quinta-feira, 2 de junho de 2016

Life goes on

No ecrã o gebo responde, à pergunta sobre se se considera um visionário, que sim. Eu, ainda meia esmagada com o tamanho daquele ego em particular, que gentes destas que muito se considera tem este efeito em mim, de opressiva falta de ar, só consigo a reacção de bergh, quem é este, enquanto reparo que o visionário, e também, ao que parece, empreendedor, acha bem vestir uma gravata com uma camisa com botões no colarinho. Mal sabia eu o que se seguiria. Pois esta alma boa, esta pessoa de largas vistas, este insular com olhinho no futuro - o seu, obviamente - conseguiu, empresariando lá numa empresa sua, sacar um empréstimo de centro e trinta milhões de biscas ao último banco que nos calhou pagar. Garantido, claro, que a lusa banca não dá pontinho sem nó. A garantia era imobiliária, como aliás mandam as normais cautelas e usos*, mas sobre um terreno. Onde se ia construir uma coisa em grande e em bom, um empreendimento para o senhor empreender turisticamente, desenvolver a região, mas que não passou à fase de acabamentos. Presumo que a garantia se louvasse no valor daquilo em pronto e acabado e a funcionar, uma ficção portanto. Nada de anormal, é assim que funciona e sempre funcionou o sector pato-bravo da construção civil. E nem corre mal, a menos que a empresa entre em falência. Ou o mercado esteja em recessão. E o mercado estava. E esta entrou. E o banco - volto a repetir, o último que nos calhou pagar - aceitou em pagamento total da dívida o terreno e os caboucos. Nada mais**. Empreendedor saiu disto alvo como a sua camisa branca, mas com botões no colarinho, e, por baixo deste, gravata. Continua a empreender, com o seu fato que por um nico não é azul carris; a considerar-se um visionário, com a sua gravata bem presa por botões, nunca fiando, põem-se à banda tão facilmente; e a considerar tudo isto normal, normalíssimo, a dívida está paga, ora então, apesar de o terreno continuar à venda e nem sequer lhe terem pegado por trezentos e cinquenta mil patacos; e considera-se limpo como a sua camisa branca.
E nós, contribuintes, sector público, país, a carregar este rol de roupa suja que não acaba. E a discutir uns com os outros a quem calhou mais cuecas sujas para corar, e quem tem o máximo dever de estragar as mãos com lixívia. Parabéns. A nós.



*por acaso, e em situações bem menores, e até abaixo dos cento e trinta mil tustos,a banca acha por bem pedir colaterais como penhores, garantias bancárias e até, pasme-se, garantias pessoais aos gerentes / sócios; não foi o caso, pelos vistos.

**não experimente o mesmo em casa: se por acaso têm um empréstimo hipotecário para pagar, aquele que vos garantiu o tecto, e por acaso entrarem em mora e finalmente incumprimento, o banco até aceita a casita em dação, mas não em pagamento, só por conta do montante total em dívida; se por um acaso não a venderem por tal valor, ficais a pagar o resto que vos phodeis. má sorte não serdes putas.

10 comentários:

  1. Tu podes andar por aí a dizer que não tens espírito maternal, mas há aí umas frases que são a minha mãe chapadinha....

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    1. Ah, corar roupa? Essa é da minha vó. ;)

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    2. Não, era a coisa dos botões nos colarinhos com gravata :)
      (corar a roupa lá em casa faz-se em todas as gerações)

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    3. Ah, pois, nisso sou um bocado fascista. Camisa com botões no colarinho é para usar sem gravata, ponto. Até pode ser usada com blazer, mas sempre sem gravata. No Louçã até perdoo, que é tipo para ter um par de gravatas e usá-las quando o rei faz anos, mas num tipo que se acha o supra sumo da batata empreendedora, ca-re-do, que gebo.

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  2. Ele é um visionário. Viu como roubar dinheiro e safar-se.

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  3. O descaramento do tipo, a total ausência de vergonha deixou-me parvinha da vida.
    A certeza de que está (e esteve) certo... "é que daqui a 10 anos aquilo pode valer este muito e o outro". Enfim.

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    1. Fiquei para morrer com a falta de vergonha. O que me custa mais é que esta gente dorme bem de noite.
      Ontem fomos ver a primeira parte da reportagem, a vida e obra do senhor comendador horácio roque. Outro que tal. Acho que não ser comendador(a) passou a ser um elogio.

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  4. Quem era o gebo? É que eu não só paguei a corar cuecas como a minha família perdeu tudo (e isto não foi salvo pelo estado) com esse último filha da putismo.

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    1. Era um macaco de sua graça Sílvio (não me lembro do apelido), empreendedor lá das ilhas a quem o banif concedeu 130 milhões para a sua empresa construir um xanadu no meio de nenhures.
      A tua família perdeu guita no banif? A sério? Lamento, pah. no BES foi muita gente enrolada, ó se foi.

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