quarta-feira, 11 de março de 2020

Do the Right Thing (1)

Ou valha-me a Nossa Senhora dos Aflitos, que ontem o home começou com espirradeira e tossidela, arrepios de frio, dores nas articulações. Já nos constipámos ambos (primeiro ele, depois eu, um viva ao casamento com comunhão de vírus), pelo que estar outra vez na mesma é um bocado chato. Só que a constipação inicial ocorreu antes de cá chegar o bitcho mau covid de sua graça, e esta aparece numa péssima altura.
Vai daí, reunido o conselho familiar de dois, discutimos se era caso para alarme, ou se aguardava. Ele não queria estar a ligar para o saúde 24 e fazer figura de idiota alarmista. Eu, ainda que achando que não era caso para preocupação, apelei ao civismo, liga-se e eles é que sabem. Até porque me mate tem uma maior exposição a 'ssoas que eu, e no xervixo dele não há qualquer plano, zero instruções sobre o que fazer. Já eu, aqui na xafarica do tão mal visto e vilipendiado sector público, estou sempre a receber actualizações por email sobre procedimentos, há um plano exaustivo e sei o que fazer caso tenha qualquer suspeita de contágio.
Anyhoo, me mate lá cede e vai ligar. Eu espero. E espero. Natural, a linha deve estar apinhada. Continuo à espera. Ouço-o a falar (finalmente!) e, de repente, palavrões, vou ver, iam passar a chamada para alguém e a linha caiu. Mate volta a ligar. Mais tempo. Não contei, mas cerca de 20 minutos, no mínimo, para ser atendido, de cada vez. Explica-se de novo, vão passar a chamada, e esta cai.
Pá, não há condições. Já era hora do ó-ó, os senhores ficaram com todos os dados dele, se acharem que é caso disso que liguem de volta. Hoje viemos ambos trabalhar, aconselhei-o a dizer ao superior hierárquico como estava e este que decidisse, assim já ninguém o pode acusar de ser uma Typhoid Mary. Ligou-me há pouco: cagaram.
Sim senhora, assim seja.
Considero cumprido o nosso dever cívico, mas não me venham cá com coisas que estamos preparadíssimos.

[não, não sou - mesmo nada - histérica ou alarmista, mas estar a desvalorizar qualquer possibilidade de contágio não é sério nem é responsável. verdade que ele não tem febre nem dificuldade em respirar, mas já foi divulgado que há formas leves de manifestação, sei lá eu. e sucede que tenho três familiares com elevado risco - doenças respiratórias crónicas, sendo que no caso do meu pai acumula diabetes e insuficiência cardíaca - e era muito simpático poder ficar sossegada, e não estar a preocupar-me que os vou matar ou coise. e não, não faço questão de ficar de quarentena - se ele fica, eu também tenho de ficar, né - porque isso implica um verdadeiro pesadelo logístico, dado que nem mamãe nos poderia vir trazer uma sopinha. oh well. ao menos temos papel higiénico. comida nem por isso, mas haja papel higiénico, não é?]

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