quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Alerta, acudam, aqui d'el rei

Acho que não estão a fazer reposição dos gelados no Lidl.

Quer dizer. Quer-se dizer. Com coisas destas a passar-se e não há uma equipa de reportagem à porta de cada estabelecimento, a entrevistar utentes desmoralizados, abatidos, desfeitos? Hein? Não há um um fórum TSF dedicado ao tema? Não há um levantamento, uma sublevação, uma revolta popular? 

Isto aqui, hã, isto aqui é um povo manso, é o que é. Já não bastou o silêncio total sobre o escândalo de termos passado um verão inteiro, sublinho INTEIRO sem reporem o sabor morango das caixas gelateli (já nem falo da nata e stracciatella, desaparecidas circa 2023, para nunca mais serem vistas), e agora os gelados de cone e/ou pauzinho são tão poucos que se vislumbra o fundo da arca. 

Qué lá isto? Ainda agarrados a conceitos longevos e caducos como a sazonalidade do produto? Aqui não neva, senhor Lídele. Aqui não é como nas Alemanhas, senhor Líder. A gente aqui é latinos, pah, a gente come gelados todo o ano, pah.

Lá a ver isso. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Not understanding the assignment

Enquanto estou aqui a lidar com a velha conhecida ansiedade paralisante, que volta e meia faz o favor de bater à porta, entrar sem cerimónia e instalar-se de perna traçada, impondo a sua presença, desconcentrando, impossibilitando um mínimo de produtividade que, sendo conseguido, desencorajaria outra velha visita, a prostituta da culpa, dou comigo a pensar que bom que é hoje em dia uma pessoa já poder falar nestas coisas da saúde mental sem problemas, porque há uma consciencialização transversal para a questão, e tal, uma maior aceitação, a 'ssoa já não é vista como disfuncional, a maluca, o problema, não, a pessoa tem um problema, ajudemos a 'ssoa a lidar e ultrapassar, a ter o espaço pessoal e o tempo que necessita, e coiso, todos muito uahhhh, só que não. Nope, não, népia, não é nada assim. Ou antes, é assim para umas coisas, para outras não. Case in point, como diria o Rodenberry, há aceitação e muito boa vontade para com alguns problemas, mas não com outros, depende se está na moda, se é fixe. Melhor dizendo: se padeces de distúrbio / problema / glitch que se enquadre no conceito (atualmente aceitável) de neurodivergência, tudo ok, o resto, iuc. E o que é isso da "neurodivergência", não sei bem. A sério, não sei. Acho que tem que ver com o funcionamento do cérebro, isto é, se é defeito de fabrico, ai, isto não soa nada woke, melhor dizendo, se vens assim de origem, se é um problema de hardware, tudo ok. Se o problema é do software, que passa a funcionar mal, ninguém quer saber. Ora, sendo encaradas como integrando este conceito, e portanto neurodivergentes, sem polémica: espectro do autismo, supé in, ADHD idem, disforias também (porque se convencionou que se trata de algo que nasce contigo, não vou discutir). Este catálogo é tão apetecível como explicação de uma depressão, ansiedade, ou simples quirkiness, que há quem se autodiagnostique. O "eu acho que estou no espectro" é algo que se banalizou. É normal ler / ouvir apreciações como "a ansiedade é da minha TOC / ADHD". Pelo contrário, não se ouve ninguém a desabafar que está a chocar uma psicose, desconfia que a sua depressão está ali a raiar a bipolaridade, ou sente-se um niquinho esquizofrénico. Embora se trate de diagnósticos que podem ser enquadrados na definição de neurodivergência. Mas não são cool. Fixe é ser neurodivergente as in diferentão, muito fora. Agora diferente do tipo ouvir vozes, achar que se aproxima o fim dos tempos, ver auras... neurotípico não é, de certeza, mas é o tipo de excentricidade "errada". "Ah, e como é que sabes que é assim?" Eu cá num xei nada. É o que anda na net. É o que se diz na net. É o que é acreditado na net. Não vamos estragar a vibe dos diferentões modernões. Mas eu, que sou antiga, garanto: esta ansiedade não interessa se é de origem. A depressão (que se vai seguir, pela culpa de não ter estado capaz de trabalhar em condições) também não sei se é defeito de fabrico. Não é relevante, socialmente, se é hardware ou software. Esta estranha maneira de viver não é uma excentricidade que use como uma medalha, de que me gabe, ou que careça de validação. Incomoda muito. Dá uma trabalheira a desmontar e a lidar. Não faz de mim melhor ou pior pessoa. Mas não justifica nem desculpa quando, por causa dela, ajo pior. E, muito menos, faz de mim uma coitada muito desgraçada, marcada por uma inevitabilidade comportamental indelevelmente gravada nos meus genes (?), tecidos (?), células (?), que os outros têm a obrigação de acomodar. Own it, deal with it. Sem desculpas. E, se preciso, tomem qualquer coisinha (prescrita por um profissional competente, claro). Ajuda e, às vezes, até resolve.  

terça-feira, 8 de outubro de 2024

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Pagando por todos os pecados, a pronto

Não posso deixar de achar graça, assim num tom ahahahahah-chuif, de humor quasi fatalista e até, vá, convenhamos, acusatório como em estavas a pedi-las, tu é que te ofereceste, ao facto de estar a trabalhar com millenials na nobre tarefa de passar conhecimento a garotada da geração z. Ouviram aqui, da boca de uma gen-X: poderá ser a definição mais aproximada de purgatório que já se me apresentou. Inferno não digo porque não sou uma me-me-me como os millenials ou uma mi-mi-mi como os gen-Z, e sei que há coisas bem piores a acontecer a muitos outros. 

