terça-feira, 19 de setembro de 2023

E tu??? O que é que o bicho covid fez por ti?????

Além de ainda andar com umas dores de cabeça nhéf, e meia totó das ideias, que parecem envoltas em nevoeiro cerrado, como ontem e hoje de manhã, só me faltava o olhar vazio e a baba a escorrer pelo canto da boca, to-tal-men-te na estratosfera, e o chato é que depois começo a enervar-me porque não consigo pensar e trabalhar, digito as letras ao lado, troco números, enfim, mas além disso, do cérebro feito em algodão doce, que mais fez o bicho por vocês?

Hum?

Olha, eu deixei de fumar. 

Ah, mas isso tem lá a ver ca covide, parva, deixaste porque querias, oras, não senhora, efeito covid 100% certificado.

Explico: como boa, empenhada, e veterana (dos 15 aos 52, é fazer as contas) fumadora que sempre fui, não era uma doençazeca qualquer que me detinha. Dói a garganta? Aguenta, que já és crescidinha. Tossinha? Oh, filha, há vidas piores e não os ouves a queixar. Podia fumar menos, que também não sou irresponsável (ahéééém), mas fumava. É uma cena de militância, só sabe quem cá anda. Ou andava.

Sucede que derivado de ter passado a ser proibido fumar nos edifícios, já tinha aderido ao tabaco aquecido. Mau grado estar sozinha numa salinha com janela, e poder fazer batota, estou rodeada de abstinentes com olfactos muito apurados. Mas, apesar de me estar a habituar bem ó iquozinho, não abdicava do meu tabaquinho "a sério", lá está, militância. Pelo menos dois por dia, e ao fim de semana era como se os outros não existissem.

Até que. Covid. Eu tentei, juro que tentei. Mas não era só desagradável (ou horrível, confesso, nos casos de amigdalite mais fortezinha), era impossível. Não sei explicar, puxava, travava, e parecia que morria: uma coisa surreal, mas real, porque testei várias vezes. Mas morrias, como? Ó pá, sei lá, era uma sensação como que tinha os pulmões cheios de água, uma agonia que me apanhava o estômago e me arrepiava a pele toda, uma coisa do além. 

Pronto. Tinha acontecido aquilo que já muitas vezes, farta da escravatura do cigarrinho, tinha imaginado: e se eu não pudesse de não poder mesmo, nunca tivesse experimentado e agora não conseguisse, como será não fumar, não gostar de fumar, não ter de fumar?

É assim. Como vivo, agora. Um cheirinho de tabaco e eu, nojo. Habituei-me a não feder cheirar a tabaco permanentemente. Já não tenho bafo de dragão, e estou a habituar-me. É fixe. Embora haja situações em que entre em pânico porque, consigo jurar, tenho esse bafo outra vez. 

Resta, apenas, a nostalgia da militância. Fazem-se bons amigos, nas trincheiras do activismo. Por isso, e só por isso, fumo um iquos todas as noites. Já nem travo, mas lá está, digo presente.

Só um, é o único, e sempre na mesma altura, zero desculpas para a antecipar. Não tenho vontade nenhuma de voltar atrás, por isso mantenho estar regra e, também, um maço numa gaveta, só com um último cigarro, coincidência, sobrou-me um só. E vai continuar a sobrar.    

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Todos os dias, um novo desafio, uau

 

Pelo preço que custam as #%&#»£ das meias de compressão, deviam dar direito a uma assistente para nos ajudar a calçar aquilo. Idem para collants de descanso (desisti, tinha horas para ir trabalhar). Reservem uns 20 minutos para as primeiras, 15 para as segundas, tempos conservadores. 

Meias pelo joelho são mais user friendly, mas quentes à brava, e impossíveis com vestido / saia.

Ah, mas tens mesmo de usar essa coisa? Sim, ou ao fim do dia tenho uns tornozelos que parecem aqueles barrilinhos de quilo de ovos moles.

A vida não é justa, e eu não tenho idade para esta m€rd@. 

Cá calharão


Xóvens!

Se trabalharem numa sapataria que venda isso, nunca façam graçolas sobre a calçadeira de meio metro que a cliente vai levar, juntamente com o par de ténes. Da maneira que passais a vidinha mal sentadufos em frente ao ecrã, vão precisar de uma mais cedo que eu. 

