quarta-feira, 26 de setembro de 2018

The Cat Diaries (15) Obladi, oblada

E começas o teu dia de (pré) trabalho a implorar negociar a rendição e regresso ao cárcere de um evadido muito laranja, que achou que não, não lhe apetecia ir já para casa, e sim, lá fora é que estava bem, e sim, conseguiste tirar-me do pátio, mas só porque eu quis, mas tenta lá fazer-me descer do muro, ahahahah, desprezo, ó tu aí em baixo, despreeeezo, reles humana.
Uns bons dez minutos, dez, de idas e vindas, calça sapatos vai lá ver se o bicho se apieda, escova cabelo e borrifa o perfume e volta, a ver se o bicho acha que já chega de gozação, e isto tudo enquanto tentas que os outros dois, já sugaditos em casa, não tenham uma ideia parecida e ei, se ele pode eu também quero, e zus, fuga.
Finalmente teve pena de mim, o meliante; lá espreguiçou, bocejou, saltou e veio, de cauda levantada, no seu ritmo, claro, ninguém apressa um felino. E eu agradeci (as you should), e recompensei com o petisco "regresso a casa"*.

Nem foi a cena mais humilhante do meu dia, porque entretanto sucederam pessoas, e que pessoas. Jasus, escolhe-as a dedo, o meu triste fado.

(mil vezes um gato rezingão, que já se sente no direito de mangar desta aqui, mas ao menos ainda sente pena e dá uma abébia)


*nós temos imensos rituais e rotinas, e já vemos resultados em termos de comportamentos. pensar que eram dois besugos medrosos e ariscos há ano e meio, lagrimita.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Mas para acamar, acamar mesmo

e a todos os descrentes, os ver para crer, os são tomé desta vida, recomendo uma passagem pelo twitter e uma busca pela hashtag WhyIDidntReport.
Devidamente acompanhados de um shot de empatia, claro. E lenços de papel.

E, para acamar

Ainda não recebi o catálogo do ikea. Epá. Epá. Sinceramente.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

God knows I'm miserable now

Se as pessoas soubessem como é difícil ser eu, davam-me já a reforma antecipada, e por inteiro, por total incapacidade para o trabalho. É que não dá, não dá ter tanta bola no ar, e eu tenho zero queda para malabarista. Um gajo ou trabalha ou trata de cenas, as duas em simultâneo não aguento. Isto é uma doença incapacitante, incurável, nada estudada e com nenhumas esperanças de cura, donde, aliviem o meu sofrimento, que era uma caridade que me faziam.
Chiça.
E antes que alguém apareça aqui com o estribilho "ah, e não tens tu filhos", respondo já "pois não, coitadas das crianças, ou melhor, felizes das crianças que se livraram de ter de lidar com esta percentagem de invalidez materna, e também já tomavam em consideração a extrema abnegação, até magnanimidade que foi eu não sujeitar petizes a essa existência horrenda e triste, e davam-me também uma comenda."
Apre.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

P'lo direito a uma m'lher se passar (valentemente) da marmita

Menina e moça minha mãe me educou para o feminismo: que nós podemos fazer tudo o que eles fazem, menos xixi de pé. Quer dizer, até se pode, mas há uma grande probabilidade de correr mal. Direitos iguais, deveres iguais (consequente e naturalmente), e que nunca me deixassem convencer do contrário. Também me introduziu nas falácias do argumentário opositor: não, o facto de um homem, por princípio, conseguir acartar uma saca de batatas às costas não prova que há diferenças naturais e físicas (e outras, suspiro, nem entro por aí, ainda sou do tempo do estribilho "as meninas não têm jeito para matemática", fica para outro dia), ergo, isso da igualdade é parvo. Uma mulher também gera filhos, um homem não, e depois? Igualdade de direitos e deveres não equivale igualitarismo, o que se pede é igual dignidade, igual tratamento perante a lei, igualdade de oportunidades e de acesso a estas, ou seja, que ninguém seja discriminado em função do género, tal como ninguém deve ser discriminado em função de cor de pele, religião, orientação sexual, e por diante.

Alertada também fui que a luta pela igualdade não implica que se mimetize comportamentos normalizados e aceites ao género masculino, e que são em si errados ou censuráveis: cuspir para o chão, por exemplo, é feio, seja-se homem ou mulher (ou transgénero, ou seja o que for). Nesse aspecto, fazer igual é má criação, não é libertação. Idem aspas para outros tantos comportamentos, como o piropo ou assédio, andar à bulha, ou praguejar. A minha mãezinha é muito coisinha com o uso do palavrão: não aprova. Mais que um "merda" dito em ambiente seguro e/ou familiar é feio, muito feio. Logo lhe havia de ter saído uma filha com costela de carroceira, já lá vamos. Já noutros aspectos como depilar ou não depilar, usar calças (a minha mãe é do tempo em que menina ou mulher séria não usa calças), ter cabelo curto ou grisalho, cada um/a que faça como lhe aprouver, são coisas de foro pessoal e inatacável.