Resumindo, e numa afirmação muito gen-X, está a ser interessante mas já me vai faltando a paciência - principalmente para os millenials, pasme-se.

(pondero, cada vez mais fortemente, uma reforma dedicada ao eremitismo)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

:)

 

(oh pah, teijam calados, calores tropicais nunca foi a minha cena, e com Graves / hipertiróidismo é pura tortura)

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Problemas de simetria

Tenho imensos, perturba-me horrores, e ocupa-me demasiado tempo e espaço cerebral. 

Uns exemplos:

Não consigo viver com padrões que se repitam muitas vezes, ou dou por mim obcecada em "partir" o padrão, isto é, perceber onde começa e acaba a repetição, como que a imaginar a prancha de impressão. Acontece-me com roupa de cama, papel de parede, azulejos e revestimentos em geral, que tenham um padrão, principalmente geométrico. Se o padrão for muito grande em relação à peça (por exemplo, uma manta), e seja percetível logo num olhar, tudo bem. Se for uma peça grande com um padrão muito miúdo, consigo ignorar. Lençóis com flores pequeninas ou quadradinhos / riscas finas ou de igual espessura, ok. Papel de parede com flores pequeninas: péssimo, vou ficar a olhar com ar perdido à procura das "costuras". Papel de parede, com franqueza, qualquer padrão dá comigo em doida, porque vou estar, inconscientemente, a ver se o padrão está alinhado nas junções (para além de identificar as repetições). Faço o mesmo na roupa, fico à beira da loucura quando o padrão não "casa" nas costuras, donde, não compro casacos ou calças de padrão, blusas consigo porque estão demasiado perto / junto ao corpo para me perder a olhar. Se for um tapete, tolero. Adoro motivos persa ou afegão, por exemplo, e a assimetria do tingimento do material no kilim. Esquisita, esta excepção, eu sei. Mas padrão a dar ideia de abstracto: ai. E se detecto um problema de simetria, pronto, chamem a ambulância e vistam-me a camisa de forças. As juntas doa azulejos lá de casa já estiveram mais longe de me enviar para o asilo. Mas sou forte, hei-de superar esta provação. Mas quando se fala de medidas mal tiradas, pah. Xanax. E lembrei-me disto porque ando a adiar tirar as medidas a uma cena lá em casa, que tenho a certeza que o tipo que me pintou o quarto e instalou as guarnições de madeira novas (as antigas tiveram de ser substituídas) deixou uma diferença de um, dois centímetros entre os dois lados. Juro que o alinhamento daquelas bandeiras de janela me andava a perturbar, e não conseguia perceber porquê, foram meses a tentar ignorar a sensação de desconforto, até que aqui há dias aconteceu: fiquei parada à porta de olhar perdido, e zás, o c@br@o colou aquela mais alto que esta aqui, phod@-se, que c@r@lho, agora vai ser bonito para instalar os varões de cortinado (que ainda não me tinha decidido a comprar, e ainda bem).

Estou à beira de um esgotamento. Rectificar aquilo vai dar uma trabalheira, a dois metros e setenta de altura, e tenho vertigens. Maldita seja a minha vida.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

É tudo treta (ou "bem vindos à minha ted talk")

Não tens de ser, nem sequer estar feliz. O ser feliz, aliás, é uma mentira giga-mega-ultra: uma pessoa não é um sentimento. Uma pessoa tem sentimentos, ocasionalmente, fugazmente. Ninguém é feliz. Quem diz que é feliz ou te está a pregar uma valente peta, a fazer-te sentir, desnecessariamente, menos que, inferior, inadequado; ou te quer sacar algo. Liberta-te, dá-te licença para existir sem a grilheta do ter de ser [alguma coisa].

Dito isto: 

Motivação é treta. Pior: desnecessária. Não precisas de motivação para fazer seja o que for, faz e pronto. Porquê? Porque sim, porque tem de ser. Não precisamos de motivação para comer, dormir, acordar, lavar os dentes, tomar banho. Fazemos porque sim, tem que ser. Porque a alternativa é pior. 

Exemplo, há três meses que vou regularmente ao ginásio. Estou toda motivada? Não. Pelo contrário, acho uma merda, é um sacrifício, preferia ficar a fazer seja o que for, até ver tinta a secar, do que ir ao ginásio. Mas vou. Porque tem que ser, derivado das prostitutas das minhas costas, que já não doem há - também - três meses. 

Ah, então estás motivada pelo resultado. Nope. Piretes para o resultado. O facto de estar a resultar só reforça que tenho de continuar a ir (o horror) e, se quero manter os discos no sítio, provavelmente aumentar a frequência (o medo). Isto é péssimo. Muito desmotivador, sinceramente. Porque eu queria era fazer o que me apetece, que é tudo e mais um par de botas, e não isto, o que tem que ser. Se vamos a esmiuçar conceitos, eu estou motivada é para o ócio e diversas actividades conexas, porque me é natural. Puxar ferro num sítio aromatizado por peúgos transpirados, não. Mas vou. Como vim hoje (e ontem e a semana passada, lágrimas de sangue) trabalhar. Tem que ser. Sem trabalhinho não há dinheirinho, e o supermercado não se paga com palavrinhas de arrimo. É necessário à sobrevivência, ou a um certo padrão de sobrevivência. E um gajo faz, que remédio. Porque se não faz, consequência. 

