terça-feira, 23 de abril de 2019

Não posso ir a lado nenhum

Que só acontecem desgraças, caneco, ora arde uma catedral, ora há uma greve de distribuição que deixa o país à míngua de combustível, ora há um acidente onde morrem três dezenas de turistas, e nem falando já do Sri Lanka, coisa mais horrível, pavorosa, nem há palavras para descrever o que se sente perante aquele terror.

De qualquer forma, e de volta à rotina, que me recebeu de braços abertos e cheios de papelada, cá estamos. Os gatos sobreviveram, e receberam-nos com a normal euforia felina, que é como quem diz, quem aguenta quatro pares de olhos frios de desprezo, aguenta uma enxurrada de trolls que vieram cá parar só esta manhã, saberá uma qualquer divindade vindas de onde. E logo hoje que não dormi nada de jeito (a box não deixa gravar o GoT!), e tenho aqui trolls a sério que me vão render o dia todo. 


sexta-feira, 12 de abril de 2019

E é por isto que não posso ter coisas boas

Ou vá, gabar-me falar das coisas boas que tenho na meretriz da vida: vem o universo e zumba, castiga-me logo severamente a soberba. Ai já andas aí toda tagarela a falar da viagenzinha?, então pega lá uma revisão + inspecção + mudança de pneus do carro para equilibrar. E que grande equilíbrio: vou deixar na oficina o equivalente ao que custa a viagem e estadia, que bom, apre, mas caraças, tinham os pneus da viatura de se escalavrar todos, hã, uns deles com fissuras que, valha-me isso, foram descobertas antes de meter numa auto-estrada?  Bom, já devia esperar, parece que a vida útil do pneumático é de sete anos, confere.
É para isto que um gajo trabalha e ganha dinheiro: para depois o atirar todo pela janela, abençoadinho.
Vou ficar aqui caladinha, mazé. Chiu. A partir de agora faz de conta que vivo de côdeas de pão e visto trapos.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

A minha vida é isto, uma luta de classes constante, se calhar Marx explica

Ora pois então sucede que, embora mui apreciadores do passeanço, não saímos da pátria mãe desde 2015, por vicissitudes várias que não cabe aqui explicar. Sucede ainda que não tenho férias desde 30 de Julho do passado ano (chuif), já estive menos rebentada, e se não me ponho a andar daqui para fora já sei que nas férias acabo a fazer uma perninha. Vai daí, vamos uns dias lá fora, ver se chove.

A escolha faz-se sempre da mesma forma científica: lista de sítios que não conhecemos (ainda são muitos), pesquisa de voos, escolher o que mais conv€m. Não que seja o único factor, no caso a passagem até nem é a mais barata, mas para os dias livres era jeitosa, havia vagas, e o preço do alojamento por lá foi uma alegre surpresa.

Agora entra a parte rezinga, muito derivada da minha luta interior de Olívia patroa, Olívia costureira. Por exemplo, é verdade que a vontade de ver Veneza é imensa, mas eu também sou sinto-me uma vítima da turistificação, e tenho mesmo imensa pena dos venezianos. Donde, corta. Nem calhando, a nossa última saída foi para Praga, cidade que nos parecia fazer caretas a cada esquina, toma, toma, é nisto que se está a transformar a vossa Lisboa. Sou solidária, portanto, com os nativos. Todos, mas nem tanto que me abstenha de ir seja onde for. De qualquer forma, quero crer que lá fora me comporto - e sempre comportei - de forma a representar um incómodo menor: sim senhora, ocupo espaço, mas não faço más figuras, não sou mal educada, tento passar despercebida. Ao contrário do que tenho sentido da mole humana e estrangeira que nestes últimos três anos tem invadido Lisboa. Porcões, arrogantões, gritões, malcriadões, beberrões de merda, pardon my french. Eurotrash, pura e simples. O facto de ter um alojamento local debaixo da minha alegre casinha (cuja lotação é superior aos actuais habitantes do prédio) não ajuda. Mesmo nada. O brexit já foi uma bela gota de água, mas ter um grupo de ingleses por baixo uma semana, ui, nem vos digo o que aumentou a minha xenofobia selectiva. Os alemães também benzós, mas para chegar ao nível destes ingleses ainda têm de beber muita cerveja. Literalmente.

E agora continuem comigo, por favor, sim, isto tem uma lógica, embora não pareça do raciocínio tortuoso supra: nunca tive aquela cagança de dizer que não sou turista, mas sim uma viajante, porque, noção. Claro que sou turista. Zero vergonha nisso. Posso não ser o tipo de turista da viagem organizada, autopullman do ponto A ao ponto B, resort fechado TI, etc, mas sou turista. Não sou é lixo*. E também não sou uma pedante que compra aquelas neo-tretas de ah, e tal, vou ao sítio x e quero sentir-me como se fosse de lá, tázaver, ter as experiências dos locais e coise, p'cebes, ver as cenas pelos olhos deles, dormir onde dormem, comer onde comem. Treta, treta, treta: somos sempre estrangeiros numa terra desconhecida, ainda que seja a décima quarta ida, e até já topemos as tourist traps à légua; não, não somos assimiláveis aos locais, e não, não teremos a experiência de ser local, a isso chama-se emigrar, e ainda assim só se for por uns anos valentes. Donde, a tal local experience que é vendida com o alojamento local, ei, ei, ei, venha viver num bairro local, durma com eles, compre onde eles compram, os nativos, é dos maiores golpes publicitários de sempre, e o pior é que pegou. Os grandecíssimos poios que se alojam lá no prédio são, por norma, uns valentes pés rapados, forretas, ou sei lá eu o quê, e pior, arruaceiros que se estão nas tintas para o descanso e bem-estar dos locais. Sim, sete alminhas num T2+1 (onde enfiaram duas camas de casal, uma single, e um sofá cama), a pagar uma diária, à cabeça, que nem um hostel cobra, são o quê, viajantes, curiosos do mundo e suas pessoas? Poupem-me. E se lhes devo a aliás oportuna abertura de duas lojas auchan nas proximidades, que sempre dão para desenrascar, a verdade é que ali o que mais têm para venda e os camelórios de facto compram são cenas para sandes, cerveja, e vinho mais caro que na concorrência, ao menos isso, chulem os motherfuckers.

