quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

(esta agora baixinho, para ninguém ouvir)

 (ou ainda me cancelam o cartão de feminista, ahém)

Também vimos o Barbie. O filme, não o Klaus (piada muito datada, para pessoas antigas como eu). Fiquei entre o desconsolada (eu nem gosto na boneca, eu era mais Nancy, e estou aqui a ver isto), e o furiosa (ah bom, se isto é o feminismo moderno, milenial, de terceira vaga, estamos bem entregues, sim senhora).

Em resumo, valha-me uma divindade qualquer, não sou esquisita, e assim com'assim também não acredito. Mas gostava porque, no caso, uns raios e coriscos eram bem adequados. Aquilo, pah, aquilo é um desfiar de feminismo palatável, urbano-chic, cor-de-rosinha, vogue, não se aguenta. Ai, as expectativas que caem sobre as mulheres, mas depois a cena "celulite" é running gag. Ai, das mulheres espera-se e exige-se tanto, e se queremos brilhar temos de trabalhar o dobro, mas o "trabalho" da bonecada é tão pueril, tão fofinhoco-superficial, e pior, tão assente num status quo que, no mundo real, não admitimos exista! Sim, a barbielandia é um local assente numa organização social profundamente injusta, de primado de um sexo sobre outro porque (ahém) uma é o brinquedo "oficial" e o outro é o "bengala". Anyone? E a cena de ah, é a boneca que nos faz crer que as mulheres podem ser o que quiserem. Primeiro, não podem. Podem querer ser, mas não podem ser. Porque realidade, não me obriguem a dar exemplos. E deixem-se de merdas, não basta vestir uma boneca de fato macaco (rosa, já agora) para vir dizer que promove a equidade. Balelas. 

Anyhoo, já estava enjoada de rosa, e de vacuidade, e fofinhice, e nós rulamos, yay, e somos windas apesar de diferentes (mas celulite, iac, só há uma gorducha, e a esquisita vive à margem, adiante), e eis que entra o Ken. Ok, a representação, tal como a da Barbie, é fidedigna, é aquilo que ele é. E depois lá vão todos para o mundo real, mas não tão divertidamente como noutras fantasias. Spoiler alert, o Ken descobre que (pá, que barrigada de riso) só por ser home pode arrogar-se ser o que quiser, apesar de - óbvio - não ter competência seja para o que for. Mas é macho, e descobre a machitude no mundo real. E leva-a para a Barbielândia, onde reivindica as casinhas cor de rosa (nota, não estou numa cruzada para defender os homens, porque não precisam, mas o facto de o Ken não ter casa é.... esquisito) e machifica  os outros Kens. E pronto! Lição social! Os Kens não têm nada na cabeça (lol) mas só porque são homens podem tudo (cansaço). E a Barbie fica muito espantada por a sua influência no mundo real (a cena de promover a mulher, caso já tenham esquecido) não ser tão grande como devia (pah, 'tá mal). Claro que a Barbie volta, não gosta do papel que os Ken chamaram a si, e organizam, as B todas, um golpe para reconquistar o poder, com o plano mais tolinho de sempre, e que resulta porque os Ken são uns cabeças de vento. 

Muito cansada. Muito, muito cansada. É que nem sequer terminam num tom positivo de cooperação e equidade entre sexos, nope, a história dá uma volta completa e regressa ao ponto de partida: ninguém aprende, ninguém evolui.

E depois há a coisa de simplificar as partilhas e tomadas de poder, que as m'lheres são inteligentes, a gente ganha, lol. Não. Porque os Ken, além de descobrirem que o man-card dá acesso prioritário a tudo, também aprenderiam, porque o veriam, que um encontrão, um empurrão, um bananão, e ao ar a inteligência. Porque se queremos falar de realidade, falemos disso: a ainda prevalente submissão feminina assenta na repressão que, por sua vez, depende da iminência do exercício da força física, da efetiva, real, sempre presente violência. Não há corderosismo que branqueie isto. 

Suspiros. 

Na altura achei que era uma cena geracional, o não ter gostado do As Mulherzinhas desta realizadora (enervou-me tanto, mas tanto, dizer-se que era a versão feminista que as mulheres merecem! pá, o livro já é feminista. mas realista, também. e se é preciso explicar, por a+b, o sentido de vida da Amy, então é porque não perceberam nada), mas pelos vistos somos mesmo incompatíveis. Feminismo deste, dispenso.