Não é preciso ficarem tão espantados / divertidos quando uma cota grisalha de jeans e ténes, carregando ferragens e ripas, vos pergunta onde está o pladur e acessórios, e à vossa resposta sabe muito bem onde é a tal zona de carga de materiais de construção. Antes assim que com um cabelo loiro canário indizível, unhas footlong, tatuagem do nome dos filhos no antebraço, e calça elástica dois números abaixo. Sim, sim, já vi, da minha geração. Não, não parecem mais novas, adiante.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

*suspiros*

 E quem é a pató que, andando cheia de trabalho que nem sabe para onde se virar, que tem de ir entregar os ólicos para lhe porem as novas lentes de ver ao perto, tem de ir levantar um aspirador robot e umas meias de descanso 

[nem me vão por aí, eu sei que caminho para bélha, a passo de corrida, mas o espírito continua xóbem, ok, xóbem!, e tenho lá culpa deste ano ter apanhado as maleitas todas que deunossossenhor deitou sobre a terra, incluindo covid, sim, quando já nem sequer é féshion, assim como não é féshion a puta da neblina mental que deixou atrás, e quanto às dores nas articulações não sei atribuir culpas, que entretanto entrei no calvário hormonal dos bloqueadores, que já há anos, anos!, que isto não desengonça e fui muito çinçera com a gino, a peri está a dar comigo em doida e ainda mato alguém, além de que não se faz, pah, 52 e ainda fértil, estão a gozar, já pedi a reforma da reprodutibilidade há anos, anos!, deixem-me um bocadinho, pelamordedeuz, eu já andava a tomar os restos de tramadol para as dores]

e ainda vai arranjar um cadichinho para ir ao Leroy comprar um materialito, para provar a um homem que está errado?

Ah, oui, c'est moi. 

A parvalhona esteve a dar a explicação audio, não resultou, vamos passar ao audiovisual, para no fim chegar à mesma conclusão, tá mal, é desfazer e fazer outra vez. Ego, pah, ego de homem é aborrecido, mas de empreiteiro, apre, chiça. 

[nem é bem empreiteiro, isso já não se arranja em Lisboa, por umas obras abaixo de uns bons milhares não se levantam da cama, é mais biscateiro, pinturas ao fim de semana, dinheiro na mão ou mbway, e é se queres]

E o tal do ego começa logo a chiar se é uma mulher a apontar. Porque, como já me disse uma vez, por uma coisa pela qual não valia a pena chatear-me, do meu trabalho sei eu. Sabe o caralhinho, que a dona do barraco sou eu, se o arranjo está mal é porque está, porque eu digo, porque basta ter um par de olhos e só meio funcional para ver a joça que ali está, e posso ter zero experiência, mas na prova teórica bato os pontos, sim, sei qual é o resultado expectável, e o que fazer para lá chegar, e tenho meios para o provar.  

Mas estou já a antecipar a resposta, quando lhe entrar pelas meninges que tenho razão e aquilo é uma chacina, o que ali está, que vai ser ah, mas esta era a única maneira de fazer. Era mas é o caralhinho, não tivesse eu vertigens e tivesse eu esqueleto e músculo fazia a cena toda ali, só para ele ver quem tem razão. Teimoso de merda. Chauvinista d'um corno. 

[Se não é desta que arranjo coragem para me lançar a escrever um muito necessário livro de empoderamento feminino, "Como dizer NÃO ao seu empreiteiro, e ter sucesso"!.  Capítulo I: Conformou-se porque não sabe como se faz? Está tudo no youtube. Não esquecer o tutorial de navegação em sites de venda de material, (já estou a ver, aha!, então aquele coiso sempre existia!); e o conselho de descarregar sempre fichas técnicas e de montagem (olha, o animal estava a dizer que não percebia porque vertia, que estava tudo bem montado, mas afinal tinha-me era furado os azulejos um centímetro a mais para fora - este é baseado em factos reais, mas eu era -mais- nova, não sabia impor-me com a fúria e intensidade que só uma peri de mais de cinco anos e uma menopausa induzida podem conferir. Juro. Só não prevejo um morticínio que faria Jack the Ripper corar de vergonha porque o bloqueador me fornece uns mínimos estrogéneos, benditos farmacêuticos, levam-me ali aos 97 euros por mês, mas evitam que abra o jornal da noite da CMTV, ou faça a capa do Correio da Manhã. Bem hajam. E continuem a estudar e fabricar coisas boas pá gente, as meninas e as çenhouras, nós temos um século e picos de atraso, é preciso recuperar o tempo perdido, leiam lá o livro a ver se não tenho razão)]. 