Ah, mas uma pessoa deve lutar por fazer aquilo de que gosta / para o que está motivado / a faz feliz. Ahahahahahahahahahahahah. Boa. Força aí, nesse conceito de vida. Vamos a pensar retrospectivamente: desde quando é que a humanidade abraçou essa coisa de fazer o que nos faz felizes? Umas dezenas de anos? E que franja (curtíssima) da população humana é que, desde tempos imemoriais, pode fazer só ou principalmente o que gosta? Ou ganhar a vida a fazer o que gosta? Mais, tendo tempo livre para (prosseguir seriamente) o que lhe dá prazer? Quem vos vende esta tretona está a enganar-vos. Triste e lucrativamente. É o princípio da lotaria (ou da meritocracia, mas isso é outra conversa): convencer-nos que (todos!) podemos ser aquela pessoa sortuda que, de um momento para o outro, vê a sorte bafejá-lo e fica milionária. 

Ou então, estão a tentar convencer-nos de outra coisa bem mais maquiavélica: que a felicidade é possível, basta encarar a vida, o trabalho, as dificuldades, com determinação, ter a força de vencer obstáculos e, se estivermos verdadeiramente motivados, lotaria!!!!, só depende da nossa vontade!!! Ahém: não acontece. Ou só a poucos, vá. Dificilmente (nos) vai acontecer. E não será por falta de vontade ou empenho, o mundo está a transbordar de gente esforçadíssima que não passa da cêpa torta.

Notinha final: não faz mal. Não faz mal que às vezes não apeteça, que nos sintamos no lodo, uns falhados, uns tristes. O mundo, a vida, não nos deve motivação. Não nos deve nada, na verdade. Nascemos nus e indefesos, sem controlo nos esfíncteres, mas hei, melhora. Podemos ser melhorzinhos uns para os outros, já ajuda. Não estarmos sempre focados na nossa motivação!, sucesso!, liberta algum tempo e foco! para olhar para o lado. E até aproveitar melhor os momentos que nos dão alegria. Já lá dizia o almada, a alegria é a coisa mais séria da vida, tenho um crachá com isto impresso, e juro por esta máxima.  E, a alegria, não é treta, existe. Sabemos que é passageira, é aproveitar e espremê-la enquanto a temos. Já a felicidade, bom, boa sorte e tudo de bom. Mas tirando alguém a curtir uma valente trip de substâncias, não me lembro de ver alguém em verdadeiro estado de felicidade duradoura.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Razões de força maior*

Nada diz (grita!) tanto "geração X" como uma pessoa achar que, para suar e andar a fazer esforços não desejados, ir treinar de leggings pretas de trazer por casa, e t-shirt largueirona que o home já não usa (está apertada/larga/desbotada/ratada) está muito bem, muito ok, até muita estilosa, por sinal. 

Parece que não, e ainda bem que tinha outra t-shirt na mochila; o Eddie fica só lá para casa, que os gatinhos - e ele - não ligam a essas coisas.

(não, não vou gastar uma pipa em roupinha de fitness, mas é tooooodo um sector toooodo pipoquento, não é? vou ter que ir à Decathlon, não vou? ei, mais caro que a Decathlon, não. há limites. Oisho, talvez? cansaço. isto do dress code é um cansaço.) 


*tais como estar toda fornicada dos ossos, articulações e músculos; e gostava de, um dia acontecendo, falecer com melhor ar. e saudável.

Segredos de um casamento feliz

Diz que vai estrear um novo filme do Planeta dos Macacos. Como é que eu sei? Hum, vivo com uma certa pessoa já há dezoito, qualquer dia dezanove anos. Há meses que sei, de re-pe-ti-da-men-te ouvir dizer, que vai estrear um novo filme do Planeta dos Macacos. Sei também que é depois do César morrer, o resto já não ouvi fixei. Vai passar no cinema, em Alvalade, por exemplo. Estava lá o cartaz. Não que tenha reparado, mas fizeram-me reparar. Mas se calhar ele espera que passe no streaming, porque não lhe apetece ir ao cinema sozinho (pequena pausa, olhar de esperança, hum-hum da companheira de vida); de qualquer forma, vê em dvd, porque vai comprar o dvd, ou bluray, já tem os outros (confirmo. tem todos. não, não é só um ou dois, googlem e surpreendam-se). O seu crítico preferido (Kermode, disponível hoje no iutube) aponta falhas, mas parece que também gosta da saga e vai acompanhar, porque é o primeiro de uma trilogia (malucos, malucos everywhere). Também já vi o trailer, até penso que mais que uma vez. Qual é a história? Então, há um chimpa pucanito, uma aldeia a arder, um orangotango mau que fala com voz de mau, e uma senhora boa. Tinha voz de boa, pelo menos. Assim de esguelha, parecia desenho animado daquele moderno, que há agora, em computador, pseudo realista. E é tudo o que tenho a dizer sobre o assunto, e é mais do que gostaria de ter a dizer sobre o assunto.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

TV Guia

Posso não servir para mais nada, mas faço recomendações do caraças. E se calhar sou um bocado peneirenta. Mas são boas recomendações! Que são! "Ah, mas é tudo canais a pagar, és peneirenta e elitista!". Pah, em vésperas do 25.04, pah, não vale. Além de que os quatro canais, quando foi a última vez que vos deram uma alegria?, eu já não m'alembro. 

Então, o que é bom e anda aí:

- Ripley (netflix): esta série não é só boa, se eu mandasse era obrigatória. Andrew Scott já foi o melhor Moriarty de sempre, um hot priest do caraças, e tcharam. A Dakota Fanning 'tá crescida. A fotografia é poesia, a história está lindamente contada. 

