Além de ainda andar com umas dores de cabeça nhéf, e meia totó das ideias, que parecem envoltas em nevoeiro cerrado, como ontem e hoje de manhã, só me faltava o olhar vazio e a baba a escorrer pelo canto da boca, to-tal-men-te na estratosfera, e o chato é que depois começo a enervar-me porque não consigo pensar e trabalhar, digito as letras ao lado, troco números, enfim, mas além disso, do cérebro feito em algodão doce, que mais fez o bicho por vocês?
Hum?
Olha, eu deixei de fumar.
Ah, mas isso tem lá a ver ca covide, parva, deixaste porque querias, oras, não senhora, efeito covid 100% certificado.
Explico: como boa, empenhada, e veterana (dos 15 aos 52, é fazer as contas) fumadora que sempre fui, não era uma doençazeca qualquer que me detinha. Dói a garganta? Aguenta, que já és crescidinha. Tossinha? Oh, filha, há vidas piores e não os ouves a queixar. Podia fumar menos, que também não sou irresponsável (ahéééém), mas fumava. É uma cena de militância, só sabe quem cá anda. Ou andava.
Sucede que derivado de ter passado a ser proibido fumar nos edifícios, já tinha aderido ao tabaco aquecido. Mau grado estar sozinha numa salinha com janela, e poder fazer batota, estou rodeada de abstinentes com olfactos muito apurados. Mas, apesar de me estar a habituar bem ó iquozinho, não abdicava do meu tabaquinho "a sério", lá está, militância. Pelo menos dois por dia, e ao fim de semana era como se os outros não existissem.
Até que. Covid. Eu tentei, juro que tentei. Mas não era só desagradável (ou horrível, confesso, nos casos de amigdalite mais fortezinha), era impossível. Não sei explicar, puxava, travava, e parecia que morria: uma coisa surreal, mas real, porque testei várias vezes. Mas morrias, como? Ó pá, sei lá, era uma sensação como que tinha os pulmões cheios de água, uma agonia que me apanhava o estômago e me arrepiava a pele toda, uma coisa do além.
Pronto. Tinha acontecido aquilo que já muitas vezes, farta da escravatura do cigarrinho, tinha imaginado: e se eu não pudesse de não poder mesmo, nunca tivesse experimentado e agora não conseguisse, como será não fumar, não gostar de fumar, não ter de fumar?
É assim. Como vivo, agora. Um cheirinho de tabaco e eu, nojo. Habituei-me a não feder cheirar a tabaco permanentemente. Já não tenho bafo de dragão, e estou a habituar-me. É fixe. Embora haja situações em que entre em pânico porque, consigo jurar, tenho esse bafo outra vez.
Resta, apenas, a nostalgia da militância. Fazem-se bons amigos, nas trincheiras do activismo. Por isso, e só por isso, fumo um iquos todas as noites. Já nem travo, mas lá está, digo presente.
Só um, é o único, e sempre na mesma altura, zero desculpas para a antecipar. Não tenho vontade nenhuma de voltar atrás, por isso mantenho estar regra e, também, um maço numa gaveta, só com um último cigarro, coincidência, sobrou-me um só. E vai continuar a sobrar.
Há cinco anos sem fumar, ainda hoje sonho que fumo os meus SG Ventil. Viciados para a vida toda.
ResponderEliminarSãozinha, parabéns, 5 anos é obra! Mas sim, viciados para sempre. E agora é manter. E não ouvir aquela voz manhosa "estás tão stressada! só um agora, logo fumas o outro". Bof
EliminarBEM-VINDA!!!! Oh, tão tão tão feliz por ti. Também fumei dos 13 aos 37 e consegui. Aqui na Inglaterra. Porque é proibido fumar nos edifícios e aqui levam as coisas mesmo a sério. Não há cá "sala de fumadores" nos cafés e restaurantes. Até no trabalho não podes fumar num raio de 50 metros. Aqui já não há a sensação de pertença ao grupo "cool" nas trincheiras. Olham para ti com pena, portanto o pessoal dispersa. E ganhei um olfacto maravilhoso. Sinto quem fuma a dezenas, centenas, de metros de distância e dá-me nojo agora. Também mantive os meus maços por abrir (um cartão e meio, trazia-os de Portugal aos cartões de 10 maços) durante muitos anos até mudar de casa. O último que fumei foi no funeral do meu pai, faz pra semana 8 anos, e já soube tão mal que não voltei a repetir.
ResponderEliminarEu sabia que conseguias. When there's a will, there's a way. Hoje em dia não sinto os efeitos dos 20 muitos anos de vício, mas as veias com certeza lembram. A minha irmã depois de 10 anos sem fumar, recomeçou a desnaturada. Mas eu não acredito que volte, gosto muito da minha liberdade, e cheirinho a cabelo lavado!.
Muitos parabéns e felicidades!!!
Aenima, aqui, atualmente, também não é fácil encontrar onde fumar :D Mas eu fazia muita batota, muita. É engraçado, agora também deteto o cheiro de tabaco a milhas, e o cheiro que as pessoas têm... e penso que também era assim!
EliminarA força de vontade é a de não voltar a pegar. Não é fácil, o nosso cérebro adora inventar desculpas. Ajuda muito me mate também ter deixado os cigarros e só fumar iquos. Ele também já reduziu imenso. Havemos de conseguir, e viciados de todo o mundo, uni-vos!