    

sexta-feira, 7 de julho de 2023

TV Guia

[já ninguém se lembra da tv guia, claro, a não ser alguns bélhotes e genXers que se socorriam do precioso almanaque para a) ler os resumos das novelas; b) saber que filmes iam dar no Lotação Esgotada; c) verificar que não nos tinham cancelado ou mudado o horário da série preferida - e, as mais das vezes, única. mas calha bem que aqui a titi Izzie, genXer e com muito orgulho, vem preencher esse vazio]

Sim, eu sei que muita gente está chateada com a netflix por causa da cena de não se poder partilhar senha, mas eu ralada, que não tenho esse problema (hashtag childfree). Admito que é carota, mas ainda vai tendo umas coisas fixes (pah, eu gostei de Rabo de Peixe, deslarguem-me) e, principalmente,  a-do-ro documentários. Tchi, o que nós papamos documentários (só se estraga uma casa), então aqueles de real crime que fazem dar graças por dormir num sommier, que reduz, em muito, o pavor irracional do monstro debaixo da cama (em verdade, até agora só um nos deixou mesmo sem sono, o Night Stalker, credo). E os de cultos? Até me deu um arrepio de satisfação. Imaginem que me mate não sabia quem era o Warren Jeffs, agora já sabe; e um que lá há sobre Waco também está muito fixe.

Voltando à vaca fria, documentários, daqueles bem giros, e mesmo à medida de genXers? Temos. Cá vai:

- Wham! - Quem era menina nos anos 80 e não teve uma grave paixoneta pré-adolescente pelo Michael George? Eu não fui. Passei muito tempo a dançar o wake me up before you go-go, depois chegou a adolescência e virei-me para os Duran-Duran, ia casar com o guitarrista, enfim. O documentário está mui giro, quanto mais não seja pela nostalgia. Dispensava era me mate a repetir, frequente e repetidamente, "a sério que vocês não percebiam que ele era gay?", NÃO INTERESSA. Chato.

- Arnold - Sim, o Shwarzie, o austríaco, o terminator. O documentário está giríssimo embora, como espectadora, eu oscilasse entre o achar que afinal o tipo é sim senhor; ou não, não é, g'anda pato; ou estar a revirar os olhos com o nível das tiradas de self help tu consegues se quiseres, o eterno foco, e por aí fora. De qualquer forma, há que reconhecer que o home é um mouro de trabalho, e tem cá uma determinação, upa, upa, embora, suspiros, pah.

- American Gladiators - (traduzido como forte e feio, buh) Não seguia, mas vi bocaditos de quando em vez. O interesse do documentário é ver (na onda do anterior) a importância e quão trendy foi, em certa altura, a cena do bodybuilding. E as permanentes. E a lycra. E o mullet. Para além disso, a construção de um conceito, tirado do chapéu; a forma como o programa foi sofrendo evolução na produção, e, acima de tudo, a forma como eram tratados os tais gladiadores. Bru-tal. Dão a cara vários antigos gladiadores, produtores, e o realizador mais creepy que já tive o desgosto de ver.

E chega, que já é foleirada com fartura. 


terça-feira, 27 de junho de 2023

Dá-se, a quem estimar, ou mesmo a quem não estimar

Durante muito tempo não sabia que havia um nome para este sentimento; aliás, nem fazia ideia que era tão comum que merecia um nome, uma caracterização. Achava que era uma coisa minha, que lá haveria outras (poucas) pessoas também assim, coitadas, todas nós muito defeituosas, que não conseguíamos ter foco, ter confiança, acreditar!, essas qualidades tão batidas nos discursos motivacionais, donde se retira que, se não consegues, é porque não quiseste, não te esforçaste o suficiente (tretas, já agora, isto é tudo treta, adiante).

E um dia, ali estava, no título de um artigo: síndrome do impostor. Aaaahhhh. O alívio, por a coisa ter nome. E perceber que afinal não era defeito meu, uma falha de carácter que não tinha a competência - ou pior, empenho, vontade - para ultrapassar.  

Quando o bicho que nos atormenta passa a ter nome, descrição, conseguimos encará-lo melhor. É um bocadinho mais fácil lidar com a criatura do mal. Não resolve, mas ajuda. Determinada situação, e lá reconhecemos o monstrinho, ó síndrome do impostor (vou chamar-lhe Crispim), outra vez a fazer das tuas, pára de me comer as roseiras, xô. Nunca se vai embora, o bandido, fica sempre ali, à espreita, a mandar bocas, mas uma pessoa consegue mantê-lo debaixo de olho, e lá de longe até o ouvimos mal. 

Finalmente, podemos ter coragem para dar um passo. Ainda que continuemos a ouvir o eheheheheh, isso vai dar asneira, vais acabar a fazer cá uma figurinha, tens lá arcaboiço para te meteres nisso. É esta a vidinha de uma pessoa assombrada por síndrome de impostor. Mais de vinte anos a trabalhar, e vinte especificamente numa área, e ainda duvidar que se deva arriscar algo diferente, hesitar em dar um passinho em frente, por medo de falhar.