- Baby Reindeer (netflix, a justificar a mensalidade): uma das melhores série que não quero voltar a ver. É uma autópsia ao trauma puro e duro, e ele há ali bocados (ahééém, episódio 4, ahééém, e não melhora) que ficam a trabalhar. Não conhecia a actriz que interpreta Martha, mas agora quero ver tudo o que ela já fez.

- To Kill a Tiger (novamente netflix, agora já estamos a lucrar): porque já estamos preparados, vamos então continuar no tema, sendo que este é trauma, violência sexual, sociedade, justiça. Agora, na India. Um filme documentário muito bem feito, sensível mas sem paninhos quentes. Revolta muito, mas, ao mesmo tempo, aquece o coração saber que há tanta gente íntegra e boa a fazer trabalho essencial. Comovi.

- Quiet on Set (HBO), ena, agora já entrámos na overdose de abuso e violência sexual, mau trato, e por aí fora. Quando era gaiata via os desenhos animados da Warner Brothers, mas depois veio uma época em que foram banidos, buhu, muito violento, um coelho que é um boneco dar um tiro na cara de um pato (outro boneco) e este ficar com o bico virado para trás. Ou desenhos atirarem bombas (desenhos...), bigornas (também desenhos...) a outros bonecos desenhados. E veio a época da Nickelodeon, que já não me apanhou, pelo que não fazia ideia. Mil vezes o Bugs a escavacar o Daffy. Surreal, aqui é tudo surreal. A forma como era tratado o staff e os putos-actores; o silêncio e conivência dos responsáveis, o porem miúdos a fazer cenas com conteúdo sexual ÓBVIO para qualquer adulto com dois dedos de testa, enfim, e o pior do pior, claro, um ambiente destes é natural que atraia todo o tipo de tarados, principalmente quando quem manda no show é ele próprio um tarado porno-viciado, ressabiado, misógino, a viver a sua power trip. 

E pronto, já é uma listinha boa. Agora vamos acabar o Conan O'Brien Must Go, um excelente limpa palato, e depois logo se vê para onde seguimos.  

Se são daquelas pessoas que têm o Filmin (nada contra, mas tenho de gozar porque mano tem, e uhu, filmes intelequetuais, uhu, olha o menino), passem os olhos por A Zona de Interesse, para ficarem monumentalmente deprês; para acamar, e ainda o apanhando, vejam o Anatomia de uma Queda (já agora, Sandra Huller, não conhecia, mas quero ver tudo o que já fez).

Adeus, adeus, que tenho legos para montar. Viva a liberdade!

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Cinco minutos de lamechice

 Sim, reconheço que no mais que aleatório sorteio da doença auto imune me podia ter calhado (substancialmente) pior, mas, ainda assim, acho mal terem enfiado o meu nome na tômbola. 

Ok, não é lupus, nem uma esclerose qualquer (bate na madeira), mas começa por o nome ser muito estúpido e, quando comunicado por escrito, dar azo a mal entendidos: não, mãe, não é uma doença grave, é a doença de Graves. E é tipo ovo kinder: nas entranhas de um chocolate fajuto e muito pouco satisfatório, esconde-se um brinde não menos fajuto e imprestável, que vai ficar lá em casa a ganhar pó e a estorvar e uma pessoa sem coragem para o deitar fora, que era admitir que gastámos numa porcaria nem sabemos porquê, a saber, o hipertiroidismo. 

Resumidamente, não é das piores, mas é muito chatinha. E tem muitos sintomas. A maioria deles, confundíveis com os da peri/menopausa, o que dá uma sobreposição giríssima, hilariante, mesmo. E, se não impedem uma existência normal, perturbam um poucochinho. Ou são mesmo socialmente repreensíveis, como o mood swing que te faz explodir à mínima provocação (Nota: a outra pessoa estar viva, respirar, existir, mastigar, calhar estar ali, pode constituir, para quem padece desta patologia, uma "provocação". Ou um trigger, para sermos modernos.) Ao menos já não tremo das mãos nem tenho uns olhões de marreta, que me davam uma vibe de drógada que ui.

O dia a dia pode resumir-se ao primeiro excitex que é "uai, que sintoma, ou sintomas, me vão calhar na rifa hoje?". Sim, o suspense. Até pode não suceder nenhum, mas, até poisares a cabecita na almofada, não sabes. E então, ainda vais a tempo, com a simpática insónia. 

Enfim, é muito giro. A boa notícia é que, com o acompanhamento certo, podemos ter a sorte de uma remissão. Ali num ano, ano e meio de tratamento. Que implica ir ajustando a dosagem de um comprimidinho canininho, e ver como está a resultar com análises ao sangue cada mês e meio a dois meses (não me pagam a pub, mas na Luz tiram sangue que é uma categoria, e uma recomendação destas, vinda de mim, é para guardar e jurar por ela). Anyhoo, mesmo com remissão, pode sempre voltar. Porque todos precisamos de um certo grau de  inquietação, para nos manter finos. 