Ora se tudo me fez muito sentido, sim senhora, e ainda hoje faz parte do (mais alargado, atenção, isto não é só nem tudo) núcleo duro do meu feminismo, a parte do praguejar e bulhar (embora excluindo o confronto físico) é que me caiu muito mal. É que eu tenho uma visão muito libertadora da actividade de barafustar, e uma prática muito livre do uso do palavrão. Como uma taça de gelado, uns quadradinhos de chocolate, meio quilo de cerejas, é algo que às vezes me cai tão bem. Mesmo o que precisava para acalmar uma arrelia, para me resolver uma contenda ou acabar um dia especialmente mau. E, tendo sido fadada com um feitiozinho muito especial, daqueles que (já menos, felizmente) me leva do zen ao holocausto nuclear em sessenta segundos, caramba. Não se faz. Eu preciso e, em calhando, eu passo-me dos carretos. Eu preciso e, em se ocasionando, eu uso uma linguagem de fazer corar as pedras da calçada.

Dito isto, não, não é característica de que me orgulhe. Aprendi a lidar com ela, nisto a idade de facto traz sabedoria, mas pronto, sou assim, uma bestinha que faz favor, em se reunindo as condições adequadas. E essas condições adequadas, que também podemos definir, mais doutamente, como estímulos externos, nem sempre são justas ou justificativas do passanço. Ou seja, pode acontecer barafustanço / praguejanço face a situações que o estavam mesmo a pedir, ou não. Sou humana, pá. Também tenho dias maus, susceptibilidades, fraquezas, e pode suceder estar num dia em que me vire para o outro lado pela casca de um alho, ou, também possível, aquela casca de um alho que veio acumular a muitas outras cascas de alhos, e pronto, calhou azar, foi aquela que me fez saltar a tampa.

Sou pior por isso? Se calhar. Em minha defesa, alego que o meu último passanço ocorreu quando num evento social me sentaram em frente a um patet'holístico anti-vacinas. completamente justificado, hein, não aceito contraditório. Consegui parar antes de  me sair um "burro do c*r*lho" ou pior, já não é mau. A Izzie de 15, 16 anos espantar-se-ia. Mas também já aconteceu - e ninguém ficou mais espantado que eu, apesar de os olhares de quem me conhecia de outros e mais exaltados tempos terem sido também de puro espanto - ter-me levantado durante um jantar para ir fumar um cigarro a meio de uma diatribe racista de um outro conviva. O "ir lá fora fumar um cigarro" tem-se revelado um grande coping mechanism, já agora (ainda não tinha usado uma palavra em ixtrancheiro, hein!).

Sumariando: a) passo-me da cabeça; b) em acontecendo, pode suceder acumular com ser muito malcriadona ao nível do uso da caralhada; c) não, não é bonito ter esta característica; d) mas tenho; e) a maioria das vezes descarrilo em situações em que presencio actos indefensáveis, ou alguém desata a expor ideias / opiniões completamente ofensivas ao nível de direitos humanos, respeito básico pelo outro, ignorância atroz, civismo, enfim, coisas mêmo, mêmo; f) mas também já aconteceu descer do salto e rodar a baiana em situações de cúmulo de picanços por merdinhas a que não devia dar importância; g) também já descalcei a chinela e pus a mão à anca em ocasiões completamente injustificadas, fruto de ou i) uma excessiva susceptibilidade; ii) mal entendido; iii) errada interpretação  / leitura (minha, só minha) da situação.

E agora, desde já parabenizando quem conseguiu chegar aqui, o ponto da questão: ainda assim, defendo e exercerei o meu direito ao passanço. Mesmo correndo o risco de ser injustificado. Ou exagerado. E não admito, porque não admito mesmo - e aí a expressão "holocausto nuclear" assumirá logo um contexto quase literal - que, em me passando e, quiçá invectivando, seja admoestada porque "te fica mal", "não é um comportamento de uma senhora", "ai que figura", "estás histérica", "não sejas ordinária", "não passas de uma arruaceira", "estás a deixar mal a/o tua/eu [inserir tema ideológico em causa]", "pareces uma peixeira", "estás completamente descontrolada", "deve ser aquela altura do mês", "não tomaste a medicação", "estás descompensada", "uma doida varrida", "falta de homem"; quando um homem, nas mesmas circunstâncias, até poderá ouvir que "passou das marcas", "exaltou-se", se calhar até "exagerou" ou "não havia necessidade"; mas, mas, mas, afinal é uma pessoa com "ideais muito arreigados", "muito assertivo", "defende aquilo em que acredita", "é natural, sentiu-se ofendido / atingido" e "quem não se sente...", além de que "já sabem que é assim, não o provocassem", ou "caramba, é genioso".
É que aí solta-se a Izzie de criação suburbana e, além do chorrilho de asneiredo, ainda levam uma cabeçada à Cais do Sodré que andam a cagar dentes uma semana; um rotativo nos queixos que têm de comer a sopa por uma palhinha; ou com uma tábua nos cornos que para verem televisão têm de por os óculos na nuca.


[este post poderá - ou não - ter sido inspirado num episódio de passanço da vida real - alheia - mal/não/in/justificado, e principalmente nas reacções que se lhe seguiram]

terça-feira, 11 de setembro de 2018

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Aqui há dias metia-se um colega comigo, para eu ter calma que ainda vou andar nisto mais vinte anos. Bingo, são mesmo vinte. Certinhos. Desconfio é que vão custar mais a passar que a primeira metade, ou então não estou cá para cortar a meta. Donde, a ver se ganho juízo e me deixo de maratonas, a ver se poupo o corpitxo para a marcha longa e lenta.

(jesussenhor, salva eu, salva)

terça-feira, 4 de setembro de 2018

First World Problems

Nada como uma ida à superfície comercial da zona, a partir das seis da tarde, para soltar o Agecanonix que vive em nós.
Nada contra os estrangeiros, de facto, desde que entulhem lá os estabelecimentos deles.