[traduzido em filme, que passa em loop na cabeça de quem sofre deste mal, o "falhar" é sempre uma coisa épica, um desastre natural mas em grande, tipo um tsunami com erupção de diversos vulcões à roda, tremores de terra e ainda explosões nucleares, com uma praga de gafanhotos para acamar, tudo por culpa nossa, que dissemos um disparate, cometemos um erro, e toda a gente vai saber que a culpa é nossa, e vamos a passar na rua e toda a gente vai apontar com nojo, ou a rir.]

Bom, esta conversa toda para dizer que tenho o coisinho do Crispim aqui a fazer previsões desastrosas, mas consegui reunir a coragem para me oferecer para uma coisa. Não sei se vou ser seleccionada mas, se for, vai implicar sair da minha zona de conforto e fazer uma cena diferente que envolve contacto e interacção com 'ssoas. Mais de dez, chiça. E passar-lhes informação, credo. De maneira a que as 'ssoas aprendam alguma coisa comigo, a responsabilidade, o pavor, o aijasuz. 

Vai correr bem. Já estou muito contente por ter decidido arriscar. E tu, Crispim, chiuzinho, ok? Ok.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

A minha vida é feita de não percebendos

Juro que não entendo a fobia tuga ao livro de bolso, e ainda menos em certos géneros literários. A saber, o policial. Queres chafurdar umas alegres horas em homicídio, investigação, e suspense?, só em formato tijolo. E com peso a condizer. Dá cabo das costas, pessoas, palavra de pessoa que deu cabo das costas com (entre outras coisas) o alancar de calhamaços na malinha. 

Já sei que há, porque já vi e já espiolhei, uma editora portuguesa que deita cá para fora diversa produção, em português, e em formato de bolso. Mas não chega. Quero tudo, tudo, em formato de bolso. É maneirinho, em calhando até cabe - a sério! - num bolso. A portabilidade! A conveniência! 

O papel é de pior qualidade, pronto, mas acham mesmo que as gerações futuras vão querer os nossos livros? Nem as bibliotecas querem as minhas generosas (três sacos, vai aumentar estas férias) doações, olhaí. Se a traça comer, bom proveito. Pusessem pastilhas repelentes nas estantes (dica da semana: para um resultado óptimo, duas por prateleira, zero traças, e se mi casa é um habitat perfeito). E o papel branquinho é bem mais pesadinho, aquilo é gramagem de luxo, não se justifica.

A menos que. É uma suspeita que me assalta. Será? Não pode. Queres ver que há quem compre livros para compor estantes, assim em bom? Tipo, eu quero livros de lombada à prova de quebra (fi'os, não há garantias, tenho paperbacks que nem se nota que os li, e outros de formato grande que balhamedeuz), com a altura X, que me faz ali uma estante tooodá linda, toda de pessoa muito devota às letras. Sois novos, não pensais. Em chegados à minha idade querem é poder fazer duas filas sem o stress que a da frente caia ao mínimo toque. O espaço é finito, e nas casas portuguesas nem se fala.

Voltando aos policiais. Pá, aprecio muito, pelo que isto não é desfazer, mas não são beeem uma Anna Karenina, né. É leitura de puro lazer, para trazer connosco, transportar daqui p'ráli, aproveitar cinco minutos para saber se foi a dama de companhia que aviou a bélha (influências de Agatha Christie, perdoai). Trinta centímetros de altura, nã, não se justifica. Vinte, máximo, e já chega. 

O único argumento que me poderá, vá, fazer vacilar é o do tamanho da letra. Já sou uma vítima da presbiopia, mas para isso é que há doutores oftalmologistas e ópticas. Ou, numa versão mais em conta, óculos de ler pré-graduados - usei uns dois anos, quando isto não era ainda um caso sério. Tudo se resolve. Uns óculos de ler são mais baratos que uma operação às costas (atesto). E que uma boa estante, ou acham que as billy aguentam tanto papel de alta gramagem, ah, 'tá bem, abelha. 

Donde, policiais e tudo em livro de bolso. Lá a ver disso. Os ingleses, graçádeuz, já o fazem há tanto tempo: a novidade vem em capa dura ou mole com formato grande, uns mesitos depois, tcharam, o babybook. Eles lá sabem, eu cá não digo (mais) nada.

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Don't complain, don't explain

A cirurgia à hérnia discal correu bem, e até tive um período de recuperação muito razoável. 

[O trabalho lixou um bocadito a parte da recuperação, derivado de se fazer na posição de sentada.]

Depois de dois anos e três meses desempregado me mate voltou a trabalhar. 

[E está a gostar. Muito. E está a fazer cenas de jeito, de acordo com as habilitações que tem. Com pessoas (incluindo chefias) normais, educadas, que não berram, ameaçam ou insultam. Ou seja, um ambiente normal. Já lhe tinha garantido que existia. Existe.]

