quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O inferno são mesmo os outros, e tenho uma lista

Éramos todos mais xófens, mais inocentes, mais imbuídos de esperança (lembram-se?), naqueles tempos iniciais da pandemia em que se propalava "vamos sair disto melhores". Não saímos, e eu já sabia, que sou uma cabra cínica que nunca acredita nestas merdas delicodoces pseudo-proféticas. 

Resumindo e precisando, com a preciosa ajuda de um meme gamadíssimo da internet:


Anda tudo maluco, ainda mais que antes, e continua a ser crime assestar umas valentes bolachadas na face alheia. Vá, umas palmadinhas no rabiosque, só a título pedagógico. Mas não se pode, não pode. Pena. Que com a idade a paciência diminui na razão inversa da chalupice que uma pessoa tem de aturar, e refiro-me apenas ao ambiente laboral porque, para além deste (consulta notas) não tenho vida que se conte.

"Ah, mas pagam-te para isso, ou não pagam, faz parte, julgas o quê". Eu cá já não julgo nada, pah. Enquanto o ordenado der para ansiolíticos, cá estamos, mas ele há 'ssoas, santa paciência, ele há 'ssoas. E um coisinho destes em cima da secretária, é que era:


 

(vai ser este calvário em doses semanais, até meados de Dezembro, e tenho a certeza que não mereço)

   


quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Dá-se, a quem estimar

- Cifose dorsal;

- Uncartrose e artropatia facetária posterior, com moderada etenose foraminal direita;

- Ligeira artropatia facetária posterior;

- Escoliose lombar dextro-convexa;

- Discopatia degenerativa;

- Hérnia discal em L4-L5 com ligeira migração descendente;

- Hérnia discal em L5-S1, com migração descendente.

Condições especiais (transporte e entrega grátEs) a interessados no pacote integral (código KosTasFudiDAs).

Eu, por mim, acho que vou pedir para me instalarem uma coluna nova.

Em adamantium, que isto do osso não presta para nada. 

 

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Então vamos lá a isso, tudo de mãozinhas no ar para um belo momento de comiseraçãozinha

 *esqueci de especificar: é um momento de auto-comiseraçãozinha 



Caso alguém ainda tenha curiosidade (já sei, não têm), e pergunte (ok, ok, não perguntam) "ó Izzie, filha, donde andaste tu, que fizeste quatro meses e picos tão caladinha", eu respondo (pronto, ninguém quer saber, mas isso nunca me deteve), com toda a verdade!, toda a çinçeridade!, toda a acutilância que me caracterizam (tenham paciência, façam-me a vontade e finjam que acreditam).

A deprimir. A chorar. A desesperançar.

É. Sou uma pessoa muito em cima, uma companhia muito boa, a alegria da festa (nota: não há festa).

Em jeito de resumo autobiográfico, sou uma deprimida crónica, (ou, tivesse nascido rica, desocupada e no século XIX, uma melancólica inveterada, prefiro esta versão). É um facto, já me habituei a lidar com ele (30 anos de experiência, não vem no CV, não serve para nada, mas pronto), tomo a minha dose química de sobrevivência e cá vamos andando.  

Sucede, porém, que até o mais atento e experiente deprimido pode cair ainda mais um bocadinho. E, como experiência nem sempre equivale a competência, o deprimido crónico ignora os sinais, anima-se com o eterno "é só uma fase", seguido do sucesso "isto passa". Mas não passa. Uns dias piora, outros não piora. Mas não melhora. 

E segue a requentada rotina: tristeza permanente, choradeira persistente. À menor provocação. Por norma despachava a situação logo de manhã, depois do banho, que nisto (só nisto) sou muito organizada: despacha-se a deprimência logo de manhã, que é quando começa o dia. Da choradeira ficava arrumada; mas já a tristeza, a sensação de desamparo, desconsolo, a anomia, carregava-as todo o dia. Ainda assim, persistia em encontrar causas - que as havia, e há - e soluções, népia, adiava. Porque. Vai. Passar. Só. Porque. Sim. Caso vos tenham enfiado a balela, fica aqui a voz amiga: pensamento positivo não é solução. Principalmente quando o nosso cérebro não o consegue gerar, e faz uma fita do caraças quando o tentamos forçar.

Depois há o dia em que uma pessoa  tem um lampejo, assume, e procura ajuda, sem reservas. Marca a consulta, não disfarça, chora ali toda a baba e ranho que vem acumulando, e sai com a receita reforçada. E resulta. Há quem tenha um nojo muito específico a esta solução, "ah, estás a encher-te de químicos", e depois? Química está em tudo. Nós somos química, é aqui que está a receita de como funcionamos, pior ou melhor. Química é a sopa que é o nosso cérebro. Um bocadinho de sal a menos ou a mais pode estragar ou consertar. Há que abraçar a química. Dar valor à química. Achei que era oportuno lembrar, diz que hoje é o dia mundial da saúde mental. Afinem a vossa receita de sopa, se não vos souber bem. Vale a pena. Mesmo.