O único ponto positivo foi o emagrecer, apesar de ter uma fome devoradora e comer tudo o que me apetecesse. Como disse ao médico, pensei que finalmente estava a ter sorte na vida. Já não, com o tratamento voltou o peso todo e mais algum, de bónus. A fome ficou, exceto nos dias em que alterna com uma náusea, que, atenção, também pode ser existencial. Até porque o pior, e que realmente me tira qualidade de vida, me deita abaixo, já me fez quase não sair da cama quinze dias, estar dois meses para ler um livro, não dar vazão ao trabalho, andar com uma sensação de fracasso iminente, de incapacidade burra e acéfala intermitente, é o cansaço, uma coisa que se abate como uma manta e pesa como a atmosfera de Vénus, um cansaço súbito que é uma exaustão total, um agora estás toda fresca, agora quero deitar-me aqui um bocadinho, faz favor, que me drenaram a energia toda e tenho de esperar para carregar. 

Decidi que não tenho idade para isto, pertantes, vai-se resolver. Vai melhorar. Sou uma paciente muito obediente e cumpro tudo à risca, aponto até na agenda dosagens, análises, tudo. Ando a ler sobre a melhor alimentação (pah, mas o açúcar, a farinha, o glúten agora fazem mal a tudo?, e a minha torradinha com manteiga?, vou comprar à gleba, é? do chocolate já não me queixo porque - juro - enjoei - eu, uma chocaólica tão dedicada - como enjoei do tabaco), a ler sobre vitaminas, a ler sobre o melhor exercício (desespero, o grande motivador). E vai melhorar. Porque não tenho idade para isto, apesar de já ter chegado àquela idade (!!!) das pessoas (mais) velhas. O despautério, não se faz. Rameira da vida, çinçeramente.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Acção de Formação

Agradecia do fundo, fundinho do coração que alguém explicasse às meninas / senhoras que trabalham na Sephora que a táctica de perseguir a cliente até ao esgotamento, insistindo em impingir-lhe um produto que, notoriamente, a cliente não precisava nem queria, pode ter o efeito adverso, ou seja, e no que ao caso interessa, a cliente entrou para comprar uma mixuruquice de um sérum da The Inkey List que não chega aos 15 paus, verdade, mas saiu sem nem isso gastar e, calhando terem-na deixado em paz e sossego, vá, ao terceiro "estou só a ver", a pessoa até tivesse motivação para gastar uns quinze minutos a experimentar e pesquisar outras marcas do pó compacto que precisa de repor, mas não faz mal, mando vir da net o do costume.

[e aqui há quinze dias deixei um piparote de massa na concorrência, porque foram metade chatas do que vocês são. mas, ficando satisfeita com as escolhas, passam a ser "do costume", e manda-se vir de onde, onde? pois.]


quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Not woke, insomniac

 Hoje em dia não se pode simplesmente 'tar, que és logo acusado de não ser envolvido, ou esquecer o sofrimento de não sei que franja da sociedade. Novidades: o tempo não é elástico, um gajo não consegue ir a todas. Digo mais: desconfio imenso de quem quer ir ou vai a todas. De duas, uma: ou não tem nada com que se ocupar e tornou-se activista profissional (revirar de olhos), ou é um ser acrítico que simplesmente adere a tudo o que está a dar para o seu lado ideológico (duplo revirar de olhos) - porque, a sério, não é fisica, psicológica ou intelectualmente possível - ou honesto - ter uma opinião fundada e informada sobre tudo, mas tudo o que se passa.

É triste, mas dominante: não ter opinião sobre determinado assunto é coisa para pena capital. Não tens opinião, não sabes que determinada questão é problemática, não estás acordado, não estás consciente, e isso, por sua vez é problemático. Estares fora é uma opção, donde, estás a escolher não te interessar, donde, estás a contribuir para a perpetuação do problema, donde, permites a opressão / agressão / exclusão de x/y/z, donde, fazes parte do problema, do sistema, és o sistema. 

O que é problemático, nisto tudo, é a seca que esta forma de estar me dá. Não me acorda mas, admito, contrariada, tem dias que me piora as insónias. O movimento woke está a tornar-me insomne. E cansada. Tão cansada.

As pessoas têm o direito a não ter ou querer não ter opinião sobre determinado assunto. Por diversas razões: ou não sabem; ou não sabem e não querem saber; ou sabem mas não querem saber. Todas são legítimas. Confesso que não tenho opinião formada e informada sobre imensas coisas. Sobre muitas tenho um princípio de opinião, ou seja, tenho certos factos e conclusões como certos, mas não me levam a uma conclusão única, final, e inabalável. Sobre algumas coisas tenho opinião formada, e sobre outras já não quero saber. Mas não partilho estas não, meias e opiniões com toda a gente. Porque não quero, porque não sou parva, e porque sou menina para responder "não tenho conhecimentos que me permitam formar uma opinião" a qualquer pergunta. Sem vergonha. 

Mas se tenho uma opinião, ó meninos, não me venham dizer que é problemática. Sabem o que era problemático, aqui há 50 anos? Ter uma opinião. Defender algo que é contra-corrente (depende sempre do público, mas hoje em dia ninguém diria) não faz de ti um facho, um não-sei-que-fóbico, um opressor, um traumatizador dos oprimidos. [Essa é outra, a obsessão com o trauma, mas fica para outra diatribe.] Dá lugar a discussão. Isso! Opiniões diferentes -> discussão, debate! Mas não, parece que não se pode. No meu caso, porque sou boomer (não sou, em Portugal ninguém é, no rigor dos conceitos, mas para a chavalada parece que isso não interessa nada), e ao querer contrapor, desafiar, rebater, estou a ferir os sentimentos da parte contrária, que se sente atacada, não se sente segura e, portanto, não me deixa completar uma frase sem me interromper com um destes neo-chavões, e acaba definitivamente com a conversa com uma retirada emocional.

