Já agora, novidades. O que não falta por aí são movimentos e ideologias que defendem a morte de certo tipo de "gente", por considerarem que a dita "gente" ofende certos princípios ou regras éticas que são bandeira desses movimentos. Estado islâmico, anyone? Ah, mas esses são maus, e os defensores dos bichinhos são bons. Sim, sim, convençam-se disso. Nós, os nossos ideais, somos tão bons como os meios que escolhemos para os impor, defender, divulgar. Julguei que já toda a gente sabia.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
Fierce creatures
Pergunto-me se as pessoas que desejam ou defendem a morte, por vezes com requintes de malvadez, de um indivíduo que, cruel e deliberadamente, e para gozo próprio, causou a morte de um outro ser vivo, no caso, um animal, têm noção da contradição ética que a sua posição encerra. Entendo e/ou defendo a actuação deste fulano? Nem por sombras. Acho que qualquer tipo de actividade que causa sofrimento deliberado e injustificado noutro ser deva ser liminarmente proibida? Claríssimo. Mesmo sendo, por princípio, contra uma certa forma de justicialismo público, através de redes sociais, até consigo achar alguma piada à ironia de ter sido descoberto, e estar a ser encurralado, obrigado a deixar de exercer a sua profissão - aquela que lhe permitiu ter cinquenta mil bombocas para pagar subornar quem lhe proporcionasse a satisfação de perseguir, ferir e matar um bicho raro - nunca disse que sou boa pessoa. Mas defender que lhe devia acontecer o mesmo? Que devia morrer? Pior: que se pudesse, o matava, porque gente desta não faz falta? Ora, ora, ora. Não. Porque não me coloco no mesmo patamar sociopata de quem faz uma cena destas, ponto.
Já agora, novidades. O que não falta por aí são movimentos e ideologias que defendem a morte de certo tipo de "gente", por considerarem que a dita "gente" ofende certos princípios ou regras éticas que são bandeira desses movimentos. Estado islâmico, anyone? Ah, mas esses são maus, e os defensores dos bichinhos são bons. Sim, sim, convençam-se disso. Nós, os nossos ideais, somos tão bons como os meios que escolhemos para os impor, defender, divulgar. Julguei que já toda a gente sabia.
Já agora, novidades. O que não falta por aí são movimentos e ideologias que defendem a morte de certo tipo de "gente", por considerarem que a dita "gente" ofende certos princípios ou regras éticas que são bandeira desses movimentos. Estado islâmico, anyone? Ah, mas esses são maus, e os defensores dos bichinhos são bons. Sim, sim, convençam-se disso. Nós, os nossos ideais, somos tão bons como os meios que escolhemos para os impor, defender, divulgar. Julguei que já toda a gente sabia.
terça-feira, 28 de julho de 2015
Glengarry Glen Ross
Como eu ando aqui só para ajudar, mormente as gerações mai'novas, e como a minha vocação é a instrução, pus-me a matutar, a congeminar, e arranjei um teste muito, muito giro, para aferir a vossa capacidade de sobrevivência neste novel-mundo do empreendedorismo, em que, como todos sabemos, porque já nos disseram milhentas vezes - e não nos iam mentir, lá agora - o privado é que é - yay! - no privado é que encontramos verdadeiros e bons modelos de gestão - yay! - e no público - buuuuuu - não sabem nada de jeito, andam lá só a gastar os nossos ricos impostos - buuuuuu - aquela gente não só dá despesa, é despasa.
Ora cá vai.
Problema: Asdrúbal Ernestino, vigoroso e dedicado trabalhador in/diferenciado, tem seis empreitadas para realizar. Uma delas, especialmente complexa, tomará cinco dias úteis; nas restantes, não gastará mais que um dia útil em cada.
a) É segunda feira. Que empreitada/s deverá Asdrúbal Ernestino realizar nesta semana? Justifique.
b) Pondere agora a seguinte variável: Asdrúbal Ernestino aufere vencimento mensal, cujo valor não sofre qualquer alteração conforme finalize cinco ou uma empreitada. A sua resposta mantém-se? Justifique, e contraponha com a hipótese de Asdrúbal Ernestino auferir vencimento à tarefa (igual para cada empreitada).
c) Considere agora a possibilidade de a empreitada mais complexa ser também a que foi pedida em primeiro lugar. Como deverá agir Asdrúbal Ernestino? Considere as hipóteses de auferir vencimento fixo, ou ser pago à tarefa.
d) Admitamos que Asdrúbal Ernestino aufere vencimento fixo, mas é fortemente pressionado pelas chefias a apresentar resultados, e que estes são analisados estatisticamente. Como priorizaria o seu trabalho, no lugar de Asdrúbal Ernestino? Justifique.
e) Hipotize agora que Asdrúbal Ernestino, além da pressão dos resultados, aufere, para além do salário fixo, ainda uma remuneração variável, um incentivo em função dos resultados, medidos estes pela redução estatística das tarefas pendentes. Mantém a resposta anterior? Justifique.
f) Finalmente, considere, por hipótese, que Asdrúbal Ernestino trabalha num serviço público essencial, aufere vencimento fixo sem incentivos, é fortemente pressionado pelas chefias a apresentar resultados, a empreitada mais complexa foi pedida em primeiro lugar, e da sua finalização depende a concretização de um interesse vital. A conjugação destas variáveis altera a sua resposta? Justifique.
E pronto, é isto.
Pontos extra a quem conseguir:
i) Animar o Asdrúbal Ernestino;
ii) Convencer o Asdrúbal Ernestino que a sua vida laboral faz algum sentido e tem importância;
iii) Demover o Asdrúbal Ernestino de se jogar do último andar.
Ora cá vai.
Problema: Asdrúbal Ernestino, vigoroso e dedicado trabalhador in/diferenciado, tem seis empreitadas para realizar. Uma delas, especialmente complexa, tomará cinco dias úteis; nas restantes, não gastará mais que um dia útil em cada.
a) É segunda feira. Que empreitada/s deverá Asdrúbal Ernestino realizar nesta semana? Justifique.
b) Pondere agora a seguinte variável: Asdrúbal Ernestino aufere vencimento mensal, cujo valor não sofre qualquer alteração conforme finalize cinco ou uma empreitada. A sua resposta mantém-se? Justifique, e contraponha com a hipótese de Asdrúbal Ernestino auferir vencimento à tarefa (igual para cada empreitada).
c) Considere agora a possibilidade de a empreitada mais complexa ser também a que foi pedida em primeiro lugar. Como deverá agir Asdrúbal Ernestino? Considere as hipóteses de auferir vencimento fixo, ou ser pago à tarefa.
d) Admitamos que Asdrúbal Ernestino aufere vencimento fixo, mas é fortemente pressionado pelas chefias a apresentar resultados, e que estes são analisados estatisticamente. Como priorizaria o seu trabalho, no lugar de Asdrúbal Ernestino? Justifique.
e) Hipotize agora que Asdrúbal Ernestino, além da pressão dos resultados, aufere, para além do salário fixo, ainda uma remuneração variável, um incentivo em função dos resultados, medidos estes pela redução estatística das tarefas pendentes. Mantém a resposta anterior? Justifique.
f) Finalmente, considere, por hipótese, que Asdrúbal Ernestino trabalha num serviço público essencial, aufere vencimento fixo sem incentivos, é fortemente pressionado pelas chefias a apresentar resultados, a empreitada mais complexa foi pedida em primeiro lugar, e da sua finalização depende a concretização de um interesse vital. A conjugação destas variáveis altera a sua resposta? Justifique.
E pronto, é isto.
Pontos extra a quem conseguir:
i) Animar o Asdrúbal Ernestino;
ii) Convencer o Asdrúbal Ernestino que a sua vida laboral faz algum sentido e tem importância;
iii) Demover o Asdrúbal Ernestino de se jogar do último andar.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Titanic
Um gajo compra casa numa zona central, verdade, mas ali na parte mais recuada: rua secundaríssima, de sentido único, pouquíssimo trânsito, um sossego. Um gajo dorme ali virado para a rua, e um gajo aprecia oxigénio em estado novo; logo, um gajo tem janelas abertas desde que pode até dar. Um dia, um gajo apercebe-se que foi ultrapassado pelos acontecimentos, e isso sucede mais ou menos quando, após o compreensível e até apreciado banzé do camião do lixo - que se traduz, por norma, num já apagavas a luz e dormias - o barulho se mantém. Não de trânsito automóvel, mas do outro, bem pior: gente. Acima-abaixo, mas, a partir de certa hora, mais abaixo. Uma Babel, que a tal gente fala de tudo: nativês, brasileirês, inglês, italianês, francês. P#ta-que-pariu-o-airbnb-os-hostels-e-o-falo-que-os-fecunde. Outro dia, o sobressalto: estava quase-quase a vencer a habitual insónia e sou despertada do doce resvalar no ó-ó por um teutónico aos berros na rua. E isto pouco depois daquela cena c'a Grécia, pronto, começou a invasão. Afinal não, foi só exagero de uma pessoa muito, muito cansada, muito, muito ensonada e, porque não dizê-lo, muito, muito germanofóbica.