A perimenopausa chegou a uma fase absolutamente impossível.

[Quero crer que isto significa que já não falta muito para chegar à parte boa, i.e., a própria da meno, em que a %&#$ da menstruação, cruz da minha existência, desaparece para sempre. É que ter o resto e ainda continuar com o período, pior que sempre, pá, não. É o que me dá esperança.]

Parece que já estou em condições* para, este verão, começar o desmame do antidepressivo e voltar à dose - metade da actual - que tinha há dois anos. 

[*não que note muito mas ei, o s'outor é que é o s'outor, ele é que tirou o curso e já me conhece há mais de vint'anos, vamos a isso]

Ou seja, só boas notícias.

[A ver se arrimo e também desmamo da apatia e preguiça de escrever, nem que seja só para me entreter, desenfadar, desafafar, enfim; que, parecendo que não, ter aqui um buraquinho (como o barbeiro do príncipe das orelhas de burro) já deu / pode dar / quero que dê um jeitaço.]

segunda-feira, 27 de março de 2023

Momento "Diga?"

 Aqui há tempos, cruzei-me na net com este meme:



E pronto, dada a idade indicada definitivamente não sou público alvo, mas, ainda assim, o facto de não conseguir atingir o propósito do coiso, a piada da cena, fez-me fixar o olhar e fazer rodar as roldanas cerebrais mais tempo do que merecia.

Desde logo, uma apresentação: Izzie da Conceição, 51 3/4 de idade, emprego estável e bem (acho eu) pago, casa própria (sim, o banco, mas percebe-se), viatura idem (sem banco), e ainda faço isto. Com as garrafas de gel de banho, champô, sabonete líquido, amaciador, detergente e amaciador da roupa. E acrescento: sabem os cremes que vêm em bisnaga?, pois, quando já não sai nada de jeito, corto ali a 1/4 do tamanho, por cima, com esta parte faço tampinha para o creme não secar, e bong, ainda há creme para um horror de dias. A minha base, por exemplo, é um bocado pastosa e fica imensa agarrada à bisnaga, ali um mês de uso.

Donde, não entendo que diluir gel de banho ou champô com água seja razão para grande infelicidade ou sinal de falhanço na vida. E muito menos de pobreza. Quem é pobre, se for esperto, não gasta em gel de banho o que dava para comprar dois ou três sabonetes que duram o dobro ou triplo do tempo. (disclaimer: mesmo não pobre uso sabonete, e sim, dura até mais que o triplo). Digo mais: se um gajo for esperto e pouco preguiçoso até dilui sempre o gel e champô, pelo menos os de supermercado, que aquilo é detergente em barda, e um nadica agressivo para a pele.

Mas voltando à vaca fria, já não se usa, ser poupado? Está out, ser económico? É fonte de vexame, não desperdiçar? Juro, perplexa, fico perplexa com saídas destas. Só reforça estereótipos, aliás não merecidos, que costumam colar aos millennials e zennials, caraças. É claro que não é com o que poupam em produtos de higiene que vão ter para a renda da casa, não, precisam é de emprego e estabilidade laboral, entre outras coisas que já não há, mas caneco, façam as contas em papo-secos. Ou em embalagens que vão para aterros. Ser poupado é ser esperto. É saber viver. Digo eu, a coisinha da geração X que até bem tarde contou trocos.

(é oficial, sou uma avozinha chata)

sexta-feira, 10 de março de 2023

Alta

 As costas já estão tratadas, agora é passar ao próximo ponto da lista. E não me armar em parva, sobrestimar a minha capacidade, e estragar tudo. 

Sério: uma pessoa só dá valor a coisas tão piquenas como: 

- Conseguir dormir uma noite inteira sem acordar cada vez que se mexe (isto ainda antes de ser operada);

- Andar na rua com passo certo, sem medo de cair, (idem);

- Agachar, (e apanhar coisas do chão! a quantidade de vezes que uma pessoa deixa cair cenas ou precisa de apanhar qualquer coisa é extraordinária, devia ter contado, nestes dois meses de recuperação devem ter rondado as 7.524, para cima e não para baixo, já nem falando do degredo que foi tirar qualquer peça de roupa de uma gaveta baixa, bof);

- Conseguir estar sentada mais de meia hora, (e depois uma, a seguir vão duas, e por diante, é das piores partes do pós operatório);

- Ir ao super e poder comprar o que se precisa sem pensar no peso que o cabaz vai ter, (vai aumentando, mas ainda tenho limites);

- Conseguir caminhar uma hora, ou mais, a passo rápido, sem ter medo de levar um encontrão, ou enfiar um pé numa depressão (e ter uma simpática onda de choque pela coluna);

Quando tudo passa e se consegue, finalmente, um grau de autonomia satisfatório, em certas coisas bem melhor que antes da primeira crise, que antes da ciática se manifestar as lombalgias já eram uma coisa habitual e, pensava eu, inevitável.

