terça-feira, 2 de junho de 2015

Heaven knows I'm miserable now


Abrindo hostilidades, para quê, insistir num blog? Porquê, dez anos de blogosfera, já indo no quarto espaço? E porque fecho eu os anteriores, convertendo-os integralmente em rascunho, nem sequer fazendo um back-up ou, fazendo-o, já nem me lembrando onde raios o guardei (talvez no entretanto falecido Tó Shiba? Who cares?)
Sei lá. Não, não me apego a endereços web. Já para pôr de parte uns sapatos, o drama, a tragédia. Não, tampouco considero tanto as minhas palavras que sinta necessidade de as guardar. Ou revisitar. Só o cansaço, sinceramente. Ao contrário de Gwendolen Fairfax, se precisar de leitura excitante nunca, nunca me faço acompanhar do meu diário: há melhor. Tudo isto é pó, é ar, é vento e maré. Isto é só uma parte do que sou, essa parte que sai mais por vício (ou hábito) que por querer fazer-se memória. E muda, e muda-se.
Então, assim sendo, porquê escrever esta coisa? Porque sim. Então, assim sendo, porquê ler esta coisa? Boa pergunta, se alguém souber responder acho que vai ficar extraordinariamente decepcionado consigo mesmo.
Mas, como não sou totalmente desprovida de narcisismo, aliás recordo vagamente de ter embalado um frasquinho dele em mil-nove-e-coisa, claro que encontro muitas e boas razões para escrever isto, e para se ler isto.
Onde mais se pode encontrar uma tão vasta panóplia de vacuidades, como sejam o melhor autefite para aquelas férias de sonho no Samouco, ou o casamento ansiado numa tendinha dos arredores?
Onde mais se pode constatar haver seres mais imperfeitos e risíveis que vós, seres que são capazes de andar uma semana a sandes de queijo por pura preguiça (note to self, comprar mais queijo); que passam uma hora a lamentar a sua triste sina antes de se lançarem num (aliás odioso) trabalhinho de quinze minutos; seres capazes de curar as saudades de viagens comprando quilo e meio de barrinhas Hershey’s (havendo melhores chocolates, que há, mas a saudade é esta coisa inefável, e na verdade não há mau chocolate, tal como even a bad pizza is better than no pizza)?
Onde mais poderão ver ventilar odiozinhos, birras, exasperações por pequenos nadas, como as detestáveis marquises, os ridículos condomínios fechados ou pior, os fechados e de luxo, ou pior ainda, os fechados, de luxo, e com a palavra “prestige” associada, ou antes, qualquer coisa com a palavra “prestige” associada? Onde poderão acender tochas e pegar em forquilhas, marchando contra as tuk-tuk, gigantescos autocarros de turistas estacionados ou a fazer inversão de marcha no largo da Sé, selfie sticks (morte, morte, morte!), lojas de recuerdos made in china, o septuagésimo terceiro hotel a abrir portas na Baixa, bandos de xóvens estrangeiros podres de embriagados porque a cerveja deles é refresco e ninguém faz a caridade de lhes augar a super bock, e depois andam a deambular aos gritos, noite fora, também já ali na zona onde repouso e durmo, and so on, so on – e, note-se, ainda nem sequer saí do tema urbano-turístico, dêem-me tempo -?.
Pois, por aqui há de tudo. Não como na farmácia, mais como na Feira da Ladra. Eventualmente, entre a tralha imunda e imprestável, até podem encontrar uma preciosidade. Boa sorte.
Cá estamos. Ou, de forma mais erudita, so it goes.

[A ver como isto corre.]

16 comentários:

  1. Vai correr bem, oh se vai.
    Eu trago o pão com manteiga a que a Gwendolen é devotada, trata tu das sanduíches de pepino tão do agrado da mãe. ;)
    (ai, aquelas maravilhosas sanduíches de pepino do chá inglês que são a minha perdição!)

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    1. Entre o pão com manteiga e a sanduíche de pepino o meu coração balança. Intervalo-as, e termino com um scone ;)

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  2. Queres uma cópia da t-shirt Fuk Tuk Tuk que fiz para o meu namorado?

    (scones por favor dos ingleses, com massa fofinha, e não dos americanos, que parecem biscoitos e que invadiram Lisboa como se da real coisa se tratassem)(se for eu que estou enganada não quero saber)

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    1. Já, já, já a registar a t-shirt Rita! Tens aí um filão, e olha o empreendedorismo. E sim, scones fofinhos. Daqueles que dá para abrir e barrar de doce ou manteiga, que sou lambona. (mas chá sem leite, por favor...)

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    2. ah, eu adoraria ter um t-shirt dessas.
      ora, bons olhos te vejam, menina Izzie.
      bem-vinda :)
      (o público, como vês, mantém-se)

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    3. Vês, Rita? Há mercado. E o mercado nunca se engana :P

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    4. Há sim, eu bem vejo como as pessoas olham para ele na rua, e o bom aspecto do rapaz não explica tudo, também é da t-shirt. No entanto, eu fui dotada pela minha mãe de um excelente sistema imunitário: nunca apanhei sarampo, papeira, tosse convulsa nem rubéola, muito raramente apanho uma gripe e até agora tenho também escapado com sucesso ao empreendedorismo.

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    5. Heaven knows I'm miserable now e Enjoy the Silence também serve. usaria de bom grado.

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  3. Ah, finalmente o regresso! Isto dos blogues sem a Izzie, não é de todo a mesma coisa :)!

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  4. É verdade, parece que o mercado não funciona, e a boa moeda não expulsa a má moeda :P

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  5. Estou mesmo mesmo chateada porque só te redescobri hoje. Não se faz, pá, não se faz. (Agora aturas-me, olha) (mas é muit'a bom ver-te novamente)

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