Anyhoo, pus-me eu a pensar, ou isto perde o gostinho rústico-patusco-colonial e a estrangeirada abranda, ou começam a augar a superbock, ou eu mudo o quarto. E zás, desperta a musa Kridumudêkasias que habita em mim. É isso mesmo: vou mudar o quarto. Afinal, porquê nesta divisão, se tenho outra semi-interior, sugadita, mais pequena, tão adequada, que serve de depósito a um exagerado espólio (tralha)? Caraças, ter aqui um roupeiro não me deterá: mudam-se as portas do dito para uma coisa menos roupeiral, estante, uma chaise longue, aquele cadeirão, o tapete dacolá. Não. E o que faço à mobília da outra divisão? Desfazer-me dela? Olha quem. Faço o quarto no armazém, passo a estante e cama-sofá deste para o escritório, fica uma espécie de zona relax e acomodação extra, o escritório passa para o agora-quarto, e componho ainda no futuro-ex-quarto uma zona de estar e leitura. Eureka! Brilhante: passo a esboços e medidas, fita métrica em punho. Cabe tudo, hurra!
E pronto. O problema é o que se segue à euforia, a saber, o planeamento: assim comássim precisava de pintar o futuro-ex-quarto, pinta-se também o futuro-ex-escritório e o futuro-quarto. Zás, já estou um bocadinho cansada. Até porque, entretanto, ponho-me a pensar na prateleirada já fixa nas paredes do futuro-quarto actual armazém, vão ser uns 459 buracos para betumar, e uma resma de tábuas a dar destino. No problem, já sei onde vou por tudo. Penso, de seguida, no avc que provocarei a papai, quando lhe mencionar planos de voltar a furar tudo o que é preciso furar, e no meu avc, depois de andar de fita métrica e bolha de nível a marcar tudo. Mas há pior: esvaziar duas estantes. Grandotas. Cheiotas. Enfiar tudo em caixotes. Desmontar minimamente as estantes - alguns corpos passarão nas portas, quero crer, e creio com muita força, a fé não move estantes mas ajudará. E, durante as pinturas, onde é que eu durmo? Sim, também é preciso desmontar a cama, esvaziando previamente o que está guardado no sommier, e, para ser uma coisa mesmo bem feita, aproveitava-se para afagar o chão. Ai mãe. Não, que quando lhe contar estes planos, nem a rica mãe me vai valer. Provavelmente deserda-me, só para eu aprender a não ser parva.
Ocorreu-me isto tudo há coisa de dez dias e é oficial: sinto-me mal. Muito doente, aliás. Fraquinha, fraquinha. Bom, fica para o ano. Boa.
[eu queria é ser ryca para me poder dar ao luxo de empandeirar uma série de mobília e começar de novo, mas a) sou forreta; b) a mobília é uma boa mobília, não arranjo equivalente pelo que estou disposta a pagar, e substituir cenas boas por cenas ikea é parvo; c) aposto que ninguém da família tem serventia para meus cacarecos. suspiros. vou jogar no eurocoiso.]
Anyhoo, pus-me eu a pensar, ou isto perde o gostinho rústico-patusco-colonial e a estrangeirada abranda, ou começam a augar a superbock, ou eu mudo o quarto. E zás, desperta a musa Kridumudêkasias que habita em mim. É isso mesmo: vou mudar o quarto. Afinal, porquê nesta divisão, se tenho outra semi-interior, sugadita, mais pequena, tão adequada, que serve de depósito a um exagerado espólio (tralha)? Caraças, ter aqui um roupeiro não me deterá: mudam-se as portas do dito para uma coisa menos roupeiral, estante, uma chaise longue, aquele cadeirão, o tapete dacolá. Não. E o que faço à mobília da outra divisão? Desfazer-me dela? Olha quem. Faço o quarto no armazém, passo a estante e cama-sofá deste para o escritório, fica uma espécie de zona relax e acomodação extra, o escritório passa para o agora-quarto, e componho ainda no futuro-ex-quarto uma zona de estar e leitura. Eureka! Brilhante: passo a esboços e medidas, fita métrica em punho. Cabe tudo, hurra!
E pronto. O problema é o que se segue à euforia, a saber, o planeamento: assim comássim precisava de pintar o futuro-ex-quarto, pinta-se também o futuro-ex-escritório e o futuro-quarto. Zás, já estou um bocadinho cansada. Até porque, entretanto, ponho-me a pensar na prateleirada já fixa nas paredes do futuro-quarto actual armazém, vão ser uns 459 buracos para betumar, e uma resma de tábuas a dar destino. No problem, já sei onde vou por tudo. Penso, de seguida, no avc que provocarei a papai, quando lhe mencionar planos de voltar a furar tudo o que é preciso furar, e no meu avc, depois de andar de fita métrica e bolha de nível a marcar tudo. Mas há pior: esvaziar duas estantes. Grandotas. Cheiotas. Enfiar tudo em caixotes. Desmontar minimamente as estantes - alguns corpos passarão nas portas, quero crer, e creio com muita força, a fé não move estantes mas ajudará. E, durante as pinturas, onde é que eu durmo? Sim, também é preciso desmontar a cama, esvaziando previamente o que está guardado no sommier, e, para ser uma coisa mesmo bem feita, aproveitava-se para afagar o chão. Ai mãe. Não, que quando lhe contar estes planos, nem a rica mãe me vai valer. Provavelmente deserda-me, só para eu aprender a não ser parva.
Ocorreu-me isto tudo há coisa de dez dias e é oficial: sinto-me mal. Muito doente, aliás. Fraquinha, fraquinha. Bom, fica para o ano. Boa.
[eu queria é ser ryca para me poder dar ao luxo de empandeirar uma série de mobília e começar de novo, mas a) sou forreta; b) a mobília é uma boa mobília, não arranjo equivalente pelo que estou disposta a pagar, e substituir cenas boas por cenas ikea é parvo; c) aposto que ninguém da família tem serventia para meus cacarecos. suspiros. vou jogar no eurocoiso.]
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Shiny happy people
- Yay! Calor! Solinho! Calções! Vestidinhos leves! Saldos fantáááásticos! Não. Nope. Siga.
- Falando de solinho, a publicidade pode-nos matraquear até à exaustão, as 'ssoas menitas até nos podem garantir felicidade eterna e constante e etc., mas não recomendava piz buin a ninguém, ou, pelo menos, a alguém com pele esquisitinha e atópica. Foram uns quatro dias de intensa comichão e coçanço, até ver a luz.
- Por amor da santinha alguém me garanta que o tricot e crochet estão in, para que eu possa discorrer sobre a problemática das agulhas sem número impresso e me gabar de já conseguir tricotar em círculo (yay!), sem me sentir um nadinha deslocada e anacrónica.
- A nova imagem do Tiny-Price está bem catita, o que de certa forma (me) compensa o facto de a Dica da Semana corrente não ter satisfeito as habituais expectativas.
- A propósito de imprensa de cólidade, um jornalista da Visão fez uma caixa onde sumariava o tema do artigo, a saber, o tráfego de mulheres. Ainda não me decidi se inicio uma colecta para lhes oferecer um dicionário, ou se deixe de matutar nisso e vá antes cedo para casa, antes que o tráfico ali nas avenidas se intensifique.
- Ontem a chegar tarde e más horas à minha vizinhança, um gatito minúsculo atravessou-se à frente do carro. Foficho que doía, tive o súbito impulso de largar o carro, ir atrás dele, e levá-lo lá para casa. Estás bonita, estás. Deteve-me a imagem da senhora gata residente, com a xícara de chá levantada, presa entre indicador e polegar, e ar horrorizado. Sim, aconteceria. Sim, estás bonita, estás.
- Li uma notícia que informava que, a manter-se o ritmo de consumo actual, em 2020 não haverá chocolate. Chocante, eu sei. Parem. Por favor. Há pessoas muito doentes que precisam daquilo para viver, não querem esse peso na vossa consciência.
- Agora lembrei-me de outra: semelhante a / parecido com. Repitam 50 vezes todos os dias, logo ao acordar. Agradecida.