E pior que opiniões ou não opiniões, é gostar de alguma coisa que caiu no desagrado dos iluminados acordados. Ó céus, é o degredo. Não se pode. Não pode. E, mesmo não gostando, lá vão eles, todos!, por dever de ofício, ler / assistir / ouvir, para melhor se indignar. Tenho uma teoria: tempo a mais. É um privilégio que não possuo: se um livro, filme, música não me agrada, até posso dar cinco, dez minutos de benefício da dúvida, mas continuando a má opinião, passa a outro. Há melhor em lista de espera, e não tenho tempo para queimar.

Minto, às vezes lá calha ter um tempinho em que a cabeça não dá para mais, e aproveito para acabar o último do Trevor Noah que deixámos a menos de meio, por puro tédio. Me mate desistiu, eu um dia voltei a pegar, e confirmei, triste. Porque já lhe li um livro fantástico, e ri muito com outro stand-up, mas este é tão insípido, tão blah, tão sensaborão. Não ri, zero, nada. Mas atenção: não ofende ninguém, o que lhe mereceu muitos e bons encómios. É, portanto, um espectáculo insípido. Bom para certos palatos, mas eu gosto da minha comédia como não gosto da minha comida: cheia de sabor, extra-temperada. Como a da Taylor Tomlinson, ou da Iliza Shlesinger. Que não ofendem nenhuma espécie protegida, mas têm muita piada.

É claro que há comediantes que considero ofensivos, ainda outro dia aguentámos uns dez minutos de um que não conhecíamos, Matt Rife. Odiámos. Fomos para as redes vociferar, exigir um auto de fé? Não. Parámos e fomos ver outra coisa. Não é o primeiro.

Depois há aqueles de quem gostamos, mas nunca sabemos se vamos continuar a gostar. Acontece, uma pessoa desgosta-se constantemente. E às vezes até vê e consegue dar valor a coisas que desgostam. Um exemplo, eu odiei, com todas as letras, em caps e bold, Succession; aquela gente e estilo de vida dava-me vómitos, queria que morressem todos, mas mortes lentas, dolorosas e sofridas, e vi tudinho. Porque é uma excelente série, muito bem escrita e interpretada. 

E é isso que me custa, que as pessoas não consigam dizer "é bom, reconheço valor, mas não é para mim". Dizem horrores da Gadsby, quando, na verdade, acho que queriam antes dizer aquilo ali. Ou "não consigo entender comé c'uma gaija feia / gôda / lésbica tem mais sucesso que eu, buhuuu". Eu gosto E dou valor. 

E falemos do Gervais: o gajo não está (podre de!) rico por ter roubado ou enganado meio mundo. O produto dele vende, e vende muitíssimo bem, de forma constante, consistente, e há mais de uma década, porque é BOM. Fim de conversa. Não gostam, não comem. Eu odeio sushi, e consigo sempre comer qualquer coisa nos restaurantes japoneses; não faço é uma fita a exigir p'exinho grelhado com arroz de grelos. Idem para Chappelle. Ui, a urticária. Com este fiz um percurso engraçado e muito anti-woke: gostei, deixei de gostar quando estava no auge, continuei a não gostar quando voltou, e voltei a gostar. Pior: adorei o último, The Dreamer. O que é suficiente para me condenar às chamas do inferno woke, o cancelamento total e irrevogável, mas ainda acrescento um agravamento de pena: o Armageddon é melhor, tanto ao vivo (iep, estava lá :P) como na tv (claro que voltámos a ver), embora não seja tão selvagem, digo, bom como anterior Supernature. É ofensivo? Será, sensibilidades há muitas. Ninguém é obrigado a ver. 

Pronto, já forneci todos os argumentos para a acusação. Quem quiser debater, venha, estamos na boa. Se não souber responder digo "não sei"; se não tiver opinião, admito que não a tenho. Essa honestidade ninguém pode negar que tenho. Tomara muitos. Mas sim, os gostos discutem-se. Já não se educam, a menos que se esteja a falar de vossos filhinhos: a esses eduquem como quiserem, [a minha geração tem feito um trabalho do caralho, estão todos de parabéns, sim, é ironia]. Já eu, sou adulta, e não aceito doutrinamentos, ou tentativas de. Fartinha, a ponto de desmaiar de sofrência, de homilias. Ide pregar para uma azinheira, pode ser que vos apareça a Vossa Senhora e faça a caridade de vos levar consigo.  

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Sim senhora, sim senhora

 Diz ela de mãozinhas atrás das costas, olhando em redor com toda a atenção, tentando micar defeitos na pintura, manchas de humidade. 

Cinco dias de ano novo, dou-lhe cinco em dez, ou seja, tem espaço para crescer. Ou não. A primeira semana não está especialmente famosa, teve um feriado, daí os cinco valores. Mas hummm, não sei. Anteontem fui ao supermercado e já não havia mon chérie. Só um apontamento, hein. 

Lá a ver. Lá a ver.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

(esta agora baixinho, para ninguém ouvir)

 (ou ainda me cancelam o cartão de feminista, ahém)

Também vimos o Barbie. O filme, não o Klaus (piada muito datada, para pessoas antigas como eu). Fiquei entre o desconsolada (eu nem gosto na boneca, eu era mais Nancy, e estou aqui a ver isto), e o furiosa (ah bom, se isto é o feminismo moderno, milenial, de terceira vaga, estamos bem entregues, sim senhora).

