sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Passeio higiénico, educativo, e de encher as vistinhas

 Quando vim morar para estas bandas havia quem dissesse que ah, não sei quê, essa zona não é um bocadito má, e isto era as 'ssoas a tentar ser educadas, o que elas estavam a dizer é essa zona é má. Algumas eram mais directas, iam logo ao assunto, isso não é perto da sopa dos pobres; e eu que sim, é. A quem dizia isto se calhar fazia falta passar lá em frente, de vez em quando, e ver o tamanho da fila logo ali às onze e picos. Também lhes faria bem ver como vive parte da nossa população, sim, estou a falar especificamente da sem abrigo que, ou muito me engano, ou está a aumentar outra vez (aumentou muito na altura da troika). É educativo, e reforça ou ao menos exercita o músculo da empatia. Quero eu crer. Ah, não me digas que tu és daquelas vermelhuscas que acham que lhes devíamos dar casa e comida de borla, e nós a pagar. Pronto, então não digo. Envergonha-me profundamente saber que há quem viva na rua e passe fome. 

Adiante.

Voltando à zona: isto aqui pelos Anjos, Arroios e zona baixa da Penha é espectacular. Primeiro, porque em 2003 ainda se conseguia (eu consegui, pelo menos) comprar casa. Até há pouco tempo também se conseguia arrendar, pelo que é uma zona que tem GENTE. Pessoas a sério, normais, de todas as idades: velhos a passarinhar e atravancar passeios e filas de supermercado; crianças de mochila a ir para a escola; tudo o resto pelo meio a ir para escola, universidade, trabalho. Gente de vários estilos, proveniências (parece que em Arroios vivem pessoas de 70 nacionalidades), muitas caras diferentes, e isso é que faz um bairro, que digo eu, uma cidade. Gosto disso. E comércio tradicional, de pessoas, para pessoas. Vieram os turistas e a loucura do imobiliário, e a coisa desmoronou-se um pedaço, mas tenho esperança que se mantenha. Por agora, voltámos à normalidade de bairro, embora com menos circulação. Certo, fizeram um condomínio de luxo ali no topo da Angelina Vidal, onde um T2 vale a pechincha de seiscentos mil e coiso, mas depois veio o PCP e pintou um mural no paredão que dá para a rua, e isso fez-me rir. Sim senhora, dito condomínio está quase todo vendido, às tantas a troco de muito visto gold, mas foi carimbadinho com exigências de justiça social. Loooove.

Bom, e é por esta zona má que fazemos os nossos passeios higénicos. Há quem prefira centros comerciais ouo ikea, mas digam lá se no monstro sueco (sem desprimor, hein, também sou freguesa e fã) encontram as verdadeiras pérolas da decoração de interiores que ainda sobrevivem na Almirante Reis:



Roam-se.

7 comentários:

  1. A Almirante Reis e as suas várias lojas de decoração é ainda hoje um mistério para mim, juro.
    (vou fazendo figas para que os cafés de anos aqui do sítio se mantenham).
    Beijinhos.

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    1. Wallis, uma maravilhoso e mágico mistério. É que as coisas que lá vendem ainda devem custar uns cobres valentes. E quem compra, quem? Ai.
      Mas já muitas fecharam :'( Havia uma enorme ao lado do Banco de Portugal, onde andei meses a fascinar-me com uma mobília de quarto com fitas led, e puf, já foi

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  2. Roer não sei mas morder... Eu vivo na Ajuda (era onde dava para comprar em 2004) não é bem centro mas ainda é cidade e tem perto as zonas de que mais gosto: Alcântara, Belém, Restelo. Os turistas eram um bocado chatos mas por agora foram-se. Temos o rio, jardins e parques infantis (fechados, mas hão de reabrir) por todo o lado e o Monsanto à distância de uns 15 minutos a pé (esforçados, a subir bem, mas faz-se). Temos pessoas de todos as faixas (etárias e sociais), temos escolas e miúdos a ir e vir a pé (adoro). Ah, e temos cocó de cão por todo o lado, vizinhos que iam (e hão-de voltar a ir) ao café de robe e chinelos, uma micro-tasca cuja esplanada está no outro lado da estrada (juro) e um terreno em frente ao prédio a ser vendido por um milhão. São tempos interessantes, estes.

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    1. Goldfish, a Ajuda é linda, a Ajuda tem uma luz e localização do caraças, mas fica tão fora de mão para o mê trabalho. Quer dizer, de carro era simples, mas eu tinha como pré-requisito fundamental a proximidade do metro.
      Mas sim, ainda há gente e ainda se vive na Ajuda, assim se mantenha

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  3. Acho q um cãozinho semelhanre está ou esteve nesta casa do Big Brother. Qdo se o vê incluído numa decoração mais organizada, fica muito menos chocante.

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    1. Fulipa, atenção, eu não digo que a ideia não é gira. Também não vou dizer que já tive e ideia de comprar um dálmata de louça, pintá-lo de amarelo, e pô-lo logo à entrada de casa (deixei-me disso por causa de gato Mad Max). Mas este bicho é enorme! Enorme! Quem é que tem casa para aquilo?

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    2. Sim, está casa do BB é arrendada a um tipo do futebol, p isso é bastante grande. Mas podes ter um pequeno gatinho de loiça:D.

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