- Há dias em que gostava muito de ter nascido tolinha, a acreditar em mantras e soluções impressas em letra munita com fundos floridos. Talvez isso me resolvesse o sempiterno problema existencial de saber diferenciar estados de felicidade daquilo do "ser" feliz. Ninguém "é" feliz. Um terço da nossa vida é passada a dormir, e ninguém pode "ser" um determinado estado de espírito sem consciência. Ganhei. Não ganhei nada, se fosse tolinha e não pensasse nestas merdas é que ganhava alguma coisa. Tempo, por exemplo, tempo para "ser" feliz, segundo alguns teóricos. Ou cozinhar coisas bonitas e fotogénicas. Que iria comer antes de fotografar, anyhoo.
- Falando de solinho, a publicidade pode-nos matraquear até à exaustão, as 'ssoas menitas até nos podem garantir felicidade eterna e constante e etc., mas não recomendava piz buin a ninguém, ou, pelo menos, a alguém com pele esquisitinha e atópica. Foram uns quatro dias de intensa comichão e coçanço, até ver a luz.
- Por amor da santinha alguém me garanta que o tricot e crochet estão in, para que eu possa discorrer sobre a problemática das agulhas sem número impresso e me gabar de já conseguir tricotar em círculo (yay!), sem me sentir um nadinha deslocada e anacrónica.
- A nova imagem do Tiny-Price está bem catita, o que de certa forma (me) compensa o facto de a Dica da Semana corrente não ter satisfeito as habituais expectativas.
- A propósito de imprensa de cólidade, um jornalista da Visão fez uma caixa onde sumariava o tema do artigo, a saber, o tráfego de mulheres. Ainda não me decidi se inicio uma colecta para lhes oferecer um dicionário, ou se deixe de matutar nisso e vá antes cedo para casa, antes que o tráfico ali nas avenidas se intensifique.
- Ontem a chegar tarde e más horas à minha vizinhança, um gatito minúsculo atravessou-se à frente do carro. Foficho que doía, tive o súbito impulso de largar o carro, ir atrás dele, e levá-lo lá para casa. Estás bonita, estás. Deteve-me a imagem da senhora gata residente, com a xícara de chá levantada, presa entre indicador e polegar, e ar horrorizado. Sim, aconteceria. Sim, estás bonita, estás.
- Li uma notícia que informava que, a manter-se o ritmo de consumo actual, em 2020 não haverá chocolate. Chocante, eu sei. Parem. Por favor. Há pessoas muito doentes que precisam daquilo para viver, não querem esse peso na vossa consciência.
- Agora lembrei-me de outra: semelhante a / parecido com. Repitam 50 vezes todos os dias, logo ao acordar. Agradecida.
- Há dias em que gostava muito de ter nascido tolinha, a acreditar em mantras e soluções impressas em letra munita com fundos floridos. Talvez isso me resolvesse o sempiterno problema existencial de saber diferenciar estados de felicidade daquilo do "ser" feliz. Ninguém "é" feliz. Um terço da nossa vida é passada a dormir, e ninguém pode "ser" um determinado estado de espírito sem consciência. Ganhei. Não ganhei nada, se fosse tolinha e não pensasse nestas merdas é que ganhava alguma coisa. Tempo, por exemplo, tempo para "ser" feliz, segundo alguns teóricos. Ou cozinhar coisas bonitas e fotogénicas. Que iria comer antes de fotografar, anyhoo.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Words don't come easy
Dezoito páginas e cerca de cinco mil e oitocentas palavras depois, resolvido um assunto que me andava a pesar ao pescoço há mais tempo que o que merecia. Alívio? Nem por isso. A coisa resolvia-se tão bem com uma simples frase, seis palavras: eu avisei que ia dar merda.
E pronto, se eu ganhasse a metro, estava milionária. Lucky me.
Shameless
Eu cá não sei, mas por mim tinha vergonha de anunciar, para venda, uma casa ali upa-upa acima do meio milhão, e nas fotografias das casas de banho ser bem visível o surro nas juntas da banheira e poliban.
[sou uma grande fã de sites de imobiliário, porque a) gosto de sofrer e encontrar várias casas de sonho que nunca poderia pagar; b) uma pessoa tira ideias para pequenas obras de remodelação e decoração. é pena é alguns proprietários posh ainda não terem descoberto a lixívia.)
[sou uma grande fã de sites de imobiliário, porque a) gosto de sofrer e encontrar várias casas de sonho que nunca poderia pagar; b) uma pessoa tira ideias para pequenas obras de remodelação e decoração. é pena é alguns proprietários posh ainda não terem descoberto a lixívia.)
terça-feira, 21 de julho de 2015
I always pass on good advice*
[ *It is the only thing to do with it. It is never of any use to oneself.]
Da minha observação diária do comportamento da espécie, derivado do convívio forçado com as enchentes de turistas que assomam a esta capital soalheira, tenho notado que deve haver graves lacunas nos guias turísticos que esta gente consulta antes de nos visitar. Donde, e porque sou uma pessoa feita de altruísmo, sempre disponível para ajudar o próximo, e porque, principalmente, gostava de não chegar a pontos de loucura que me levem a dar vazão à minha cada vez mais premente compulsão de empurrar turistas para a linha do metro / debaixo de um camião, ofereço-me para preencher tais lacunas, fazendo o rascunho do panfleto que realmente interessa, aquele que deveria ser distribuído no aeroporto, cais de Santa Apolónia, estações de comboios.
1 - Não comprem azulejos antigos. Não disponho de dados fiáveis, mas apostava de 99% têm origem em actos de vandalismo ou gamanço puro. Também não levam pedras de calçada ou uma nica de pedra dos Jerónimos convosco, pois não? Então não comprem azulejos antigos.
2 - Respeite o indígena. Não o irrite, desconsidere, apouque. O povo autóctone ainda não é espécie protegida, mas merece o seu carinho. Além de que é muito mais interessante e patusco se observado no seu habitat natural, sem interferência hostil do observador. Esta é uma premissa básica, muitas das regras seguinte derivarão desta, mas imbua-se de espírito David Attenborough: você não se poria a correr à frente da leoa e levava-lhe a corça, pois não? Não, era má ideia. Interfira o menos possível, e de forma amistosa. Atitudes colonialistas são tão last century.
3 - Não mimetize certos hábitos do indígena. Meu amigo turista: atravessar a rua com sinal vermelho para peões parece fácil, mas não é. Trata-se de uma ciência em que somos formados desde que adquirimos uso das pernas. Começamos pelas mãos de nossos extremosos pais e, um dia, já adquiridos todos os conhecimentos teórico-práticos, é que nos aventuramos. Vocês chegaram ontem, não conhecem os segundos de pausa entre um sinal fechar e outro abrir, ignoram a fórmula de cálculo ruído do arranque/tempo até o carro aqui chegar, não se metam nisso.
4 - Não se plante com ar pasmado em locais de passagem. Desenvolvendo a regra 2, há que precisar que, embora não tenha fama disso, o indígena trabalha. E desloca-se para o local onde. O indígena usa meios de transporte, e precisa de atravessar a plataforma do metro, aquela onde vós estais estacionados, isolados ou em grupo, com o/s fideputa/s do/s trolley/s no meio do caminho. Idem aspas para passeios, escadas rolantes ou não, enfim.
5 - Desodorizante, por favor. Se está familiarizado com o uso da substância, note que devido ao clima notoriamente mais quente e húmido que aquele a que está habituado, precisará de uma dose superior à habitual. Se não tem o hábito de usar tal produto, porque acha que não precisa, duas notas: a) precisa sim senhor/a; b) use o dobro do que acha razoável. Recomenda-se também pelo menos um banho diário, para remoção de suores bafientos, e muda diária de roupa que tenha estado em contacto com ditos suores. Contribua para um ambiente são.
6 - Compre um bilhete de transportes, daqueles verdinhos, recarregável. Por incrível que pareça, o indígena usa os transportes públicos (sim!, eléctrico incluído!) para coisinhas do seu dia-a-dia (ver ponto 4), e as 'ssoas têm mais que fazer que esperar que vocelências contem trocos e comprem o bilhete ao motorista (ver ponto 2). O indígena já esperou pelo transporte, não precisa de esperar que os emplastros se amanhem para usar o dito transporte. O indígena irrita-se com a espera, não o provoque.
7 - Use protector solar. Sim, a estrela que nos alumia, solinho de seu nome, é a mesma que vedes na vossa terra, mas aqui brilha mais forte. Nós, que nascemos aqui, e habituados que estamos a ser tisnados desde nascença, já temos peles mais ou menos habituadas, mas mesmo assim há quem seja sensato e se proteja. Para vossas alvas peles, menos que factor 50 é perigo de morte, no rosto aconselha-se mesmo ecrã total. E cubram as cabeças, santo Deus. E andem pela sombra. E não se estendam a apanhar banhos de sol nas horas mais quentes. Que aflição.
(continua?)