Portanto, apta a regressar ao trabalho. Com calminha e sem esforços desnecessários. Pausas, várias pausas em posição vertical. Continuar a caminhar, muito. Avançar para exercício mais intenso - natação, pilates. A ver se a outra hérnia (sim tinha duas, agora só uma) toma juízo enão me obriga a ir à faca outra vez. Qualquer dia já ando aí aos pulinhos, a escavar e a arrastar vasos, que tenho as plantas numa desgraceira e já é quase primavera.

Aiô.

 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Boletim Clínico

 Ontem, um mês da operação; hoje, um mês da alta hospitalar. Continuo de baixa, o que me causa um elevado teor de culpa, mas sem estar sentada não posso trabalhar, e sentada (muito tempo seguido) não posso estar. Correu tudo bem, e já não há hérnia na L5-S1. O nervo ciático vai poder tirar umas merecidas férias, e deuoleve, que não me faz falta nenhuma senti-lo jangado. As dores pós operatórias, semelhantes a um valente pontapé nas costas (e que só me pediram analgésico três dias), ficam a larga distância da dor ciática; só por isso já valeu a pena. Aconselho vivamente a cirurgia, a quem possa. E por "a quem possa" refiro-me a quem seja beneficiário de sistema / seguro de saúde que pague, e tenha a possibilidade de fazer o eventual copagamento (20%, no caso da ADSE); ou seja, a quem consiga recorrer ao privado. Que do SNS ainda aguardo a marcação de consulta urgente de neurocirurgia, para a qual fui reencaminhada ali no início de julho. É o país que temos, e as prioridades de quem nos governa. Revolta-me muito, pois revolta, mas agora não tempo para desenvolver que as costas me estão a pedir caminha depois da caminhada diária (a que, breve, breve, se vai somar a natação), parece que tenho de transformar a minha almofadinha gordo-lombar em músculo, tanto ano de chicláte deleitosamente apreciado, tanto geladinho gostosamente armazenado, para uma desfeita destas. Çinçeramente. Raisparta a saúde. Mas, ao menos, que a tenha.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

[não querendo agoirar]

 2020, 2021 e 2022 é para esquecer, vamos lá ver o que aí vem.

(não me lembro de ter partido nenhum espelho, pode ser que tenha sorte :P)

domingo, 4 de dezembro de 2022

It's my [pity] party, and I cry if I want to

Sucede que há cinco meses (e uns dias) que ganhei uma empatia muito especial, feita de conhecimento próprio, a quem sofre de dor crónica. Oi, lamento muito. Espero que tenham uma solução. 

Parece que eu tenho, pelo que consenti (deliberada, livre e conscientemente), que me espetem uma faca nas costas, escarafunchem, e cortem o que está a mais / mal. A coisa vai dar-se ali pelos princípios de Janeiro, que é para ver se metade de 2023 não seja passado como metade de 2022. A decisão não foi fácil, derivado de caguinchice. E excesso de optimismo, porque houve ali um período, durou cerca de uma semana, dez dias, em que parecia mesmo, mesmo que a fisio estava a resultar e ia ficar como nova. Até que segunda crise.

Resumidamente, se alguma vez alguém vos desejar uma valente dor ciática, saibam que têm ali inimigo a valer. Podia ter sido só uma crise, aquelas dores lancinantes (não estou a exagerar, juro, nunca tinha chorado - copiosamente, a ponto de ter vergonha - de dor, em 51 anos) passarem com medicação e pronto, volta-se à vidinha, mas não. Em 15 dias (e depois de uma passagem de 13 horas pelas urgências, e ninguém me diga mal do SNS, por favor, que parto para a violência), com um diagnóstico feito e a medicação adequada, passei do lancinante do tipo nem consigo andar / deitar / sentar, para o dói quase-sempre, mas já se anda, meio coxinha, mas anda; e finalmente para o olha, agora não dói e duas horas depois lá está outra vez o corpinho, malcriadamente, a dizer que existe. Uma perna a ficar intermitentemente dormente. Uma anca a só suportar 5 horas de sono. Uma sensação de cãibra constante nos gémeos. O choque tipo alta voltagem na coxa. Às vezes tudo ao mesmo tempo, outras alternadamente. Seguidinho foram os dois meses em que não sentia completamente o pé direito, só andava de ténis ou com as (únicas...) sandálias rasas com sola e revestimento quase ortopédico, porque tinha medo constante de cair. Princípio de Setembro, e um dia já sinto o pé todo. Todo! Se não o visse todos os dias, alturas houve em que parecia que se tinha sumido. E finalmente, ali estava. Mas continuei de salto raso, porque o resto, pois. 

