*esqueci de especificar: é um momento de auto-comiseraçãozinha
Caso alguém ainda tenha curiosidade (já sei, não têm), e pergunte (ok, ok, não perguntam) "ó Izzie, filha, donde andaste tu, que fizeste quatro meses e picos tão caladinha", eu respondo (pronto, ninguém quer saber, mas isso nunca me deteve), com toda a verdade!, toda a çinçeridade!, toda a acutilância que me caracterizam (tenham paciência, façam-me a vontade e finjam que acreditam).
A deprimir. A chorar. A desesperançar.
É. Sou uma pessoa muito em cima, uma companhia muito boa, a alegria da festa (nota: não há festa).
Em jeito de resumo autobiográfico, sou uma deprimida crónica, (ou, tivesse nascido rica, desocupada e no século XIX, uma melancólica inveterada, prefiro esta versão). É um facto, já me habituei a lidar com ele (30 anos de experiência, não vem no CV, não serve para nada, mas pronto), tomo a minha dose química de sobrevivência e cá vamos andando.
Sucede, porém, que até o mais atento e experiente deprimido pode cair ainda mais um bocadinho. E, como experiência nem sempre equivale a competência, o deprimido crónico ignora os sinais, anima-se com o eterno "é só uma fase", seguido do sucesso "isto passa". Mas não passa. Uns dias piora, outros não piora. Mas não melhora.
E segue a requentada rotina: tristeza permanente, choradeira persistente. À menor provocação. Por norma despachava a situação logo de manhã, depois do banho, que nisto (só nisto) sou muito organizada: despacha-se a deprimência logo de manhã, que é quando começa o dia. Da choradeira ficava arrumada; mas já a tristeza, a sensação de desamparo, desconsolo, a anomia, carregava-as todo o dia. Ainda assim, persistia em encontrar causas - que as havia, e há - e soluções, népia, adiava. Porque. Vai. Passar. Só. Porque. Sim. Caso vos tenham enfiado a balela, fica aqui a voz amiga: pensamento positivo não é solução. Principalmente quando o nosso cérebro não o consegue gerar, e faz uma fita do caraças quando o tentamos forçar.
Depois há o dia em que uma pessoa tem um lampejo, assume, e procura ajuda, sem reservas. Marca a consulta, não disfarça, chora ali toda a baba e ranho que vem acumulando, e sai com a receita reforçada. E resulta. Há quem tenha um nojo muito específico a esta solução, "ah, estás a encher-te de químicos", e depois? Química está em tudo. Nós somos química, é aqui que está a receita de como funcionamos, pior ou melhor. Química é a sopa que é o nosso cérebro. Um bocadinho de sal a menos ou a mais pode estragar ou consertar. Há que abraçar a química. Dar valor à química. Achei que era oportuno lembrar, diz que hoje é o dia mundial da saúde mental. Afinem a vossa receita de sopa, se não vos souber bem. Vale a pena. Mesmo.