Como aquelas bolinhas saltitonas, muito rijas, muito chatas, que atiradas com demasiada força se tornavam um projéctil muito giro; toing-toing-toing, nas paredes, tecto, móvel, ai a jarra, ai a cabeça do mano; aquilo era indestrutível, por mais uso que se lhes desse nunca perdiam a capacidade de saltitar, sempre com a mesma energia inicial, depois esmorecendo aos poucos, a física explica, eu é que não; com o tempo iam perdendo o brilho e ficavam de uma cor pardacenta, foscas, algumas nicas aqui e ali - a jarra, a esquina da mesa - mas saltitavam ainda, todavia, quanto maior a força de arremesso maior a força e duração do saltitar, tau-tau-tau.
Claro que um dia perdiam a graça, a novidade; uma pessoa larga-as não sei onde, perde-as de vista, anos depois volta a encontrá-las numa caixa onde ficaram esquecidas, olha a bolinha, e atira-a, e ainda salta, ena. Antes assim rija, chata, fosca, que elástico; o elástico fica lasso, o elástico rebenta, o elástico não salta e ressalta, e nunca ninguém voltou a guardar um elástico velho, depois de o encontrar, esquecido, numa caixa qualquer.
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