e Max vêm. Aí teremos mais histórias para contar e braços e mãos para desinfectar, mas não me rale agora com isso.

coija má boa

quarta-feira, 3 de julho de 2019

A thing of beauty

Foi um dia merdoso elevado ao quadrado, com stresses vários e muito legítimos de parte a parte. Some-se a isto uma logística que obrigou a uma deslocação de carro (bof), uma opção por ir à volta em vez de atravessar a cidade em hora de ponta, para acabar a encalhar numa fila (ao que parece) pré-acidente, uma saída estratégica para Sacavém, ir dar a volta aos cus de Judas, entrar no parque a quinze minutos da hora, mais filas porque parece que ainda há gente (notoriamente sem gosto) que escolhe ir passar fins de tarde, inícios de noite, naquele suburbão e entope os estacionamentos disponíveis e muito estreitos, diga-se, e há sempre os cognitivamente subdesenvolvidos que insistem mas não sabem estacionar de rabo, ou os que não têm acuidade visual para reconhecer linhas delimitadoras e desenham as suas, enfim, passámos a porta às oito em ponto, ainda há música ambiente, ufa, uma ida ao bengaleiro porque fomos uns dos felizes e aleatoriamente seleccionados para deixar mochila (alegadamente de dimensões  não sei quê) lá, subida, escolher lugares que ainda há muitos, abençoado nacional atrasadismo, sentar. Aaaahhhh.
Menos stressado? Sim. E tu, menos stressada? Sim. Tudo bem.
Banda de apoio, porreirinha, intervalo e home parte na sua demanda pela habitual t-shirt (compra sempre), liga a avisar que está na fila da cerveja, sem stress, volta um minuto antes de baixarem as luzes.

E depois. Depois. Caneco. Melhor. Concerto. Ever.

E tive a felicidade de, pela primeira vez na vida (que já conta com alguns concertos naquele espaço) experimentar uma acústica se não perfeita, lá perto; não sei porque no segundo balcão (que já não me lembro porque escolhi, se por forretice ou porque já não havia mais, os bilhetes já contavam mais de meio ano de existência lá em casa) é onde se deve estar, ou se alguém soube engenheirar o som como deve ser; a verificar-se a última, abençoado seja por toda a eternidade, e saiba passar o seu conhecimento às gerações vindouras. Hoje, zero tinidos, zero zumbidos, e caraças o que tememos, sofremos em antecipação quanto à possível qualidade do som, Tool é para ouvir (sentir, fluir, entrar, revolver) nas mesmas condições que merece uma orquestra sinfónica. E assim foi e assim aconteceu.

Tão, tão, tão bom. Alma cheia.
Ainda não estou velha para isto.