(aceitam-se sugestões)
Sugestões de Rita (e todas muito pertinentes, vou acrescentar só uma coisinha na questão dos recibos)
8- Não vá jantar a uma casa de fados, vá a uma casa de fados depois do jantar. Nenhuma delas é conhecida pela sua cozinha, pelo que não faz sentido pagar por uma refeição corrente o preço de um restaurante com várias estrelas Michelin. Para além disso, o facto de estar aberta depois da hora do jantar ajuda a distinguir a verdadeira casa de fados do antro para turistas.
9- (decorre também de dois)
Por estranho que pareça, muitos dos nativos não querem aparecer no seu feed de instagram, quer sejam simples traunseuntes ou velhotes very typical. Por isso, se quer fotografar um local, deixe as pessoas passar primeiro, se quer fotografar alguém, peça autorização. E aceite uma negativa com naturalidade, as pessoas não são atrações turísticas.
10- Se alugou uma casa a um privado, peça recibo. E confirme, antes de reservar, de que vai receber um recibo no fim. Não contribua para a economia paralela ao sustentar rendimentos não tributados a atividades comerciais que estão a por em risco as comunidades dos bairros históricos. Se ficar num prédio residencial, respeite o horário de ruído. [acrescento pedir recibo também ao pessoal dos tuk tuk, pelas mesmíssimas razões]
11- Não compre marijuana a vendedores de rua na Baixa ou no Bairro Alto, a única razão para não serem detidos pela polícia é o facto de venderem apenas uma very typical mistura de ervas mediterrâneas.
12- Não leve Pastéis de Belém como recordação - alguns bolos portugueses estão comestíveis um ou dois dias depois mas isto não se aplica aos Pastéis de Belém (independentemente dos seus méritos relativos, que já discuti noutro sítio há muitos anos - resumo: não são os melhores pastéis de Nata nem nada que se pareça mas sim, quentes também como dois ou três - basta dar uma dentada duas ou três horas depois para perceber que não vai levar ao seus amigos uma recordação que evoque a experiência que teve na confeitaria). Opte por bolos mais secos, como as queijadas de Sintra, com shelf life mais longa, como os ovos moles (se a viagem for exclusivamente de avião ou não muito longa) ou por queijos ou enchidos.
13 (e por falar nisso)-Prove os queijos. No plural.
14- Evite viajar nas horas de ponta, é mais desconfortável para si e mais irritante para os locais. Se quer ir cedo para evitar as multidões, vá antes das 08:00, a partir das 09:00 vai andar em transportes sobrelotados e chegar às atrações que quer visitar no momento em que as filas são mais longas - justamente o que queria evitar.
15- Se estiver numa walking tour, certifique-se de que o seu grupo não está a impedir a passagem dos transeuntes e moradores.
16- Não coma sardinhas no Inverno.
Sugestão de Ana:
17 - Não se ponham plantados à frente das portas das carruagens de metro, pois se quem está no metro não consegue sair vocês também não conseguirão entrar!
(infelizmente esta serve também para muitos indígenas que faltaram às aulas de física e não sabem que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo...)
Sugestão de Isabel:
18 - Cuidai que a nossa cerveja é mais forte que à que estais habituados. Bebei com moderação e poupai-nos a espectáculos pouco dignificantes. Além de que rosetas etílicas em peles translúcidas são muito pouco atraentes!
Sugestão de Tum Tum:
19 - Evite empurrar o/a nativo/a para baixo do eléctrico! Evite abalroar nativos baixinhos. Vós sois grandes, pá. Muito grandes. Maiores que nós, vá. Tende dó.
(está aqui o guia definitivo, quer-me parecer)
Da minha observação diária do comportamento da espécie, derivado do convívio forçado com as enchentes de turistas que assomam a esta capital soalheira, tenho notado que deve haver graves lacunas nos guias turísticos que esta gente consulta antes de nos visitar. Donde, e porque sou uma pessoa feita de altruísmo, sempre disponível para ajudar o próximo, e porque, principalmente, gostava de não chegar a pontos de loucura que me levem a dar vazão à minha cada vez mais premente compulsão de empurrar turistas para a linha do metro / debaixo de um camião, ofereço-me para preencher tais lacunas, fazendo o rascunho do panfleto que realmente interessa, aquele que deveria ser distribuído no aeroporto, cais de Santa Apolónia, estações de comboios.
1 - Não comprem azulejos antigos. Não disponho de dados fiáveis, mas apostava de 99% têm origem em actos de vandalismo ou gamanço puro. Também não levam pedras de calçada ou uma nica de pedra dos Jerónimos convosco, pois não? Então não comprem azulejos antigos.
2 - Respeite o indígena. Não o irrite, desconsidere, apouque. O povo autóctone ainda não é espécie protegida, mas merece o seu carinho. Além de que é muito mais interessante e patusco se observado no seu habitat natural, sem interferência hostil do observador. Esta é uma premissa básica, muitas das regras seguinte derivarão desta, mas imbua-se de espírito David Attenborough: você não se poria a correr à frente da leoa e levava-lhe a corça, pois não? Não, era má ideia. Interfira o menos possível, e de forma amistosa. Atitudes colonialistas são tão last century.
3 - Não mimetize certos hábitos do indígena. Meu amigo turista: atravessar a rua com sinal vermelho para peões parece fácil, mas não é. Trata-se de uma ciência em que somos formados desde que adquirimos uso das pernas. Começamos pelas mãos de nossos extremosos pais e, um dia, já adquiridos todos os conhecimentos teórico-práticos, é que nos aventuramos. Vocês chegaram ontem, não conhecem os segundos de pausa entre um sinal fechar e outro abrir, ignoram a fórmula de cálculo ruído do arranque/tempo até o carro aqui chegar, não se metam nisso.
4 - Não se plante com ar pasmado em locais de passagem. Desenvolvendo a regra 2, há que precisar que, embora não tenha fama disso, o indígena trabalha. E desloca-se para o local onde. O indígena usa meios de transporte, e precisa de atravessar a plataforma do metro, aquela onde vós estais estacionados, isolados ou em grupo, com o/s fideputa/s do/s trolley/s no meio do caminho. Idem aspas para passeios, escadas rolantes ou não, enfim.
5 - Desodorizante, por favor. Se está familiarizado com o uso da substância, note que devido ao clima notoriamente mais quente e húmido que aquele a que está habituado, precisará de uma dose superior à habitual. Se não tem o hábito de usar tal produto, porque acha que não precisa, duas notas: a) precisa sim senhor/a; b) use o dobro do que acha razoável. Recomenda-se também pelo menos um banho diário, para remoção de suores bafientos, e muda diária de roupa que tenha estado em contacto com ditos suores. Contribua para um ambiente são.
6 - Compre um bilhete de transportes, daqueles verdinhos, recarregável. Por incrível que pareça, o indígena usa os transportes públicos (sim!, eléctrico incluído!) para coisinhas do seu dia-a-dia (ver ponto 4), e as 'ssoas têm mais que fazer que esperar que vocelências contem trocos e comprem o bilhete ao motorista (ver ponto 2). O indígena já esperou pelo transporte, não precisa de esperar que os emplastros se amanhem para usar o dito transporte. O indígena irrita-se com a espera, não o provoque.
7 - Use protector solar. Sim, a estrela que nos alumia, solinho de seu nome, é a mesma que vedes na vossa terra, mas aqui brilha mais forte. Nós, que nascemos aqui, e habituados que estamos a ser tisnados desde nascença, já temos peles mais ou menos habituadas, mas mesmo assim há quem seja sensato e se proteja. Para vossas alvas peles, menos que factor 50 é perigo de morte, no rosto aconselha-se mesmo ecrã total. E cubram as cabeças, santo Deus. E andem pela sombra. E não se estendam a apanhar banhos de sol nas horas mais quentes. Que aflição.
(continua?)
(aceitam-se sugestões)
Sugestões de Rita (e todas muito pertinentes, vou acrescentar só uma coisinha na questão dos recibos)
8- Não vá jantar a uma casa de fados, vá a uma casa de fados depois do jantar. Nenhuma delas é conhecida pela sua cozinha, pelo que não faz sentido pagar por uma refeição corrente o preço de um restaurante com várias estrelas Michelin. Para além disso, o facto de estar aberta depois da hora do jantar ajuda a distinguir a verdadeira casa de fados do antro para turistas.
9- (decorre também de dois)
Por estranho que pareça, muitos dos nativos não querem aparecer no seu feed de instagram, quer sejam simples traunseuntes ou velhotes very typical. Por isso, se quer fotografar um local, deixe as pessoas passar primeiro, se quer fotografar alguém, peça autorização. E aceite uma negativa com naturalidade, as pessoas não são atrações turísticas.