Juro que não quero ser aquele tipo de pessoa que parte uma unha e se vai queixar, de lágrimas nos óios, à pessoa com a perna engessada. Sobre isso, um dia ainda conto aqui uma boa. Mas eu cá sou a dona aqui do tasco, que é um tasco virtual, e sei lá se há quem esteja pior. Assumo que sim, há sempre alguém pior que nós. Ou melhor, e a esses os meus sinceros votos de que se mantenha e ainda melhore. E que nunca vos calhe uma hérnia discal tombar em cima do nervo ciático. Pela minha rica saudinha.

(estou tão acagaçadinha, credo, sou a miss medricas da década, mas a parte do fartinha de sofrer e ter uma qualidade de vida muito diminuída em relação ao que tinha ganhou. acho que tomei a decisão mais racional. mas estou acagaçadinha.)

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O inferno são mesmo os outros, e tenho uma lista

Éramos todos mais xófens, mais inocentes, mais imbuídos de esperança (lembram-se?), naqueles tempos iniciais da pandemia em que se propalava "vamos sair disto melhores". Não saímos, e eu já sabia, que sou uma cabra cínica que nunca acredita nestas merdas delicodoces pseudo-proféticas. 

Resumindo e precisando, com a preciosa ajuda de um meme gamadíssimo da internet:


Anda tudo maluco, ainda mais que antes, e continua a ser crime assestar umas valentes bolachadas na face alheia. Vá, umas palmadinhas no rabiosque, só a título pedagógico. Mas não se pode, não pode. Pena. Que com a idade a paciência diminui na razão inversa da chalupice que uma pessoa tem de aturar, e refiro-me apenas ao ambiente laboral porque, para além deste (consulta notas) não tenho vida que se conte.

"Ah, mas pagam-te para isso, ou não pagam, faz parte, julgas o quê". Eu cá já não julgo nada, pah. Enquanto o ordenado der para ansiolíticos, cá estamos, mas ele há 'ssoas, santa paciência, ele há 'ssoas. E um coisinho destes em cima da secretária, é que era:


 

(vai ser este calvário em doses semanais, até meados de Dezembro, e tenho a certeza que não mereço)

   


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Dá-se, a quem estimar

- Cifose dorsal;

- Uncartrose e artropatia facetária posterior, com moderada etenose foraminal direita;

- Ligeira artropatia facetária posterior;

- Escoliose lombar dextro-convexa;

- Discopatia degenerativa;

- Hérnia discal em L4-L5 com ligeira migração descendente;

- Hérnia discal em L5-S1, com migração descendente.

Condições especiais (transporte e entrega grátEs) a interessados no pacote integral (código KosTasFudiDAs).

Eu, por mim, acho que vou pedir para me instalarem uma coluna nova.

Em adamantium, que isto do osso não presta para nada. 

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Então vamos lá a isso, tudo de mãozinhas no ar para um belo momento de comiseraçãozinha

 *esqueci de especificar: é um momento de auto-comiseraçãozinha 



Caso alguém ainda tenha curiosidade (já sei, não têm), e pergunte (ok, ok, não perguntam) "ó Izzie, filha, donde andaste tu, que fizeste quatro meses e picos tão caladinha", eu respondo (pronto, ninguém quer saber, mas isso nunca me deteve), com toda a verdade!, toda a çinçeridade!, toda a acutilância que me caracterizam (tenham paciência, façam-me a vontade e finjam que acreditam).

A deprimir. A chorar. A desesperançar.

É. Sou uma pessoa muito em cima, uma companhia muito boa, a alegria da festa (nota: não há festa).

Em jeito de resumo autobiográfico, sou uma deprimida crónica, (ou, tivesse nascido rica, desocupada e no século XIX, uma melancólica inveterada, prefiro esta versão). É um facto, já me habituei a lidar com ele (30 anos de experiência, não vem no CV, não serve para nada, mas pronto), tomo a minha dose química de sobrevivência e cá vamos andando.  

Sucede, porém, que até o mais atento e experiente deprimido pode cair ainda mais um bocadinho. E, como experiência nem sempre equivale a competência, o deprimido crónico ignora os sinais, anima-se com o eterno "é só uma fase", seguido do sucesso "isto passa". Mas não passa. Uns dias piora, outros não piora. Mas não melhora. 