Donde, orgulhosamente: não contem comigo para me alojar via airbnb. Ne-ver. Hotel, é que é. O hotel, ou qualquer estabelecimento de hotelaria, paga licenças, compra a fornecedores locais, emprega pessoas (ainda que paguem mal, essa é outra luta), paga impostos e contribuições, tem inspecções, enfim, trata-se de uma unidade económica que contribui para a criação de riqueza. Um AL (e estou a falar de apartamentos ou quartos destinados a tal, não a pequenos hostel) criam o quê? Temos de um lado, a maior parte das vezes, um proprietário que, em vez de arrendar a habitantes, arrenda a uma empresa parasita, afinal até paga menos imposto sobre o que recebe. A empresa parasita (muitas são estrangeiras, o caso da nossa é uma unipessoal cujo sócio é uma outra sociedade com sede em offshore, sim, eu fui investigar, e eu descubro tudo, assim esteja motivada) tem uma sede que não passa de uma domiciliação para correspondência, contrata tarefeiros, a recibo, para cargos tão pomposos e ocos como property manager ou host/ess, contrata empresas de limpeza cujas empregadas são tantas vezes trabalhadoras estrangeiras, a ganhar fortunas de €2 à hora, e uns trolhas para arranjos que aposto não passam facturinha.

É isto. Pedindo, de novo, antecipado perdão pelo meu francês, uma autêntica casa de putas, tudo pela porta do cavalo, por baixo da mesa, nada de emprego, nada de rendimento que acrescenta, apenas lucro fácil que, no fim, feitas as contas, e em termos globais, são trocos. E um dia, que vai chegar, mais cedo ou mais tarde, rebenta. Já aconteceu, e nessa altura fazem o quê às casas, que as pessoas que lá queriam viver não tiveram outro remédio que não se endividar na banca para comprar no subúrbio. Suspiros.

Donde, pqp, turista serei, em hotel me alojarei, e pequeno almoço fufê degustarei. E com um incomensurável menor risco de voltar com um camadão de sarna ou marcas de percevejo. Poizé. Cá por coisas que eu cá sei.


*não, não vamos tirar selfies ou fotos-recuerdo pessoais no memorial do Holocausto. não estou a brincar: já vi dissoem blogs, feice, instagrã: lixo.

sábado, 6 de abril de 2019

Entretanto comprei uma cinta lombar, a minha vida é uma féchion-excitação

Nós no ECI, rés-do-chão, entretidíssima a ver a malaria, ele a acompanhar (e não faz mais que a sua obrigação, lesse o contrato antes de assinar), quando vejo e lhe mostro olha, olha, voltou a usar-se estas bolsas de cintura, e ele isso não é uma "bolsa de cintura" [juro lhe lhe ouvi umas aspas sarcásticas], é uma fanny pack, reviro os olhos, eu sei, mas é um bocadinho diferente das antigas, e ele, é uma fanny pack, uma fanny pack é uma fanny pack, e eu, paciente, pá, reconhece que dá um certo jeito quando uma pessoa vai de viagem ou assim e é mais segu..., e ele insiste, é uma fanny pack, eu até sou muito tolerante, mas não aceito uma fanny pack, e eu, cândida, ok, pronto, mas há umas que são giras, que eu já vi, tipo uma malinha pequena com alças atrás e se prende no cinto, e ele, bruto, é uma fanny pack à mesma, e eu, eloquente, é que não consigo encontrar uma mochila jeitosa, com uma mala a tiracolo e como estão as minhas costas..., e ele, indiferente, eu amo-te muito, mas és tu a aparecer com uma fanny pack e eu fico no aeroporto, vais sozinha, e eu odeio-te tanto, não disse mas pensei, mas entretanto lembrei-me que o moinante já anunciou que vai levar a mochilona, e adivinhem quem vai carregar com os pertences aqui da menina que é uma beleza.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

[...]


Vinha para aqui com um relambório infindável que na verdade não interessa a ninguém senão a mim mesma, mas entretanto lembrei-me que a) odeio pity parties, (embora nas minhas se coma e beba muito bem, nem falando na música, mas, lamento, não trouxe chocolate para todos); b) prometi a mim mesma acabar com esta quedazinha para o oversharing (bom, na verdade foi mais um diálogo interior do tipo ó minha grande estúpida com tendência para o dramático ali a cair para a tragédia grega, filha, deixa-te disso, as pessoas estão a olhar); c) esta coisa de um blogger ser um livro aberto é muito 2015 (quoth the raven, "nevermore").

Donde, e resumindo, levou o seu sweet time, desta vez, mas vai passando.

E não, ainda não acabei. Posso estar um bocadinho acabada das cruzes, nem falando de outras pequenas maleitas, algumas até de nervos, mas ainda não acabei.