10- Se alugou uma casa a um privado, peça recibo. E confirme, antes de reservar, de que vai receber um recibo no fim. Não contribua para a economia paralela ao sustentar rendimentos não tributados a atividades comerciais que estão a por em risco as comunidades dos bairros históricos. Se ficar num prédio residencial, respeite o horário de ruído. [acrescento pedir recibo também ao pessoal dos tuk tuk, pelas mesmíssimas razões]
11- Não compre marijuana a vendedores de rua na Baixa ou no Bairro Alto, a única razão para não serem detidos pela polícia é o facto de venderem apenas uma very typical mistura de ervas mediterrâneas.
12- Não leve Pastéis de Belém como recordação - alguns bolos portugueses estão comestíveis um ou dois dias depois mas isto não se aplica aos Pastéis de Belém (independentemente dos seus méritos relativos, que já discuti noutro sítio há muitos anos - resumo: não são os melhores pastéis de Nata nem nada que se pareça mas sim, quentes também como dois ou três - basta dar uma dentada duas ou três horas depois para perceber que não vai levar ao seus amigos uma recordação que evoque a experiência que teve na confeitaria). Opte por bolos mais secos, como as queijadas de Sintra, com shelf life mais longa, como os ovos moles (se a viagem for exclusivamente de avião ou não muito longa) ou por queijos ou enchidos.
13 (e por falar nisso)-Prove os queijos. No plural.
14- Evite viajar nas horas de ponta, é mais desconfortável para si e mais irritante para os locais. Se quer ir cedo para evitar as multidões, vá antes das 08:00, a partir das 09:00 vai andar em transportes sobrelotados e chegar às atrações que quer visitar no momento em que as filas são mais longas - justamente o que queria evitar.
15- Se estiver numa walking tour, certifique-se de que o seu grupo não está a impedir a passagem dos transeuntes e moradores.
16- Não coma sardinhas no Inverno.
Sugestão de Ana:
17 - Não se ponham plantados à frente das portas das carruagens de metro, pois se quem está no metro não consegue sair vocês também não conseguirão entrar!
(infelizmente esta serve também para muitos indígenas que faltaram às aulas de física e não sabem que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo...)
Sugestão de Isabel:
18 - Cuidai que a nossa cerveja é mais forte que à que estais habituados. Bebei com moderação e poupai-nos a espectáculos pouco dignificantes. Além de que rosetas etílicas em peles translúcidas são muito pouco atraentes!
Sugestão de Tum Tum:
19 - Evite empurrar o/a nativo/a para baixo do eléctrico! Evite abalroar nativos baixinhos. Vós sois grandes, pá. Muito grandes. Maiores que nós, vá. Tende dó.
(está aqui o guia definitivo, quer-me parecer)
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Stupid is who stupid does
Muitas vezes me questiono se aquelas pessoas que são magras - evidentemente, comprovadamente, notoriamente, magras - e que publicam fotografias suas nas redes sociais, donde, toda a gente pode atestar que são magras, têm um problema de falta de empatia, ausência de inteligência, ou apenas de excesso de narcisismo quando:
- publicam fotos ou relatos do que comeram, para concluir que são umas lambonas / vacas / gordas;
- publicam fotos ou relatos sobre roupa que experimentaram / compraram / viram, para concluir que aquele trapo em particular as faz uma goooorda / baleia / mamute;
- publicam fotos ou relatos dos seus runnings, treinos, whatever, concluindo que a gordice que ingeriram já foi à vida, ufa, se não fosse uma goooorda / vaca / baleia / elefanta não tinha de me esforçar taaanto, c'orror.
Assinado: pessoa que pode comer batatas fritas uma vez por mês, e ó; já não se lembra da última pizza que ingeriu, hamburgueres népia, muito menos fast food, e faz refeições só de verdura para poder prevaricar com aquele gelado / chocolate que, caraças, a vida são dois dias, e também não se pode passar o tempo todo a pensar nisso, né. E não, essa pessoa que assina não é, definitivamente, magra. e também já se importou mais, que desde que o castrol e glicémias estejam controlados - e estão - , fuck it all.
- publicam fotos ou relatos do que comeram, para concluir que são umas lambonas / vacas / gordas;
- publicam fotos ou relatos sobre roupa que experimentaram / compraram / viram, para concluir que aquele trapo em particular as faz uma goooorda / baleia / mamute;
- publicam fotos ou relatos dos seus runnings, treinos, whatever, concluindo que a gordice que ingeriram já foi à vida, ufa, se não fosse uma goooorda / vaca / baleia / elefanta não tinha de me esforçar taaanto, c'orror.
Assinado: pessoa que pode comer batatas fritas uma vez por mês, e ó; já não se lembra da última pizza que ingeriu, hamburgueres népia, muito menos fast food, e faz refeições só de verdura para poder prevaricar com aquele gelado / chocolate que, caraças, a vida são dois dias, e também não se pode passar o tempo todo a pensar nisso, né. E não, essa pessoa que assina não é, definitivamente, magra. e também já se importou mais, que desde que o castrol e glicémias estejam controlados - e estão - , fuck it all.
sexta-feira, 17 de julho de 2015
A mula da cooperativa
Se calhar é do calor, que me ferve os neurónios e faz todo o pensamento inteligente desvanecer-se em vapor, mas há cada vez mais coisas que não entendo. E faço por isso, que faço, mas não consigo. Uma limitada.
Iniciemos, então, um pequeno rol:
- Ténis (sapatilhas para o pessoal do nuorte) sem meias. Cuméquié? A avaliar pelas blogo-fotos da nossa féchion-bloga, o téne calça-se sem nada. Nem aquelas meiinhas curtas, de que só se vê uma nica. Ora se calhar os meus pés são muito sensíveis e são os únicos a ficar esfoladinhos se andar de téne sem nada, tudo bem, concedo. Mas decerto não sou a única pessoa sujeita a fenómenos de sudação palmar, acho. E subsequente fedor a chulé, que é coisa que se entranha nas fibras - naturais ou sintéticas - desse tipo de calçado, tornando-o numa etar intolerável. Umas sabrinas, tudo bem, passa-se um algodão embebido em álcool e ficam limpas e sem cheiro. Aliás, as minhas nem criam cheiro que se note (vantagens da palmilha em boa pele). Mas ténes? Ó pá, ca nojo, enfiar os mês ricos pézes num depósito de suores atrasados, num prato petri mesmo bom para criação de fungos. Meias. Sempre. E de algodão. Quero lá saber se é feio. É asseado. Ponto. Não calçam meias sujas? Então não enfiem as extremidades em ténes sudados. Iaca.
- A cena da publicidade. Só num país em que as pessoas estão mais preocupadas em procurar buracos para se escapar é que as leis têm de estar a ser continuamente revistas, a fim de prever tudo e mais um par de botas. A (ainda) actual lei da publicidade engloba blogs, sim. Bocejo. Mas claro, teve de ser clarificada, que este povo só abrindo-lhes a cabeça e enfiando lá as instruções mui-to por-me-no-ri-za-das, ou então, ah, isso não é comigo, não especifica as pessoas com mais de metro e setenta, e eu tenho mais de metro e setenta. Ainda assim, parece que há quem não se rale muito, ou não se informe, ou não queira saber. Sobre publicidade em blogs, e em vez de estar aqui a maçar (ou a ter trabalho) a explicar a minha posição, remeto para aqui, onde foi tudo tão bem explicado. Quanto aos híbridos resultantes de cruzamento entre Equus africanus asinus e Equus caballus (thanks, wiki!) que por aí abundam, e que insistem não ter mal nenhum!, foi uma coisinha que me ofereceram e até gosto muito!, não têm nada a ver se recebi alguma contrapartida para escrever / fotografar / publicar isto!, em vez de se cansarem a dizer mal, façam qualquer coisa. O quê? Ora, denunciem. É fácil: basta clicar aqui, seleccionar na coluna da esquerda (sempre, sempre à esquerda!) "Faça a sua reclamação", preencher e enviar. De nada. Não se limite a refilar: faça parte da mudança que quer ver no mundo.
Iniciemos, então, um pequeno rol:
- Ténis (sapatilhas para o pessoal do nuorte) sem meias. Cuméquié? A avaliar pelas blogo-fotos da nossa féchion-bloga, o téne calça-se sem nada. Nem aquelas meiinhas curtas, de que só se vê uma nica. Ora se calhar os meus pés são muito sensíveis e são os únicos a ficar esfoladinhos se andar de téne sem nada, tudo bem, concedo. Mas decerto não sou a única pessoa sujeita a fenómenos de sudação palmar, acho. E subsequente fedor a chulé, que é coisa que se entranha nas fibras - naturais ou sintéticas - desse tipo de calçado, tornando-o numa etar intolerável. Umas sabrinas, tudo bem, passa-se um algodão embebido em álcool e ficam limpas e sem cheiro. Aliás, as minhas nem criam cheiro que se note (vantagens da palmilha em boa pele). Mas ténes? Ó pá, ca nojo, enfiar os mês ricos pézes num depósito de suores atrasados, num prato petri mesmo bom para criação de fungos. Meias. Sempre. E de algodão. Quero lá saber se é feio. É asseado. Ponto. Não calçam meias sujas? Então não enfiem as extremidades em ténes sudados. Iaca.
