domingo, 27 de junho de 2021

O que eu queria era um taco de baseball e carta branca para o usar

Fartinha, fartinha, ó, de ver nas redes (sociais) piadolas sobre os pobres lisboetas, buhuhu, coitadinhos, a queixar-se que não podem sair da área metropolitana (AML) ao fim de semaninha, buhuhuuuu. Muitas delas, note-se, a escorrer aquela satisfaçãozinha tão tuga de "toma!". Ou, em termos mais intelequetuais, peçoas a instruir-nos, do alto da sua pesporrência, que uma pessoa queixar-se de não poder sair da AML ao fim de semana é o supra sumo do privilégio. 'tão não é?, claro que é, afinal até um mafrense pode ir a Setúbal almoçar choco frito, que bando de piegas.

Só que. Só que. (suspiro)

Imaginem que são uma pessoa que, pelo menos há ano e meio, não faz outra coisa que não preocupar-se (porque sempre achou que a situação não era para brincadeiras), informar-se (junto de fontes credíveis, i.e., entidades de saúde pública, artigos de cientistas, médicos e pessoal de saúde), e seguir todas, mas mesmo todas as regras que foram sendo ditadas, a bem da sua e da saúde pública, e sem discussão porque em situações de crise aguda não se contam feijões. Imaginem que são uma pessoa que há ano e meio só contacta de perto e sem máscara (mas em ambiente arejado e com alguma distância) com uma bolha familiar, e com colegas de trabalho (com máscara e uma distância de dois metros). Imaginem que são uma pessoa que usa e abusa de álcool gel, lava mãos, não se aproxima de pessoas, nunca sai sem máscara e só a tira quando chega a casa, respeita lotações, lock downs, proibições de deslocação, teletrabalho, tudo escrupulosamente. Imaginem que são uma pessoa que nunca duvidou e até ansiou pela vacina, e que, ainda que vacinada, vai continuar a respeitar normas de higiene, uso de máscara e distanciamento social. Imaginem que essa pessoa  esperou pacientemente por um fim de semana já com calor para, a um mês das férias, ir passar dois dias longe da pesada rotina, na casa que esteve fechada um ano e que visitou duas ou três vezes, umas horitas, em dia de semana, só para arejar e recolher e pagar as contas. Que essa pessoa contava com esses dois diazitos para adiantar uma limpeza, levar umas tralhinhas, enfim, ver e cheirar o mar, dormir um pouco mais. E, praticamente de vésoera, por uma vintena de quilómetros, e à conta do desleixo e descaso de milhares de outras pessoas, essa pessoa  volta a ficar presa em casa. Sem pespectivas de poder largar um fim de semana, pelo menos até às férias oficiais - e ainda aí, vamos lá a ver, porque começam a uma sexta feira, supostamente ao fim da tarde. Claro que essa pessoa pode ir almoçar choco frito a Setúbal, lanchar fofos a Belas ou queijadas a Sintra, mas.

Mas digo eu, pode essa pessoa, ao menos, queixar-se? Deixam? Permitem? Por favor? Obrigadinha. Ao menos que nos possamos queixar, porra. 

11 comentários:

  1. Por aqui igual, íamos à terra e ficamos apeados. Concordamos que há coisas piores, mas sim, também me queixei. Mas discordo que no caso da pandemia tenha havido privilégio em Lisboa ou noutra grande cidade. Pelo contrário, quem vive no interior e em meios mais pequenos manteve um grau de liberdade (e sanidade) que por aqui se perdeu por completo.

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    1. Fuschia, mal de nós se não nos pudermos queixar, pô. Não conheço ninguém de meios pequenos, mas por mi falo: como tenho cumprido todas as regras, o sentimento de isolamento tem sido enorme. E a sensação de que o fim não está perto causa-me uma ansiedade enorme.
      Há-de corer bem, esperemos :)

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  2. Queixa-te 'a vontade mulher. Nao sei que redes sociais frequentas tu, mas nem sabia que prenderam os lisboetas. Nem vejo gente a comentar, desdenhar, ou gozar, nada. Ou so' sou amiga de boa gente (err...), ou realmente ja desfollowei o tipo de pessoa que faz comentarios desses, porque nao ligo um cara*&^* a essas redes/pessoas.

    Abracinho. Percebo bem. Ando tao desejosa de uma praia quentinha. Acho que os bifes estao a preparar-se para me fo*(&*r as ferias tambem.

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    1. Aenima, já deves saber, mas a coisa está má para quem venha do UK ou queira ir aí. Para entrar cá acho que precisas de teste negativo e/ou vacinação completa, e no regresso não sei se te obrigam a fazer quarentena... A Alemanha também nos pôs na lista vermelha :/
      Isto por cá está mau, e a gravar todos os dias. Parece que a culpa é da variante delta. E, mais uma vez, tomam-se medidas em cima do joelho, quando os especialistas já alertavam há que tempos que era preciso ter cuidado, por não se saber da perigosidade, transmissibilidade e eficácia das vacinas nesta variante.

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    2. Ja tomei a segunda dose e o meu moco vai tomar a segunda dele esta semana. Tenho mais medo pelos miudos, que nao podem tomar as vacinas ainda. Quarentena, pois, la terei que fazer - trabalhar de casa e' impossivel quando nao posso levar os miudos ao infantario. Estao a pensar levantar a quarentena para quem venha de paises "amarelos" e ja tenha as duas vacinas. Fingers crossed.

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    3. Tenho amigos a viver no UK com a mesma questão de virem passar férias a Portugal com filho pequeno. Ao que parece, já saiu a regra aplicável, menores de 18 não necessitam fazer quarentena.

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    4. https://www.bbc.com/news/business-57656808

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  3. Mas não podes circular apresentando um certificado de vacinação ou um resultado negativo? Foi o que li.

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    1. Filipa, certificado de vacinação ainda não tenho, falta a segunda dose... E fazer o teste só para ir ali 50 km, caramba...

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    2. E os das farmácias, q são mais baratos?

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    3. Segunda feira deixo de ter este problema: segunda dose, yay!

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