  

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Pagava para saber

Desde quando passou a ser socialmente aceitável uma pessoa ter atitudes rudes, malcriadas, mesmo ordinárias, não em contexto de convívio social, entre gente que se conhece e até pode ter abertura para certas "manifestações", mas com desconhecidos, gente que está a exercer uma função ou profissão, a fazer a sua vidinha, ou a quem simplesmente calhou o azar de se cruzar com a bestunça? É no trânsito, é em estabelecimentos (e juro, é preciso ser, além de uma cavalgadura, muito desprovido de imaginação para hostilizar alguém que vai mexer na nossa comida, adiante), é no trabalho, e já não tenho espaço mental, não tenho paciência, não tenho obrigação, e outro dia a coisa chegou a tal ponto que me levantei e saí, a perimenopausa, o hipertiroidismo, a carência de ferro, a ansiedade crónica e o mau feitio juntaram-se todos numa manobra defensiva de "não tenho força nem vontade de aturar isto" e, em bom rigor, não tenho mesmo o luxo de poder dever encaixar feitios merdosos, misóginos, e grunhos. 

E, para acamar, depois de uma nega de quem manda mais que eu, alguém a tentar meter-me uma cunha, puxando à lagriminha. Fiquei dois, três dias sem reação. É que favores, não temos. Nem dados, nem vendidos, nem emprestados. A lata, sequer, de pedir. Já ultrapassa a falta de noção, é não me conhecer. Ofendi. 

(há a tese que é desde a pandemia, as pessoas "mudaram"; mas, se vamos por aí, há tanto psicólogo sem trabalho, invistam um bocadinho no olhar para dentro e melhoramento pessoal, hã.)

   

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

'tão

No sábado vimos o último do Indiana Jones (até me dá uma tontura, ter o nome "Indiana Jones" e último na mesma frase) e ficámos tão desconsoladinhos, tão tristes, tão amarfanhados, que vimos os outros (três, são só três, e em toda a minha vida só vi três, e esfolo, estripo, dependuro quem me contrariar) de seguida.

 Óia. Pah. Lagriminha de felicidade e nostalgia. 

Um dia, contaremos aos pequenitos, à roda de uma fogueira (virtual), debaixo de um céu estrelado (gerado por i.a.), sobre aqueles tempos em que se levava quinze dias, três semanas -depois de outros tantos a escrever, desenhar storyboards, pré-produzir - a filmar uma cena de ação, com atores, duplos, uma equipa técnica bastante boa e grande, e a coisa ficava, ó, bem melhor c'as joças que vedes agora. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Vim só aqui aproveitar um bocadinho, enquanto não me fino

Como já tenho pouco que fazer (quarenta trabalhos quarenta, para ler e avaliar, somados ao trabalho normal que nesta altura por acaso é ainda mais anormal que a anormalidade normal) andei a ver de cursos pós graduados em que me podia inscrever. Eia! Aprender! Fazer curriculum! Eia! Juro, há dias em que fico exausta só de me aturar, não entendo é como consigo nos outros dias. Encontrei um bem interessante, por sinal. Uma matéria em que não só ia consolidar conhecimentos como até aprender cenas novas, e bem úteis para o meu dia a dia (no trabalho, a pós graduação não me vai passar roupa, mas é pena). Custando mil e cótrocentos pastéis de bacalhau. Eia. Até vale? Valerá. Mas some-se as três horas por semana em zoom pós-laboral, por quase cinco meses, e não, pah, não aguento. Caiu a ficha da exaustão. Pior: uma das aulas calhava no aniversário de me mate. Resolvido. Mas é bem interessante. E útil, já disse. 

Estava nesta ambivalência de Izzie hiperactiva / Izzie preguiçosona, e vi outro curso. Eia! Aprender! Não fazer curriculum! Tempos livres! Actividade manual! Eia! Inscrevi-me, paguei (proporcionalmente, é bem mais caro, mas é bem feita, quem manda os académicos de direito serem tão chatos, é o mercado) e vou queimar dois dias de descanso lidando com um material volátil altamente tóxico. Na brochura do curso nem uma palavra sobre equipamento de segurança individual. 'Tá bem, fornecem todo o material, vou dar a abébia de pensar que as luvas de nitrilo sim senhor, mas não acredito na máscara de vapores, méne, eu sei quanto custa uma, porque a comprei (sou uma pessoa dada a empreitadas que implicam manuseamentos de acetonas, diluentes e outros potenciais acidentes). Enfim, levo na mochila. Não vou lixar mais os pulmões que o tabaco já lixou, nem arriscar uma dermatite de contacto, ou infecção ocular (quando se fala de coises voláteis, convém usar ólicos estanques, tenho três pares de óculos de segurança, estes são como os de natação, mas em grande, para te ver melhorrrr, comprei em conjunto com a máscara), chiça.   

De resto, é assim, a vida. Chata como uma panqueca. E seca como, também. É barrar de manteiga. Ou doce. E canela. Vou deixar a pós graduação em stand by, que é como quem diz, nope. Tenho tanto livro para ler, e tanto soninho para repor. E tanta malha para acabar, iniciar, e retomar. E um bolo inglês prometido. E uma casa para arrumar - a sério. Não tenho tempo para viver tudo o que quero.