- A cena da publicidade. Só num país em que as pessoas estão mais preocupadas em procurar buracos para se escapar é que as leis têm de estar a ser continuamente revistas, a fim de prever tudo e mais um par de botas. A (ainda) actual lei da publicidade engloba blogs, sim. Bocejo. Mas claro, teve de ser clarificada, que este povo só abrindo-lhes a cabeça e enfiando lá as instruções mui-to por-me-no-ri-za-das, ou então, ah, isso não é comigo, não especifica as pessoas com mais de metro e setenta, e eu tenho mais de metro e setenta. Ainda assim, parece que há quem não se rale muito, ou não se informe, ou não queira saber. Sobre publicidade em blogs, e em vez de estar aqui a maçar (ou a ter trabalho) a explicar a minha posição, remeto para aqui, onde foi tudo tão bem explicado. Quanto aos híbridos resultantes de cruzamento entre Equus africanus asinus e Equus caballus (thanks, wiki!) que por aí abundam, e que insistem não ter mal nenhum!, foi uma coisinha que me ofereceram e até gosto muito!, não têm nada a ver se recebi alguma contrapartida para escrever / fotografar / publicar isto!, em vez de se cansarem a dizer mal, façam qualquer coisa. O quê? Ora, denunciem. É fácil: basta clicar aqui, seleccionar na coluna da esquerda (sempre, sempre à esquerda!) "Faça a sua reclamação", preencher e enviar. De nada. Não se limite a refilar: faça parte da mudança que quer ver no mundo.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Don't quit your day job
Confesso sem problemas que sou, amiúde, atacada de acessos violentos de inveja. A minha não se caracteriza por pensamentos de tomara que morras ou odeio-te, não. Como em qualquer boa neurótica, passam pelo apertado beco onde mora o super-ego e transformam-se em auto-crítica ou auto-comiseração, ou seja, manifestam-se de formas tais como porque é que eu não sou assim, ou tanto talento para uns e outros aqui a chafurdar na mediocridade (snif).
Um desses acessos, logo seguido de profunda introspecção e auto-comiseração, deu-me quando visitei o museu Picasso. Ali pode ver-se obras executadas pelo pintor, ao longo da sua vida. E desde já advirto qualquer visitante: perante a tentação de dizer ah, aquilo nem é nada de especial, que atentem na etiqueta com a data da pintura/desenho, façam contas, e concluam com que idade é que o pequeno Pablo pincelou aquela tela. Pois. Pablito já executava perfeitamente diversas técnicas de pintura e desenho numa idade em que eu tinha, como supremo objectivo de vida, chegar ao último nível do jogo do elástico. Depressão.
Sim senhora, coisas que o talento permite, e nem toda a gente o tem, a distribuição não é democrática. Verdade, treinou muito, adquiriu técnica, que o talento só não chega, é a tal coisa de 10% de inspiração e 90% de transpiração. Melhor ainda, teve meios não ao alcance de todos, que uma pessoa até pode ser genial para engenharia aereoespacial, mas se tiver de apascentar cabras para ganhar o pão nunca construirá nem a chapa de um foguete. (o pai era pintor e professor de pintura, e pequenito Pablo assistia a aulas desde criança).
Mas mais que o talento, a técnica, há algo que a muitos nunca tocará. Picasso poderia não ter passado daquilo, da mimetização de técnicas (e que bem as executava), e acabar a pintar retratos de casais endinheirados ao estilo da escola flamenga, bebés rubenescos, ou paisagens impressionistas para alindar casas de jantar da burguesia. E decerto o faria muito bem, mas não: o tipo tinha uma voz, uma visão sua. E caraças, como a tinha. E é isto que distingue os meramente talentosos, bons executantes, dos inesquecíveis: o cunho único. Não vale a pena ter-se talento (e técnica) para depois produzir mais do mesmo. Ok, concedo, dentro dos talentos singulares nem todos fundam ou são precursores de uma "escola", alguns continuam uma certa tendência, mas acrescentam sempre algo de único. Um Monet não é um Degas, nem um nem outro são mais do mesmo, e tanto um como outro são únicos. Picasso foi um bocadinho mais único, pronto.
E é aqui que queria chegar. Há quem seja talentoso e bom executante, mas não tenha voz. Porque há quem seja talentoso e bom executante, mas se mantém numa linha ou escola, não faz nada de novo, usa uma voz que não é sua para se exprimir. E há quem seja talentoso e bom executante e use inúmeras vozes alheias, sem nunca descobrir sequer uma que decida preferir. Ambos se diluem na história; poderão permanecer pendurados lá por casa, mas não farão ninguém acordar no dia seguinte a pensar que gostava de acordar todos os dias a olhar para aquilo.
E este palavrié todo p'ra quê, ó fulana, valhamedeuz que cheguei aqui - a custo - e não percebo onde queres chegar. A lado nenhum, ora. Ocorreu-me. É que eu, uma tola dos lápis - de cor ou grafite -, uma douda dos esborratanços, ainda com bastante menos de duas décadas de vida, tive uma epifania: faltava-me qualquer coisinha, a que chamei talento. E percebi que não era ali que ia ganhar o pão. Depois um dia, passadas as tais duas décadas, alguém me disse que o tal do talento é 90% de transpiração, e percebi que afinal o que me faltava era outra coisa, aquilo que me entrava olhos dentro quando olhava certas coisas. E pronto, talvez melhor assim. Melhor ter tido essa constatação tão cedo, melhor ninguém me ter alimentado uma ilusão narcísica, melhor eu ser dotada, talvez, de um crivo crítico feroz. E ainda bem que visitei o Museu d'Orsay com dezasseis anitos, também. Quando se caminha entre anjos uma pessoa não pode deixar de perceber a sua falta de asas.
Um desses acessos, logo seguido de profunda introspecção e auto-comiseração, deu-me quando visitei o museu Picasso. Ali pode ver-se obras executadas pelo pintor, ao longo da sua vida. E desde já advirto qualquer visitante: perante a tentação de dizer ah, aquilo nem é nada de especial, que atentem na etiqueta com a data da pintura/desenho, façam contas, e concluam com que idade é que o pequeno Pablo pincelou aquela tela. Pois. Pablito já executava perfeitamente diversas técnicas de pintura e desenho numa idade em que eu tinha, como supremo objectivo de vida, chegar ao último nível do jogo do elástico. Depressão.
Sim senhora, coisas que o talento permite, e nem toda a gente o tem, a distribuição não é democrática. Verdade, treinou muito, adquiriu técnica, que o talento só não chega, é a tal coisa de 10% de inspiração e 90% de transpiração. Melhor ainda, teve meios não ao alcance de todos, que uma pessoa até pode ser genial para engenharia aereoespacial, mas se tiver de apascentar cabras para ganhar o pão nunca construirá nem a chapa de um foguete. (o pai era pintor e professor de pintura, e pequenito Pablo assistia a aulas desde criança).
Mas mais que o talento, a técnica, há algo que a muitos nunca tocará. Picasso poderia não ter passado daquilo, da mimetização de técnicas (e que bem as executava), e acabar a pintar retratos de casais endinheirados ao estilo da escola flamenga, bebés rubenescos, ou paisagens impressionistas para alindar casas de jantar da burguesia. E decerto o faria muito bem, mas não: o tipo tinha uma voz, uma visão sua. E caraças, como a tinha. E é isto que distingue os meramente talentosos, bons executantes, dos inesquecíveis: o cunho único. Não vale a pena ter-se talento (e técnica) para depois produzir mais do mesmo. Ok, concedo, dentro dos talentos singulares nem todos fundam ou são precursores de uma "escola", alguns continuam uma certa tendência, mas acrescentam sempre algo de único. Um Monet não é um Degas, nem um nem outro são mais do mesmo, e tanto um como outro são únicos. Picasso foi um bocadinho mais único, pronto.
E é aqui que queria chegar. Há quem seja talentoso e bom executante, mas não tenha voz. Porque há quem seja talentoso e bom executante, mas se mantém numa linha ou escola, não faz nada de novo, usa uma voz que não é sua para se exprimir. E há quem seja talentoso e bom executante e use inúmeras vozes alheias, sem nunca descobrir sequer uma que decida preferir. Ambos se diluem na história; poderão permanecer pendurados lá por casa, mas não farão ninguém acordar no dia seguinte a pensar que gostava de acordar todos os dias a olhar para aquilo.