Em resumo, valha-me uma divindade qualquer, não sou esquisita, e assim com'assim também não acredito. Mas gostava porque, no caso, uns raios e coriscos eram bem adequados. Aquilo, pah, aquilo é um desfiar de feminismo palatável, urbano-chic, cor-de-rosinha, vogue, não se aguenta. Ai, as expectativas que caem sobre as mulheres, mas depois a cena "celulite" é running gag. Ai, das mulheres espera-se e exige-se tanto, e se queremos brilhar temos de trabalhar o dobro, mas o "trabalho" da bonecada é tão pueril, tão fofinhoco-superficial, e pior, tão assente num status quo que, no mundo real, não admitimos exista! Sim, a barbielandia é um local assente numa organização social profundamente injusta, de primado de um sexo sobre outro porque (ahém) uma é o brinquedo "oficial" e o outro é o "bengala". Anyone? E a cena de ah, é a boneca que nos faz crer que as mulheres podem ser o que quiserem. Primeiro, não podem. Podem querer ser, mas não podem ser. Porque realidade, não me obriguem a dar exemplos. E deixem-se de merdas, não basta vestir uma boneca de fato macaco (rosa, já agora) para vir dizer que promove a equidade. Balelas. 

Anyhoo, já estava enjoada de rosa, e de vacuidade, e fofinhice, e nós rulamos, yay, e somos windas apesar de diferentes (mas celulite, iac, só há uma gorducha, e a esquisita vive à margem, adiante), e eis que entra o Ken. Ok, a representação, tal como a da Barbie, é fidedigna, é aquilo que ele é. E depois lá vão todos para o mundo real, mas não tão divertidamente como noutras fantasias. Spoiler alert, o Ken descobre que (pá, que barrigada de riso) só por ser home pode arrogar-se ser o que quiser, apesar de - óbvio - não ter competência seja para o que for. Mas é macho, e descobre a machitude no mundo real. E leva-a para a Barbielândia, onde reivindica as casinhas cor de rosa (nota, não estou numa cruzada para defender os homens, porque não precisam, mas o facto de o Ken não ter casa é.... esquisito) e machifica  os outros Kens. E pronto! Lição social! Os Kens não têm nada na cabeça (lol) mas só porque são homens podem tudo (cansaço). E a Barbie fica muito espantada por a sua influência no mundo real (a cena de promover a mulher, caso já tenham esquecido) não ser tão grande como devia (pah, 'tá mal). Claro que a Barbie volta, não gosta do papel que os Ken chamaram a si, e organizam, as B todas, um golpe para reconquistar o poder, com o plano mais tolinho de sempre, e que resulta porque os Ken são uns cabeças de vento. 

Muito cansada. Muito, muito cansada. É que nem sequer terminam num tom positivo de cooperação e equidade entre sexos, nope, a história dá uma volta completa e regressa ao ponto de partida: ninguém aprende, ninguém evolui.

E depois há a coisa de simplificar as partilhas e tomadas de poder, que as m'lheres são inteligentes, a gente ganha, lol. Não. Porque os Ken, além de descobrirem que o man-card dá acesso prioritário a tudo, também aprenderiam, porque o veriam, que um encontrão, um empurrão, um bananão, e ao ar a inteligência. Porque se queremos falar de realidade, falemos disso: a ainda prevalente submissão feminina assenta na repressão que, por sua vez, depende da iminência do exercício da força física, da efetiva, real, sempre presente violência. Não há corderosismo que branqueie isto. 

Suspiros. 

Na altura achei que era uma cena geracional, o não ter gostado do As Mulherzinhas desta realizadora (enervou-me tanto, mas tanto, dizer-se que era a versão feminista que as mulheres merecem! pá, o livro já é feminista. mas realista, também. e se é preciso explicar, por a+b, o sentido de vida da Amy, então é porque não perceberam nada), mas pelos vistos somos mesmo incompatíveis. Feminismo deste, dispenso.

  

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Pagava para saber

Desde quando passou a ser socialmente aceitável uma pessoa ter atitudes rudes, malcriadas, mesmo ordinárias, não em contexto de convívio social, entre gente que se conhece e até pode ter abertura para certas "manifestações", mas com desconhecidos, gente que está a exercer uma função ou profissão, a fazer a sua vidinha, ou a quem simplesmente calhou o azar de se cruzar com a bestunça? É no trânsito, é em estabelecimentos (e juro, é preciso ser, além de uma cavalgadura, muito desprovido de imaginação para hostilizar alguém que vai mexer na nossa comida, adiante), é no trabalho, e já não tenho espaço mental, não tenho paciência, não tenho obrigação, e outro dia a coisa chegou a tal ponto que me levantei e saí, a perimenopausa, o hipertiroidismo, a carência de ferro, a ansiedade crónica e o mau feitio juntaram-se todos numa manobra defensiva de "não tenho força nem vontade de aturar isto" e, em bom rigor, não tenho mesmo o luxo de poder dever encaixar feitios merdosos, misóginos, e grunhos. 

E, para acamar, depois de uma nega de quem manda mais que eu, alguém a tentar meter-me uma cunha, puxando à lagriminha. Fiquei dois, três dias sem reação. É que favores, não temos. Nem dados, nem vendidos, nem emprestados. A lata, sequer, de pedir. Já ultrapassa a falta de noção, é não me conhecer. Ofendi. 

(há a tese que é desde a pandemia, as pessoas "mudaram"; mas, se vamos por aí, há tanto psicólogo sem trabalho, invistam um bocadinho no olhar para dentro e melhoramento pessoal, hã.)