E segue a requentada rotina: tristeza permanente, choradeira persistente. À menor provocação. Por norma despachava a situação logo de manhã, depois do banho, que nisto (só nisto) sou muito organizada: despacha-se a deprimência logo de manhã, que é quando começa o dia. Da choradeira ficava arrumada; mas já a tristeza, a sensação de desamparo, desconsolo, a anomia, carregava-as todo o dia. Ainda assim, persistia em encontrar causas - que as havia, e há - e soluções, népia, adiava. Porque. Vai. Passar. Só. Porque. Sim. Caso vos tenham enfiado a balela, fica aqui a voz amiga: pensamento positivo não é solução. Principalmente quando o nosso cérebro não o consegue gerar, e faz uma fita do caraças quando o tentamos forçar.

Depois há o dia em que uma pessoa  tem um lampejo, assume, e procura ajuda, sem reservas. Marca a consulta, não disfarça, chora ali toda a baba e ranho que vem acumulando, e sai com a receita reforçada. E resulta. Há quem tenha um nojo muito específico a esta solução, "ah, estás a encher-te de químicos", e depois? Química está em tudo. Nós somos química, é aqui que está a receita de como funcionamos, pior ou melhor. Química é a sopa que é o nosso cérebro. Um bocadinho de sal a menos ou a mais pode estragar ou consertar. Há que abraçar a química. Dar valor à química. Achei que era oportuno lembrar, diz que hoje é o dia mundial da saúde mental. Afinem a vossa receita de sopa, se não vos souber bem. Vale a pena. Mesmo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Querido Diário:

 A pessoa tem muito com que se chatear; a pessoa precisa imensamente, estupidamente, intensamente, de válvulas de escape; a dita pessoa já teve, na escrita no blog, essa válvula; a pessoa quer voltar a ter.

Mas: como. Quando pergunto "como" é mais "escrever sobre o quê". Não, este não é um post à pesca de comentários de sugestões. É um post introspectivo do tipo "quem sou eu [agora], o que devo dar de mim, o que quero dar de mim". Blaahhh, super chato, eu sei. Nunca antes tive este tipo de interrogações: como uma pequena amostra o poderá revelar, escrevi sempre sobre o que me dava na gana, fosse o assunto sério ou fútil, de interesse relevante ou só parvo, intimista ou sobre o muuuundo e as 'ssoas em geral, música, livros ou cinema. Ou seja, nunca conseguiria fazer vida disto, porque coisinha mais generalista, all over the place, não há. Zero editorial, zero temática, zero a comportamento, principalmente. 

Acresce que há aquele sentimento (será isto, a maturidade que só a idade traz?) de que, se calhar, muito se calhar, tendo para o oversharing; e que se calhar, mesmo muito se calhar, talvez isso não seja avisado. Esta boquinha muito pouco santa já me meteu em tantos sarilhos, credo. E, em vendo, se calhar já não tenho paciência para polémicas, ou para dar o flanco. Que chatice, isto de ser crescida. Ou assim. Verdade seja dita, esta tasca sita numa viela pouco frequentada, até pelo mosquedo dos turistas ocasionais, pouca chatice me poderá trazer, actualmente. Na verdade, tirando da equação os que me conhecem de conhecer, e que já estão habituados aos meus repentes e disparates, poucos ou nenhuns dos eventuais passantes me poderão causar mossa.  Mas coise. Já não me apetece, as mais das vezes. Se calhar isto deriva de um excesso de navegação (sem participação, livra) no twitter onde, da casca de um alho, se cria uma guerra sem quartel. Já não tenho paciência para essas situações. 

E depois há aqueles dias em que até tenho ideias que parecem boas ideias de cenas para partilhar, mas. Ah, o ímpeto de escrever toda uma elaborada tese e, ainda antes desta me saltar das pontas dos dedos para o teclado, o cair da ficha "isso não interessa nada". Donde, se calhar o melhor é fazer o número de sempre: improvisar. Preciso da distração. Vamo'lá ver: sapatos dez números acima, check. Nariz vermelho de bola, check. Maquilhagem ridícula, fato mal cortado, amarrotado, e a não combinar com nada, check. Cabeleira de nylon baratucho em cores berrantes, olé, cá está. Tarte de creme: vamos tratar disso. Tropeçar e cair de forma ridícula, oras, é a minha especialidade. Disparatar para não pensar (demasiado) no que é grave e pesado e triste e preocupante: é praticamente o meu modo de vida. Opções.

Só passar aqui o chão a pano, que está uma miséria de pó.


 

terça-feira, 13 de setembro de 2022

 Há quem se queixe da chuva torrencial, e há quem fique encantado com esta bem oportuna (e grátis!) lavagem auto da natureza.

É pena é não haver um fenómeno meteorológico de aspiração, mas não podemos querer tudo, né.