E este palavrié todo p'ra quê, ó fulana, valhamedeuz que cheguei aqui - a custo - e não percebo onde queres chegar. A lado nenhum, ora. Ocorreu-me. É que eu, uma tola dos lápis - de cor ou grafite -, uma douda dos esborratanços, ainda com bastante menos de duas décadas de vida, tive uma epifania: faltava-me qualquer coisinha, a que chamei talento. E percebi que não era ali que ia ganhar o pão. Depois um dia, passadas as tais duas décadas, alguém me disse que o tal do talento é 90% de transpiração, e percebi que afinal o que me faltava era outra coisa, aquilo que me entrava olhos dentro quando olhava certas coisas. E pronto, talvez melhor assim. Melhor ter tido essa constatação tão cedo, melhor ninguém me ter alimentado uma ilusão narcísica, melhor eu ser dotada, talvez, de um crivo crítico feroz. E ainda bem que visitei o Museu d'Orsay com dezasseis anitos, também. Quando se caminha entre anjos uma pessoa não pode deixar de perceber a sua falta de asas.
terça-feira, 14 de julho de 2015
Screw you guys, I'm going home
Dois dias, dois, tirando os outros, mas agora são dois seguidinhos, a chafurdar na mais abjecta teia de mesquinhice, na mais pura e (mal) apurada merdice retórica. Dois dias, dois, a fuçar nos registos que comprovam uma triste história de incompetência alheia, uma lamentável lenda de incapacidade de resolução de problemas, uma revoltante falta de visão periférica, alargada, ao horizonte. Dois dias, dois, a destorcer o cérebro num slalom entre argumentos espiralados, a fazer uma timeline coerente de uma teia construída por uma aranha intoxicada, a passar a pente fino resmas de descrições, conclusões, ilações, a maior parte delas para as jogar fora. Dois dias, dois, a cortar palavras e reescrever frases, a limar parágrafos, a aparafusar ideias, depois de as desmontar do sítio onde não encaixam e encontrar o exacto ponto onde pertencem (a maior parte das vezes esse ponto chama-se "lixo"). Dois dias, dois, a pensar que há gente que acha que tem problemas, mas tem é moinhos de vento, queres problemas, ó vaca de merda, queres problemas, ó cabrão do caralho, senta-te aqui e eu conto-te uma história; a seguir, e para resolver esta esterqueira como deve ser, vais fazer o que digo e bico calado, chut, parou de gastar tempo e recursos a quem tem mais onde os gastar, ali, onde são mesmo precisos.
Se podia acabar isto hoje? Podia. Mas não me merecem essa consideração.
[como diz a minha mãezinha, depois de ouvir as minhas longas queixas e lamentos sobre a qualidade dos cidadãos contribuintes que me calham na sorte, deixa lá, filha, se as pessoas não fossem assim não tinhas trabalho. meh.]
Se podia acabar isto hoje? Podia. Mas não me merecem essa consideração.
[como diz a minha mãezinha, depois de ouvir as minhas longas queixas e lamentos sobre a qualidade dos cidadãos contribuintes que me calham na sorte, deixa lá, filha, se as pessoas não fossem assim não tinhas trabalho. meh.]
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Green Acres
Às vezes bate uma nostalgia dos tempos da minha infância, em que a televisão se via a preto e branco (e umas cinquenta sombras de cinza), a opção real repartia-se entre o que estava a dar ou fazer outra coisa qualquer (sim, ainda sou do tempo em que a emissão não era non-stop, e a dois só abria à noitinha). Foi o tempo da missa ao domingo e só depois bonecos animados, com o Vasco Granja ou, como eu o referia, ó mãããããe, o homem nunca mais se cala e nunca mais começa o Pernalonga*. Em dias santos, que pediam missa alongada, nicles, nada de Pato Maluco** (mas vê lá se cancelavam o TV Rural ou o 70 x 7, caneco; a gente não tinha direitos, a gente não tinha qualidade de vida, a gente não era target, a canalha sofria e calava). Foi o tempo em que achávamos que entretenimento era assistir às descobertas musicais, entrevistas, e rábulas apresentadas pelo Júlio Isidro (tudo em directo, sem rede, sem fios); quais fechar uma data de rafeirões numa casa e ficar a ver. Foi também o tempo em que nos telejornais tínhamos peças satírico-informativa-humorísticas com o senhor Fernando e esta, hein? Peça, e também havia tempo para aligeirar com aquilo a que agora se blogo-chamaria não-assuntos.
Ora, entre os não-assuntos mais tele-famosos e sistematicamente na berlinda, era o horto-assunto. Quero acreditar que ainda há quem se lembre dos fenómenos do Entroncamento, dada a prevalência da zona em tais reportagens. Ele era a batata de quilo, a abóbora de arroba, o pimento com a cara do Bochechas, o pepino de metro - e chalaças mesmo a propósito. Um fartote. Não havia mês, pelo menos, sem um hortícola ter os seus quinze minutos de fama.
E agora chegámos ao ponto: é disto (e do Pernalonga, vá) que tenho nostalgia, e para onde é que ligo para me irem fazer uma reportagem lá a casa? Juro que deixo crescer o bigode e ponho um lenço na cabeça, eu dou uma rústico-patusca muito janota, prometo.
(são ou não são os chilis mais compostinhos que já viram, hein?)
(se alguém vem com a conversa do ah, e tal, dá-me ideia que as tuas mãos são enfezaditas de pequenas, apesar de rechonchas, não vale: isso é inveja, isso é ser má pessoa.)
*Bugs Bunny, para os nascidos depois de mil nove e oitenta.
**Duffy Duck, para os nascidos depois de mil nove e oitenta.
Ora, entre os não-assuntos mais tele-famosos e sistematicamente na berlinda, era o horto-assunto. Quero acreditar que ainda há quem se lembre dos fenómenos do Entroncamento, dada a prevalência da zona em tais reportagens. Ele era a batata de quilo, a abóbora de arroba, o pimento com a cara do Bochechas, o pepino de metro - e chalaças mesmo a propósito. Um fartote. Não havia mês, pelo menos, sem um hortícola ter os seus quinze minutos de fama.
E agora chegámos ao ponto: é disto (e do Pernalonga, vá) que tenho nostalgia, e para onde é que ligo para me irem fazer uma reportagem lá a casa? Juro que deixo crescer o bigode e ponho um lenço na cabeça, eu dou uma rústico-patusca muito janota, prometo.
*Bugs Bunny, para os nascidos depois de mil nove e oitenta.
**Duffy Duck, para os nascidos depois de mil nove e oitenta.
And so it goes
Estou impante com a minha nova aquisição. Um par de sapatos supint? Uma mala/carteira patinfa? Um autefit chumpachi? Não. Uma velharia supint-patinfa-chumpachi.
Ok, ok, não é uma Remington ou uma Underwood, mas funciona impecavelmente, é gira que se farta e, o mais importante, não pesa uma tonelada (essencial quando o transporte é a pé / transportes públicos) como aquelas, já não é feita em metal, mas de baquelite. Tão contentinha.
Ah, e foi mais barata que isto aqui abaixo (e vai durar mais, visto não se destinar a ingestão e a ser eventualmente expelido. cada um com os seus fétiches):
Ok, ok, não é uma Remington ou uma Underwood, mas funciona impecavelmente, é gira que se farta e, o mais importante, não pesa uma tonelada (essencial quando o transporte é a pé / transportes públicos) como aquelas, já não é feita em metal, mas de baquelite. Tão contentinha.
Ah, e foi mais barata que isto aqui abaixo (e vai durar mais, visto não se destinar a ingestão e a ser eventualmente expelido. cada um com os seus fétiches):
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Lisboa, menina e moça
A quem pergunta qual a vantagem de viver em Lisboa, posso responder que estou a dez minutos a pé disto:
E disto:
E disto, também:
Nem tudo é bom, claro. Um gajo também pode apanhar com isto pela frente:
E depois sente-se melhor ao ver que pode optar por ir pelo próprio pé, em vez de gramar com isto:
E disto, também:
Nem tudo é bom, claro. Um gajo também pode apanhar com isto pela frente:
E depois sente-se melhor ao ver que pode optar por ir pelo próprio pé, em vez de gramar com isto:
terça-feira, 7 de julho de 2015
Há dias assim, dias de alma vaga
Uns queixam-se do polén, do mal que lhes faz aos narizinhos, das tosses e ranhos que provoca; outros andam de olhos no alto a admirar os céus mais floridos (e olhos no chão, a deleitar-se com os tapetes de colorido).