   

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

'tão

No sábado vimos o último do Indiana Jones (até me dá uma tontura, ter o nome "Indiana Jones" e último na mesma frase) e ficámos tão desconsoladinhos, tão tristes, tão amarfanhados, que vimos os outros (três, são só três, e em toda a minha vida só vi três, e esfolo, estripo, dependuro quem me contrariar) de seguida.

 Óia. Pah. Lagriminha de felicidade e nostalgia. 

Um dia, contaremos aos pequenitos, à roda de uma fogueira (virtual), debaixo de um céu estrelado (gerado por i.a.), sobre aqueles tempos em que se levava quinze dias, três semanas -depois de outros tantos a escrever, desenhar storyboards, pré-produzir - a filmar uma cena de ação, com atores, duplos, uma equipa técnica bastante boa e grande, e a coisa ficava, ó, bem melhor c'as joças que vedes agora. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Vim só aqui aproveitar um bocadinho, enquanto não me fino

Como já tenho pouco que fazer (quarenta trabalhos quarenta, para ler e avaliar, somados ao trabalho normal que nesta altura por acaso é ainda mais anormal que a anormalidade normal) andei a ver de cursos pós graduados em que me podia inscrever. Eia! Aprender! Fazer curriculum! Eia! Juro, há dias em que fico exausta só de me aturar, não entendo é como consigo nos outros dias. Encontrei um bem interessante, por sinal. Uma matéria em que não só ia consolidar conhecimentos como até aprender cenas novas, e bem úteis para o meu dia a dia (no trabalho, a pós graduação não me vai passar roupa, mas é pena). Custando mil e cótrocentos pastéis de bacalhau. Eia. Até vale? Valerá. Mas some-se as três horas por semana em zoom pós-laboral, por quase cinco meses, e não, pah, não aguento. Caiu a ficha da exaustão. Pior: uma das aulas calhava no aniversário de me mate. Resolvido. Mas é bem interessante. E útil, já disse. 

Estava nesta ambivalência de Izzie hiperactiva / Izzie preguiçosona, e vi outro curso. Eia! Aprender! Não fazer curriculum! Tempos livres! Actividade manual! Eia! Inscrevi-me, paguei (proporcionalmente, é bem mais caro, mas é bem feita, quem manda os académicos de direito serem tão chatos, é o mercado) e vou queimar dois dias de descanso lidando com um material volátil altamente tóxico. Na brochura do curso nem uma palavra sobre equipamento de segurança individual. 'Tá bem, fornecem todo o material, vou dar a abébia de pensar que as luvas de nitrilo sim senhor, mas não acredito na máscara de vapores, méne, eu sei quanto custa uma, porque a comprei (sou uma pessoa dada a empreitadas que implicam manuseamentos de acetonas, diluentes e outros potenciais acidentes). Enfim, levo na mochila. Não vou lixar mais os pulmões que o tabaco já lixou, nem arriscar uma dermatite de contacto, ou infecção ocular (quando se fala de coises voláteis, convém usar ólicos estanques, tenho três pares de óculos de segurança, estes são como os de natação, mas em grande, para te ver melhorrrr, comprei em conjunto com a máscara), chiça.   

De resto, é assim, a vida. Chata como uma panqueca. E seca como, também. É barrar de manteiga. Ou doce. E canela. Vou deixar a pós graduação em stand by, que é como quem diz, nope. Tenho tanto livro para ler, e tanto soninho para repor. E tanta malha para acabar, iniciar, e retomar. E um bolo inglês prometido. E uma casa para arrumar - a sério. Não tenho tempo para viver tudo o que quero. 


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Coisas que não sabia, e também ainda ninguém me tinha dito, mas algumas já calculava

Ensinar é giro, mas é como andar no arame: não sabemos se estamos a fazer papel de idiota ou um figuraço do caraças; se chegamos ao outro lado ou nos estampamos em grande. De qualquer forma, a experiência já valeu a pena. Diz a pessoa quase a chegar ao outro lado, mas que se calhar ainda cai no vazio. Sensação disso não me falta.

Corrigir trabalhos é cocó. Dá uma trabalheira insana, às tantas questionamos se não estamos a ser umas bestas perfeccionistas sinistras - pausa para auto terapia, analisar se o nosso síndrome de impostor decidiu abrir sucursais e criar trauma ao seu redor -; ou umas fadinhas madrinhas muito tolinhas - pausa para auto análise, tentar entender se estamos de facto a achar que o aluno fez uma coisa upa-upa ou estamos a empolar derivado daquela necessidade de que gostem de nós, nos aprovem, nos amem! Chegar ao meio termo leva sé-cu-los, reler três vezes a mesma coisa, vezes vinte, x páginas, tentar afinar critérios, apontar ao meio, sempre o equilíbrio, e acabar a pensar que fizemos tudo mal, é, ó, terrível. E cansativo, pior quando feito em tempo livre, tenho sono, desejo falecer.

Avaliar é para durões, e pessoas com o tiquinho de psicopatia que me falta; e ele há dias em que não falta muito, mas hoje estou capaz de chorar todas as gotas de sangue no meu corpo por causa que há quem não se reveja na nota e o quaralho, olha, fizessem melhor que eu expliquei melhor, nã estivessem no uátezep, e 13 ou 14 ainda é uma g'anda nota, querem viver embrulhadinhos em plástico de bolhas, força, depois até fazem um barulho giro a cair, ou ir contra esquinas, phodam-se mazé, a vida é dura, não gostam, invistam numa fábrica de colchões.

(tenho um ligeiro feeling que não nasci para isto)