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Ding, dong, the witch is dead
Uma pessoa escreve um post a concluir que a cabrice não é feitio, é opção, e não das boas, e tau, acaba o dia a dar de caras com uma rechonchuda, fofinhucha, peluda cabrice. Pronto, ninguém recebeu o meu memo, certo? Ou então o problema é ao nível da falta de opções, isso, o tédio é muito mau conselheiro. Tanta coisa gira para fazer, uns dias tão lindos e soalheiros, uns passeios bons que se davam, resmas de livros à venda, há para para todos os gostos, mesmo os maus, e ainda assim as pessoas entretêm-se a enfiar o apêndice na vida alheia, e unhaca ali a escarafunchar o que não lhes diz respeito. Tchhhhh.
Isso, quero crer que é falta de informação relativamente às opções, e não apenas uma vida triste, uma cabeça poucochinha, uma mentalidade atrasadinha que faz as pessoas persistir nesta estranha forma de vida.
You're just an empty cage girl If you kill the bird
Contava ela como foi alvo do comentário e interpelação de estranhos, num local público. Não estendendo uma mãozinha na aflição em curso, não dando uma palavrinha de ânimo ou consolo, mas sussurrando desaprovação, apontando o que (supostamente) estava fazendo de errado. Alguém ultrapassou a barreira do pudor e decoro e abordou-a, agressivamente: não via o que estava a fazer de errado?, não percebia que devia fazer y ou mesmo x?, porque estava ali tão caaalma, em vez de fazer assim e assado?, e mais, e pior, e mais intenso. Contava ela que, já aflita, paralisou; em vez de mandar aquela gente toda enfiar as opiniões de onde nunca deveriam ter saído, acabou justificando-se; que, debaixo das rajadas da outra, o fez já balbuciando, com emoção, embora sabendo que mais valia ficar calada; que se sentiu acossada, isolada, encurralada, e finalmente cedeu às lágrimas.
Eu ouvia aquilo de boca aberta, e tristeza profunda. A primeira reacção, porque não entendo o que leva alguém a, vendo outra pessoa em situação que só a si cabe gerir, meter o bedelho, de modo brutamente intrusivo, e ainda por cima de forma gratuitamente agressiva. A segunda, porque a pessoa e situação em causa não mereciam semelhantes investidas e invectivas. Bastava conhecê-la, a pessoa, para o saber. Obviamente, quem se deu licença para assim agir não sabia, nem cuidou de saber: viu, julgou e achou por bem actuar, e com essa actuação não só não contribuiu para resolver o problema, como feriu outrem. Mais: viu com os olhos inclementes com que olha os outros; julgou com os padrões cegos com que avalia todos os outros. Duvido que, apontando esses olhos e padrões a si própria, aquela pessoa pudesse ser absolvida, mas que interessa isso, quando se é alguém que se autoriza a ser agente autuante, juiz e carrasco? Nada, nadinha.
Juro que ainda me surpreendo com coisas destas. Quatro décadas e picos de provas em contrário, e ainda tenho a ousadia de achar que as pessoas são melhores que isto, mais elevadas que a sua mesquinhez, com mais horizontes que os que a sua tacanhez impõe. E imagino que, confrontando-se tais pessoas, perguntando-lhes se achavam bem o que faziam, não reflectiriam nem um segundo, antes me responderiam que tinham direito à sua opinião, e a verbalizá-la. Claro que sim, toda a gente tem direito à sua opinião. E a dá-la. O que não significa que devam fazê-lo, ou que seja decente decidir dar essa opinião, a quem não tem o dever de a ouvir ou a considerar. Mas não importa: têm o direito. E se têm o direito, embora exercê-lo, embora! É só agarrar na forquilha e archote, olha ali alguém a fazer algo que, em princípio, acho errado, marchar, marchar.
Sem ilusões: devemos agir e opinar, sim. Agir contra a injustiça e ilegalidade, denunciando-a; o sistema, bom ou mau, existe. E só não funciona se não o usarmos e lhe dermos a manutenção devida. Idem aspas para o opinar, se bem que as palavras são ocas e inócuas se não houver uma acção eficaz que as secunde. Apontar não chega. Apontar cegamente, a qualquer coisa, por qualquer capricho de opinião, é estúpido. É matar moscas com uma G3.
Por mim continuo a regar esta utopia, de que mais cedo ou mais tarde as pessoas entenderão que ser uma cabra tresloucada sem filtro, um cabrãozeco ululante e enfurecido, é uma opção. Optar não o ser é que é de valor.
Eu ouvia aquilo de boca aberta, e tristeza profunda. A primeira reacção, porque não entendo o que leva alguém a, vendo outra pessoa em situação que só a si cabe gerir, meter o bedelho, de modo brutamente intrusivo, e ainda por cima de forma gratuitamente agressiva. A segunda, porque a pessoa e situação em causa não mereciam semelhantes investidas e invectivas. Bastava conhecê-la, a pessoa, para o saber. Obviamente, quem se deu licença para assim agir não sabia, nem cuidou de saber: viu, julgou e achou por bem actuar, e com essa actuação não só não contribuiu para resolver o problema, como feriu outrem. Mais: viu com os olhos inclementes com que olha os outros; julgou com os padrões cegos com que avalia todos os outros. Duvido que, apontando esses olhos e padrões a si própria, aquela pessoa pudesse ser absolvida, mas que interessa isso, quando se é alguém que se autoriza a ser agente autuante, juiz e carrasco? Nada, nadinha.
Juro que ainda me surpreendo com coisas destas. Quatro décadas e picos de provas em contrário, e ainda tenho a ousadia de achar que as pessoas são melhores que isto, mais elevadas que a sua mesquinhez, com mais horizontes que os que a sua tacanhez impõe. E imagino que, confrontando-se tais pessoas, perguntando-lhes se achavam bem o que faziam, não reflectiriam nem um segundo, antes me responderiam que tinham direito à sua opinião, e a verbalizá-la. Claro que sim, toda a gente tem direito à sua opinião. E a dá-la. O que não significa que devam fazê-lo, ou que seja decente decidir dar essa opinião, a quem não tem o dever de a ouvir ou a considerar. Mas não importa: têm o direito. E se têm o direito, embora exercê-lo, embora! É só agarrar na forquilha e archote, olha ali alguém a fazer algo que, em princípio, acho errado, marchar, marchar.
Sem ilusões: devemos agir e opinar, sim. Agir contra a injustiça e ilegalidade, denunciando-a; o sistema, bom ou mau, existe. E só não funciona se não o usarmos e lhe dermos a manutenção devida. Idem aspas para o opinar, se bem que as palavras são ocas e inócuas se não houver uma acção eficaz que as secunde. Apontar não chega. Apontar cegamente, a qualquer coisa, por qualquer capricho de opinião, é estúpido. É matar moscas com uma G3.
Por mim continuo a regar esta utopia, de que mais cedo ou mais tarde as pessoas entenderão que ser uma cabra tresloucada sem filtro, um cabrãozeco ululante e enfurecido, é uma opção. Optar não o ser é que é de valor.
sábado, 4 de julho de 2015
Welcome to the twilight zone (5)
Uma pessoa a relatar publicamente actos de outrem susceptíveis de integrar o crime de ameaça ou o crime de devassa da vida privada. Acto continuo, dita pessoa praticar actos susceptíveis de integrar o crime de denúncia caluniosa e também devassa da vida privada.
[não estivesse eu no tablet e não percebesse um boi de fazer copy paste nesta joça, e punha aqui um gif de velhinhas a bater palmas]
[não estivesse eu no tablet e não percebesse um boi de fazer copy paste nesta joça, e punha aqui um gif de velhinhas a bater palmas]
sexta-feira, 3 de julho de 2015
I'm going slightly mad
Sobre rituais pós-morte, e onde enfiam restos mortais de quem quer que seja, quero cá saber - apesar de achar pouco higiénico desenterrar um corpo só um ano depois, iaca.
Sobre quem está ou não está ou devia estar no raio do Panteão, não me podia ralar menos - nunca lá entrei, não faço tenções de entrar.
Sobre fazerem um cortejo gigantesco, num dia de semana, e com caloraça, não me incomoda - por acaso até tiveram a decência de não se cruzar nos meus caminhos.
Sobre estarem uns cinco ou seis canais a passar aquilo em directo, não me afecta - é por essas e outras que pago cabo.
Agora o c@r@lho dos helicópteros, pá, sinceramente, não podiam ir "avoar" noutra freguesia, hein, se eu gostasse de viver perto de ruído aeronáutico tinha escolhido ali Alvalade ou a Quinta do Lambert, fod@-se.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
To sleep, perchance to dream
O dia inteiro a lutar com esta baixa de tensão. Cafeína? Check. Hidratos rápidos? Check. Chocolate? Check. Na mesma. Só que com uma overdose de estimulantes que me pôs, ali desde as três da tarde, a hiperventilar. Falta a derradeira solução: caminha. Credo. É o que dá trabalhar duas semanas numa, e ainda hoje é quinta.
quarta-feira, 1 de julho de 2015
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